1 Lição 4 tri 20 O Livro de Jó

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Texto Áureo

“Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.” (Tg 5.11)

Verdade Prática

O livro de Jó não é apenas uma preciosidade da literatura universal, mas, sobretudo, uma poderosa resposta de Deus para as grandes questões da vida.

OBJETIVO GERAL

Mostrar que o Livro de Jó é uma poesia inspirada que retrata o dilema vivido por uma pessoa histórica.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

I. Mostrar que, a partir das evidências internas do livro, é possível conhecer o contexto no qual Jó viveu;

II. Especificar o gênero literário e de que forma esse conhecimento ajuda na compreensão do Livro de Jó;

III. Identificar o propósito e a mensagem do Livro de Jó.

LEITURA DIÁRIA

Segunda – 2 Tm 3.16: Toda a Escritura é inspirada para a instrução

Terça -Tg 5.11: Quem persevera na fé é bem-aventurado em Deus

Quarta – Ez 14.14-20: Deus tem compromisso com os justos

Quinta – Jr 20.14-18: Deus não tem compromisso com os injustos

Sexta – Sl 8.4: Deus contempla o ser humano, embora este seja finito e frágil

Sábado – Is 59.4: A realidade da injustiça e da iniquidade na Terra

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

2 Timóteo 3.16; Ezequiel 14.14,19,20; Tiago 5.11.

2 Timóteo 3.16

16. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça,

Ezequiel 14.14,19,20;

14. Mesmo que estes três homens – Noé, Daniel e Jó – estivessem nela, por sua retidão eles só poderiam livrar a si mesmos. Palavra do Soberano, o Senhor.

19. “Ou, se eu enviar uma peste contra aquela terra e despejar sobre ela a minha ira derramando sangue, exterminando seus homens e seus animais,

20. juro pela minha vida, palavra do Soberano, o Senhor, mesmo que Noé, Daniel e Jó estivessem nela, eles não poderiam livrar seus filhos e suas filhas. Por sua justiça só poderiam livrar a si mes­mos.

Tiago 5.11.

11. Como vocês sabem, nós consideramos felizes aqueles que mostraram perseverança. Vocês ouviram falar sobre a perseverança de Jó e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou. O Senhor é cheio de compaixão e misericórdia.

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Há coisas que acontecem na vida do crente que, inevitavelmente, leva-o a fazer perguntas que traduzem a angústia da alma: Se Deus é justo e amoroso porque permite que um justo sofra tanto? Perguntas como esta podem ser consideradas o pano de fundo do livro que estudaremos neste trimestre: Jó. Nosso objetivo é compreender o que o livro diz a respeito do assunto, as respostas humanas dadas ao sofrimento e, finalmente, a resposta de Deus a Jó e seus amigos. Para comentar o tema deste trimestre, contaremos com o pastor José Gonçalves. Ele é escritor, conferencista, membro da Comissão de Apologética da CGADB e líder da Assembleia de Deus em Água Branca – PI.

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INTRODUÇÃO

Neste trimestre estudaremos o Livro de Jó, uma das obras mais fascinantes da Bíblia. Não há em toda Literatura bíblica outra obra semelhante. Diferente na sua estrutura, no estilo e, sobretudo, no conteúdo, o Livro de Jó demonstra a grandeza de Deus diante da finitude humana. É, portanto, uma obra que alimenta a nossa esperança quando tudo mais parece ter perdido o sentido.

PONTO CENTRAL

O Livro de Jó é uma poderosa resposta de Deus para grandes questões da vida.

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I – AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ

1. O autor de Jó.

Quem escreveu o Livro de Jó é motivo de longos debates. As opiniões passam por Moisés, Eliú, Salomão, Ezequias, Isaías e, até mesmo, Esdras. Os que não acreditam no mover sobrenatural de Deus sobre os autores bíblicos fazem do livro uma colcha de retalhos.

Afirmam ser ele a produção de vários autores e em diferentes épocas. Entretanto, o cristianismo histórico e conservador não tem o livro de Jó como uma ficção religiosa, mas como uma narrativa poética inspirada por Deus e redigida por um único autor. A própria Bíblia não apresenta indicações do autor do livro, mas o fato é que o autor conhecia a forma poética e nela expressou a maior parte do livro.

2. A pessoa histórica de Jó.

A Bíblia mesma atesta que Jó foi uma pessoa histórica. O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14). Tiago, por exemplo, atesta a realidade histórica do principal personagem do Livro, bem como sua autenticidade textual, quando destaca a perseverança de Jó (Tg 5.11).

3. A terra de Jó.

Já no início do seu texto, o Livro de Jó destaca que ele era da “terra de Uz” (Jó 1.1). Como Jó, Uz era uma terra real. Os comentaristas situam Uz ao sul de Edom e a oeste do deserto da Arábia, se estendendo a Leste, indo até a Babilônia (Jr 4.21; 25.20).

4. A época de Jó.

A maioria dos comentaristas situa os fatos narrados no Livro de Jó dentro do período patriarcal (Abraão, Isaque e Jacó). Dentre outros, alguns fatos contribuem para esse entendimento: O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era permitido pela lei mosaica (Nm 27.8); a palavra hebraica qesitah, traduzida como “uma peça de dinheiro” (Jó 42.11), só aparece em outras duas ocasiões na Bíblia: uma em Gênesis 33.19 e a outra em Josué 24.32.

SÍNTESE DO TÓPICO I

A autoria do Livro de Jó é desconhecida, mas sua autenticidade é comprovada, bem como a realidade histórica da terra de Uz no período patriarcal.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Jó é um dos livros sapienciais e poéticos do AT; ‘sapiencial’, porque trata profundamente de relevantes assuntos universais da humanidade; ‘poético’, porque a quase totalidade do livro está elaborada em estilo poético. Sua poesia, todavia, tem por base um personagem histórico e real (ver Ez 14.14,20) e um evento histórico e real (ver Tg 5.11). Os fatos do livro se desenrolam na ‘terra de Uz’ (1.1), que posteriormente veio a ser o território de Edom, localizado a sudeste do Mar Morto, ou norte da Arábia (cf. Lm 4.21). Assim sendo, o contexto histórico de Jó é mais árabe do que judaico.

[…] Se não foi o próprio Jó, o escritor deve ter obtido informações detalhadas, escritas ou orais, oriundas daqueles dias, as quais ele utilizou sob o impulso da inspiração divina para escrever o livro na feição em que o temos. Certas partes do livro vieram evidentemente da revelação direta de Deus (e.g. 1.1-2.10)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.767).

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II – ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ

1. Prosa e poesia.

O leitor que deseja ler o Livro de Jó precisa dar-se conta de que diante dele há uma obra de natureza poética. Isso não torna o livro de Jó menos inspirado do que outros da Bíblia, mas revela que ele pertence a um diferente gênero literário. Jó precisa ser lido dessa forma. A estrutura dessa obra demonstra isso. O texto é uma combinação de prosa poesia-prosa (nessa ordem). Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo. Assim, o prólogo (Jó 1.1-2.13) e o epílogo (Jó 42.7-17) estão em prosa; o texto intermediário em poesia (Jó 3.1-42.6).

2. Organização.

No texto em poesia há a seguinte organização: Um monólogo feito por Jó; três ciclos de diálogos entre Jó e seus amigos (Elifaz, Bildade e Zofá); quatro outros discursos de um quarto amigo jovem, Eliú; seguido pela revelação de Deus onde Ele manifesta o seu poder e graça; e, finalmente, a humilhação de Jó diante da revelação divina e sua restauração completa.

3. Abundância de figuras de linguagens. O livro é rico em metáforas.

Esse recurso estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade e maior vivacidade ao texto. O autor almeja que seu texto seja “colorido” ao invés de “preto e branco”. Jó, por exemplo, usa a figura do “vai-e-vem” do Tecelão para demonstrar a brevidade da vida (Jó 7.6; cf. “vento” Jó 7.7; “nuvem” 7.9; “sombra 8.9,14.2; “uma corrida”, “uma águia”, “uma flor” 9.25,26, 14.2). No livro também há o recurso estilístico de paralelismos onde os elementos literários repetem-se na mesma ordem.

