12 LIÇÃO 1 TRI 2022 AS EPÍSTOLAS INSTRUEM E FORMAM OS CRISTÃOS

12 LIÇÃO 1 TRI 2022 AS EPÍSTOLAS INSTRUEM E FORMAM OS CRISTÃOS

12 LIÇÃO 1 TRI 2022 AS EPÍSTOLAS INSTRUEM E FORMAM OS CRISTÃOS

 

 

TEXTO ÁUREO

 

“A graça, a misericórdia, a paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, sejam convosco na verdade e amor.” (2 Jo 1.3)

 

VERDADE PRÁTICA

 

As epístolas apresentam instruções vitais para a compreensão da doutrina cristã, bem como para a formação dos cristãos.

 

LEITURA DIÁRIA

 

Segunda – Rm 1.17 Em Cristo descobrimos a justiça de Deus: o justo viverá pela fé

 

Terça – Ef 1.22,23 Cristo é o cabeça; e a Igreja, o seu Corpo

 

Quarta – 1 Pedro 1.7 A fé é provada como o ouro é provado pelo fogo

 

Quinta – 1 Jo 1.6,7 O salvo deve viver em comunhão com os irmãos

 

Sexta – 2 Co 7.1 O crente deve purificar-se de toda imundícia da carne e do espírito

 

Sábado – Ef 4.13 O cristão deve buscar a medida da estatura de Cristo

 

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

l Coríntios 1.1-3; 1 Pedro 1.1,2; 2 João 1.1-3

 

l Coríntios 1

1- Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus) e o irmão Sóstenes,

 

2 – À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

 

3 – graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

 

1 Pedro 1

1 – Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia;

 

2 – Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.

 

2 João 1

1 – O ancião à senhora eleita e a seus filhos, aos quais amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade,

 

2 – Por amor da verdade que está em nós e para sempre estará conosco.

 

3 – A graça, a misericórdia, a paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai, seja convosco na verdade e amor.

 

 

Hinos Sugeridos: 117,190, 533 da Harpa Cristã

 

 

PLANO DE AULA

 

1- INTRODUÇÃO

A lição desta semana tem como proposta apresentar o conjunto de doutrinas entregue à Igreja do Senhor por intermédio dos autores das epístolas do Novo Testamento. O conteúdo dessas epístolas tem como função instruir e formar os crentes no que diz respeito à fé cristã, bem como prepará-los para o encontro com o Senhor por ocasião do arrebatamento da Igreja.

 

2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

  1. A) Objetivos da Lição:
  2. I) Apresentar a instrução doutrinária de Paulo às igrejas no que diz respeito a pessoa de Jesus Cristo e acerca das últim as coisas;
  3. II) Expor a natureza das epístolas gerais a respeito da fé, santificação, combate aos falsos ensinos e esperança da vida eterna;

III) ressaltar a atualidade das epístolas do Novo Testamento no tocante às doutrinas da justificação, santificação e glorificação do crente.

B) Motivação: É fundamental que o crente conheça as doutrinas bíblicas registradas nas Cartas do Novo Testamento. Seus ensinamentos trazem o aperfeiçoamento da fé e o amadurecimento do caráter Cristão.

C) Sugestão de Método: Elabore com seus alunos uma lista com o nome de cada epístola do Novo testamento e o seu respectivo propósito. Faça isso na lousa. Você pode consultar a Bíblia de Estudo Pentecostal para elaborar a lista. Reforce aos seus alunos que conhecer a natureza de cada epístola ajuda a direcionar a leitura e interpretar a mensagem intrínseca em cada epístola.

 

3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: Tudo o que a Igreja precisa conhecer no que diz respeito à vontade de Deus está na Bíblia. As epístolas, inclusive, trazem as instruções doutrinárias que orientam os crentes à prática da fé, a santificação e preparação para a vida eterna.

 

4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão: Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios às Lições Bíblicas. Na edição 88, p. 42, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará um auxílio que dará suporte na preparação de sua aula:

1) O texto “Epístola” aprofunda o primeiro tópico, explicando o conceito de epístola bíblica e sua mensagem aos crentes da igreja primitiva;

2) O texto “ O que é o Processo de Comunicação”, localizado no final do terceiro tópico, traz ao docente uma reflexão a respeito do processo de comunicação do docente com o aluno. Será que a forma como nos comunicamos com os alunos tem sido eficiente?

 

 

INTRODUÇÃO COMENTÁRIO

 

 

As Epístolas correspondem a 21 dos 27 livros do Novo Testamento. As treze escritas por Paulo são denominadas de “paulinas”. As oito epístolas restantes são de outros autores e designadas de “gerais”. Nesta lição, agrupamos as Epístolas por temas e autoria, destacamos alguns de seus aspectos doutrinários

 

Comentário

 

 

O termo grego epistole, traduzido para o português como “epístola”, indica uma comunicação escrita, uma carta ou missiva de natureza formal. As Epístolas da Bíblia apresentam instruções vitais para a compreensão da doutrina cristã, bem como para a formação dos cristãos. Elas correspondem 21 dos 27 livros do Novo Testamento. As treze escritas por Paulo são denominadas de “paulinas”. As oito epístolas restantes são de outros autores e designadas de “gerais”.

Esses livros são divinamente inspirados e representam quase 80% do cânon do Novo Testamento. Apenas os quatro Evangelhos, Atos e Apocalipse não são considerados Epístolas. O conjunto de doutrina dessas Epístolas, revelado aos seus diversos autores, continua a instruir o povo de Deus, a formar o caráter do crente salvo em Jesus e a preparar a Igreja para a vinda do Senhor. Neste capítulo, agrupamos as Epístolas por temas e autoria, e destacamos alguns de seus aspectos doutrinários.

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

No grego, epistoIe, «carta», «despacho», sempre indica alguma espécie de comunicação escrita. E também indica a palavra portuguesa «epístola», que já é uma forma de missiva mais formal que uma simples carta. Uma epístola teria uma maior qualidade literária que uma carta, além de conter uma mensagem mais importante, que faz contraste com o caráter informal e, algumas vezes, superficial, de uma simples carta. A raiz verbal dessa palavra grega é epistello; que significa «enviar a», enviar uma carta», «expedir uma ordem ou comando», «anunciar». O vocábulo também pode significar, naturalmente, «escrever uma carta». Todavia, o termo grego epistole não contém qualquer distinção entre uma epistola formal e uma carta informal, conforme se dá no português.

Destinações

As epistolas missivas de natureza mais formal, insinuem os tratados religiosos. As orações públicas, os tratados filosóficos, os tratados políticos, as exortações morais, etc. A arqueologia, mediante documentos antigos preservados até nós, oferece-nos abundante confirmação disso quanto a todas essas variedades de epístolas. E aquilo que chamamos de «cartas» (as missivas menos formais) também é abundantemente confirmado. Centenas de cartas, de correspondência pessoal. escritas em papiro, provenientes do período intertestamentário, do Novo Testamento e posteriormente, chegaram até nós. Uma epistola é uma obra de arte; uma carta é um pedaço da vida diária. A primeira é como uma pintura feita com arte. A segunda assemelha-se a uma fotografia feita apressadamente, sem qualquer cuidado.

O Antigo Testamento contém algumas indicações de cartas. Ver II Sam. 11:14,15; I Reis 21:8,9; 11 Reis 19:14; ler. 29. Cartas, no seu sentido comum, são mencionadas em Atos 9:2; Rom. 16:1 ss e I Cor. 7:1. Os eruditos têm feito bem em chamar as cartas do Novo Testamento de epístolas, visto que, em sua grande maioria é precisamente o que são, mesmo no caso de cartas de correspondência pessoal. Sem dúvida, um dos fatores de sua preservação foi o próprio fato de que eram comunicações formais e sérias, e não apenas informes sobre acontecimentos diários, corriqueiros.

A epístola aos Filipenses é ligeiramente mais informal; porém, foi tão bem preparada que é uma pequena peça de literatura clássica. Portanto, até mesmo nesse caso a palavra «epístola» fica melhor do que a palavra «cartas. A segunda e a terceira epistolas de João, no entanto, aproximam-se um pouco mais das cartas comuns. Em contraste, a primeira epístola de João é uma epistola autêntica. As cartas às sete igrejas da Ásia Menor (Apo. 2 e 3) com frequência tem sido intituladas cartas; porém, o seu caráter formal e a sua solenidade também as transformam em pequenas mas verdadeiras epistolas.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 2. pag. 407

 

 

EPÍSTOLA (carta ou remessa… comunicação escrita, comunicação escrita ou impressa endereçada a uma pessoa ou a um número de pessoas). Enquanto que “epístola” é traduzida quinze vezes e “carta”, somente nove vezes no NT da KJV, epistolé é traduzida como “carta” invariavelmente na RSV.

Diferenciações. Documentos preservados em forma epistolar “podem mais precisamente ser classificados como orações públicas, tratados filosóficos, tratados políticos, ou exortações morais… [e] ter todas as marcas e ter sido escrita para publicação geral” (Seitz). Robinson observa que “Uma epístola é um trabalho de arte; uma carta é um pedaço de vida… É como uma fotografia cuidadosamente retocada; e também é como uma fotografia instantânea que mostra como você é”. A carta é menos formal, mais pessoal e direta do que uma epístola. De fato, algumas cartas de Paulo, especialmente Romanos, carregam certas características epistolares, assim como Hebreus. Poucas cartas, no sentido técnico, são encontradas nos livros canônicos do AT (veja 2Sm 11.14,15; lRs 21.8,9; 2Rs 19.14; Jr 29; cp. At 9.2; Rm 16.1 ss; ICo 7.1).

Composição e distribuição.

As cartas do NT foram as mais antigas formas de literatura cristã. Elas, como as dos helenistas, eram escritas em folhas de papiros com uma caneta de cana e tinta, depois eram enroladas ou dobradas, amarradas, e frequentemente selada para privacidade e autenticação (2 Rs 21.17; Et 3.12; 8.8; Dn 2.4; Ap 5.9). Tais cartas eram às vezes escritas em blocos encerados com uma agulha de pau, principalmente devido à economia, pois poderiam ser apagadas. Como o serviço postal romano oficial (cursus publicus) não era aberto para correspondência particular, então os cristãos empregavam membros das igrejas como transportadores (At 15.22; 2Co 8.16-23; F1 2.25; C14.7,8). Enquanto que as cartas do NT foram escritas sob orientação divina, assim como no uso da sabedoria humana, em resposta às necessidades específicas de indivíduos ou igrejas (ICo 7.1), pode ser questionado se os autores estavam sempre cientes de que estavam escrevendo para todos os tempos e para a Cristandade (2Tm 3.16).

Classificações. Vinte e um dos vinte e sete livros são cartas, mais duas breves cartas em atos (15.23-29; 23.26-30), e sete em Apocalipses (2.1-3.22), que são, de acordo com Seitz, “simplesmente introduções literárias a um livro que é em si mesmo moldado numa estrutura epistolar”. Juntos eles constituem mais que um terço do NT. O Cristianismo é singular dentre todos os outros livros sagrados do mundo, nenhum outro é composto de cartas.

Normalmente, quatro pessoas estavam envolvidas em uma carta do NT; o escritor, o secretário (amanuense), o mensageiro, e os leitores. Considera-se que, por tradição, Paulo tenha sido o autor de treze das cartas do NT; Tiago, de uma; Pedro, de duas; João, de três; Judas, de uma; e uma (Hebreus), anônima. As cartas de Paulo podem ser classificadas assim: (1) escatológica (1 e 2Ts), (2) soteriológica (Gl, Rm, 1 e 2Co), (3) cristológica (Cl, Ef, Fl), (4) eclesiológica (1 e 2Tm, Tt), e pessoal (Fm). Tiago é ético; Judas é polêmico; 1 e 2 Pedro são pastorais; 1, 2,3 João são pastorais; e Hebreus é muito polêmica.

Estrutura e valor. Estruturalmente as cartas do NT parecem-se muito com suas equivalentes helenistas. A prática geral de Paulo é típica. Ele começa com (1) sua saudação pessoal, que às vezes inclui amigos cristãos ou companheiros de trabalho presentes com ele, ou possivelmente seu secretário, que pode explicar o seu frequente uso da primeira pessoa do plural. Ele geralmente combina a saudação-bênção greco-hebraica. A sua saudação introdutória normalmente determina o tom da carta toda. (2) Ele oferece agradecimentos a Deus por seus leitores cristãos. (3) Orações pelo bem-estar espiritual e, às vezes, secular de seus leitores geralmente se seguem. (4) Ele trata os principais interesses de seus leitores, incluindo frequentemente uma discussão doutrinal de seus problemas que pode ter sido levantada em comunicações prévias (veja ICo 7.1). (5) Uma seção prática ou ética segue, na qual ele aplica às necessidades os princípios doutrinários apresentados. (6) Uma bênção, mensagens pessoais e saudações são às vezes incluídas (Rm 16). (7) Uma breve autobiografia, em parte para autenticidade, geralmente fecha a carta (Gl 6.11; 2Ts 3.17). Diferenças marcantes entre as formas das cartas do Helenismo e do NT ocorrem secularmente como opostas à saudação cristã, e na ausência das datas e lugares de origem nas cartas cristãs. A grande influência das cartas do NT na literatura cristã subsequente é evidenciada por escritos do 2- séc. Nem todas as cartas cristãs do 12 séc. sobreviveram ( ICo 5.9; Cl 4.16). Desde o começo estas cartas neo-testamentárias foram recebidas pela igreja como mensagens divinamente inspiradas junto com as Escrituras do AT (2Pe 3.15,16).

MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 422-423.

 

 

Palavra-Chave: EPÍSTOLA

 

 

I – COMO AS EPÍSTOLAS PAULINAS NOS INSTRUEM

 

 

1- Instruções salvíficas.

 

Nesse grupo, enfatizamos os aspectos da doutrina da salvação. Aos Romanos destaca-se que “o justo viverá pela fé” (Rm 1.17). Cristo nos libertou do pecado mediante seu sacrifício remidor. Dessa forma, pela fé em Cristo, somos declarados justos (Rm 3.23-25). Aos Gálatas, Paulo assevera que ninguém é “justificado pelas obras da lei” (G1 2.16), e que somente a fé em Cristo nos liberta do jugo do pecado (G1 5.1). Em 1 Coríntios ressalta-se a mensagem do “Cristo crucificado ” (1 Co 1.23), que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou ao terceiro dia (l Co 15.3- 4). Em 2 Coríntios frisa-se o “ ministério da reconciliação” (2 Co 5.18), em que Cristo levou os nossos pecados e nos reconciliou com Deus (2 Co 5.19-21).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Nesse grupo, enfatizamos os aspectos da doutrina da salvação. Em Romanos, destaca-se o texto: “Porque nele [Cristo] se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.17). Paulo ensina que, pela fé em Cristo que nos libertou do pecado mediante seu sacrifício remidor, somos declarados justos diante de Deus (Rm 3.23-25). A sentença “o justo viverá pela fé” remonta ao profeta Habacuque (Hb 2.4b) e aparece em Gálatas 3.11 e Hebreus 10.38, o que faz da declaração um preceito antigo que se cumpre na Nova Aliança. Essa expressão significa que “os cristãos viverão por causa da fidelidade de Deus, e por causa de sua resposta de fé a Deus: como resultado, eles terão vida eterna e experimentarão a plenitude de vida”.

Em Gálatas, ressalta-se que “o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo […] porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gl 2.16). Na construção da última parte desse versículo, Paulo faz alusão a Salmos 143.2 e explica que a justificação do crente não vem por observar a Lei. A condição de ser declarado “não culpado” diante de Deus vem por meio da fé na obra redentora de Cristo. O apóstolo reitera que somente a fé em Cristo nos liberta do jugo da Lei (Gl 5.1). O ensino ratifica que pela fé em Cristo “o crente é colocado em um relacionamento direto com todos os requisitos da Lei, absolvido de todas as penalidades da Lei e consequentemente liberto da maldição da Lei”.

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

As principais ênfases da carta aos Romanos

A carta aos Romanos é uma verdadeira enciclopédia teológica. Não temos a pretensão de esgotar seus temas nem mesmo de descobrir todas as suas ênfases. Destacaremos, aqui, apenas alguns dos principais pontos abordados pelo apóstolo nessa epístola.