SÍNTESE DO TÓPICO II

O livro apresenta uma estrutura Literária de prosa-poesia-prosa. Há também uso de metáforas e paralelismos.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Neste tópico, após expor o assunto, apresente o esboço do Livro de Jó. É importante para o aluno ter contato com a visão estrutural de todo o livro.

Nesse sentido, sugerimos que reproduza o seguinte esquema:

LIVRO DE JÓ

I – Prólogo: A Crise 1.1-2.13

II – Diálogos entre Jó e Seus Amigos (Elifaz, Bildade e Zofar): A Busca de Resposta Humanista 3.1-31.40

III – Discursos de Eliú: O Começo do Entendimento 32.1-37.24

IV – O Senhor Responde a Jó Diretamente 38.1-42.6

V – Epílogo: Desfecho da Prova 42.7-17

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III – NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ

1. Por que os justos sofrem?

Algumas das questões mais importantes levantadas no Livro de Jó são eminentemente de natureza teológica e, também, filosófica. A questão do sofrimento do inocente é a principal delas. Por que sofre o justo? Ou ainda, por que os ímpios prosperam enquanto o justo sofre?

Ao longo dos anos, tanto teólogos quanto filósofos têm procurado dar explicações para esse dilema humano. No contexto de Jó, a ideia que prevalece é a de que somente os maus sofrem em consequências de seus pecados. Se havia sofrimento era porque havia culpa do sofredor. Nesse aspecto, ao longo de seus 42 capítulos, o autor procura demonstrar um novo olhar sobre essa questão.

2. Existe bondade desinteressada?

Para muitas pessoas qualquer prática religiosa não passa de barganha. Essa era também a tese do Diabo. Para ele, Jó só permanecia fiel a Deus porque recebia benefício em troca: Jó era um homem agraciado com muitos bens; com uma família formidável; cercado de muitos amigos; e gozava de boa saúde. Nessas condições, como disse Satanás, todos são devotos. Todavia, vindo o infortúnio, a tragédia e a calamidade, será que esse fervor religioso permaneceria? Satanás estava disposto a apostar que a espiritualidade de Jó não subsistiria a uma prova de fogo. 0 livro mostra como Jó se comportou nessa prova.

3. Pode o homem compreender Deus?

Os últimos capítulos de Jó mostram os impactos que a revelação divina tem sobre os homens. Como Paulo, que foi verdadeiramente mudado quando contemplou o Senhor numa visão (At 9.1-17), assim também Jó é totalmente transformado quando contempla a majestade do Senhor (Jó 38-42). A questão para Jó não foi tanto o entender Deus, mas experimentá-Lo. Viver e experiência Deus mudou completamente a vida de Jó! Eis uma grande lição deixada por esse precioso livro.

SÍNTESE DO TÓPICO III

A principal questão do Livro de Jó é o sofrimento do inocente. O livro mostra como Jó se comporta diante da prova.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Sete características principais assinalam o livro de Jó.

(1) Jó, um habitante do norte da Arábia, foi um não israelita justo e temente a Deus […] (1.1).

(2) Este Livro é o mais profundo que existe sobre o mistério do sofrimento do justo.

(3) Revela uma dinâmica importante, presente em toda prova severa dos santos: enquanto Satanás procura destruir a fé dos santos, Deus está operando para depurá-la e aprofundá-la. A perseverança de Jó na sua fé permitiu que o propósito de Deus prevalecesse sobre a expectativa de Satanás (cf. Tg 5.11).

(4) O livro é de valor inestimável pela revelação bíblica que contém sobre assuntos-chaves tais como: Deus, a raça humana, a criação de Satanás, o pecado, o sofrimento, a justiça, o arrependimento e a fé.

(5) Boa parte do livro ocupa-se da avaliação teológica errônea no Livro talvez indique tratar-se de um erro comum entre o povo de Deus; erro este que exige correção.

(6) O papel de Satanás como “adversário” dos justos, o livro de Jó o demonstra mais do que em qualquer outro livro do AT. Entre as dezenove referências nominais a Satanás no AT, quatorze ocorrem em Jó.

(7) Jó demonstra com toda clareza o princípio bíblico de que os crentes são transformados pela revelação, e não pela informação (42.5,6)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.768).

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CONCLUSÃO

Nesta lição apresentamos algumas informações básicas sobre o contexto histórico e literário de Jó. Quanto ao seu gênero o livro é de natureza poética. Isso é importante para a compreensão da própria estrutura como o livro foi organizado. Vimos que o livro apresenta princípios teológicos que transcendem o espaço e o tempo. Esses princípios são para todas as épocas e culturas. O que é demonstrado é que o conhecimento de Deus é o anseio de todo ser humano.

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VOCABULÁRIO

Patriarcal: Relativo ao patriarcado, forma de organização social em que a pessoa mais velha tem uma grande família, sendo honrada e respeitada.

Prosa: Discurso direto; texto organizado em parágrafos.

Prólogo: A primeira parte de um texto.

Epílogo: O desfecho de um texto.

Estilístico: Relativo ao estilo, forma de usar as palavras.

Paralelismos: Semelhança, correspondências entre duas coisas.

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PARA REFLETIR

A respeito de “O Livro de Jó”, responda:

1 – O que o profeta Ezequiel confirma a respeito de Jó?

O profeta Ezequiel confirma que ele, de fato, foi uma pessoa real, correlacionando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14).

2 – Cite exemplos em que os fatos narrados em Jó remontam ao período patriarcal.

O sacerdócio como instituição ainda não existia, visto que Jó era o sacerdote de sua própria casa (Jó 1.5); as filhas de Jó eram coerdeiras juntamente com seus irmãos (Jó 42.15), o que não era permitido pela lei mosaica (Nm 27.8).

3 – Como o texto de Jó está organizado literariamente?

Ele está literariamente organizado assim: Uma prosa nos primeiros capítulos; uma longa poesia no meio; mais uma prosa no último capítulo.

4 – Por que o livro é rico em Metáforas?

Esse recurso estilístico é usado pelo autor bíblico quando ele quer dar mais expressividade e maior vivacidade ao texto.

5 – Qual é a principal questão apresentada no Livro de Jó?

A questão do sofrimento do inocente é a principal questão levantada no Livro de Jó.

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INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO

Todavia, mesmo sendo o esboço mais completo dentre os consultados, a obra dos expositores da Bíblia também mantinha as suas peculiaridades, sendo, portanto, aproveitado apenas em parte. Sendo assim, vi-me no desafio de trabalhar um esboço próprio, com poucas adaptações, para essa publicação. O resultado final não me pareceu destoar dos já existentes.

Pois bem, dito isso, é necessário destacar que o presente comentário procurou enfrentar todos os problemas levantados pelo livro de Jó, quer seja em relação à teodiceia, quer seja alguns outros de natureza puramente exegética. Nesse aspecto, foi tratada a questão relativa à origem e natureza do mal, bem como a fala da esposa de Jó. Foi também necessário traduzir em linguagem teológica aquilo que é, em seu princípio, de natureza puramente filosófica. Talvez o objetivo não tenha sido alcançado no seu todo, mas, sem dúvida, deixou o caminho mais fácil para quem quer chegar lá.

Uma palavra a mais precisa ser dada sobre a estrutura do presente comentário. Os cinco primeiros capítulos são dedicados inteiramente para tratar sobre Jó e o seu dilema. No capítulo 1, é feito um apanhado geral sobre o contexto social, cultural e histórico no qual Jó viveu. Da mesma forma, o capítulo 2 procura descrever, sempre fazendo exposição do texto, fatos e detalhes da vida e rotina de Jó. O propósito é fazer com que o leitor familiarize-se com Jó e com o mundo do qual ele participou.

Os capítulos 3 e 4 tratam, respectivamente, sobre a realidade de Satanás e o dilema de Jó. Já o capítulo 5 mostra quando Jó quebra o silêncio e amaldiçoa o dia do seu nascimento. Os capítulos 6, 7 e 8 tratam da teologia dos amigos de Jó. Como o texto do livro de Jó é arranjado de forma poética, no formato de uma peça teatral, algumas adaptações foram necessárias na estrutura do texto do presente comentário. A mais relevante é a que agrupou todas as falas de cada um dos amigos de Jó nos capítulos que tratam da teologia de cada um deles.

Dessa forma, por exemplo, as falas de Elifaz, que são intercaladas pelas respostas de Jó — o que faz com que elas estejam Introdução distribuídas em diferentes capítulos do livro —, são aqui colocadas em um único bloco. Isso tem o efeito positivo de não se enxergar de forma unilateral esses discursos nem tampouco cair em reducionismos na sua análise. Quer dizer, esse formato permite ver a visão do todo, e não apenas de partes fragmentadas.

O capítulo 9 foi dedicado exclusivamente para tratar do assunto da sabedoria. É mostrado no texto que alguns autores veem esse capítulo como se ele estivesse deslocado do restante do livro de Jó, não tendo relação nem com o que vem antes, o capítulo 27, nem tampouco com o que vem depois, o capítulo 29. Todavia, como ficou demonstrado, esse capítulo é posto propositadamente nesse lugar. O objetivo é contrastar a sabedoria humana, que está presente nos amigos de Jó, com a sabedoria divina, que é encontrada somente no temor do Senhor.

O capítulo 10 expõe a última defesa de Jó e antecipa aquilo que será apresentado no capítulo 11: a Teologia de Eliú. Da mesma forma que o tema referente à sabedoria levantou controvérsias por parte da crítica bíblica, assim também os discursos de Eliú. Alguns autores defendem que Eliú não fazia parte da redação original e que teria sido uma interpolação tardia feita por algum escriba para solucionar o impasse criado entre Jó e os seus três amigos. Todavia, como ficou demonstrado neste comentário, essa teoria é carente de comprovação.

Por último, os capítulos 12 e 13 tratam da revelação de Deus a Jó e de como ele foi restaurado. O leitor desatencioso ficará frustrado com a forma como Deus responde a Jó. Como Naamã (2 Rs 5), o general sírio que era leproso e foi curado pela intervenção do profeta Eliseu, muitos esperavam que, naquele momento, Deus fosse fazer algum show pirotécnico quando se revelou a Jó; mas não foi isso que aconteceu. Na verdade, Deus, em vez de responder às perguntas de Jó, fez-lhe mais perguntas ainda. Todavia, são nessas perguntas que a sabedoria de Deus demonstrou a sua graça ao patriarca. Jó é restaurado, o Senhor é glorificado, e nós somos edificados!

GONÇALVES. José,. A Fragilidade Humana e a Soberania Divina. O Sofrimento e a Restauração de Jó. Editora CPAD. pag. 12-13.

As pessoas têm debatido longa e seriamente sobre o problema e o significado do sofrimento humano. O livro de Jó é o mais destacado de todos esses esforços registrados na literatura mundial.

A narrativa trata da vida de um homem cujo nome provê o título do livro. O livro abre com um prólogo em prosa que descreve Jó como um homem rico e reto. Depois de uma série de calamidades, tudo que ele tem, incluindo seus filhos, lhe é tirado. A pergunta levantada no prólogo é se Jó vai conservar sua integridade diante de tamanho sofrimento. Somos informados que ele saiu vitorioso: “Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (2.10).

Além de preparar o terreno para o debate posterior relacionado ao propósito e ao significado do sofrimento, o prólogo também apresenta as personagens da trama. Deus é o Javé dos hebreus, que é Senhor do céu e da terra. Satanás aparece no papel de adversário de Jó. O herói, Jó, é um cidadão rico da terra de Uz. Ele recebe a visita de três dos seus amigos: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta e Zofar, o naamatita. Estes três homens vêm trazer conforto para o seu velho amigo.

A maior parte do livro é composta de diálogos entre os quatro amigos. Os “confortadores” estão seguros de que o sofrimento de Jó é causado por algum pecado que seu amigo está escondendo. Eles estão certos de que humildade e arrependimento vão resolver a situação. Jó, por outro lado, insiste em que, embora possua as fraquezas normais da raça humana, não cometeu nenhum pecado que pudesse causar tamanho infortúnio pelo qual está passando. Ele não concorda com a opinião de seus amigos de que pecado e sofrimento estão invariável e diretamente ligados como uma sequência de causa e efeito. Parece, a essa altura, que o autor pretende mostrar que Jó deveria ser o vitorioso na argumentação contra seus confortadores.

Um jovem espectador chamado Eliú está em silêncio e não é mencionado no início. Depois de três rodadas de debates com os outros amigos, ele intervém na discussão. Ele está injuriado com Jó por sua atitude irreverente em relação à providência de Deus. Ele também está igualmente indignado com os três amigos pela incapacidade deles de convencer Jó da sua culpa. Por intermédio de quatro discursos, não respondidos por Jó, Eliú expressa sua forte oposição no que tange aos sentimentos de Jó e discorda dele quanto ao significado do sofrimento.

Eliú, embora mantenha a posição básica dos outros conselheiros de Jó, ressalta a providência de Deus em todos os eventos humanos e o valor disciplinador do sofrimento. Dessa forma, ele exalta a grandeza de Deus. Diante desse pano de fundo ele afirma que a aflição do homem contribui para a sua instrução. Se Jó fosse humilde e piedoso, ele perceberia que Deus o estava conduzindo para uma vida melhor.

Então o Senhor se manifesta no meio da tempestade. O pedido insistente de Jó —de que Deus apareça e dê significado ao seu sofrimento— é finalmente atendido. No entanto, Deus não menciona o problema individual de Jó, nem trata diretamente dos problemas que ele levantou. Em vez disso, Ele deixa claro quem Ele é e o relacionamento que Jó, ou qualquer homem, deveria ter com Ele. Ao ver a glória e o poder de Deus, Jó é desarmado e humilhado. Quando ele vê Deus em sua verdadeira luz, arrepende-se das suas palavras e atitudes petulantes.

O epílogo descreve de que maneira o arrependido e humilhado Jó é restaurado, duplicando a sua prosperidade anterior. Após a restauração dos amigos e da família, Jó viveu uma vida longa e feliz — na verdade, mais 140 anos. Então ele morreu, “velho e farto de dias” (42.17).

Milo L. Chapman., . Comentário Bíblico Beacon. Jó. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 21-22.

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I – AUTORIA, LOCAL E DATA DO LIVRO DE JÓ

1. O autor de Jó.

Em vista do ambiente patriarcal que transparece no livro, a tradição judaica piedosa tem pensado que Moisés foi o autor do livro de Jó (Baba Bathra 14v ss), embora isso, segundo outros, esteja fora da realidade. O próprio livro não nos fornece nenhuma indicação de que Jó tenha escrito qualquer porção da obra. Isso posto, temos um autor desconhecido que viveu em um período desconhecido.

“A menção aos bandos de caldeus (Jó 1:17), e o uso da arcaica palavra qesitah (42:11, em nossa versão portuguesa, “dinheiro”) apontam, meramente, para a antiguidade da história, e não para a sua presente forma escrita. Os eruditos modernos têm variado na data do livro, desde os dias de Salomão até cerca de 250 A.C., embora as datas mais populares variem entre 600 e 400 A.C., apesar do que há uma tendência crescente em favor de datas posteriores.

Os argumentos com base no assunto, na linguagem e na teologia, provavelmente, favorecem uma data até posterior à de Salomão; mas, visto que o livro é sui generis dentro da literatura dos hebreus, e que a linguagem empregada é tão distintiva (alguns eruditos chegam a pensar que se trata de uma tradução de um original aramaico, enquanto que outros consideram que seu autor teria vivido fora da Palestina), qualquer dogmatismo deriva-se de fatores subjetivos e preconcebidos”. (ND)

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1858.