Em primeiro lugar, mostrar a unidade da igreja. A igreja de Cristo é formada por judeus e gentios. Pelo sangue de Cristo a parede da separação foi derrubada e, agora, os judeus e os gentios constituem a igreja (Ef 2.14-16). Vale lembrar que grande parte dos cristãos gentios se aproximou do cristianismo por meio de uma conexão anterior com o judaísmo. William Hendriksen destaca o fato de que a igreja de Roma consistia de judeus e gentios. Por essa razão havia o risco de que um grupo fosse tratado com desdém pelo outro: os judeus pelos gentios (Rm 2.1s.), os gentios pelos judeus (11.18). Paulo enfatiza, então, que “[…] não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o Senhor é o Senhor de todos” (10.12). Stott entende que a redefinição do que é povo de Deus – não mais de acordo com a descendência, a circuncisão ou a cultura, mas segundo a fé em Jesus, é um dos temas principais de Romanos. Citando Sanders, ele chega mesmo a dizer que o mais importante de todos os temas de Romanos é o da igualdade entre judeus e gentios.

Em segundo lugar, evidenciar a universalidade do pecado.

Paulo expõe com argumentos irresistíveis a culpabilidade dos gentios e também dos judeus. Deus encerrou todos no pecado para usar de misericórdia para com todos. O pecado atingiu a todos sem exceção. Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23). Stott diz que o apóstolo divide a raça humana em três grupos distintos: a sociedade gentílica depravada (1.18-32), os críticos moralistas, sejam judeus ou gentios (2.1-16), e os judeus instruídos e autoconfiantes (2.17—3.8). E então conclui acusando toda a raça humana (3.9-20). Em cada caso o seu argumento é o mesmo: que ninguém vive à altura do conhecimento que tem.

Em terceiro lugar, manifestar a justiça de Deus no evangelho. A justiça de Deus manifesta-se no evangelho.

Na cruz de Cristo Deus revelou sua ira sobre o pecado e seu amor ao pecador. A cruz de Cristo foi a justificação de Deus, uma vez que nela Deus satisfez plenamente sua justiça violada. Se a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens, no evangelho a justiça de Deus se revela para a salvação de todo o que crê.

Stott afirma corretamente que o “mas agora” de Romanos 3.21 é um dos maiores adversativos encontrados na Bíblia, pois denota que, em meio à treva universal do pecado e da culpabilidade humana, brilhou a luz do evangelho.

Em quarto lugar, anunciar a doutrina da justificação pela fé. A justificação não é alcançada pelas obras da lei, mas pela fé na obra de Cristo. Não é a obra que fazemos para Deus que nos salva, mas a obra que Deus fez por nós em Cristo que nos traz a vida eterna. Não é nossa justiça que nos recomenda a Deus, mas a justiça de Cristo a nós imputada. O Justo justifica o injusto. O injusto que não tem justiça própria é justificado ao confiar na justiça de Jesus Cristo, o Justo. Romanos 4 é um brilhante ensaio no qual Paulo prova que o próprio Abraão, o pai fundador de Israel, foi justificado não por suas obras (4.4-8), nem por sua circuncisão (4.9-12), nem pela lei (4.13-15), mas pela fé. Em consequência, Abraão é agora “o pai de todos os que creem”, sejam eles judeus ou gentios (4.11,16-25). A imparcialidade divina é evidente.

Em quinto lugar, proclamar a nova vida na pessoa de Cristo. Deus nos salvou do pecado, e não no pecado (Rm 6.1). A salvação implica a libertação da condenação, do poder e da presença do pecado. Não podemos viver no pecado, nós que para ele morremos. Fomos crucificados com Cristo e sepultados com ele na morte pelo batismo, de tal maneira que devemos considerar-nos mortos para o pecado e carregar nosso certificado de óbito no bolso.

Em sexto lugar, anunciar a vida vitoriosa no Espírito.

Depois de mostrar o grande conflito interior e a total impossibilidade de alcançarmos uma vida vitoriosa pela energia da carne (7.1-24), Paulo exulta num brado de vitória ao anunciar a vida triunfante que temos pelo Espírito (8.1-18). O Espírito Santo nos vivifica, nos capacita e nos reveste de poder para vivermos em santidade.

Em sétimo lugar, revelar a soberania de Deus na salvação.

Paulo ensina de forma grandiosa a doutrina da eleição da graça. Não somos nós que escolhemos a Deus, mas é ele quem nos escolhe. Deus nos escolhe não por causa de nossos méritos, mas apesar de nossos deméritos (9.1—11.36).

Em oitavo lugar, mostrar a vital necessidade de relacionamentos transformados. Depois que Paulo encerra a magistral sessão doutrinária, ele aplica a doutrina mostrando a necessidade de estabelecermos relacionamentos corretos com Deus, com nós mesmos, com o próximo, com os inimigos e com as autoridades (12.1—13.7). Devemos em nossas relações respeitar aqueles que têm a consciência fraca, não lhes servindo por causa de tropeço (14.1—15.13).

A carta termina com uma longa lista de saudações, mostrando que a igreja precisa ser um lugar onde florescem relacionamentos saudáveis, onde devemos ter coração aberto, mãos abertas, casas abertas e lábios abertos para abençoar uns aos outros (16.3-24). O fechamento da carta é uma explosão doxológica na qual o apóstolo exalta a Deus por meio de Cristo.

LOPES. Hernandes Dias. Romanos O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 28-31.

 

O Apostolo introduz a gloriosa doutrina da justificação pela fé no contexto do conflito que teve com o apóstolo Pedro. Pedro se aparta dos crentes gentios com medo do grupo da circuncisão e já não comia com eles. Essa atitude era um retrocesso, pois além de ferir a comunhão da igreja, atacava também o evangelho da graça. Se a causa judaizante tivesse logrado êxito, a salvação seria uma conquista das obras, e não um presente da graça.

Paulo aproveita essa situação para introduzir a doutrina da justificação pela fé.

Warren Wiersbe destaca que esta é a primeira vez que o termo justificação aparece na epístola e, provavelmente, nos textos de Paulo, uma vez que Gálatas deve ter sido a primeira carta escrita de Paulo. A grande pergunta é: “Como pode o homem ser justo para com Deus?” (Jó 9.2). A resposta é clara: “O justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4). Este conceito é tão vital que três livros do Novo Testamento o explicam para nós: Romanos (1.17), Gálatas (3.11) e Hebreus (10.38).

Romanos explica o significado de “o justo”; Gálatas explica “viverá”; e Hebreus explica “pela fé”.

A justificação pela fé é a doutrina central do cristianismo.

A Reforma Protestante a restabeleceu. Sempre que a igreja caminhou na verdade, essa doutrina foi sustentada.

Sempre que entrou em declínio, foi esquecida. Com ela a igreja mantém-se em pé ou cai.

John Stott tem razão ao dizer que ela é central na mensagem da epístola, fundamental no evangelho pregado por Paulo e realmente essencial no próprio cristianismo. Ninguém pode jamais entender o cristianismo sem entender a justificação.

Martinho Lutero referiu-se à doutrina da justificação como o principal, o mais importante, e o mais especial artigo da doutrina cristã.

Ele chegou a dizer que, se o artigo da justificação for alguma vez perdido, toda a verdadeira doutrina ficará perdida.

A justificação é uma doutrina essencial da fé cristã (2.15,16)

A justificação é uma doutrina evangélica revelada por Deus, e não descoberta pelo homem. Tanto judeus como gentios são salvos da mesma maneira: não pelas obras da lei, mas pela graça de Deus. Ambos foram justificados pela fé, e não pelas obras. Se a justificação pelas obras fosse o caminho da salvação, o homem receberia a glória por essa salvação. Mas a justificação por meio da fé posiciona Deus no centro do palco da redenção e destina a ele toda a glória pela nossa salvação.

John Stott diz que a palavra “justificação” é um termo legal que foi tomado emprestado dos tribunais. E exatamente o oposto de “condenação”. Condenar é declarar uma pessoa culpada; “justificar” é declará-la sem culpa, inocente ou justa. Na Bíblia, essa palavra significa o ato imerecido do favor de Deus por meio do qual ele coloca diante de si o pecador, não apenas perdoando ou isentando-o da culpa, mas também aceitando-o e tratando-o como justo.

Concordo com Warren Wiersbe quando ele diz que a justificação não é apenas “perdão”, pois uma pessoa poderia ser perdoada e depois voltar a pecar e tornar-se culpada  novamente. Uma vez que fomos “justificados pela fé”, nunca mais seremos declarados culpados diante de Deus.

A justificação também é diferente de “indulto”, pois, um criminoso indultado ainda tem uma ficha na qual constam seus crimes. Quando um pecador é justificado pela fé, seus pecados passados não são mais lembrados nem usados contra ele, e Deus não registra mais suas transgressões (SI 32.1,2; Rm 4.1-8).

Destacamos aqui alguns pontos na elucidação dessa gloriosa doutrina.

[..] a justificação é um ato, e não um processo (2.16). A justificação é um ato exclusivo de Deus, e não uma obra humana. E um ato irrepetível, completo e eficaz, e não um processo. A justificação não possui graus, uma vez que o menor crente está tão justificado quanto o maior santo. Todos aqueles que creem no Senhor Jesus estão justificados de igual modo, ou seja, nenhum cristão é mais justificado do que outro. Se fôssemos justificados pelas obras, isso implicaria um processo gradual.

A justificação é a maior necessidade do homem (2.15,16)

A maior necessidade do homem não é a saúde, o prazer, a riqueza ou o poder, mas a salvação. A maior tragédia do homem não é a pobreza, a doença e a morte, mas estar separado de Deus e sob sua ira. O pecado é a maior tragédia do homem. O pecado é pior do que a fome, do que a pobreza, do que a doença e do que a própria morte. Todos esses males juntos não podem separar o homem de Deus, mas o pecado o separa agora de Deus e depois o afasta para sempre da presença do Altíssimo.

Por que a justificação é a maior necessidade do homem?

Em primeiro lugar, porque o homem é pecador e não pode salvar a si mesmo (2.15). Como pode o homem pecador ter comunhão com o Deus santo? Como pode aquele que está arruinado e falido moral e espiritualmente ter sua dívida quitada diante de Deus? Como pode o transgressor ser justificado diante do reto e justo juiz?

Em segundo lugar, porque o homem é impuro e não pode purificar a si mesmo (2.15). O pecado é uma mácula que contamina. O homem está sujo e não pode lavar a si mesmo. Todo o seu ser está contaminado e poluído pelo pecado e ele não pode purificar a si mesmo. Sua justiça não passa de trapos de imundícia aos olhos de Deus.

Em terceiro lugar, porque o homem é filho da ira e não pode alcançar o favor de Deus por si mesmo (2.15). O pecado é maligníssimo aos olhos de Deus. Por isso, o pecador morto em seus delitos e pecados, escravo do mundo, da carne e do diabo, é filho da ira e está debaixo da ira de Deus. Como tal, não pode alcançar por si mesmo o favor de Deus.

Em quarto lugar, porque o homem é imperfeito e não pode cumprir a perfeita lei de Deus (2.15). No céu só podem entrar pessoas perfeitas. O pecado não entra no céu. Nada contaminado entra no céu. O homem é transgressor da lei.

Ele peca por palavras, obras, omissão e pensamento. A lei exige do homem perfeição, mas ele é imperfeito e por isso não pode ser justificado por suas obras.

LOPES, Hernandes Dias. GALATAS A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pag. 113-120.

 

CRISTO

As menções que Paulo faz a Jesus como “Cristo” (christos) também servem para lembrar seus leitores da humanidade de Jesus, em especial, seu papel como o Messias judaico. Quando Paulo enumera para os romanos alguns privilégios característicos de Israel como povo de Deus, ele conclui com a observação de que “dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne” (Rm 9.5; cf. Ef 2.12). Em uma passagem anterior da epístola (Rm 1.3), Paulo também faz essa afirmação quando conecta sua proclamação do evangelho ao cumprimento de promessas referentes à Cristo, feitas pelos profetas do Antigo Testamento.

Ele menciona Jesus como aquEle “que nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (1.3). O cumprimento das afirmações proféticas sobre Cristo é importante para Paulo, pois ele encontra nelas a certeza para a salvação de Israel. Conforme ele escreve, mais adiante nessa epístola, citando Isaías 59.20: “De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.26). Paulo aguarda o dia em que Israel receberá Jesus como Cristo.

Embora Paulo considerasse importante que os gentios cristãos entendessem a dívida que eles tinham para com Israel, o povo de quem Cristo veio (cf. Rm 11.18), a humanidade de Cristo também serve como um exemplo para a vida e a prática cristãs. Ao se preocupar com a tendência dos coríntios concernente ao comportamento egocêntrico deles, Paulo enfatiza a vida de sacrifício de Cristo, culminando com sua morte na cruz. O “Cristo crucificado” (1 Co 1.23) sintetiza a mensagem de Paulo: “Nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (2.2). De forma similar, ele lembra os romanos que “nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos […] Porque também Cristo não agradou a si mesmo” (Rm 15.1,3a).

O cumprimento profético ligado à vida de Cristo e o sacrifício de si mesmo como exemplo para a vida estão unidos no chamado de Paulo à unidade na igreja: “Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu” (15.7a). Judeus e gentios vivenciam os benefícios do ministério de Cristo.

“Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas aos pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus pela sua misericórdia” (w. 8,9a), verdade demonstrada pelos textos do Antigo Testamento citados na seqüência da epístola. (15.9b-12; cf. G1 3.28; Ef 2.11-22).

Embora Paulo conecte esses temas do serviço e do cumprimento a suas referências a Cristo, ele também usa o título como um nome prático, a fim de que ele, com frequência, seja permutável ou combinado livremente com as outras designações discutidas antes. Todavia, uma designação remanescente permanece à parte. Essa designação, embora limitada em sua aplicação e frequência, é relevante para a compreensão da cristologia de Paulo. Essa designação é a alusão a Cristo como o “último Adão” (1 Co 15.45).

Roy B. Zuck. Teologia do Novo Testamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2008 pag. 282-283.

 

 

2- Instruções a respeito de Cristo.

 

Nesse enfoque, o destaque são os aspectos da doutrina de Cristo. Aos Efésios, o tema é “Cristo, como cabeça – e a Igreja, o seu corpo” (Ef 1.22,23). Nesse sentido, a Igreja foi eleita em Cristo (Ef 1.4) e redimida em Cristo (Ef 1.7) para a glória de Cristo (Ef 1.12). Aos Filipenses, a mensagem enfatiza que “o viver é Cristo” (Fp 1.21). Ele é o segredo da verdadeira alegria e o modelo de vida para o salvo (Fp 1.4; 2.2-16). Aos Colossenses, Paulo sublinha que a “vossa vida está escondida com Cristo” (Cl 3.3). A igreja está unida em Cristo, morta e ressuscitada com Cristo (Cl 2.2,10,20; 3.1). Em suma, Cristo é a suficiência para todo o cristão.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Nesse enfoque, o destaque são os aspectos da doutrina de Cristo.

Em Efésios, observam-se dois polos: Cristo e a Igreja — ambos representados pela imagem simétrica de “Cristo, a cabeça” (Ef 1.22; 4.15; 5.23) e “Igreja, o corpo” (Ef 1.23; 4.12; 5.30). Paulo ensina que é exclusivamente em conexão com Cristo que somos abençoados com todas as bênçãos espirituais. Nesse sentido, a Igreja foi eleita em Cristo (Ef 1.4), redimida em Cristo (Ef 1.7) e para a glória de Cristo (Ef 1.12). Em Cristo passamos da morte para a vida (Ef 2.1) e, em Cristo, fomos libertos das concupiscências (Ef 4.22). Assim, a nova vida do crente é caracterizada pela salvação “em Cristo”.

Em Filipenses, a mensagem enfatiza que para o cristão “o viver é Cristo” (Fp 1.21). Matthew Henry descreve que “a glória de Cristo deve ser a finalidade da nossa vida, a graça de Cristo, o princípio dela, e a Palavra de Cristo, a regra dela. A vida cristã é derivada de Cristo e dirigida a Ele. Ele é o princípio, a regra e o fim dela”. Em vista disso, Cristo é o modelo de vida para o salvo. Assim sendo, o crente deve regozijar-se em Cristo diante de todas as circunstâncias (Fp 1.18; 2.2; 3.1; 4.4-13); por amor a Cristo, fugir de contendas e manter a comunhão com os irmãos (Fp 2,1-4); e andar nos mesmos passos de humildade de Cristo Jesus (Fp 2.5-11).

Em Colossenses, Paulo sublinha que a “vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Indica que Cristo é a vida do crente, e que essa nova vida é de Cristo. O Comentário Bíblico Beacon avalia que “trata-se de uma realidade para o crente e é realizada numa nova consciência e poder éticos para a justiça”. Quem recebe essa graça deve despojar-se do velho homem e das suas más obras, e revestir-se da nova natureza em Cristo (Cl 3.5-10). E, dessa forma, a igreja está unida com Cristo em Deus, morta para os pecados e para o mundo, e ressuscitada com Cristo (Cl 2.13-15; 3.1,2). Em suma, Cristo é tudo em todos, Ele é a suficiência para todo cristão (Cl 3.11).