Os estudiosos do Antigo Testamento concordam entre si em que uma busca pelo autor desse livro está fadada ao fracasso. Em nenhuma parte do livro existe qualquer tipo de indicação quanto à identidade do homem que criou essa obra de arte literária. O livro não só se mantém calado em relação à sua origem, mas também não encontramos nenhuma sugestão bíblica independente em relação à sua autoria. Ezequiel (14.14,20) menciona um homem chamado Jó, conhecido por sua retidão; e Tiago (5.11) o reconhece como modelo de paciência. Essas duas referências mencionam um indivíduo chamado Jó. Elas não tratam da identidade do autor do livro.

Inúmeras sugestões têm sido feitas quanto a possíveis autores desse livro. Entre elas estão o próprio Jó, Moisés e uma variedade de pessoas anônimas, que vão desde a época dos patriarcas até o terceiro século a.C.

Embora o nome do autor nunca venha a ser conhecido por nós, algumas qualidades desse homem podem ser determinadas por meio do livro que ele escreveu. Quem quer que ele tenha sido, foi uma das maiores figuras literárias do mundo. Qualquer lista de grandes obras-primas na área da literatura certamente incluiria o livro de Jó. Na verdade, muitos a colocariam no topo da lista. Alfred Tennyson descreveu o livro de Jó como o maior poema dos tempos antigos e modernos e Thomas Carlyle disse que não existe nada dentro ou fora da Bíblia com o mesmo valor literário.

Ou o autor de Jó sofreu grandemente em sua própria vida ou ele teve uma capacidade incomum de sentir compaixão e empatia por aqueles que sofriam. Junto com essa grande sensibilidade ele foi profundamente religioso. Ele tinha uma percepção fora do comum quanto à natureza humana e estava bem inteirado com o mundo no qual vivia— o mundo da natureza, das idéias e da literatura.

Não se sabe se o autor era israelita, embora esse ponto seja debatido. Aqueles que acreditam não ser ele judeu7 apontam para o fato de que o nome do Deus de Israel, Javé, é raramente mencionado, exceto no prólogo e epílogo em prosa, enquanto que nos diálogos, em forma de poesia, são usados termos que eram de uso comum entre os povos vizinhos que circundavam Israel. Além disso, destaca-se o fato de que no livro não se encontra nenhuma instituição ou costume caracteristicamente judaicos e que o cenário da história é Uz (Edom, veja mapa 1), uma terra do Oriente (1.3).

Por outro lado, aqueles que entendem que o autor é israelita apontam para o fato de que a história é preservada e canonizada na literatura sagrada de Israel. Além disso, embora a literatura da “sabedoria” fosse comum nos tempos antigos em todo o Oriente Próximo, as ideias teológicas do livro de Jó se enquadram melhor no pano de fundo e quadro de referência bíblico do que em qualquer outro lugar.

Milo L. Chapman., . Comentário Bíblico Beacon. Jó. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 23-24.

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2. A pessoa histórica de Jó.

Alguns supõem que Jó nunca, realmente, existiu, e que o livro de seu nome é apenas uma novela romântico-filosófica, e não um livro verdadeiramente histórico. De fato, é significativo que não há qualquer registro genealógico desse homem; e alguns reputam isso como um sinal inequívoco da natureza não-histórica desse homem e de toda a sua história. Todavia, esse argumento se vê debilitado pelo fato de que um profeta tão importante como foi Elias (cuja historicidade não é posta em dúvida pelos eruditos) também não tem a sua árvore genealógica registrada na Bíblia.

Portanto, a questão genealógica não pode ser absoluta, ainda quando a ausência de tal genealogia possa parecer-nos indício de não-historicidade. Jó aparece como habitante da terra de Uz (Jó 1:1), o que, segundo alguns estudiosos, ficava situada em algum ponto entre Damasco da Síria, ao norte, e Edom, ao sul, ou seja, nas estepes a leste da Síria-Palestina. A ausência de informes geográficos específicos, ou mesmo de alusões geográficas, que poderiam ajudar-nos a identificar o lugar onde esse homem residia, também é considerada, por alguns estudiosos, como prova da não-historicidade da personagem e do livro que leva seu nome. Jó é chamado de «…o maior de todos os do Oriente» (Jó 1:3); mas isso é uma descrição tão vaga que, para todos os efeitos práticos, não tem utilidade. Quanto a outros comentários a respeito, ver sobre Jó (o Livro), sob Proveniência, terceira seção.

Jó figura central

Jó é a figura central do livro de Jó, cujas amargas experiências com o problema do mal (vide) nos tem fornecido um estudo antigo, de natureza filosófico-teológica sobre a questão. Esse é um dos mais difíceis problemas da filosofia, da teologia e da vida humana em geral. Fora do próprio livro, Jó é mencionado na Bíblia em Eze. 14:14,20 e Tia. 5:11, onde é comentada a sua notável resistência. A narrativa gira em torno dos sofrimentos de Jó, o que levanta a indagação: «Como pode sofrer assim um homem justo?»

Se Jó foi uma figura humana literal, conforme cremos, então ele pode ter sido um xeque que vivia perto do deserto da Arábia, nos tempos dos patriarcas do Antigo Testamento (não há qualquer menção à lei mosaica, nesse livro de Jó). É possível que Jó fosse uma personagem histórica, e que um autor posterior, conhecendo a história mediante a tradição oral, a tenha reduzido à forma escrita. Mas, por essa altura, a genealogia e o arcabouço histórico de Jó se tinham perdido, pelo que esses detalhes não foram registrados, ainda que importantes para a mentalidade dos hebreus.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4546.

O Nome

Para alguns historiadores, o nome de Jó é apenas figura de um personagem, para servir de titulo ao livro. Parece não ter consistência esta opinião, Porque ele é mencionado em outros livros da Bíblia como o nome de uma pessoa. Veja Ez. 14:14,18,20. Os árabes conservam tradições a respeito de Jó como personagem pertencente aos patriarcas, príncipes dos seus maiores. É lembrado como um homem rico e que, por sua fidelidade a Deus, foi provado na sua vida e prosperidade.

O teor do livro mesmo nos leva à convicção de que o personagem era uma pessoa real, tal como a descreve o poema. Jeremias, o profeta (cap. 20:14-18), representa-se a si mesmo, nas suas aflições, como Jó. Isaias (59:,I) representa não tanto o livro, mas a pessoa de Jó. Alguns salmos (8:4 e refs.) também nos representam a pessoa de Jó. Não temos qualquer dúvida de ser Jó ó homem que viveu o drama que o livro descreve.

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó. Editora JUERP.

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3. A terra de Jó.

UZ

No hebraico, “firmeza”, presumivelmente de Uz, filho de Arã, filho de Sem, e assim o território onde ele e seus descendentes viviam. Alguns dizem que o nome significa “consulta”. O Antigo Testamento contém três pessoas chamadas assim, além de um território.

1. Um filho de Arã (Gên. 10.23; i Crô. 1.17), neto de Sem. Viveu em torno de 2200 A. C.

2. Um filho de Naor por sua mulher Milca (Gên. 22.21). Sua época foi em torno de 2000 A. C.

3. Um filho de Disom da família de Seir, ancestral distinto dos horeus (Gên. 36.28), que viveu em torno de 1700 A. C.

4. A terra de Uz, onde dizia-se que Jó vivia (Jó 1.1). A Bíblia fornece várias observações que nos ajudam a localizar essa terra: era um país (território) localizado próximo aos sabeus e caldeus (Jó 1.1, 1517). Era acessível aos temanitas e naamitas (Jó 2.11). Os buzitas estavam relacionados a ela (Jó 32.2). Os edomitas governaram o lugar em épocas passadas (Jer. 24.20; Lam. 4.21). Ficava próxima a um deserto (Jó 1.19). Teve vários xeques, chefes de tribos, povos semitas (Jer. 25.20, 23). Na terra de Uz ficava a colônia de Edom, que é uma “filha” do local (Lam. 4.21).