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

Efésios

A presente autoridade de Jesus. Os eventos descritos em Efésios 1.20-22 deixam evidente que Paulo ressalta a autoridade atual de Jesus. Ele menciona a ressurreição de Jesus, o fato de Ele estar sentado à destra de Deus (SI 110.1), e escreve que Jesus é o Cabeça da igreja. Esses três eventos já ocorreram, é natural, portanto, esperar que Paulo também queira dizer que a submissão de todas as coisas deve ser entendida como algo que Deus já realizou por intermédio de Cristo (Ef 1.22). Se Paulo quisesse dizer que essa submissão se refere a algo futuro, teria mencionando-as por último e mudaria o tempo verbal aoristo (passado), que usa em toda a lista, pelo tempo futuro. O ponto de Paulo é que o que Deus começou e pôs em andamento por intermédio de Jesus Cristo, Ele também fará acontecer. Paulo expressa essa ideia de “triunfo-submissão” como algo que já ocorreu (e também em Cl 2.14,15), além de aguardar sua realização na íntegra no futuro (1 Co 15.24-28). Na doutrina de Paulo, esse elemento “já” em relação ao governo de Jesus não é a mesma doutrina do “reino mais que concretizado” que ele condena na epístola aos Coríntios (1 Co 4.8). Essa última doutrina é fruto do conceito errôneo dos coríntios de que o Reino não é um governo em andamento, mas um governo totalmente realizado que não precisa nem mesmo da esperança da ressurreição, conforme a admoestação de 1 Coríntios 15 deixa claro. Paulo ensina que Cristo já está triunfante e também fala de uma futura realização mais extraordinária desse governo. No entanto, a batalha contra o pecado ainda precisa ser travada nesta vida (Ef 6.10-18), embora os crentes se entreguem a ela sabendo que o poder daquEle que está ao lado deles é maior do que o das forças que se opõem a eles e que Ele já triunfou sobre elas.

Por isso, em Efésios 1.19-23, Paulo sustenta que como resultado da exaltação de Cristo, todas as coisas estão submissas a Ele, e Ele é o Cabeça da igreja. O governo de Jesus na igreja é, principalmente, a expressão de sua autoridade no presente século. Nesse contexto, fica claro que o termo Cabeça não se refere à origem de Cristo, mas a sua posição preeminente na igreja. Liderança retrata autoridade, mas não o mero poder; antes, o termo enfatiza serviço, uma vez que Jesus se derrama sobre sua igreja. Paulo retorna ao tema da exaltação no capítulo 4.7-10, onde ele mostra que os dons da igreja refletem a vitória alcançada por Cristo na exaltação, perspectiva semelhante à de Atos 2.30-36. Assim, a exaltação faz com que Cristo se derrame sobre a igreja (1.23) e também conceda dons a ela (4.7-10). O Único com autoridade continua a servir entregando a si mesmo da mesma forma como entregou sua vida por nós (Mc 10.42-45).

O poder de Deus já exercido para a salvação e transformação. A maioria das pessoas interrompe a oração em Efésios 1.23, mas isso não é sábio, já que Efésios capítulo 2.1 se inicia com “e” (kaí), estendendo, assim, o modelo da oração. No capítulo 2.1-10, Paulo fornece uma segunda descrição do exercício de poder de Cristo para os crentes e para a formação deles como comunidade (observe o prefixo syn em nos versículos 5 e 6). Todo crente já vivenciou o exercício decisivo e definidor do poder de Deus. A salvação é o livramento da vida guiada por Satanás, pelo mundo e pela carne. Deus estende grande poder vivificador quando ressuscita a pessoa da morte resultante do pecado e a assenta junto a Cristo (2.4-7). Embora a linguagem seja muitíssimo abstrata, o ponto é que o crente é graciosamente ressuscitado (isto é, nasce de novo) e, agora, tem uma posição permanentemente ligada a Cristo. Deus concede novidade de vida e cidadania celestial para quem crê. O crente não está mais associado às forças terrenas nem preso a elas. Na batalha cósmica entre Deus e as forças que se opõem a Ele, o crente mudou de lado e agora tem acesso ao Rei.

Essa é uma forma mais elaborada de expressar o que Paulo diz sobre o livramento, em Colossenses 1.12-14, e cidadania, em Filipenses 3.20,21. Na verdade, o que é verdade para cada crente individual é verdade para todos eles como comunidade. Eles compartilham juntos seus benefícios (2.5,6). O que Deus faz por um, faz por todos. Esse é o fundamento da unidade deles em Cristo (4.1-6).

 

Filipenses

 

O ponto de referência para a vida e a morte. Em uma das declarações mais definidoras de todas suas epístolas, Paulo deixa claro o motivo de poder descansar no cuidado de Deus enquanto está na prisão. A afirmação do apóstolo de que “viver é Cristo, e o morrer é ganho” (1.21) fortalece sua declaração anterior de que deseja que Cristo seja engrandecido em seu corpo, quer pela vida quer pela morte (1.20). A identidade e motivação pessoais de Paulo são definidas por Jesus e pela comunhão que tem com Ele. Viver representa servir a Cristo, enquanto morrer é estar com Ele. Hawthorne afirmou muito bem a força do versículo 21. “A vida é sintetizada em Cristo. A vida é totalmente preenchida e ocupada por Ele, no sentido de que tudo que Paulo faz — confiar, amar, esperar, obedecer, pregar, seguir… e assim por diante — é inspirado por Cristo e é feito por Ele. Cristo, e apenas Cristo, dá inspiração, orientação, sentido e propósito à existência”.13 Paulo expressa reiteradamente esse desejo de glorificar a Cristo e deixá-lo definir a vida (1 Co 11.31; G12.20; Cl 3.17). A esperança de Paulo para o futuro, centrada como é em Jesus, guarda-o de dar muita importância a suas circunstâncias atuais. Essa esperança capacita-o a repensar suas circunstâncias não pela supressão de suas emoções, evidenciadas ao longo dessa epístola, mas ao relacioná-las, em sua vida, à soberania de Deus e à centralidade de Jesus.

 

 

Colossenses

Quando Paulo considera essa atividade redentora na esfera pessoal, em vez da cósmica, observa que os pecadores, inimigos de Deus que vivem afastados dEle, são reconciliados com Ele por meio da morte de Jesus para que os que persistem na fé possam ser separados como especiais diante de Deus (1.21-23).

Jesus, além de ser o Mediador, também é quem os capacita. Quando a pessoa está nEle, ela tem o fundamento necessário para vivenciar a plenitude da bênção de Deus.

Unido com seu corpo, a igreja. A igreja é tão identificada com Cristo e unida a Ele que é chamada de seu “corpo”. Na verdade, Jesus procurou beneficiar essa nova comunidade com sua própria morte. Para Paulo, sofrer em favor dessa igreja representa cumprir as “aflições de Cristo” (1.24), pois quando a igreja sofre (como corpo de Cristo), Cristo sofre (cf. At 9.1-6). Essa identificação corporativa também pode ser expressa pelo fato de Cristo habitar na comunidade, o grande mistério de Deus (Cl 1.29). Os membros dessa nova comunidade não vivem mais para si mesmos, mas vivem para Ele e representam a Ele (3.1-17).

A fonte e o centro do crescimento. Estar em Cristo quer dizer que a pessoa pode buscar a maturidade que vem dEle (1.28). Quando os crentes fazem isso, a igreja vivência amor e união extraordinários. Essas verdades a respeito de Cristo representam que a fé pode ser organizada (2.2-4). Todavia, quando alguém afasta o foco de Cristo, surgem problemas (2.8). Por isso, Paulo chama os cristãos para que caminhem “segundo Cristo” (2.8). Ele é aquEle que eles receberam como Senhor e devem continuar a caminhar com Ele como Senhor, já que Ele é a fonte da capacitação, sabedoria e conhecimento deles (2.2-6). E por isso também que os crentes são descritos como “circuncisão de Cristo”, pois foram separados por Ele (2.11). Ao longo da passagem 2.9-15, Paulo afirma várias vezes que os que estão em Cristo e com Cristo crescem, e também diz que o crescimento acontece por intermédio dEle. Cristo é vida, enquanto o que os outros ensinam práticas não passam de sombras (2.17).

Morrer e ressuscitar com Cristo. A existência do crente está tão identificada com Jesus, que Paulo escreve sobre morrer com Cristo “quanto aos rudimentos do mundo” e ressuscitar com Ele (2.20—3.11). Essa linguagem repete a imagem de 2.9-15. Ela reflete a mudança de identidade e submissão para que os padrões, métodos e forças criadas do mundo não mais definam a vida. Em vez disso, Deus, que os libertou em Cristo, guia e define a vida. Assim, aquele que tem a mente voltada para o céu não deve fugir nem retrair-se, mas refletir as características divinas da nova vida que Deus disponibilizou para os crentes (3.1-17).

O novo homem. Jesus formou nova humanidade, ou o “novo homem”, na qual pessoas de várias nações habitam e são renovadas segundo a imagem de Deus (3.10,11). O novo homem é o Messias incorporado. O contraste novo homem/velho homem descreve a vida da pessoa em termos de dois períodos em dois mundos distintos. Primeiro, há o “velho homem”, ou seja, a antiga comunidade em que o crente morava antes da vinda de Cristo e a qual, no momento da conversão, foi retirada como se fosse roupa velha (3.9). Os crentes, ao deixar o velho mundo para trás, são exortados a deixar as antigas práticas para trás.

Segundo, há vida quando se vive em Cristo, a vida da nova comunidade na qual as antigas distinções sociais e raciais foram eliminadas e transformadas em unidade e na qual acontece a transformação à imagem de Deus (3.10,11).

Resumo. Assim, Cristo é o Mediador e a Fonte da vida, aquEle que capacita os cristãos. Responder a essa realidade quer dizer que a paz de Deus pode reinar no coração (3.15), a Palavra de Cristo pode habitar abundantemente na vida (3.16), e tudo que é feito ocorre com o reconhecimento de que a pessoa é dEle (3.17). A autoridade dEle governa os relacionamentos do crente; todas eles; em casa com o cônjuge, com os filhos ou pais, como escravos ou como senhores (3.18,20,24). Compartilhar os graciosos benefícios do governo do Senhor, representa honrar o governo dEle com a vida que adotamos. A cristologia é o cerne teológico de Colossenses que leva à formação de uma nova comunidade, cujo compromisso de amor, de conhecimento, de sabedoria e de união deve permitir que os seguidores de Cristo ajam contra a falsa doutrina (2.4). Mas exatamente de qual problema Paulo tratou por meio dessa cristologia?

Roy B. Zuck. Teologia do Novo Testamento. Editora CPAD. pag. 344-345; 356-357; 335-336.

 

 

3- Instruções sobre as últimas coisas.

 

Esses ensinos enfatizam os aspectos da vinda de Jesus. Em 1 Tessalonicenses, Paulo ensina que no retorno de Cristo “nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1 Ts 4.17), sendo necessário, para esperar o Senhor, conservar irrepreensível o espírito, a alma e o corpo (l Ts 5.23). Em 2 Tessalonicenses, o apóstolo esclarece que, após o arrebatamento da Igreja, o “ Dia do Senhor” se iniciará com a manifestação do Anticristo (2 Ts 2.2,3,8). Enquanto o salvo aguarda a volta de Cristo, deve orar para que o Evangelho tenha livre curso, e vigiar para não viver desordenadamente (2 Ts 3.1,11,12). As duas epístolas alertam a respeito da necessidade de preparar-se para a vinda do Senhor.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Essas orientações enfatizam os aspectos da segunda vinda de Jesus. Em 1 Tessalonicenses, Paulo ensina que, no retorno de Cristo, “os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1 Ts 4.17).

Quanto à vinda de Cristo, nossa Declaração de Fé professa que é um evento a ser realizado em duas fases: A primeira é o arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação (1Ts 1.10; 4.17; 5.9); a segunda fase é a sua vinda em glória depois da Grande Tribulação e visível aos olhos humanos (Ap 1.7). Nessa vinda gloriosa, Jesus retornará com os santos arrebatados da terra: “na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos” (1 Ts 3.13).

O arrebatamento é um termo que designa o rapto da Igreja da face da terra para o encontro com o Senhor nos ares. Nesse evento, os mortos em Cristo e os santos do Antigo Testamento ressuscitarão primeiro (1 Ts 4.16), seguindo-se a transformação dos salvos vivos e o simultâneo encontro de ambos os grupos com o Senhor nos ares (1 Ts 4.17). Acontecerá em fração de segundos, e nosso corpo será transformado num corpo glorioso, que estará revestido de incorruptibilidade e imortalidade (Fp 3.21; 1 Co 15.51,53). Será um evento repentino e secreto (Mt 24.36,44,50; 25.13). A condição para fazer parte desse glorioso evento é estar em Cristo.

Enquanto aguarda o arrebatamento, o crente deve conservar irrepreensível o espírito, a alma e o corpo (1 Ts 5.23).

Em 2 Tessalonicenses, Paulo corrige o falso ensino de que Cristo já tinha vindo (2 Ts 2.1,2). Esclarece que somente após o arrebatamento da Igreja é que o “Dia do SENHOR” terá início com a manifestação do Anticristo (2 Ts 2.3,8). A expressão “Dia do SENHOR” também é designação para a Grande Tribulação (Is 13.6-9; 1 Ts 5.2,3), ocasião em que a ira de Deus será derramada sobre os moradores da terra.8 Após a Grande Tribulação se dará a segunda fase da Segunda Vinda de Cristo, que será visível e corporal com a sua Igreja glorificada (Lc 21.27). Enquanto o salvo aguarda, deve orar para que o evangelho tenha livre curso, e vigiar para não viver desordenadamente (2 Ts 3.1,11,12).

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

Uma expectativa gloriosa (1.10)

O autor Warren Wiersbe, ao fazer uma síntese da ação de Deus na vida da igreja de Tessalônica, escreveu: A operosidade de sua fé evidenciava-os como um povo eleito, pois deixaram seus ídolos, voltaram-se para Deus e creram em Jesus Cristo. A abnegação de seu amor tornava-os um povo exemplar e entusiasmado, que colocava em prática a Palavra de Deus e compartilhava o evangelho. A firmeza de sua esperança fazia deles um povo esperançoso, que aguardava a volta do Senhor.

Antes de Paulo chegar aos tessalonicenses com o evangelho, eles eram pessoas sem esperança “[…] e sem Deus no mundo” (Ef 2.12). Porém, agora, recebem uma viva esperança.

Três verdades são destacadas pelo apóstolo Paulo:

A expectativa da segunda vinda de Cristo (1.10a).

William Hendriksen preceitua que não se deve perder de vista o pleno impacto do verbo “aguardar”. Significa esperar feliz, com paciência e confiança. Não é apenas crer que Jesus vai voltar. É estar preparado para a Sua volta. Quando aguardamos um visitante, já deixamos tudo pronto para a sua chegada. Preparamos o quarto de hóspedes, a agenda de atividades, nosso horário disponível e outras obrigações, tudo de maneira a deixar a pessoa que nos visita inteiramente à vontade. Assim também, aguardar o Filho de Deus que virá dos céus implica um coração e uma vida santificada.’’ Concordo com Warren Wiersbe quando diz que não esperamos “sinais”, mas sim o Salvador.

A doutrina mais enfatizada nesta carta de Paulo aos tessalonicenses é a segunda vinda de Cristo. Eles aguardavam a volta iminente do Senhor Jesus. Eles se alimentavam dessa bendita esperança. Seus olhos estavam nos céus, de onde o Senhor virá. Concordo com William Barclay quando ele afirma: “O cristão é chamado a servir no mundo e a esperar a glória”.

A palavra utilizada por Paulo para descrever o verbo “aguardar” é anamenein, que significa esperar, aguardar.

O pensamento chave aqui parece o de esperar por alguém cuja vinda foi anunciada, talvez com a idéia adicional de paciência e confiança. O tempo presente aponta para a espera contínua. “ A iminente volta do Senhor Jesus é a esperança do cristão. Essa verdade está fartamente documentada no Novo Testamento (Lc 12.36; Rm 8.23; ICo 11.26; 2Co 5.2; G1 5.5; Fp 4.5; Tt 2.13; Hb 9.28; Tg 5.7-9; IPe 4.7; IJo 3.3; Ap 3.11; 22.7,12,20).

A base para a expectativa da segunda vinda de Cristo(1.10b).

A igreja de Tessalônica esperava a segunda vinda de Cristo, porque tinha a convicção de que Deus O havia ressuscitado dentre os mortos. A esperança da segunda vinda seria totalmente vazia e desprovida de sentido sem o fato da ressurreição. Cristo morreu, ressuscitou, venceu a morte, retornou ao céu e por isso, vai voltar. Se Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos, segue-se que Ele agora está onde Deus está, a saber: nos céus, e o Deus que O ressuscitou pode trazê-Lo de volta à terra para o Seu povo, e o fará.

O livramento que a igreja terá quando da segunda vinda de Cristo (1.10c).

Para aqueles que estiverem despreparados, a segunda vinda de Cristo será um dia de trevas e não de luz, de desespero e não de esperança, de juízo e não de salvação. Para a igreja, que se converteu, que abraçou o evangelho, que se tornou modelo e irradiou sua bendita influência não existe mais condenação. A igreja é liberta da ira vindoura quando crê. Não há mais temor quanto ao futuro. Não há mais condenação para os que estão em Cristo (Rm 8.1). A morte de Cristo foi o meio usado por Deus para livrar os homens da ira (4.9,10).

A ira de Deus não é orgulho ferido nem uma explosão de fiiria caprichosa. Não é uma emoção descontrolada de uma pessoa zangada. Ao contrário, a ira de Deus é uma justa reação diante da maldade. A ira de Deus sempre é dirigida contra o mal e não é arbitrária e sem princípios.

Minha oração é que as marcas dessa igreja que nasceu num parto de dor, mas cresceu vigorosamente e fez ecoar a mensagem do evangelho em todo o mundo, possam ainda hoje inspirar novas igrejas a se voltarem para Deus e a fazerem a obra de Deus com alegria, na dependência e no poder do Espírito Santo.

LOPES. Hernandes Dias. 1 e 2 Tessalonicenses. Como se preparar para a segunda vinda de Cristo. Editora Hagnos. pag. 42-44

 

 

 

4- Instruções pastorais e pessoais.

 

As Epístolas particulares abrangem instruções de natureza prática. Dentre outros temas, em 1 Timóteo, Paulo orienta o combate às heresias por meio da “sã doutrina” (1 Tm 1.3,9,10). Em vista disso, o líder deve ser apto para ensinar (1 Tm 3.2; 4.13,16). Em 2 Timóteo ratifica-se que o obreiro deve manejar “bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15) a fim de produzir arrependimento nos que resistem (2 Tm 2.25). Em Tito, o pastor deve contrapor os falsos ensinos (Tt 1.5,10,11), e para tanto é exortado a falar “o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). Em Filemom, a mensagem enfatiza o perdão. O transgressor arrependido deve ser recebido “mais do que servo, como irmão amado” (Fm 1.16).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

As Epístolas particulares abrangem instruções de natureza prática.

Duas delas foram dirigidas a Timóteo, um jovem pastor em Éfeso, natural de Listra, filho de pai gentio e de mãe cristã judia (At 16.1). Após sua conversão, tornou-se um auxiliar de confiança na obra missionária. Paulo se refere a ele como “irmão” e “cooperador” (1 Ts 3.2); “filho amado” e “fiel no Senhor” (1 Co 4.17); “verdadeiro filho na fé” (1 Tm 1.2). As orientações são pessoais, mas servem para aplicação na vida espiritual e gestão da Igreja.

Dentre outros temas, em 1 Timóteo, Paulo orienta o combate às heresias por meio da “sã doutrina” (1 Tm 1.3,9,10). Timóteo deveria coibir o ensino de “outra doutrina” que minava a fé da Igreja, esmerando-se em ensinar a ortodoxia cristã (doutrina correta). Para tanto, precisava combater as inovações, tais como, “fábulas ou a genealogias intermináveis” (1 Tm 1.4). Refere-se a doutrinas espúrias permeadas de mitos, ficções, lendas e revelações falsas em contraste com a verdade do Evangelho.9 Em vista disso, depreende-se que o líder deve ser apto para ensinar (1 Tm 3.2; 4.13,16).

Em 2 Timóteo, destaca-se que o obreiro deve ser aprovado diante de Deus e manejar “bem a Palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Paulo orienta o líder a esforçar-se para receber a aprovação divina, e não dos homens. O apóstolo aconselha tanto Timóteo como a Igreja a não participarem de falatórios vazios e profanos como faziam os hereges (2 Tm 2.14,16). Para isso, deveria estudar com zelo as Escrituras para não ser um obreiro despreparado, a fim de instruir aos que resistiam a sã doutrina (2 Tm 2.25).

As outras duas missivas pessoais de Paulo foram endereças a Tito e a Filemom. Tito era um grego convertido (Gl 2.3), que se tornou cooperador de confiança de Paulo, com as mesmas virtudes de Timóteo (Tt 1.4; 2 Co 2.13; 8.23; 12.18). Ele foi comissionado pelo apóstolo para pastorear em Creta (Tt 1.5). Na Epístola a Tito, enfatiza-se que o pastor deve contrapor os falsos ensinos (Tt 1.5,10,11) e, para tanto, é exortado a falar “o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). Nessa tarefa, cabe ao ministro reafirmar a autoridade da Palavra de Deus e manter-se fiel às doutrinas bíblicas.

Em Filemom, a mensagem enfatiza o perdão. O destinatário principal é Filemom e a Igreja em sua casa (Fm 1,2). Esse detalhe indica que a casa de Filemom era o lugar de cultos dos crentes de Colossos (Cl 4.8,9). O assunto gira em torno de Onésimo, um escravo fugitivo que Paulo converteu ao evangelho na prisão (Fm 10). Paulo aconselha Filemom a acolher Onésimo com brandura e apreço, e ainda se dispõe a pagar todo o prejuízo causado (Fm 17,18). O apóstolo ensina que o transgressor arrependido deve ser recebido não como servo, mas como irmão amado (Fm 16).

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

Motivos e Propósitos

Há três impulsos primários que podem ser observados nas «epístolas pastorais», a saber: a. a necessidade de combater as heresias; b. a necessidade de encorajar a nomeação de homens espiritual e moralmente qualificados para o ministério, o que exigiu várias instruções sobre as qualificações desses homens; c. a necessidade de instrução no caminho da piedade, que envolve a vida prática e moral. Nesse ponto, as epístolas pastorais ocupam terreno comum com todas as demais epistolas paulinas. Abaixo oferecemos considerações sobre cada um desses três pontos colimados.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 2. pag. 418.

 

 

 

SINÓPSE I

As epístolas paulinas nos instruem a respeito de Cristo, sobre as últimas coisas e trazem instruções pastorais e pessoais.

 

 

AUXÍLIO DE BIBLIOLÓGICO

“Epístolas

No uso geral, o termo epístola refere-se à correspondência escrita, seja particular ou pública. […] No Novo Testamento, o termo grego espistole ocorre 24 vezes e é a designação de 21 dos escritos do Novo Testamento […] Em geral, as epístolas do Novo Testamento seguem a forma padrão das cartas antigas, com o poder ser visto pelo estudo da extensa correspondência em papiros que foi preservada . A ordem epistolar usual e de bem estar dos leitores, corpo da carta e saudações finais. Alguns, seguindo a sugestão de A. Deissmann, têm feito uma distinção entre cartas e epístolas.

As cartas seriam pessoais, com trechos não-literários sem a intenção de uso permanente, ao passo que as epístolas seriam impessoais, com trechos literários, escritas para um público mais geral e com a intenção de permanência. Outros tem corretamente insistido que esta distinção é demasiadamente sofisticada e simplificada. A maioria das epístolas do Novo Testamento combina elementos tanto de cartas como de epístolas, conforme distinguido por DeissmanN. A correspondência do Novo Testamento foi, em sua maior parte, escrita em resposta a cartas ou palavras pessoais com relação a problemas ou necessidades que exigiram um tratamento por parte de alguém que tivesse autoridade apostólica” (Dicionário Bíblico Wyclifee. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp.652,53).

 

 

II – COMO AS EPÍSTOLAS GERAIS NOS FORMAM

 

 

1- As Epístolas de Pedro.

 

1 Pedro aborda o sofrimento cristão (1 Pe 1.6). Ela ensina que as provações fortalecem a fé (1 Pe 1.7), que é preciso santificar-se (1 Pe 1.15), suportar os agravos (1 Pe 2.19) e alegrar-se nas aflições (1 Pe 4.13). Assegura que o próprio Deus é quem aperfeiçoa, confirma, fortifica e estabelece o crente fiel (1 Pe 5.10). Em 2 Pedro, a mensagem faz alerta aos ensinos dos falsos mestres, tais como: negar a divindade e a segunda vinda de Cristo (2 Pe 2.1; 3.4). Pedro contesta tais heresias, ratifica que Jesus é o Filho de Deus (2 Pe 1.16,17) e anima a Igreja a manter-se imaculada até a volta do Senhor (2 Pe 3.14).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A 1ª Epístola de Pedro foi escrita aos irmãos dispersos no “Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1 Pe 1.1). Refere-se aos judeus convertidos a Cristo, mas principalmente aos gentios cristãos que habitavam em uma dessas cinco províncias romanas. Eles eram minoria em uma sociedade pagã, idólatra, injusta, pervertida e imoral. Estavam sofrendo pressões e perseguições por causa da sua fé em Cristo e de seu modo de viver e agir contrário a cultura predominante. Nesse contexto, ressalta-se que em 1 Pedro a abordagem enfatiza o sofrimento cristão (1 Pe 1.6).

O apóstolo ensina que as provações fortalecem a fé. Afirma que a fé é testada no fogo das adversidades (1 Pe 1.7). Exorta os cristãos a não ceder às concupiscências, mas manter uma vida de santidade (1 Pe 1.15). Orienta os crentes a suportar os agravos para a glória de Deus (1 Pe 2.19) e alegrar-se por serem participantes das aflições de Cristo (1 Pe 4.13). Assegura que o próprio Deus é quem aperfeiçoa, confirma, fortifica e estabelece o crente fiel (1 Pe 5.10).

Essas verdades devem nos dar a confiança, paciência e esperança para perseverar, mesmo quando formos perseguidos.

A 2ª Epístola de Pedro foi destinada aos leitores da primeira missiva (2 Pe 3.1) e provavelmente a um grupo maior de cristãos. A ocasião da escrita revela um quadro bem desolador para os servos de Cristo. Nero, o imperador de Roma (54 d.C.-68 d.C.), promovia crescente perseguição à Igreja. Como já visto na primeira Epístola, Pedro advertiu e encorajou os crentes a manter a fidelidade e a esperança em meio ao sofrimento. Nessa segunda Carta, antes de morrer, Pedro escreve suas últimas orientações aos irmãos. Em 2 Pedro, a mensagem faz alerta aos ensinos dos falsos mestres (2 Pe 1.12-14).

O apóstolo exorta acerca das heresias que perturbavam a fé da Igreja, tais como a negação da divindade de Jesus e a negação da Segunda Vinda de Cristo (2 Pe 2.1; 3.4). Pedro vaticina que muitos seriam enganados (2 Pe 2.2), e que os hereges por avareza fariam da igreja um negócio para ganhar dinheiro (2 Pe 2.3). Para combater esses males, Pedro ratifica que Jesus é o Filho de Deus (2 Pe 1.16,17) e anima a Igreja a manter-se fiel e imaculada até a volta do Senhor (2 Pe 3.9-14). Assim, os escritos de Pedro estimulam as virtudes do discernimento, santidade e perseverança.

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

Alegria na Dor 1 Pedro 3.13-4.19

Uma das questões que mais atormentam o ser humano é: “Por que os justos sofrem?” Embora se esforcem, os homens não conseguem uma resposta satisfatória. Nessa mesma linha de pensamento, somos levados a perguntar também: “Pòr que deu tudo errado, se procurei fazer a coisa certa?”

Jó tentou certa vez encontrar uma resposta (veja Jó 1.9,11; 2.4,5; 13.15,16; 19.25-27). Mas ao invés de lhe dar uma resposta clara, Deus limitou-se a mostrar-lhe os mistérios da natureza (Jó 38-41). Apesar de não entender tais coisas, o patriarca teve de aceitar integralmente a soberania divina. Afinal, o Senhor tem o domínio, não só das coisas naturais, como também das espirituais.

Habacuque também não pôde compreender como o Deus santo utilizava-se dos perversos caldeus para punir os israelitas, que eram mais justos que aqueles (Hc 1.13).

No final, o profeta teve de aprender que o justo deve viver pela sua fé. Através da própria experiência, chegou à conclusão: ainda que fossem destruídos todos os bens materiais, ele haveria de regozijar-se no Deus de sua salvação. Enquanto tivesse o Senhor por sua força, possuiria o bastante. Deus ainda o faria correr alegremente como a corça, e andar altaneiramente (Hc 2.4; 3.17-19).

I – Um Princípio Geral

Antes que Pedro trate mais profundamente o assunto, ele se refere a um princípio geral: “E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?” (1 Pe 3.13).

Noutras palavras, o cristão não precisa desenvolver um complexo de perseguição. Não precisa estar à espera de que as pessoas o maltratem, e dele tirem vantagem. Assim vivem aliás, certos grupos minoritários.

Após estabelecer esse princípio geral, Pedro passa a tratar do sofrimento em relação ao nosso testemunho (1 Pe 3.14-16). Fala também a respeito dos sofrimentos de Cristo (1 Pe 3.17-4.2), e do juízo de Deus (1 Pe 4.3-9).

II – A Dor em Relação a Nosso Testemunho

Realmente, o sofrimento ocasionado em virtude de uma vida piedosa é uma raridade à maioria de nós. Não era diferente nos dias de Pedro. Mesmo durante o segundo e o terceiro séculos da história da igreja, havia momentos de calma em que a Igreja crescia sem quaisquer perturbações. Inclusive havia autoridades romanas que nem sempre seguiam à risca as ordens do imperador no sentido de se perseguir os servos de Cristo. O mesmo acontece hoje nos países islâmicos e totalitários.

Se sofremos por causa do Senhor, diz Pedro, devemos considerar-nos felizes, por ser tal coisa um grande privilégio. Não foi o que afirmou Jesus no Sermão da Montanha?

Os perseguidos em virtude de sua justiça são bem aventurados; deles é o Reino dos Céus. Se nos caluniarem por causa de seu nome, acrescenta Jesus, devemos rejubilar-nos, “pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mt 5.10-12).

Não podemos nos amedrontar com o que os inimigos de Cristo poderiam fazer conosco. Devemos antes santificar o Senhor Deus em nossos corações (1 Pe 3.15). No original grego, isto quer dizer: “Dê a Ele seu próprio lugar como Senhor e Mestre de seu ser”. Portanto, ao invés de ser dominado pelo medo, você será dirigido por Cristo. Você estará sempre preparado a responder aos que perdem a razão da esperança que há em sua alma (1 Pe 3.15).

III – A Defesa de Nossa Esperança

Esta resposta, ou defesa, pode ser usada nos tribunais.

Haja vista o que ocorreu com Pedro e João ao serem trazidos diante do Sinédrio. Aqui, os líderes judaicos ficaram surpresos com a liberdade que os apóstolos falavam sobre a fé em Jesus (At 4.5-13). O mesmo aconteceu com Paulo ao depor diante do Rei Agripa. Este chegou a maravilhar-se ao descobrir que Paulo não tentara defender-se. O apóstolo limitou-se a prestar da esperança que nele habitava (At 26.1-29).

Esta é a razão pela qual Jesus recomendou aos discípulos que, ao serem levados aos magistrados e poderosos, nada temessem, “porque o Espírito Santo vos ensinará, naquela mesma hora, as cousas que deveis dizer” (veja Lc 12.11,12). Se tivessem de pensar acerca de sua defesa, certamente se embaraçariam. Mas se estivessem sempre preparados para testificar acerca de sua esperança, o Espírito Santo os instruiria em todas as coisas. O resultado seria um poderoso testemunho acerca de nossa grande salvação que receberemos quando Jesus voltar.

Neste contexto, Pedro não pode estar enfatizando o que temos de dizer nos tribunais ou diante dos juízes. Seu ensino parece aplicar-se mais àquelas abordagens que sofremos em casa, na rua, no trabalho, no super-mercado ou onde quer que tenhamos contato com incrédulos.

Estar preparado não significa munir-se daquela ousadia que pode ser confundida com orgulho ou arrogância.

Longe disso! A demonstração de nossa esperança há de ser apresentada com mansidão e temor.