Além das observações da Bíolia, temos o testemunho de Josefo, que situava o lugar no nordeste da Palestina, dizendo “Uz fundou Traconites e Damasco” (Ant. 1.6.4). As tradições árabes estão de acordo com isso. Talvez o wadi Sirhan moderno, ao sul de Jebel ed Druz, seja situado no antigo território. Essa é uma grande depressão rasa, parecida com uma planície de cerca de 300 km de extensão e com uma média de 30 km de largura. Possui terra pastoril abundante, o que se ajusta a Jó 1.3.

Há água suficiente para suportar animais silvestres e domesticados, além de uma população humana razoável, especialmente se os povos envolvidos fossem tribos nômades de números pequenos de indivíduos. Os mapas da Zondervar Pictorial Encyclopedia of the Bible localizam Uz próximo a Damasco, mas o wadi Sirhan, a leste do mar Morto, de forma que contradiz os aspectos das informações dadas acima. A localização a leste do mar Morto parece ser mais lógica.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 5416.

A terra de Jó era Uz;

ficava (ou fica) ao sul de Edom e a oeste do deserto da Arábia, região meio deserta, e que se estende para leste, até Babilônia. Tem havido algumas objeções quanto a esta região ser a terra de Jó; todavia, não padece muita dúvida, pois é a que mais se coaduna com os termos descritos no livro. Terra de criadores, agricultores, como eram os edomitas e amonitas dos tempos bíblicos. Tanto a terra como o nome estão identificados.

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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4. A época de Jó.

O livro é encaixado, bem claramente, dentro do período dos patriarcas hebreus. Não há nenhuma menção à lei mosaica, como também coisa alguma distintamente judaica no livro. Alguns eruditos supõem que houvesse uma tradição oral, que preservava a narrativa, fora de Israel, antes de ter sido posta em forma escrita, por algum israelita desconhecido. A isso podem ter sido feitas adições, da parte de um editor ou editores posteriores, como um prólogo, alguns dos capítulos finais e o epílogo. Se Jó foi uma personagem histórica, então poderíamos datá-lo dentro dos limites amplos entre 2000 e 1000 A.C.

Várias descrições, como a longa vida de Jó, o fato de que suas riquezas eram aquilatadas sob a forma de gado, e que o relato parece refletir uma vida nômade (própria das tribos dos sabeus e dos caldeus), ajustam-se ao segundo milênio A.C., melhor que qualquer outra época posterior. Isso faz de Jó um homem que viveu há muito tempo no passado, talvez até algum tempo antes de Abraão. Por outro lado, visto que o livro faz parte da literatura de sabedoria dos judeus, muitos têm pensado que sua compilação pertence a um tempo muito posterior a isso. As opiniões a respeito divergem muito umas das outras, indo desde o segundo milênio até o século IV A.C.

Encontraram-se fragmentos do livro de Jó entre os manuscritos do mar Morto, o que elimina a data ultra posterior de 200 A.C., como alguns eruditos têm arriscado. Todavia, esse livro poderia refletir especulações filosóficas, sobre o problema do mal, especificamente o porquê dos sofrimentos de certos homens bons, o que já pertence ao período pós-exílio dos judeus. Os judeus estavam então meditando sobre como grandes tragédias podem sobrevir aos homens, conforme os próprios judeus tinham sofrido às mãos dos assírios e dos babilônios. Ideias comuns sobre como operam a divina providência e a retribuição, estavam sendo testadas pelos acontecimentos históricos, e o livro de Jó pode ter sido uma tentativa para provar respostas para esse problema.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1858.

A época da composição desse livro permanece um problema tão complicado quanto o da autoria. Diversas datas foram sugeridas e elas variam desde o século XVIII até o século III a.C.

De acordo com a descrição do livro, o homem Jó mostra um tipo de vida e cultura que mais se aproxima do período patriarcal. Por exemplo, o livro afirma que Jó viveu mais 140 anos depois da restauração da sua saúde e riqueza, além dos anos que ele tinha vivido antes do seu infortúnio. Não há expectativa de vida como essa na narrativa bíblica depois do período patriarcal. A riqueza de Jó consistia basicamente em rebanhos e manadas, como ocorria com os patriarcas. O próprio Jó oferece sacrifícios pela sua família, como era o costume dos patriarcas. No entanto, ele parece desconhecer a oferta pelo pecado e outras práticas mosaicas.

Esse tipo de consideração faz com que muitos estudiosos acreditem que o prólogo (1.1—3.1) e o epílogo (42.7-16), nos quais aparece essa informação, reflitam um registro mais antigo que serviu de base para o diálogo poético que foi escrito bem mais tarde.

Não encontramos nenhuma alusão no livro de Jó que poderia nos ajudar na averiguação da data da sua composição. Portanto, o único meio de definir uma data segura seria a sua relação literária com outros materiais da mesma época. Infelizmente, não existe muito material desse tipo para nos ajudar a encontrar essa data. Ezequiel (14.14- 20) cita um homem com esse nome, mas não se sabe se ele conhecia o livro de Jó. A maldição de Jeremias em relação ao dia do seu nascimento (20.14) e a de Jó (3.1-26) são notavelmente semelhantes, mas é impossível dizer qual deles poderia ter a obra do outro em mente. Malaquias 3.13-18 poderia facilmente ter sido escrito com o livro de Jó em mente.

Robert H. Pfeiffer argumenta que Jó foi escrito antes do poema do servo-sofredor de Isaías (52.13—53.12), alegando que o sofrimento vicário em Isaías é teologicamente mais avançado do que a compreensão de Jó acerca do significado do sofrimento imerecido, mas esse é um argumento baseado em uma premissa duvidosa. A descoberta de um Targurn de Jó nas cavernas de Qumrã prova que o livro já estava em circulação durante algum tempo antes do primeiro século a.C.

A data do livro de Jó permanece uma questão aberta, mas a opinião majoritária é que o diálogo ocorreu no século VII a.C.

Milo L. Chapman., . Comentário Bíblico Beacon. Jó. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 24-25.

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II – ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE JÓ

1. Prosa e poesia.

A natureza composta do livro de Jó é geralmente aceita. O prólogo (1.1—2.13), bem como a introdução aos discursos de Eliú (32.1-5) e o epílogo (42.7-17) são apresentados em prosa. O restante do texto está em forma poética. Esse fato é facilmente reconhecido pelo leitor de uma tradução mais moderna como a de Moffatt ou a RSV em inglês, ou a NVI ou BLH em português, que colocam tanto a prosa como a poesia na forma apropriada. Embora essa alternância de prosa e poesia por si só não prove a natureza composta do texto, ela sugere essa possibilidade. E possível que o autor e poeta tenha usado uma narrativa primitiva em relação a Jó a fim de prover o cenário para o debate entre Jó e seus amigos. Se esse foi o caso, a antiga história é representada pelo prólogo em prosa e talvez pelo epílogo.

Acredita-se, de modo geral, que o epílogo não pertença ao argumento principal do livro. Jó passou a maior parte do tempo negando que a prosperidade material seja a recompensa da retidão. Portanto, parece uma incoerência ver o livro terminando com o Senhor dando a Jó “o dobro de tudo o que antes possuíra” (42.10). Quem defende esse ponto de vista, acredita que a mão de um editor posterior tramou esse final para acomodar suas próprias convicções em relação às questões levantadas.

No entanto, Gray argumenta energicamente que o epílogo pertence ao material original, ao dizer que o propósito real do autor é simplesmente afirmar que o homem pode ser bom sem ser recompensado por isso. E nesse momento que Jó se torna vitorioso. Ele aceita tanto o bem como o mal de Deus sem rebelar-se contra Ele, mesmo que pergunte por que é, às vezes, admita de forma amarga que Deus está contra ele, sem justa causa. Jó não exigiu restauração da sua prosperidade como uma condição para servir a Deus.