Estar preparado é achar-se também munido de uma boa consciência (1 Pe 3.16). A consciência má gera medo e covardia em nossos corações quando temos de testemunhar de Cristo. A culpa afasta-nos do Senhor e da ajuda do Espírito Santo, tornando-nos o testemunho ineficaz. A boa consciência, porém, lavada de toda iniquidade através de uma confissão aberta ao Senhor (1 Jo 1.9), ajudamos a prestar um testemunho eficaz apesar das circunstâncias adversas.

O cristão não pode estar cometendo constantemente os mesmos pecados e faltas, para em seguida confessá-los. A boa consciência é mantida através de uma vida realmente vivida em Cristo. Ela nos ajudará quando tivermos de enfrentar os que falam mal de nós. Pedro parece ter em mente o que ele já disse nos capítulos 2.23 e 3.9 a respeito de não se pagar o mal com o mal. A boa consciência sempre há de sair vencedora. No final, os que nos acusam falsamente, serão expostos à vergonha, e atirados na mais profunda confusão.

 

I – Deus Sabe o que Farão os Falsos Mestres

Os santos profetas de Israel tiveram de contender com os falsos profetas que surgiam no meio do povo (Mq 2.11; Jr 14.13-15; 5.31; 23.9-22; 29.9). Eles gritavam: “Assim diz o Senhor”, talvez mais alto que os mensageiros de Jeová. Incitavam o farisaísmo e o mundanismo.

Negavam a mensagem divina. Mas os fatos provavam estarem eles completamente errados. Haja vista o que se deu em relação à Jerusalém. Diziam os falsos profetas que a cidade jamais seria destruída. No entanto, veio Nabucodonosor, e deitou-a por terra, demonstrando que a mensagem divina, na boca de Jeremias e de quantos haviam predito tal desgraça, era realmente a verdade.

Não devemos ficar surpresos se falsos mestres encontram-se entre nós. Pois os maiores inimigos de nossa fé não se acham entre os ateus e comunistas. Estes atacam nos de fora para dentro, mas os que se dizem cristãos, e não o são, o fazem de dentro para fora. Buscam introduzir secretamente, na casa de Deus, heresias e opiniões que têm como alvo a perdição eterna. Não era o que se dava com as várias seitas e cultos surgidos nos primeiros séculos do Cristianismo? Hoje, além das seitas, estamos às voltas com os chamados modernistas, ou liberais, cujo criticismo destrutivo da Bíblia vem induzindo a muitos a negar o Senhor e Mestre que nos resgatou mediante o Calvário. Mas, ao negarem-no, trazem sobre si mesmos súbita destruição – a perdição eterna no lago de fogo.

Embora julguem-se a salvo, não hão de escapar no dia do Juízo Final.

Pedro logo percebeu (2 Pe 2.2) que os falsos mestres teriam vasta influência. Muitos seguiriam seus caminhos perniciosos – conduta ultrajante e baixos padrões morais. Com os seus ensinamentos, zombam da verdade.

Em sua linguagem abusiva e blasfema, desonram o nome de Deus.

Os falsos mestres e profetas não se preocupam com o que pode acontecer aos seus seguidores. São movidos (2 Pe 2.3) não por Deus, nem pelo Espírito Santo, mas pela cobiça – ignoram os direitos alheios. Com palavras falsas, forjadas em suas próprias mentes, fazem comércio de seus seguidores. São profissionais que geram lucrativos negócios a partir de seus ensinamentos nocivos. Tudo o que fazem é para o próprio ganho. Sua sentença, porém, já está lavrada. Sua condenação não descansará; certamente virá.

II – Deus Sabe Como Resgatar o Justo e Julgar o Pecador

Os falsos mestres negam a ideia do inferno e da punição eterna. Mas o Juízo Final não é nenhum pesadelo ou sonho, mas algo que Deus preparou para julgar a humanidade.

Três ilustrações são usadas aqui (2 Pe 2.5-8), não apenas para mostrar que o julgamento dos falsos mestres e profetas certamente virá, como também para trazer conforto e certeza aos que por eles são atacados.

O Senhor livra da provação os piedosos, e reserva sob custódia o injusto até que o dia do julgamento traga sua punição (2 Pe 2.9).

Levemos em conta que Deus (2 Pe 2.4) não poupou nem mesmo os anjos que pecaram, mas lançou-os no inferno, e os pôs em cadeias – poço de trevas – onde aguardam o Julgamento Final. Alguns estudiosos, indevidamente, buscam relacionar tais anjos com os filhos de Deus mencionados em Gênesis 6. Só que os filhos de Deus, aqui mencionados, nada têm a ver com os anjos; eram os descendentes de Sete que se haviam desviado da verdade. Voltando ao assunto, deixamos claro que, se Deus tem um julgamento à espera dos anjos caídos, não há de ignorar os falsos mestres e profetas.

Deus também não isentou o mundo antigo da punição (2 Pe 2.5), embora o haja criado e declarado que tudo era bom (Gn 1.31). Antes enviou o dilúvio para punir os injustos (ver Gn 6.6,7). Noé, porém, o proclamador da justiça divina, foi preservado pelo Justo Senhor. Deus soube como salvá-lo e protegê-lo.

O mesmo se deu em Sodoma e Gomorra (2 Pe 2.6).

Ambas as cidades foram condenadas à ruína, demonstrando a certeza do juízo divino sobre todos os que vivem de forma injusta e irreverente. Mas Ló (2 Pe 2-2.7) era justo. Achava-se atormentado em consequência da conversa imunda e do viver ultrajante, indecente e lascivo daquela gente. Jamais se acostumara àquele estilo de vida. Sua alma piedosa era torturada constantemente por tudo aquilo (2 Pe 2.8). Todavia, Deus o resgatou, pondo o a salvo da destruição que logo se abateria sobre Sodoma, Gomorra e outras cidades vizinhas.

Estejamos certos de uma coisa: Deus sabe como nos resgatar da opressão do mal, da imundície e das pressões que nos fazem “os homens perversos e impostores que irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2 Tm 3.13).

III – Falsos Mestres e Seus Métodos

Sim, os falsos mestres e profetas serão julgados. Pedro, agora, passa a descrevê-los (2 Pe 2.10). Vivem os tais segundo a carne e em imundas paixões; menosprezam as autoridades, sejam estas divinas ou humanas. Em sua presunção, não temem falar do mal e blasfemar das gloriosas forças angelicais. Como sua vida não tem freios, sentem-se livres para escarnecer da santidade divina, dos anjos e das demais coisas espirituais que jamais lograram entender.

Quão diferente é a atitude dos anjos (2 Pe 2.11).

Embora maiores em força, não ousam fazer acusações afrontosas contra os tais diante de Deus. Miguel, por exemplo, mesmo sendo o arcanjo, não proferiu juízo infamatório ao contender com o diabo (Jd 9). Em lugar de maldizer o tentador, uma só palavra é encontrada em seus lábios: “O Senhor te repreende” (Zc 3.2).

A falta de entendimento (como o grego de 2 Pe 2.12 indica) é gerada por uma ignorância obstinada. Os falsos mestres e profetas não tinham conhecimento pessoal das coisas espirituais, por haverem rejeitado a eficácia do sangue de Cristo. Embora se declarem líderes espirituais, sua real preocupação é com as coisas materiais; seu único desejo é satisfazer os apetites da carne. Dizem-se intelectuais, mas agem como animais irracionais; são bestas brutas sujeitas à captura e à destruição. Eis o seu lema: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1 Co 15.32). Em sua corrupção, destruir-se-ão a si mesmos, recebendo a recompensa de sua iniquidade, “porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

HORTON. Staleym. M. Serie Comentário Bíblico I e II Pedro. A razão da nossa fé. Editora CPAD. pag. 47-50; 91-95.

 

 

O propósito da carta

Se o foco da primeira carta foi preparar a igreja para enfrentar o sofrimento que se espalhava, o propósito desta epístola é alertar a igreja acerca dos falsos profetas. Assim como Paulo escreveu duas cartas tanto aos crentes de Tessalônica como aos crentes de Corinto, Pedro também escreveu duas epístolas para os crentes judeus e gentios da Ásia Menor. Nessa segunda carta, ele advertiu os crentes sobre os perigos dos falsos mestres que se infiltraram nas comunidades cristãs. Michael Green diz que há uma concordância geral entre os comentaristas de que a heresia em mira é uma forma primitiva de gnosticismo.

Myer Pearlman reforça esse pensamento quando destaca que a Primeira Epístola de Pedro trata do perigo fora da igreja: as perseguições. A Segunda Carta trata do perigo dentro da igreja: a falsa doutrina. A primeira foi escrita para animar; a segunda, para advertir. Na primeira, vemos Pedro cumprindo a missão de fortalecer os irmãos (Lc 22.32); na segunda, cumprindo a missão de pastorear as ovelhas, protegendo-as dos perigos ocultos e insidiosos, para que andem nos caminhos da justiça (Jo 21.15-17). O tema da segunda carta pode ser resumido da seguinte maneira: o conhecimento completo de Cristo é uma fortaleza contra a falsa doutrina e contra a vida imoral.

LOPES. Hernandes Dias. 2 Pedro e Judas. Quando os falsos profetas atacam a Igreja. Editora Hagnos. pag. 18-19.

 

 

2- As Epístolas de João.

 

1 João adverte sobre o falso ensino que negava a encarnação de Jesus (1 Jo 1.1; 4.2,3) e as demais heresias gnósticas (1Jo 5.13-21). Explica que o salvo deve viver em comunhão com os irmãos (1 Jo 1.6,7); afastar-se da prática do pecado (1 Jo 2.1; 3.7); amar uns aos outros (l Jo 4.11); e vencer o mundo por meio da fé (1 Jo 5.4). Em 2 João, as heresias do docetismo e gnosticismo são novamente refutadas (2 Jo 1.7,8). A Igreja é exortada a perseverar na doutrina de Cristo (2 Jo 1.9) e a usar de sabedoria ao receber pessoas em casa (2 Jo 1.10,11). Em 3 João destaca-se a fidelidade de Gaio e Demétrio (3 Jo 1.5-8,12) e a reprovação do mau testemunho de Diótrefes (3 Jo 1.9,10). Por fim, João adverte ao cristão: “ não sigas o mal, mas o bem ” (3 Jo 1.11).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A 1ª Epístola de João adverte sobre o falso ensino que negava a encarnação de Jesus (1 Jo 1.1; 4.2,3) e as demais heresias gnósticas (1 Jo 5.13-21). Os hereges ensinavam que Cristo só tinha a aparência de ser humano. Essa heresia é chamada de “docetismo” (do grego dokeo, “parecer”). O gnosticismo ligava a salvação a uma experiência de revelação esotérica (do grego gnosis, “conhecimento”). João esclarece que ele próprio era testemunha da encarnação (1 Jo 1. 1-4). Explica que o salvo deve viver em comunhão com os irmãos (1 Jo 1.6,7); afastar-se da prática do pecado (1 Jo 2.1; 3.7); amar uns aos outros (1 Jo 4.11); vencer o mundo por meio da fé (1 Jo 5.4); e permanecer no que é verdadeiro: Jesus Cristo (1 Jo 5.20).

Em 2 João, o apóstolo reitera a prática do amor como mandamento divino (2 Jo 1.5,6) e novamente refuta as heresias do docetismo e gnosticismo. João assegura que todo aquele que não confessa que Cristo veio em carne é enganador e anticristo (2 Jo 1.7). Portanto, a Igreja é exortada a não se deixar enganar, nunca ir além daquilo que está escrito, mas perseverar na doutrina de Cristo (2 Jo 1.9). A Epístola orienta os cristãos a não receber pessoas com falsos ensinos em casa (2 Jo 1.10). Nesse quesito, João declara que aquele que escuta um herege tem parte nas suas más obras (2 Jo 1.11).

Em 3 João, destaca-se em posições opostas a fidelidade e a infidelidade. A Epístola condena a soberba e a rivalidade mesquinha que coloca cristãos uns contra os outros. O apóstolo aprova o comportamento de Gaio e Demétrio, cujas virtudes são: “andar na verdade”, “proceder fielmente”, “exercitar o amor” e “dar verdadeiro testemunho” (3 Jo 1.4-8,12). De outro lado, Diótrefes é reprovado por “desejar a primazia”, “desprezar os líderes”, “ser maledicente” e “causar escândalos” (3 Jo 1.9,10). Nessa missiva, somos exortados a seguir o bom exemplo dos servos que são fiéis a Deus, a sua obra e a seus líderes.

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e urgente para a igreja contemporânea. Os problemas que motivaram o idoso apóstolo a escrevê-las ainda atingem a igreja hoje. Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo. Os problemas podem ter aspectos diferentes, mas em essência são os mesmos.

O Evangelho de João foi escrito para que as pessoas cressem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, pudessem ter vida em seu nome (Jo 20.31). A Primeira Carta foi escrita com o propósito de dar garantia aos que creram em Cristo acerca da certeza da salvação (ljo 5.13). A Segunda Carta foi escrita para alertar a igreja sobre o perigo dos falsos mestres e a Terceira Carta para alertar a igreja sobre o perigo dos falsos líderes.

Nessas cartas, o apóstolo João apresenta três provas irrefutáveis que identificam um indivíduo verdadeiramente salvo:

A primeira prova é a prova doutrinária, ou seja, a fé em Cristo. Aquele que nega que Jesus veio em carne e nega que Jesus é o Cristo não procede de Deus. Esse é o enganador e o anticristo. Ninguém pode se considerar cristão negando a encarnação de Cristo. Ninguém pode ser salvo negando a doutrina da natureza divino-humana de Cristo. Jesus Cristo não é meio Deus e meio homem. Ele é Deus-Homem.

O apóstolo João deixa claro que o ensino gnóstico acerca de Jesus estava absolutamente equivocado. Os gnósticos faziam distinção entre o Jesus histórico e o Cristo divino. Para eles, o Cristo veio sobre Jesus no batismo e saiu dele antes da crucificação. O ensino gnóstico era uma perversão da verdade, uma heresia que a igreja deveria rechaçar.

A segunda prova que evidencia um verdadeiro cristão é a prova social, ou seja, o amor. Quem não ama não é nascido de Deus. Quem não ama permanece nas trevas. Quem não ama permanece na morte. Quem não ama jamais viu a Deus, porque Deus é amor. Não podemos separar a nossa relação com Deus da nossa relação com os irmãos. Quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê. Também, o amor cristão não consiste apenas de palavras, mas, sobretudo, de ação. A prova do amor é o serviço. Demonstramos nosso amor não com palavras, mas com ações concretas de ajuda aos necessitados. O amor é a apologética final, a evidência insofismável de que somos discípulos de Cristo.

A terceira prova que evidencia um verdadeiro cristão é a prova moral, ou seja, a obediência. Aqueles que creem em Cristo e amam a Cristo devem andar assim como ele andou. O credo precisa estar sintonizado com a vida. O que cremos precisa desembocar naquilo que fazemos. Não pode existir um abismo entre a teologia e a ética, entre a fé e as obras, entre o que falamos e o que fazemos.

O contexto das três cartas mostra uma igreja assediada pelos falsos mestres. Muitos desses falsos mestres saíram de dentro da própria igreja (l Jo 2.19) e se corromperam teológica e moralmente. O apóstolo Paulo havia alertado para essa possibilidade (At 20.29,30). A heresia é nociva. Ela engana e mata. Não podemos ser complacentes com o erro. Não podemos tolerar a mentira. Não podemos apoiar a causa dos falsos mestres.

Hoje, ainda, há muitos falsos profetas, muitos falsos mestres e muito engano religioso. A igreja evangélica brasileira tem sido condescendente com muitos ensinos forâneos à Palavra de Deus. Novidades estranhas às Escrituras têm encontrado guarida nos redutos evangélicos. Precisamos nos acautelar. Precisamos nos firmar na verdade para vivermos de modo digno de Deus.

A verdade é inegociável. Os absolutos de Deus não podem ser relativizados. Precisamos convocar a igreja evangélica brasileira a voltar-se para as Escrituras. Precisamos de uma nova Reforma. Precisamos de um reavivamento nos púlpitos e nos bancos!

LOPES. Hernandes Dias. 1, 2, 3 JOÃO Como ter garantia da salvação. Editora Hagnos. pag. 7-9.

 

 

O meado do século vinte é uma época de insegurança fundamental. Tudo muda; nada é estável. Constantemente nascem novas nações. Novos modelos sociais e políticos se desenvolvem continuamente. A própria sobrevivência da civilização é duvidosa, face à ameaça de uma guerra nuclear. Estas inseguranças externas se refletem no mundo da mente e do espírito. Mesmo a igreja, que recebeu “um reino inabalável” e está encarregada de proclamar Aquele que “ontem e hoje é o mesmo, e o será para sempre” (Hb 12:28; 13:8), atualmente profere a sua mensagem molemente, hesitante e sem convicção. Há generalizada desconfiança do dogmatismo e preferência pelo agnosticismo ou pelo livre pensamento. Muitos cristãos andam cheios de incerteza e confusão.