O que ele pediu foi uma vindicação do seu caráter. Quando isso é alcançado, não existe inconsistência com o propósito e argumento do autor em permitir que a narrativa tenha um final materialmente feliz para Jó. Os sofrimentos que ele teve de suportar tinham um propósito particular. Não havia necessidade para o sofrimento se tomar perpétuo depois que o propósito tinha sido alcançado.

Uma outra parte do livro, apesar da sua beleza poética e grandiosidade de pensamento, é frequentemente rejeitada como parte original do livro. A sua localização atual encontra-se inserida entre duas partes do discurso de Jó no qual ele se queixa amarga-, mente da sua sorte. Essa parte do livro é um poema de exaltação da sabedoria que constitui o capítulo 28. Além disso, o propósito do poema de sabedoria — se realmente for da autoria de Jó —, tornaria desnecessário muito do que Deus diz a ele mais tarde no livro.

Os discursos de Eliú (32.6—37.24) também podem ter sido um acréscimo ao livro original. Em apoio a esse ponto de vista podemos observar que Eliú não figura entre os amigos de Jó no início da narrativa nem no epílogo. Além disso, suas observações acrescentam muito pouco ao debate. Elas são basicamente uma reiteração fervorosa dos mesmos princípios que foram defendidos pelos outros três amigos.

Uma outra parte do livro que normalmente é vista como uma interpolação é a descrição de Beemote e Leviatã (40.15—41.34). As evidências apresentadas são que essas descrições são muito detalhadas em relação ao restante do discurso e que elas refletem ideias a respeito de criaturas tiradas do imaginário popular. O ataque contra essa parte do livro não é conclusivo.

Milo L. Chapman., . Comentário Bíblico Beacon. Jó. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 22-23.

A Estrutura do Livro

A estrutura de Jó segue um esquema lógico e literariamente perfeito. O livro foi escrito tendo em vista o seguinte esquema:

1. Prólogo. Composto numa prosa cristalina e vivida, sintetiza a existência de Jó antes de seu sofrimento, e as dúvidas que Satanás levantara diante do Senhor acerca de seu caráter.

2. Diálogo. Numa série de três diálogos, Jó discute com seus amigos acerca do tema principal da obra: o sofrimento do justo.

3. Monólogos. Dois são os monólogos do livro: o de Eliú que, com autoridade, repreende o patriarca, afirmando lhe que Deus tem o inquestionável direito de provar os seus servos, a fim de que estes alcancem a perfeição. E, finalmente, o monólogo de Deus que, de forma indutiva, leva Jó a compreender e a aceitar as reivindicações divinas quanto à provação do justo.

4. Epílogo. Também composto em prosa, narra a restauração completa de Jó. Espiritual e materialmente torna-se o patriarca um homem muito melhor. Se antes era perfeito no caráter, agora torna-se um padrão a ser imitado por todos os servos de Deus.

ANDRADE. Claudionor Corrêa de,. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 25-26.

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2. Organização.

Esboço do Conteúdo

1. Prólogo. O teste é proposto e aceito (caps. 1 e 2).

2. Primeira Série de Discursos. O discurso de Jó e de seus três amigos molestos (caps. 3—14).

a. Jó seria culpado, pelo que estava sendo punido. Essa é a razão do sofrimento humano.

b. Jó nega tal acusação.

3. Segunda Série de Discursos. Os três amigos molestos de Jó discursam e recebem sua resposta (caps. 15—21).

4. Quarta Série de Discursos. Elifaz e Bildade apresentam novos argumentos e Jó lhes dá resposta (caps. 22—33).

5. Discursos de Eliú (caps. 32—37)

a. O propósito da aflição (caps. 32—33)

b. Vindicação da pessoa de Deus (cap. 34)

c. As vantagens da piedade (cap. 35)

d. Deus é grande, e Jó é ignorante (caps. 36 e 37)

e. Eliú faz a valiosa observação de que o sofrimento pode servir-nos de disciplina.

6. Os Discursos de Deus (caps. 38—42:6)

Na Presença de Deus, a solução deve ser sentida, mesmo quando não intelectualizada.

a. Deus é todo-poderoso e majestático! Jó percebe sua pequenez e sente a vaidade de suas palavras (38:1—40:5).

b. O poder de Deus contrasta com a fraqueza humana. Jó se arrepende e demonstra a humildade que cabe bem ao homem. A presença de Deus experimentada garante a solução final para o problema do mal (40:6—42:6).

7. Epílogo. Os molestos consoladores de Jó são repreendidos. Deus reverte a fortuna de Jó, e a paz e a abundância material substituem a enfermidade e a carência (42.7-17).

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1859-1860.

Neste livro temos: (1) A história dos sofrimentos de Jó, e sua paciência nessas circunstâncias (caps. 1-2, não sem uma mistura de fragilidade humana, conforme o cap. 3). (2) Uma discussão entre Jó e os seus amigos, sobre eles, na qual: [1] Os oponentes eram Elifaz, Bildade e Zofar. [2] O indagado era Jó. [3] Os moderadores eram: Primeiro, Eliú, caps. 32-37. E, mais adiante, o próprio Deus, caps. 38-41. (3) A conclusão de tudo na honra e na prosperidade de Jó, cap. 42. No todo, aprendemos que muitas são as aflições dos justos, mas que quando o Senhor os livra delas, toda provação da sua fé redundará em louvor, honra, e glória.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. pag. 2.

3. Abundância de figuras de linguagens. O livro é rico em metáforas.

Figuras de linguagem

Há abundantes figuras de pensamento ou de linguagem de vários tipos na poesia: símile, metáfora, personificação, hipérbole, apóstrofe, etc. Elas são, em primeiro lugar, uma outra forma de expressão. Mas também visam desafiar o leitor na interpretação, conseguida por meio de relacionamentos.

Uma figura de linguagem ocorre quando utilizamos uma palavra com um sentido secundário.

Carneiro. Moisés,. Livros Poéticos, Curso Básico em Teologia. Instituto Belém. pag. 11.

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III – NATUREZA E MENSAGEM DO LIVRO DE JÓ

1. Por que os justos sofrem?

Razões do Sofrimento, Segundo o Livro de Jó:

Seja como for, o livro de Jó procura nos fornecer algumas respostas para o problema do mal. Abaixo, oferecemos um sumário:

1. Os discursos dos amigos molestos de Jó fornecem a resposta-padrão, que está sendo posta em dúvida, por este livro:

Deus castiga os impios com o sofrimento. Segundo os amigos de Jó, a retribuição divina é a grande resposta. Mas, apesar de haver nisso alguma razão, Jó nos é apresentado como um homem inocente das acusações de que o acusavam, pelo que os seus sofrimentos não podiam ser atribuídos àquelas acusações. Mesmo quando ele se confessou pecador, e declarou que se arrependia, isso não foi feito a fim de explicar por que ele estava sofrendo, mas serviu apenas para mostrar que todos os homens, diante de Deus, devem assumir uma posição de humildade, como pecadores que são. Ver Jó 42:6.

2. Os discursos de Eliú salientaram o princípio de que o sofrimento é uma disciplina para os justos, o que corresponde a um princípio verdadeiro, embora, por certo, não seja a resposta no caso especifico de Jó. Ver Jó 33:16-18; 27:30; 36:10-12.
3. Jó 19:25,26. Os remidos participam de uma gloriosa vida pós- túmulo, pelo que todos os sofrimentos terrenos e temporários são ali obliterados.

Essa é uma boa resposta-padrão, sem dúvida, mas não é ainda o principal argumento do livro. Seja como for, essa resposta tenta pôr na correta perspectiva o problema do sofrimento humano. Nós, como seres mortais, exageramos a importância das coisas temporais e transitórias desta vida. Pode haver desígnio ou não nessas coisas; mas elas duram por algum tempo, e logo se acabam.

4. Há profundezas da fé que os justos podem obter, e que lhes conferem coragem para enfrentar seus sofrimentos, sem duvidarem da providência e dos desígnios de Deus.

Apesar disso também não são uma resposta definitiva para o problema, é uma espécie de solução para aqueles que estão sofrendo no presente. Um homem, mediante a sua fé, impõe-se à sua situação adversa, obtendo nisso razão para prosseguir, significado, desígnio e esperança.

5. O texto sagrado declara que Deus atua em todo o universo, trazendo chuvas à terra onde nenhum homem existe (Jó 38:26), que Deus está cônscio do mal e dos sofrimentos (personificados nos monstros, hipopótamo e crocodilo, Jó 40:15—41:34).

É óbvio que Deus cuida dos homens e observa os seus sofrimentos. Apesar de, talvez, não sabermos qual a razão de nossos sofrimentos, pelo menos tomamos consciência da bondade e da providência permanentes de Deus, o qual permite todas essas coisas, e assim podemos descansar no Senhor.

6. A Presença de Deus. Essa é a resposta final e mais excelente do livro de Jó.

Poderíamos dizer: “Estive com o Senhor, e sei que não pode sobrevir ao homem, finalmente, um dano permanente”. Essa é a resposta mística, a resposta que envolve a presença majestática e consoladora de Deus. Na presença de Deus, talvez os nossos argumentos intelectuais não melhorem; mas a nossa fé em sua providência torna-se invencível. Os místicos que têm experimentado a presença divina têm chegado ao extremo de negar a existência do mal, exceto como um fator que envolve a ausência do bem, ou seja, aquilo que contrasta com o bem positivo. Todos os atos de Deus estão encobertos dos olhares humanos, embora vejamos muitas luzes.

Há cores brilhantes e escuras, formando um grande desenho, como em um tapete. As cores escuras fazem destacar a beleza das cores brilhantes; e, juntas, essas cores, brilhantes e escuras, produzem uma beleza singular. Alguns místicos afirmam que o mal e o sofrimento perfazem as cores escuras daquele simbólico tapete, e que, finalmente, tudo é bom, tudo é necessário; tudo faz parte da beleza de todas as coisas. Na presença de Deus, pois, sentimos isso, embora, talvez, nos faltem argumentos intelectuais para afirmar tal coisa de modo inteligente. Na presença de Deus, pois, encontramos sua vontade inescrutável, e nos inclinamos, reverentes, sabendo que até o mal redundará em bem para nós, embora não saibamos dizer de que maneira. Quando a alma comunga com Deus, ela sabe que Deus está em seu trono, e que tudo está bem no mundo.

Talvez não disponhamos de respostas intelectuais, mas podemos experimentar a presença d’aquele que nos dá as respostas, e é em momentos como estes que sabemos que o Consumado Artista nunca cai em erros e equívocos. O criador de todas as coisas indagou de Jó: “Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares?” (Jó 40:8). Jó não ficou satisfeito com as respostas que lhe foram dadas e, sim, com a comunhão imediata com o Ser divino. Foi isso que levou Jó, à semelhança dos grandes profetas, a dizer: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5). E todas as soluções possíveis para o mal que há neste mundo são encontradas em face dessa visão beatífica.

7. O prólogo tem por finalidade dar-nos a resposta (ou, pelo menos, uma resposta), desde o começo.

Satanás, percebendo a prosperidade de Jó, e como Deus elogiou seu fiel servo, pôs então em dúvida a lisura de Jó, propondo submeter a teste a autenticidade de sua bondade. Jó seria bom por ser verdadeiramente justo, ou seria bom somente porque Deus o havia abençoado? Em outras palavras, a sua bondade era autêntica justiça de alma, ou seria uma bondade egoísta, alicerçada sobre a prosperidade material?

Seguiu-se o terrível teste de Jó. Se levarmos em conta isso, de forma literal, e não como um esquema literário para introduzir a narrativa, então temos aí um mui perturbador ensino de que os justos podem sofrer meramente porque os poderes malignos querem submetê-los a teste; e, mais perturbador ainda é o pensamento de que Deus coopera para que os justos sejam submetidos a essas provas! Portanto, é melhor compreendermos esse prólogo (provavelmente escrito por um autor diferente daquele que compôs o grande poema) como um artifício literário, e não como algo cuja intenção era mostrar que as Escrituras ensinam que os poderes malignos podem fazer uma espécie de barganha com Deus, com o resultado de que os justos acabam sofrendo injustamente.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1859.

O Sofrimento segundo a Teologia

O sofrimento é um assunto de tal forma importante, que alguns teólogos houveram por bem destinar-lhe um lugar de realce em suas abordagens. Haja vista Kazo Kitamori, professor do Seminário Teológico de Tóquio. Como fruto de suas reflexões, acabou por concluir que o sofrimento não é exclusividade dos seres humanos: Deus, através de Cristo, também veio a experimentá-lo. De acordo com Kitamori, o sofrimento de Deus é o cerne do Evangelho. Deus sofre e angustia-se por causa de seu povo; por isso, tudo faz por conceder-nos a redenção mediante o sangue de seu Filho.

E. H. Bancroft sumaria o posicionamento da teologia em relação ao problema do sofrimento: “Em última análise, Satanás é a fonte primária de todo sofrimento, visto que é ele a causa primária de todo pecado. Ele também é o responsável imediato de muitos casos específicos de enfermidades e doenças, a respeito dos quais o Novo Testamento nos fornece exemplos”.

A. R. Crabtree assim discorre sobre o tema: “A existência do mal no mundo é o problema mais sério para todas as pessoas que creem em Deus. As experiências com Deus, apesar das experiências do mal, constituíram a base da fé religiosa do povo de Israel e da sua certeza da existência e da bondade do Senhor. Para o ateísta que não crê na existência de Deus, o sofrimento e a crueldade não têm propósito nem significação.

Mas, com o crescimento da fé religiosa, este problema geralmente se torna mais agudo”. Prossegue Crabtree: “E tão antigo como a raça humana. Toma muitas formas na perturbação do homem, e tem lugar central nas mitologias, nos sistemas filosóficos, nas teologias e nas ideologias modernas. N o Velho Testamento o problema do mal é representado por vários pontos de vista através da longa história de Israel, sempre relacionado com a doutrina do pecado”.

Escreve H. O rton Wiley: “Toda a forma de pecado tem a sua própria pena. H á pecados contra a lei, contra a luz e contra o amor — cada um deles tem a sua pena especial”. Até este ponto, todos nos encontramos de acordo. No entanto, como explicar que um homem, semelhante a Jó, viesse a ser atormentado por tão duras aflições? Wiley afirma que basta ser posteridade de Adão para se estar sujeito a todas as consequências do pecado.

O teólogo pentecostal Bruce R. Marino é incisivo: “A penalidade, ou castigo, é o resultado justo do pecado, infligido por uma autoridade aos pecadores e fundamentado na culpa destes. O castigo natural refere-se ao mal natural (indiretamente da parte de Deus) incorrido por atos pecaminosos (como a doença venérea provocada pelos pecados sexuais e a deterioração física e mental provada pelo abuso de substâncias tóxicas). O castigo positivo é infligido sobrenatural e diretamente por Deus. O pecador é fulminado”.

De uma forma geral, os teólogos cristãos e judeus acham-se de pleno acordo a respeito da etiologia e dos propósitos do sofrimento humano. É claro que, deste grupo, excluem-se os liberais que, buscando desconstruir a Palavra de Deus, esforçam-se por construir uma teologia vazia de Deus, e divorciada das Sagradas Escrituras.

ANDRADE. Claudionor Corrêa de,. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 5-7.