Contra esse fundo, ler as epístolas de João é entrar num mundo completamente diverso, mundo cujas marcas são segurança, conhecimento e intrepidez. O tema predominante destas epístolas é a certeza cristã. Seus verbos característicos são ginoskein, “conhecer” (15 vezes), e eidenai, “saber” (25 vezes), enquanto que o substantivo característico é parrPsia, “atitude confiante” ou “ousadia no falar”. A certeza do cristão é dupla-objetiva (de que a religião cristã é verdadeira) e subjetiva (de que ele próprio é nascido de Deus e possui a vida eterna). Ambas são expostas por João, que toma como certo que essa dupla segurança é correta e saudável em todos os cristãos. Seu ensino sobre essas certezas, sua natureza e as bases sobre as quais se edificam, precisa urgentemente ser ouvido e lev.ado em consideração hoje.

Certeza quanto a Cristo.

Dos cristãos se pode afirmar, como resultado da unção que recebemos, que todos conhecemos (“todos tendes conhecimento, 2:20), absolutamente. Não significa, é claro, que conhecemos todas as coisas, como erroneamente sugerem a AV e a ÀRC, pois algumas coisas Deus ainda não revelou (ex., 3:2). Todavia, sabemos “a verdade” (2:21; cf. 2 Jo 1 e 4:6) que inclui a verdade acerca do mundo e sua condição (5:19; cf. 2:18; 3:15), e acerca de nós mesmos, do nosso dever e do nosso destino (2:10,11,29; 3:2; 5:18). Assim de tudo, sabemos a verdade acerca de Deus e de Cristo. “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro” (5:20). Assim, conhecemos a Deus (2:13,14; 4:6,7) e a Cristo (3:6; cf. 3:1). Sabemos, sobretudo, que a causa da vinda de Cristo foi o amor (3:16; 4:16) e seu propósito, “tirar os nossos pecados” (3:5, AV, ARC).

Como, porém, sabemos estas coisas, especialmente quem é Jesus Cristo e por que veio? A clara resposta de João é dada em três estágios. Primeiro, há o evento histórico, Cristo sendo “enviado” (4:9,10,14), a Sua vinda (5:20), a Sua manifestação ou aparecimento (ephanerothé em 1:2; 3:5,8; 4:9). A Sua vinda foi em carne (4:2; 2 Jo 7) e “por meio de água e sangue” (5:6). Isto é, foi real e O envolveu nas definidas experiências históricas de nascimento, batismo e morte. Depois, há o testemunho apostólico. O evento não passou sem ser notado. Aquele que veio em carne foi visto, ouvido e tocado, de sorte que os que viram podiam testificar a partir da sua experiência pessoal de primeira mão (1:1-3; 4:14). Terceiro, há a “unção” do Espírito Santo, por quem somos ensinados e, portanto, temos conhecimento (2:20,27; cf. 3:24; 4:13). Esse testemunho do Espírito é no interior do crente (5:10) e corrobora o testemunho da “água e o sangue” (5:6,8,9).

A base da nossa certeza quanto a Cristo não mudou. O fato de que lemos as epístolas de João no século vinte e não no primeiro não faz diferença. A religião cristã ainda está ligada ao evento histórico de Cristo e ao testemunho que os apóstolos deram dele. Nesta “doutrina de Cristo” temos que permanecer (2 Jo 9). Ir além dela levar-nos-á inevitavelmente ao erro e, daí, à ruína. O dever dos ministros cristãos hoje é seguir o apóstolo João, não os falsos mestres. Não devemos levar os nossos ouvintes da igreja a novéis doutrinas, mas recordar-lhes o que ouviram “desde o princípio” (2:7,24; 3:11; 2 Jo 5). Ademais, aos que creem no Jesus histórico com base no testemunho único das testemunhas oculares apostólicas, agora preservado no Novo Testamento e exposto pela igreja, é assegurado o testemunho contemporâneo e confirmativo do Espírito no íntimo deles.

Certeza quanto à vida eterna.

Contudo, a espécie de conhecimento cristão tratado caracteristicamentes nestas epístolas é mais subjetiva que objetiva. Tem que ver, não tanto com a verdade acerca de Deus e de Cristo, como acerca da nossa posição cristã, que João descreve com quatro expressões favoritas. Primeiro, sabemos “que o temos conhecido” (2:3; cf. 5:20). Segundo, sabemos “que estamos nele” e “que permanecemos nele, e ele em nós” (2:5; 4:13; cf. 3:14). Terceiro, sabemos “que somos de Deus” (5:19; cf. 3:19, “da verdade”). Quarto, sabemos “que já passamos da morte para a vida” e que, portanto, temos a vida eterna (3:14; 5:13). Então, ser cristão, na linguagem de João, é ter nascido de Deus, conhecer a Deus e estar nele, desfrutando aquela íntima e pessoal comunhão com Ele, que é a vida eterna (5:10; cf. Jo 17:3). Deste nascimento celestial e deste relacionamento vivificante não temos dúvida. Na verdade, João declara que o seu propósito ao escrever a primeira epístola é que aqueles que creem possam também saber (5:13).

O argumento de João tem dois gumes. Se procura trazer os crentes ao conhecimento de que eles têm a vida eterna, igualmente se empenha em mostrar que os não crentes não a têm. Seu propósito é destruir a falsa segurança dos impostores, como também confirmar a reta segurança dos genuínos. De ponta a ponta das epístolas, ele está consciente destes dois grupos, “vós” e “eles” (exs., 2:18-20; 4:4,5). Os mesmos grupos existem hoje. Uns são presunçosos e se jactam daquilo que bem pode ser que não possuam; outros são frequentadores convencionais de igrejas, sem certeza da salvação, e até dizem que é presunção dizer alguém que a possui. Mas existe uma verdadeira segurança cristã, que não é arrogante nem presunçosa, mas, sim, ao contrário, como estas epístolas mostram, é a vontade claramente revelada de Deus para o Seu povo (5:13). Assim João concita os seus leitores a se examinaram, e fornece provas com as quais eles (e nós) podemos fazê-lo.

Robert Law intitulou os seus estudos da primeira epístola, The Tests of Life (As Provas da Vida), 1885 porque nela são dadas o que ele denomina “as três provas cardinais” com as quais podemos julgar se possuímos ou não a vida eterna. A primeira é teológica, se cremos que Jesus é “o Filho de Deus” (3:23; 5:6,10,13), o “Cristo vindo em carne” (4:2; 2 Jo 7). Nenhum sistema de ensino que nega, ou a preexistência divina e eterna de Jesus, ou a encarnação histórica do Cristo, pode ser acieto como cristão. “Ninguém que nega o Filho tem o Pai” (2:23, RSV). A segunda prova é moral, se estamos praticando a justiça e guardando os mandamentos de Deus. O pecado é demonstrado ser totalmente incompatível com a natureza de Deus como luz (1:5), com a missão do Filho de tirar os pecados (3:5) e com o novo nascimento do crente (3:9). Agora, como então, qualquer pretensão de experiência mística sem conduta moral deve ser rejeitada (1:6). A terceira prova é social, se nos amamos uns aos outros. Desde que Deus é amor e todo amor vem de Deus, é claro que uma pessoa sem amor não O conhece (4:7,8).

É importante ver que as três provas de João não são selecionadas arbitrariamente. Ao contrário, possuem uma coerência interna que ele descerra particularmente na segunda metade do capítulo em relação ao Evangelho. Este, em resumo, é que “o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo” (4:14), afirmação que envolve a Pessoa divino- humana do Filho que foi enviado, o amor do Pai que O enviou, e a justiça daqueles que recebem a Sua salvação. As três provas dependem umas das outras também porque a fé, o amor e a santidade são, todos eles, obras do Espírito Santo. Somente se Deus nos dá o Seu Espírito é que podemos crer, amar e obedecer (3:24; 4:13). Assim, todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, e ama, e pratica a justiça, com isso dá prova de que “é nascido de Deus”. Expressão idêntica a esta ocorre no texto grego de 2:29; 4:7 e 5:1. “Os tempos verbais mostram suficientemente”, escreve Law, referindo-se à mudança do presente para o perfeito, “que em cada caso a geração divina é o antecedente necessário para a atividade humana.” Ademais, se a fé, a santidade e o amor revelam um nascimento operado por Deus, também constituem os sinais da permanência recíproca de Deus em Seu povo e deste em Deus (3:24; 4:12,13,16 e 4:15).

Falhar nestas provas é desmascarar-se. Podemos continuar apresentando-nos como cristãos, que conhecem a Deus e têm vida, mas João insiste em que a nossa profissão verbal é negada pelos fatos (exs., 1:6,8,10. 2:4,6,9; 4:20). Na verdade, “aquele que diz” que conhece e ama a Deus, quando desobedece os Seus mandamentos e odeia a seu irmão, como aquele que nega que Jesus é o Cristo, é “mentiroso” (2:4; 4:20; cf. 2:22). Por outro lado, “sabemos … por isto” que conhecemos a Deus, estamos nele e temos vida, se guardamos os Seus mandamentos, amamos os irmãos e cremos em Jesus Cristo (2:3,4; 3:14,18,19,24).

Uma vigorosa certeza acerca de Cristo e da vida eterna, baseada nos fundamentos que João dá, ainda pode levar o povo cristão àquela ousadia de acesso a Deus e de testemunho aos homens, tão dolorosamente necessária quão tristemente ausente da igreja hoje.

John R. W. Stott. AS EPÍSTOLAS DE JOÃO Introdução e comentário. Editora Cultura Cristã. pag. 44-48.

 

 

3- As outras Gerais.

 

Aos Hebreus, a ênfase repousa na supremacia de Cristo (Hb 1.1). Ele é o Sumo-Sacerdote que por seu próprio sangue executou uma eterna redenção (Hb 9.11,12). Desse modo, o crente é estimulado a olhar para Cristo, o “autor e consumador da fé” (Hb 12.2). Em Tiago, o autor esclarece que “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26). Acentua que a fé deve ser mostrada em ações (Tg 2.14). Por isso, o texto adverte o cristão a ser praticante da Palavra, e não somente ouvinte (Tg 1.22). Em Judas, o salvo é exortado a “batalhar pela fé” (Jd 1.3). Isso por causa dos hereges infiltrados na Igreja (Jd 1.4). Assim, o crente é instruído a orar e a preservar a esperança da vida eterna (Jd 1.20,21).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A Epístola aos Hebreus foi provavelmente escrita aos judeus cristãos helenistas que são instados a manter firme a fé em Cristo (Hb 3.6,14; 4.14; 10.23). A ênfase da mensagem repousa na supremacia de Cristo: Ele é superior aos Pais e aos Profetas (Hb 1.1); superior aos anjos (Hb 1.4); superior a Moisés (Hb 3.3); e superior ao sacerdócio levítico (Hb 4.14). Ele é Mediador de uma melhor aliança (Hb 8.6); Ele é o Sumo Sacerdote de um maior e mais perfeito tabernáculo (Hb 9.11) e por seu próprio sangue executou uma eterna redenção (Hb 9.11,12). Desse modo, o crente é estimulado a olhar para Cristo, o “autor e consumador da fé” (Hb 12.2).

Tiago foi destinada aos judeus cristãos que tinham deixado a Palestina (Tg 1.1). O autor é meio-irmão de Jesus (Mc 6.3). Seus leitores estavam enfrentando pressão a respeito de seus valores e crenças (Tg 1.2-4). Em vista disso, entre outros conselhos, Tiago adverte que “a ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1.20); esclarece que “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26); acentua que a fé deve ser mostrada em ações (Tg 2.14); enfatiza a importância de controlar a língua (Tg 3.2), e estimula os crentes a orar e ajudar uns aos outros (Tg 5.16-20). Para tanto, o texto adverte o cristão a ser praticante da Palavra, e não somente ouvinte (Tg 1.22).

Judas foi endereçada aos cristãos judeus espalhados pelo mundo (Jd 1b). O autor é também meio-irmão de Jesus (Jd 1a). Judas exorta o salvo a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Isso por causa dos hereges infiltrados na igreja (Jd 4). Eles diziam que a liberdade em Cristo os isentava das regras morais; eram insubmissos aos líderes; e desprezavam o mundo espiritual (Jd 8). Em suma, ensinavam concupiscências e licenciosidade (Jd 18,19). Em vista disso, o crente é instruído a se firmar na fé, orar e a preservar a esperança da vida eterna (Jd 20,21).

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

Hebreus

A necessidade da nova aliança e suas provisões superiores. Conforme já afirmado, a epístola aos Hebreus, menciona as próprias reflexões do Antigo Testamento a respeito de seu caráter provisional. Isso aparece inequivocamente no tratamento que Hebreus dedica à necessidade de uma nova aliança com promessas melhores para substituir a antiga.

De início, observa-se o caráter provisional da antiga aliança na discussão a respeito do sacerdócio de Jesus segundo a ordem de Melquisedeque apresentada em Hebreus 7. O versículo 11 desse capítulo, debate que se o sacerdócio levítico (associado, em especial, com a lei) fosse adequado, por que Deus, em Salmos 110.4, falaria de um sacerdote procedente de uma ordem distinta? O capítulo prossegue a fim de observar que essa mudança de sacerdócio também acarreta afastamento da lei e da aliança associada com a antiga ordem. Ainda no capítulo 7 de Hebreus, o versículo 22 deixa clara a ligação de sacerdócio com “aliança”: “O Senhor jurou [de SI 110.4] […], Jesus tornou-se, por isso mesmo, a garantia de uma aliança superior” (NVI). A esse raciocínio liga-se o contraste entre a “fraqueza e inutilidade” da antiga ordem com sua transitoriedade (w.18,23) e a melhor esperança, melhor aliança e provisão eterna inauguradas por Jesus (w. 19-22).

 

Tiago

A FÉ NA EPÍSTOLA DE TIAGO

Em Tiago, as referências à fé aparecem de forma predominante na passagem central sobre a fé e as obras, registrada no capítulo 2 (w. 14-26). A fé é mencionada em duas outras passagens que descrevem a fé cristã expressa em oração (1.6; 5.15) e em um versículo a respeito do desenvolvimento da perseverança cristã quando a fé é testada (1.3). A fé também aparece em dois versículos no início do capítulo 2 (w. 1,5). Esses dois últimos versículos mencionados são relevantes para a passagem central, pois Tiago indica (v. 1) que o foco da fé cristã é o “nosso glorioso Senhor Jesus Cristo” (NVI), referência à posição exaltada de Jesus à qual Ele ascendeu após sua crucificação e ressurreição. A fé nesse Senhor Jesus Cristo é o conteúdo da fé cristã, conforme outras passagens do Novo Testamento também afirmam. Além disso, Tiago insiste que essa fé é incompatível com a discriminação contra o pobre. Mais adiante (v.5), Tiago indica a iniciativa de Deus de fazer um povo para si mesmo pela fé: “Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?”

Na passagem central (Tg 2.14-26), há quatorze ocorrências dos termos “fé” ou “crer”. As ocorrências estão divididas entre as descrições da fé que Tiago aprova e a que considera inadequada. Na linha positiva, Tiago refere-se à fé demonstrada pelas obras (v. 18), que opera junto com as obras (v. 22a) e é completada pelas obras (v. 22b). Esse tipo de fé é exemplificado por Abraão, cuja obediência em oferecer Isaque constitui o cumprimento de Gênesis 15.6, descrevendo sua fé em Deus (v. 23).

Na linha negativa, Tiago alude, diversas vezes, à fé sem obras (w. 14,17,18,20,26). Essa é a fé “em si mesma” ou que funciona sozinha (w. 17,24).

Tiago, com ironia, compara essa fé com a dos demônios, cuja fé reconhece uma proposição doutrinai perfeitamente verdadeira (“um só Deus”), mas é acompanhada apenas da ação de estremecer em face da condenação certa deles (v. 19).

O veredicto de Tiago para esse tipo de fé é que não traz benefícios e é inútil (w. 14,16,20). Essa fé é morta (w. 17,26). Mais relevante para o sentido da discussão de Tiago é a forma como inicia a passagem no versículo 14: “Se alguém disser que tem fé”. Essa é a fé professada, a que a pessoa afirma ter. Essa descrição estabelece o tom para a sua discussão, e Tiago evita de forma específica afirmar se, na verdade, a pessoa tem fé ou não. Isso é apenas uma reivindicação de fé que precisa ser validada pelas atitudes sugeridas na passagem. A fé é vivida em obras de amor e de obediência ou não?

Esse é um importante ponto a enfatizar a fim de apreender o ensinamento de Tiago na passagem. Ele inicia a discussão de forma explícita, focando a declaração que alguém possa fazer sobre fé. O versículo 14, que funciona como a determinação do tópico e assinala claramente que a confissão de fé será discutida.

Claro que isso é a seqüência natural do tema de auto-engano religioso que Tiago começou a desenvolver em Tiago 1.22,25,26. Alguém que ouve a Palavra, mas não é influenciado por ela — ou alguém que se considera religioso (1.25), mas não a vive — engana totalmente a si mesmo e não tem a religião verdadeira de forma alguma, apesar de sua afirmação. O capítulo 3.13-16 também apresenta uma dissociação semelhante entre a confissão exterior, ou até mesmo o de se gloriar disso, e a verdade real.

Assim, em Tiago 2.14-26, deve-se entender as alusões à fé — fé sem obras, fé em si mesmo ou sozinha, fé que é inútil, sem benefícios e morta — à luz dessa premissa inicial. Essa não é a verdadeira fé cristã, a despeito do que a pessoa afirme. De acordo com Tiago, essa afirmação de fé é falsa, essa pessoa está enganada, e sua religião não tem valor. E o versículo 14 mostra a forma mais trágica em que ela é sem valor: ela não pode salvar a condenação eterna pelo pecado.

Conforme o versículo 13 indica, essa pessoa será julgada sem misericórdia. Deve-se entender a descrição da fé como “morta” (w. 17,26) na mesma estrutura de falsa confissão introduzida por Tiago no versículo 14. Não é a fé que outrora estava viva e, agora, está inativa, mas a fé que não tem vida e nunca teve vida verdadeira, a despeito da afirmação da pessoa. No versículo 26, deve-se interpretar a analogia com o corpo como um tema em concordância com o tema introduzido pelo próprio Tiago, e não vice-versa. Confirma-se isso pela forma como “morta” é definida contextualmente em sua menção inicial no versículo 17. Não há benefício na fé sem obras (w. 14,16), ela não pode salvar (v. 14), ela é inútil, ou improdutiva (v. 20). Portanto, a fé morta é aquela que, a despeito da genuinidade da afirmação exterior, não produz os resultados esperados da fé. De forma semelhante, o corpo sem espírito pode parecer cheio de vida no exterior, mas, na verdade, está morto e não apresenta sinais de vida verdadeira.

AS OBRAS EM RELAÇÃO À FÉ

O que Tiago quer dizer quando fala de obras que acompanham a fé (2.14-26), e qual é a relação delas com a fé? O texto imediato ilustra a natureza das obras como atos de compaixão pelos que estão em necessidade (w. 15,16). A passagem de Tiago 1.27 já mencionou as obras de misericórdia e de bondade como uma das evidências da verdadeira religião, e o capítulo 2.8-13 menciona a lei do amor ao próximo como o comportamento adequado que acompanha a fé em Cristo (em vez do favoritismo, Tg 2.1.9). Todavia, as obras de amor e de bondade, relevantes como são, não são todas as obras que Tiago tem em mente.

27 Os exemplos de Abraão e Raabe (w 21-25) demonstram que também estão em vista atos de obediência a Deus e de comprometimento com Ele. A ilustração também inclui características cristãs fundamentais como domínio próprio, humildade e assim por diante (cf. 1.26; 3.2,13,17,18).

No entanto, o ponto relevante a observar a respeito dessas obras é que Tiago as entende como a expressão, ou resultado exterior, da verdadeira fé e da nova vida em Cristo, não o meio para ganhar essas bênçãos. Elas demonstram a fé (2.18), são a complementação e realização da fé (w.22,23), e constituem o viver a Palavra, já enxertada por Deus quando Ele deu nascimento espiritual para o cristão (1.18-21).

Essa é a distinção essencial entre as obras que Tiago descreve e as de que Paulo fala em Gálatas e Romanos. Em outras palavras, a distinção é entre obras pós-conversão e pré-conversão. Tiago insiste que a verdadeira fé necessariamente produz obras de amor e de obediência. Paulo argumenta que nenhuma obra serve como fundamento para conseguir a justiça de Deus nem o favor dEle (G12.16; Rm 3.28; 10.1-8). Não obstante, as duas abordagens são claramente compatíveis, uma vez que Paulo também chama ao viver santo como expressão da verdadeira fé (Rm 6.22; G1 5.6; Ef 2.8-10; Fp 1.11), e Tiago, por sua vez, atribui a salvação à iniciativa graciosa de Deus na vida das pessoas, não ao mérito destas (1.17,18; 2.5,12,13).

 

Judas

Da mesma forma, Judas exorta seus leitores “a batalhar pela fé que uma vez foi dada \paradidõmí\ aos santos” (v. 3). “Fé”, nessa expressão, tem um sentido objetivo: “O que é crido”, “o corpo de fé ou crença” que é passado adiante no ensino apostólico.80 Todavia, Bauckham sugere que “crença”, referindo-se ao evangelho ou “à mensagem central da salvação cristã por intermédio de Cristo”, tem um escopo mais estreito, em vez de o corpo mais abrangente da ortodoxia, ou a crença cristã normativa.81 Todavia, no Novo Testamento, dificilmente se pode circunscrever “a mensagem da salvação por intermédio de Jesus Cristo” em um escopo limitado. Além disso, à luz do uso deparadidõmi nesses contextos, é muito difícil que seja correto limitar “fé” ao evangelho concebido de forma restrita; o que os apóstolos passaram adiante foi uma visão ampla da doutrina e ética cristãs.

Também outros usos do Novo Testamento do termo “fé”, no sentido objetivo, são mais bem interpretados com um sentido amplo (At 6.7; G1 1.23; Fp 1.27; 1 Tm 1.19; 3.9; 4.1,6; 5.8; 6.10,11,21; 2 Tm4.7; Tt 1.13). Nesse contexto, na ausência de qualificadores limitantes, deve-se entender “a fé” como a fé cristã, o corpo de verdade em que os cristãos creem, o ensinamento passado pelos apóstolos como normativos para a crença cristã. A palavra tem o mesmo sentido em Judas 20.

Essa fé foi entregue aos santos “de uma vez por todas” (Jd 3; NYI) no sentido de que ela foca a particularidade histórica da encarnação, ensinamento, morte e ressurreição de Jesus Cristo e a verdade que Deus revelou a respeito de si mesmo por meio dos apóstolos (cf. Rm 6.10; Hb 9.26-28; 1 Pe 3.18). Nenhum outro fundamento pode ser posto além dEle (1 Co 3.11), nem se espera nenhuma outra revelação após aquela transmitida pelos apóstolos (cf. 2 Tm 2.2; 3.14; a verdadeira sucessão apostólica está seguindo o que os apóstolos ensinaram e passando-o para outros). Judas chama à propagação e defesa ativas dessa fé (semelhante a Fp 1.27). Em Judas 3, o verbo “batalhar” indica uma luta em que todo esforço é empregado pela verdade cristã e contra os que se opõem a ela.

Conforme o contexto de Judas demonstra, isso inclui o conteúdo doutrinai do cristianismo e também suas exigências morais.

Roy B. Zuck. Teologia do Novo Testamento. Editora CPAD. pag. 442-443; 471-474;.508.

 

 

SINÓPSE II

As epístolas gerais advertem o crente a respeito da santificação, dos falsos ensinos; e enfatizam a supremacia de Cristo e a esperança da vida eterna.

 

 

III – AS EPÍSTOLAS CONTINUAM A FALAR

 

 

1- A doutrina da justificação.

 

A doutrina da justificação ensina que o pecador é justificado (absolvido da punição do pecado) unicamente pela fé na graça divina (Rm 5.1,2). Significa dizer que as obras humanas não podem salvar (Gl 2.16). Nossa Declaração de Fé professa crer na restauração do homem por meio do arrependimento e da fé (Rm 3.23,24.), no Novo Nascimento pela graça de Deus mediante a fé (Ef 2.8,9) e na justificação pela fé no sacrifício de Cristo (Hb 10.12). Essa é uma doutrina fundamental da fé cristã.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A doutrina da justificação pela fé ensina, em termos gerais, que o pecador é justificado (absolvido da punição e da condenação do pecado) unicamente pela fé na graça divina (Rm 5.1,2). Assevera que a salvação é dom gratuito e imerecido de Deus aos pecadores e que só pode ser recebida por meio da fé (Ef 2.8,9). Significa dizer que as obras humanas não podem salvar, mas apenas a fé em Cristo por meio da recepção da graça de Deus (Gl 2.16). Lutero afirmava que “a doutrina da justificação não é apenas mais uma doutrina; é o artigo fundamental da fé, pelo qual a igreja se firmará ou cairá e do qual depende toda a doutrina”. Desse modo, a doutrina da justificação pela fé é considerada como a grande verdade que a Reforma Protestante restituiu à Igreja.

Nossa Declaração de Fé professa crer na restauração do homem por meio do arrependimento e fé na obra expiatória e redentora de Cristo (Rm 3.23,24), no novo nascimento pela graça de Deus mediante a fé (Ef 2.8,9) e na justificação pela fé no sacrifício de Cristo (Rm 10.13; Hb 5.9; 7.25). Nosso documento doutrinário explica que a justificação é um ato da graça de Deus, o Supremo Juiz, pelo qual a justiça de Cristo é imputada a todo aquele que crê em Jesus declarando-o justo (Rm 3.24,28). O primeiro resultado da justificação é a paz com Deus (Rm 5.1). Juntamente com a salvação e a justificação, o pecador arrependido recebe a adoção de filho de Deus (Jo 1.12; Gl 4.4-6). Nesse entendimento, ratifica-se que essa é uma doutrina fundamental da fé cristã.

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

JUSTIFICAÇÃO

Este é um termo (gr. díkaiosis) que se refere ao julgamento judicial.

Não significa tornar reto ou santo, mas anunciar um veredicto favorável, declarar ser justo. Este significado é patente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (heb. tronco hiphil de sadaq, “declarar justo”; gr, dikaioo, “vindicar, inocentar, pronunciar e tratar como justo”). O ato de “justificar” é contrastado com o ato de “condenar” (cf. Dt 25.1; 1 Rs 8.32; Pv 17,15; Rm 8.33); e assim como condenar é o meio de tornar alguém ímpio, justificar é o meio de tornar alguém justo, E esta força declarativa do termo que levanta a questão; como Deus pode justificar o ímpio? Na justificação que Deus faz dos pecadores, há um único ingrediente que não aparece em nenhum outro caso de justificação.

Esta característica única é que Deus faz com que a nova relação declarada por Ele se torne realidade. Esta operação é expressamente declarada nas Escrituras, e é o ato pelo qual muitos são constituídos como justos (Rm 5.19), a concessão do dom gratuito da justiça (Rm 5.17), tornando-nos a justiça de Deus em Cristo (2 Co 5.21). E por esta ação que a sentença de condenação (q.v.) sob a qual repousamos como pecadores é mudada para uma ação de justificação; não há, Í)ortanto, nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1). Este ato constitutivo é corretamente mencionado como a imputação da justiça de Cristo a nós.

Assim, fica patente que a sentença de condenação não tem nenhuma afinidade com o que é interiormente operado em nós, seja pela regeneração (q.v.) ou pela santificação (q.v.), A imputação é o crédito, em nossa conta, de uma justiça que nâo é a nossa própria, mas que é, na realidade, baseada na obediência de Cristo (Fp 3.9; Rm 5.17,19). Ela é, portanto, distinta do perdão dos pecados, embora o perdão esteja necessariamente incluído nela (At 13.38-39).

Corno a natureza da justificação é, desse modo, mostrada como declarativa, constitutiva e imputativa, assim a base reside em nada mais além do que a obra realizada por Cristo, a fonte da graça gratuita de Deus. Somos justificados gratuitamente pela graça de Deus “pela redenção que está em Cristo Jesus” (Rm 3.24). Esta verdade passa à expressão focal na designação “a justiça de Deus” (Rm 1.17; 3.21,22; 10.3; 2 Co 5.21; Pp 3.9), A obra de Cristo foi a obediência (Rm 5.19; Fp 2.8; Hb 5.8,9). Deste modo, ela foi a justiça (Mt 3.15; Rm 5.17,18,21). Foi operada por Ele como o Deus-homem e é, portanto, uma justiça com uma propriedade divina, uma justiça de Deus contrastada não só com a injustiça humana, mas com toda a justiça- humana. Somente esta justiça atende o desespero da nossa situação pecadora e fica à altura de todas as exigências da santidade de Deus. Eia não só garante a justificação de Deus, mas ao ser imputada em nossa conta, exige a nossa justificação.

A graça reina “pela justiça para a vida eterna” (Rm 5.21),

Como a justificação é concedida pela graça, ela é recebida pela fé (Rm 1.17; 5.1). A fé é coerente com todas as outras características.

Isto é verdade não apenas pelo fato da fé ser um dom de Deus, mas porque o caráter distinto da fé consiste em receber a Cristo e permanecer nele para a salvação. E a qualidade generosa e autoconfiante da fé que a torna o instrumento adequado de tudo o mais que envolve a justificação. É pela fé que somos justificados e somente pela fé, embora nunca por uma fé que esteja sozinha, A justificação é a questão religiosa básica.

Não vem agora a simples pergunta: Como o homem pode ser justo para com Deus? E ainda a pergunta mais forte: Como o homem, na condição de pecador, pode tornar-se justo para com Deus? A resposta é; Através da justificação pela graça, por meio da fé.

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1123.

 

JUSTIFICAÇÃO, JUSTIFICADO O ato de Deus que leva os pecadores a terem um novo relacionamento de aliança com ele por meio do perdão dos pecados. Ela é um ato divino por meio do qual Deus declara as pessoas justas – ou seja, desfrutando de um relacionamento correto e verdadeiro com ele.

Desde o tempo da Reforma, quando Martinho Lutero restabeleceu a doutrina da justificação somente pela fé como pedra angular para o entendimento teológico, esse termo tem sido de importância especial na história da teologia. Para Lutero, ele representou uma redescoberta dos escritos de Paulo e um contra-ataque fundamental ao catolicismo medieval, com sua teologia de obras e indulgências. A doutrina da justificação pela fé somente afirma a pecaminosidade completa de todas as pessoas, sua total inabilidade em lidar efetivamente com o próprio pecado e a provisão graciosa por meio da morte de Jesus Cristo como uma expiação completa pelo pecado, à qual as pessoas respondem em confiança simples, sem qualquer afirmação especial de mérito próprio.

O substantivo “justificação” e o verbo “justificar” não são usados com frequência nas Escrituras. Os termos mais frequentes e mais importantes que traduzem as mesmas palavras hebraicas e gregas são “justiça” e “declarar (ou tornar) justo”. Qualquer entendimento de justificação, portanto, envolve diretamente um entendimento bíblico de justiça.

No grego comum, “justificação” e “justificar” são na maioria das vezes termos forenses; ou seja, estão reembulacionados à lei e ao ato de inocentar alguém. Têm a ver com a inocência ou a virtude de uma pessoa. Em sentido mais abrangente, no entanto, têm a ver com a norma de qualquer relacionamento.

No Novo Testamento Quase toda discussão sobre justificação no NT é encontrada nas cartas de Paulo, principalmente em Romanos e Gálatas. Nessas duas cartas, ela é um dos termos fundamentais, com o qual Paulo busca expor as consequências da obra de Cristo em favor da humanidade pecadora. A justificação pela fé é primeiramente tratada com o pano de fundo do legalismo judaico e suas tentativas de fazer da lei a base da salvação. Paulo considera essa uma mensagem estranha, que requer a mais veemente condenação (Gl 1.6-9). A palavra e a obra de Cristo, embutidas na mensagem que Paulo proclamava, eram um lembrete de que a justiça ou a justificação é o dom de Deus por meio do sangue (sangue da aliança, Hb 13.20) de Jesus Cristo. Tudo isso está inteiramente separado da lei (Rm 3.21). A lei, na verdade, não é capaz de levar alguém à justiça, nem foi dada para suscitar justiça.