1 Lição 4 tri 20 O Livro de Jó

2. Existe bondade desinteressada?

Mensagem Principal do Livro. Embora o livro, de fato, proponha uma teodicéia (a defesa da bondade de Deus diante do sofrimento

humano), apresenta primariamente o problema da existência ou não da fé e da espiritualidade desinteressada. Porventura um homem tem fé por razões egoístas? Porventura ele obtém em sua fé ganho, material e espiritual, que o beneficie? Haverá ele de servir a Deus, adorará ele a Deus, se as coisas saírem erradas e se suas orações não forem respondidas? O autor sagrado traz o problema do mal ao quadro, para testar a teoria da fé e da adoração desinteressada.

Quais são os motivos que levam um homem a viver piedosamente? Os homens são sempre egoístas? Porventura um homem adora Deus somente por Ele ser Deus, sem considerar alguma vantagem pessoal através de sua fé? “Haverá na terra um homem fiel a Deus, pelo fato de ele ser de Deus?” (Bemhard W. Anderson, comentando Jó 1.9). Esse intérprete prossegue a fim de dizer: “A questão do livro de Jó não é a teodicéia, mas a adoração verdadeira”.

“A sugestão sutil de Satanás, de que a adoração é algo basicamente egoísta, fere no âmago do homem sua relação com Deus. O livro de Jó faz mais do que levantar a questão do sofrimento dos justos. Através das palavras de Satanás, o livro também trata dos motivos para a vida piedosa. Porventura alguém servirá o Senhor se não obtiver algum lucro pessoal com isso? A adoração é uma moeda que compra uma recompensa celestial? É a piedade parte de um contrato mediante o qual um homem obtém lucro e afasta a tribulação?” (Roy B. Zuck, comentando Jó 1.9).

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1860.

Um Tema Difícil, porém Consolador

Transcendendo o drama humano, centra-se o Livro de Jó nesta pergunta: “Por que sofre o justo?” Que o pecador sofra, todos entendemos! Mas o justo? Aquele que tudo faz por agradar a Deus? Sidlow Baxter, diante dessa incômoda temática, afirmou: “Atrás de todo o sofrimento do homem piedoso está um alto problema de Deus, e atrás de tudo isso está, subsequentemente, uma inefável e gloriosa experiência”. Se a princípio é indesejável a experiência do sofrimento, o seu propósito, de acordo com a vontade de Deus, é sempre sublime. Foi o que experimentou o salmista: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (SI 119.71).

William W. Orr resume assim o assunto central de Jó:

“Satanás acusou Deus de não ser correto na sua maneira de tratar o homem. Para justificar-se, Deus permitiu que Satanás afligisse esse abastado homem do Oriente”.

Gleason L. Archer, Jr. faz uma interessante análise do tema de Jó: “Este livro trata com o problema teórico da dor na vida dos fiéis. Procura responder à pergunta: Por que os justos sofrem?

Esta resposta chega de forma tríplice; I) Deus merece nosso amor à parte das bênçãos que concede; 2) Deus pode permitir o sofrimento como meio de purificar e fortalecer a alma em piedade; 3) os pensamentos e os caminhos de Deus são movidos por considerações vastas demais para a mente fraca do homem compreender, já que o homem não pode ver os grandes assuntos da vida com a mesma visão ampla do Onipotente. Mesmo assim, Deus realmente sabe o que é o melhor para sua própria glória e para nosso bem final. Esta resposta é dada em contraste aos conceitos limitados dos três consoladores de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar”.

Escreve Henry Hampton Hailey: “Ao lermos o livro de Jó do começo ao fim, devemos nos lembrar de que Jó nunca soube por que sofria — nem qual seria o desfecho. Os dois primeiros capítulos de Jó nos explicam por que isso aconteceu e deixam claro que a causa de seus sofrimentos não era algum castigo por pecados, mas, sim, a provação de sua fé — Deus tinha plena confiança dê que Jó seria aprovado. Entretanto, embora nós, leitores do livro de Jó, saibamos desse desfecho, o próprio Jó nada sabia”.

Se Jó não sabia a razão de todo o seu sofrimento, aceitava-o de forma resignada. Todavia, entre o aceitar e o compreender vai todo um abismo de interrogações. Pela fé aceitamos; nem sempre, porém, compreendemos. Foi o que o Senhor disse a Pedro na cerimônia do lava-pés: “O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois” (Jo 13.7). Enfim, Jó não compreendia por que estava sofrendo, mas Deus sabia por que ele teria de sofrer. Será que Jó tinha ciência da importância de seu sofrimento na história da salvação?

Depois de destacar o argumento do Livro de Jó, ressalta Warren W. Wiersbe que Deus usou o sofrimento do patriarca para derrotar o Diabo. Aduz o pastor Wiersbe que os servos de Deus, quais intrépidos soldados, acham-se em pleno campo de batalha. Às vezes, porém, o campo de batalha acha-se dentro de nós mesmos.

O enredo de Jó não se resume ao problema do sofrimento humano; sua temática é transcendente; busca saber por que alguém como o patriarca é submetido a uma provação tão grande e inumana. Que este tópico seja encerrado com a declaração de Henrietta C. Mears: “Vem a calhar que o livro mais antigo trate dos problemas mais antigos. Entre eles: Por que o justo sofre? Este é o tema do livro”.

ANDRADE. Claudionor Corrêa de,. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 14-16.

1 Lição 4 tri 20 O Livro de Jó

3. Pode o homem compreender Deus?

Mensagem Principal do Livro. Embora o livro, de fato, proponha uma teodiceia (a defesa da bondade de Deus diante do sofrimento humano), apresenta primariamente o problema da existência ou não da fé e da espiritualidade desinteressada. Porventura um homem tem fé por razões egoístas? Porventura ele obtém em sua fé ganho, material e espiritual, que o beneficie? Haverá ele de servir a Deus, adorará ele a Deus, se as coisas saírem erradas e se suas orações não forem respondidas? O autor sagrado traz o problema do mal ao quadro, para testar a teoria da fé e da adoração desinteressada.

Quais são os motivos que levam um homem a viver piedosamente? Os homens são sempre egoístas? Porventura um homem adora Deus somente por Ele ser Deus, sem considerar alguma vantagem pessoal através de sua fé? “Haverá na terra um homem fiel a Deus, pelo fato de ele ser de Deus?” (Bemhard W. Anderson, comentando Jó 1.9). Esse intérprete prossegue a fim de dizer: “A questão do livro de Jó não é a teodiceia, mas a adoração verdadeira”.

“A sugestão sutil de Satanás, de que a adoração é algo basicamente egoísta, fere no âmago do homem sua relação com Deus. O livro de Jó faz mais do que levantar a questão do sofrimento dos justos. Através das palavras de Satanás, o livro também trata dos motivos para a vida piedosa. Porventura alguém servirá o Senhor se não obtiver algum lucro pessoal com isso? A adoração é uma moeda que compra uma recompensa celestial? É a piedade parte de um contrato mediante o qual um homem obtém lucro e afasta a tribulação?” (Roy B. Zuck, comentando Jó 1.9).

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1860.

O esforço de Satanás para convencer a Deus de que ninguém o serve desinteressadamente. Todos têm, de um modo ou de outro, os seus interesses ligados ao culto a Deus (caps. 1 e 2). Nesse campo de cogitações, Satanás insinua que a religião de Jó é conseqüência da sua prosperidade; portanto, uma vez privado da mesma, renunciará imediatamente ao culto a Deus. Deus aceitou o desafio e autorizou Satanás a destruir a fortuna de Jó, para verificar que a sua piedade não resultava da riqueza, mas, sim, do amor e reconhecimento do próprio Jó.

A seguir vem a outra prova. Se Deus lhe tirasse a saúde, Jó amaldiçoaria a Deus. Satanás tem permissão para destruir a saúde de Jó, porém este continuou firme na sua crença em Deus. Desta prova resultou o drama que constitui o Livro de Jó.

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

1 Lição 4 tri 20 O Livro de Jó

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

4 ° Trimestre 2020  A Fragilidade Humana e a Soberania Divina

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