O texto de Gálatas 3.15-25 é especialmente instrutivo para a compreensão da função da lei, que veio 430 anos depois da aliança, por meio da qual Abraão foi trazido para um relacionamento vivo e pessoal com o Deus santo. Qualquer que fosse o propósito da lei, ela não foi dada como um meio de justiça. “Se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei” (Gl 3.21, NVI). A obra redentora de Cristo para a justificação das pessoas deve ser vista em termos da aliança, e não da lei. Esse é o argumento essencial de Paulo em sua parte de Gálatas, a saber, que a justificação, a partir da época de Abraão, tem sido por meio da fé em Deus, que guarda a aliança, e nunca veio por meio da lei. “Justiça” é, portanto, um termo relacional e é confirmada por alguém que, pela fé, passou a ter um relacionamento correto com Deus. A lei traz juízo; confronta a pessoa com sua incapacidade de lidar com o pecado (At 13.39; Rm 8.3). Justificação, portanto, tem suas dimensões forenses (judiciais) com as quais lida e representa salvação para o problema do pecado e da culpa. O crente é liberto da condenação (Rm 8.1). No entanto, o entendimento fundamental da justificação deve ser obtido quando lei e juízo dão lugar a aliança e graça. O apelo a Abraáo, tanto em Romanos quanto em Gálatas, é para mostrar que a aliança sempre foi a única esperança da humanidade.

Deus cumpre a sua aliança, embora o povo da sua aliança a viole diariamente.

Na formulação do evangelho feita por Paulo, Deus é ao mesmo tempo aquele que é justo e que justifica. O pecado demanda juízo e deve ser tratado. O padrão de Deus de estabelecer um relacionamento pessoal com as pessoas agora fica manifesto à parte da lei, no ministério e na morte de Cristo, que Deus envia como agente reparador (Rm 3.21-26). O pecado é tratado diretamente na morte de alguém sem pecado, que se tornou pecado por nós, de modo que possamos nele nos tornar justiça de Deus (2Co 5.21). Nessa morte substitutiva, ele carrega a culpa de toda a humanidade, de modo que, ao responder em confiança, a humanidade possa conhecer Deus em um relacionamento verdadeiro.

Para Paulo, então, a justificação em vista da pecaminosidade humana está enraizada na natureza de Deus somente, que é capaz de tomar a iniciativa da cura e redenção da humanidade. A justificação é apenas pela graça. Enraizada na natureza de Deus, ela também é disponibilizada por meio da obra de Cristo como dom de Deus. Desse modo, temos a frequente repetição da confissão de que Cristo morreu “por nós” (Rm 5.8; lTs 5.10), ou “por nossos pecados” (lCo 15.3). O significado da apropriação é pela fé e pela fé somente (Rm 3.22; 5.1).

Essa fé é uma confiança simples na suficiência da obra de Cristo, uma confiança por meio da qual alguém, livre e sinceramente, se identifica com Cristo, ama e abraça sua Palavra, e se entrega ao sistema de valores expresso no Reino de Deus. A autoconsciência básica da pessoa justificada é de que seu relacionamento correto com o Deus vivo não tem nada a ver com mérito ou realização. Ele é, do começo ao fim, um dom do amor infinito.

Sua impotência é resolvida no poder do evangelho, no qual a obra salvadora é revelada (1.17).

Nos Evangelhos, a justificação aparece na parábola do fariseu e do publicano, que foram ao templo para orar. O primeiro chamou a atenção para suas obras piedosas e sua superioridade moral. O segundo, humilhado por um sentimento profundo de pecado e indignidade, só podia clamar por misericórdia. Esse homem, de acordo com Jesus, desceu para sua casa justificado (Lc 18.14). Embora esse seja o único exemplo da terminologia da justificação pela fé, o ministério inteiro de Jesus era entre pessoas preocupadas com a própria piedade e a tarefa de se justificarem diante de Deus, pessoas que se indispunham contra pecadores e indesejáveis, pessoas que estavam tão envolvidas com as próprias obras que ficavam ofendidas com a linguagem da graça e do perdão pleno aos pecadores (7.36-50). Jesus falou da mesma questão que mais tarde incomodou Paulo. Somente os humildes diante de Deus serão exaltados (Mt 18.4; 23.12). Somente o pecador ouvia a palavra da graça (Lc 5.32; 15.7,10; 19.7). Os indignos encontram cura (Mt 8.8).

A justificação (ou justiça) pela fé deve sempre ser reafirmada, pois dentro de cada pessoa há o desejo mais que inevitável e natural de estabelecer a justiça pessoal, ser capaz de ficar diante de Deus com base no caráter e na piedade pessoais.

No entanto, a restauração e o bem-estar da igreja (note que Lutero e Wesley se voltaram das obras para a fé mediante seu estudo de Romanos) estão enraizados no entendimento de que o justo vive ela fé (Rm 1.17; Hb 10.38; 11.7).

Philip W. Comfort e Walter A. Elwell. Dicionário Bíblico Tyndale. Editora geográfica. pag. 109-1041.

 

 

2- A doutrina da santificação.

 

A doutrina da santificação implica uma vida separada do pecado (1 Pe 1.15,16). Nossa Declaração de Fé ensina que, já salvo e justificado, o novo crente entra de imediato no processo de santificação (Rm 6.22; 1 Ts 4.3). Porém, essa transformação vai sendo aperfeiçoada durante a jornada do cristão (2 Co 3.18; Fp 1.6). Desse modo, o crente precisa ser santificado pelo Espírito (1 Pe 1.2), purificar-se tanto da carne com o do espírito (2 Co 7.1), pois sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Etimologicamente (do hebraico kadosh e do grego hagios), o significado da palavra “Santo” é respectivamente “puro” e “separado para Deus”. Nesse sentido, a doutrina da santificação implica uma vida separada do pecado e dedicada a Deus (Rm 12.1,2). É um processo mediante o qual Deus purifica os que a Ele se achegam e passam a ser orientados pelo Espírito Santo (1 Jo 3.3). A Bíblia Sagrada ensina enfaticamente que Deus é “Santo”: Ele é o “Santo de Israel” (Is 1.4); “Deus, o Santo” (Is 5.16); o seu nome é “Santo” (Is 40.25; 57.15), dentre outros textos. Portanto, o Deus “Santo” requer que sua criação ande em santidade (1 Pe 1.15,16), isto é, o atributo comunicável de Deus da santidade é concedido a todos os que verdadeiramente são regenerados.

Nossa Declaração de Fé ensina que “já salvo e justificado, o novo crente entra de imediato no processo de santificação, pois assim o requer a sua nova natureza em Cristo (Rm 6.22; 1 Ts 4.3)”. Porém, essa transformação vai sendo aperfeiçoada durante a jornada do cristão (2 Co 3.18; Fp 1.6). Nesse aspecto, a santificação “é uma continuação do que foi começado na regeneração, quando então uma novidade de vida foi conferida ao crente e instilada dentro dele”. Desse modo, o salvo precisa ser santificado pelo Espírito Santo (1 Pe 1.2). O fruto do Espírito nos é concedido para andarmos no mundo conservando a nossa santidade (Gl 5.16-17, 22).

Portanto, o crente deve purificar-se tanto da carne como do espírito (2 Co 7.1), pois sem a santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

SANTIFICAÇÃO Palavra derivada do lat. sanctus; do verbo heb. qadash, “ser separado, consagrado”; do substantivo grego hagiasmos, “consagração”, “purificação”, “santificação”; do verbo hagiazo, “santificar”, “separar das coisas profanas ou consagrar”, “purificar ou santificar”. O breve catequismo de Westminster define a santificação como “a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovamos na totalidade de nosso ser, conforme a imagem de Deus, e nos tornamos cada vez mais capacitados a morrer para o pecado e viver para a justiça”. Esta definição, no entanto, apesar de útil ao chamar a atenção à graça soberana de Deus, assim como à responsabilidade de cada cristão, tende a confundir a regeneração com a santificação.

As principais ideias relacionadas à santificação são a separação daquilo que é pecaminoso, por um lado, e, por outro, a consagração àquilo que é justo e que está de acordo com a vontade de Deus.

A Santificação precisa ser distinguida da justificação. Na justificação, Deus atribui ao crente, no momento em que recebe a Cristo, a própria justiça de Cristo, e a partir de então vê esta pessoa como se ela tivesse morrido, sido sepultada e ressuscitada em novidade de vida em Cristo (Rm 6,4-10). E uma mudança que ocorre “de uma vez por todas” na condição legal ou judicial da pessoa diante de Deus. A santificação, em contraste, é um processo progressivo que ocorre na vida ao pecador regenerado, momento a momento. Na santificação ocorre uma cura substancial da separação que havia ocorrido entre Deus e o homem, entre o homem e os seus companheiros, entre o homem e si mesmo, e entre o homem e a natureza.

Visões Variadas

Três principais visões precisam ser mencionadas:

Santificação Batismal, Esta é a visão católica romana, que defende que no batismo é removida não somente a culpa, mas também a depravação do pecado. Esta afirmação é certamente negada peio próprio ensino católico romano de que os pecados seguintes devem ser constantemente confessados no confessionário, perdoados pelo sacerdote e removidos por meio de penitências.

Perfeccionismo. Aqueles que defendem esta visão ensinam que o cristão pode tomar-se perfeitamente santificado, ou chegar à perfeição nesta vida. Para que esta convicção seja sustentada, é necessário minimizar, de alguma forma, as exigências tenazes da lei, como, por exemplo, exigir a obediência somente até o limite de nossa habilidade humana (Finney); a obediência ao novo mandamento ou lei de Cristo; o mero exercício do amor em tudo o que fizermos (Paul Tillich).

Tais interpretações das exigências de Deus falham em satisfazer a própria aplicação do sexto e do sétimo mandamento que o Senhor Jesus Cristo fez em Mateus 5.17-48, onde, em sua exegese, o próprio Senhor determina que estas duas leis são a base de uma perfeição na qual somos exortados a nos tornarmos perfeitos como o nosso Pai Celestial (v. 48). Os metodistas, e outras igrejas cristãs da tradição Arminiana ou Wesleiana em geral, ensinam, de alguma forma, o perfeccionismo.

Santificação Progressiva. Esta é uma visão de Calvino e de todos os cristãos que defendem uma teologia Reformada. Esta só pode ser corretamente entendida quando se percebe que ela destaca que a santificação, conforme ensinada na Bíblia Sagrada, aparece em três aspectos.

Posicionai. Todos aqueles que são regenerados ou salvos são posicionalmente vistos como totalmente santificados em Cristo.

Por esta razão, embora o apóstolo Paulo tenha censurado o cristianismo dos coríntios, classificando-o como carnal (1 Co 5.1; 6.1-8), ele ainda diz que eles são santificados em Jesus Cristo e chamados de santos (1 Co 1.2; 6.11; cf. At 20.32; Hb 10.10; 1 Pe 1.2; Jd 1). O livro aos Hebreus funciona como uma ponte entre este aspecto e a santificação experimental que vem a seguir (Hb 2.17; 9.13ss.; 12.14). Uma vez que o conhecimento da santificação posicionai depende de uma compreensão mental da verdade bíblica, ele possui uma natureza instantânea, “de uma vez por todas”, como ocorre na percepção de todos os outros conhecimentos, os quais alguns confundem com a própria perfeição.

Experimental. No desenvolvimento de uma vida santificada, os cristãos consideram sua posição em Cristo da maneira como ela é expressa em algumas passagens como Romanos 6.2-10 e Colossenses 2.9-13 (cf. 2 Ts 2.13; 1 Pe 1.2). O próprio Senhor Jesus Cristo expressa os ensinos básicos da santificação em Mateus 5.17-48, e Paulo o faz em Romanos 6- 8. O crente deve ser santo (Êx 19.6; Lv 11.44; 1 Pe 1.15), mas seu crescimento na santificação repousa na dependência de sua posição, e em sua entrega, momento a momento, à vontade de Deus e à disposição de andar no caminho do Senhor. Uma vez que Deus escolheu deixar que o crente ainda tivesse em si mesmo a natureza caída (Rm 7; Gl 5.17ss.), nenhum de nós poderá alcançar a perfeição até que esta natureza seja inalmente removida; na melhor hipótese, o que cada cristão pode fazer é progredir em direção à perfeição.

Final. Quando o crente partir para estar com Cristo, ou no momento em que o Senhor vier arrebatar sua Igreja – o que ocorrer primeiro — a natureza caíaa será completamente removida e cada crente receberá o corpo da ressurreição, será glorificado, e se tornará semelhante ao Salvador (Rm 8.29,30; 1 Jo 3,1-3; Jd 24).

Meios de Santificação

O meio externo é a Palavra de Deus. O Senhor Jesus Cristo orou: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).

Uma vez que Ele concedeu as Escrituras através de sua inspiração, Ele nunca trabalha contra, mas sim através delas. O meio interno ê a presença e a direção do Espírito Santo em nossos corações. E Ele quem mantem a lei de Deus, assim como foi revelada por Ele mesmo, em nós e através de nós.

“Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8,3,4).

Esta é a chave para o Espírito e a própria vida cheia do Espírito. Como conclusão, a suprema obra de Deus pelo seu Espírito e pela ação responsiva do homem, devem ser combinados em uma visão adequada da santificação (Fp 2,12,13).

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1762-1763.

 

 

SANTIFICAÇÃO

Termo que significa “ser feito santo, ou purificado”. E usado largamente para se referir à experiência cristã, embora a maioria dos teólogos prefira usar a expressão em sentido estrito para distingui-las de termos relacionados como “regeneração”, “justificação” e “glorificação.

Definição Uma definição abrangente de santificação pela Confissão de Fé de New Hampshire (1833; batista) declara: Cremos que santificação é o processo pelo qual, de acordo com a vontade de Deus, somos feitos participantes de sua santidade; que é um trabalho progressivo; que começa com a regeneração; e que continua no coração dos crentes pela presença e poder do Espírito Santo, o que sela e que é confortador, no uso contínuo de meios estabelecidos —  especialmente a Palavra de Deus, o autoexame, abnegação, vigilância e oração (Artigo X).

Essa definição nos ajuda a distinguir santificação de regeneração, em que a última fala do início da vida cristã. Santificação também difere de glorificação, que tem seu foco na consumação da obra de Deus no crente. Simplificando, então, a regeneração se refere ao começo, a santificação ao meio e a glorificação ao final da salvação.

A diferença entre santificação e justificação, por outro lado, nos convida a prestar atenção mais detalhada, tanto porque é sutil como porque é fundamental. Em primeiro lugar, “justificação”, como “regeneração”, se reporta (embora não exclusivamente) ao começo da experiência cristã, enquanto a definição acima enfatiza o caráter progressivo da santificação. Em segundo lugar, a justificação se refere ao ato judicial de Deus segundo o qual os crentes são absolvidos, de uma vez por todas, de toda a sua culpa e são considerados legalmente justos, enquanto a santificação, como a regeneração e a glorificação, chama a atenção para o poder transformador do Espírito Santo sobre o caráter dos filhos de Deus.

Essa diferença tinha um papel importante no tempo da Reforma. A Igreja Católica Romana, na opinião dos reformadores, confundiu essas duas doutrinas ao insistir que justificação “não é apenas remissão de pecados, mas também a santificação e a renovação do homem interior” (Decreto do Concílio de Trento, Sexta Sessão, 1547, cap. VII). Em contraste, os reformadores enfatizaram que as duas doutrinas, embora inseparáveis, devem ser diferençadas. Calvino argumentou que, para ter certeza, esses dois elementos do ato salvador de Deus não podem ser divididos, assim como Cristo também não pode ser dividido: “Portanto, todo aquele a quem Deus receber em graça, ao mesmo tempo lhe confere o espírito de adoção, por cujo poder ele o refaz à sua imagem. Mas se o brilho do sol não pode ser separado do seu calor, podemos dizer, portanto, que a Terra é aquecida pela luz, ou iluminada por seu calor?” (Instituías da religião cristã, 3.11.6).

Em resumo, justificação então é, de uma vez por todas, um ato declarativo de Deus como Juiz, onde a santificação é uma mudança progressiva no caráter da pessoa justificada.

Um elemento a mais na Confissão de New Hampshire exige comentário, quer dizer, a declaração de que “somos participantes de sua santidade”.

Uma pesquisa completa sobre o que a Bíblia tem a dizer sobre santificação não é possível aqui, uma vez que praticamente toda as Escrituras abordam esse assunto de um modo ou de outro. Um tema central nesse ensino, entretanto, deve ser enfatizado:

“Sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 11.45; IPe 1.16; cf. Mt 5.48). De acordo com o Breve catecismo de Westminster (1647), pela santificação “somos renovados em todo o homem à imagem de Deus” (Pergunta 34; v. Cl 3.10).

Nada pode ser mais crucial para nossa visão de santificação do que essa verdade. O padrão de santidade é a completa conformidade à imagem de Cristo (Rm 8.29); qualquer coisa menor do que isso é um barateamento do padrão das Escrituras e, desse modo, a diluição da doutrina.

A definição acima, entretanto, sugere que Cristo é mais do que um padrão: ele mesmo provê sua santidade para aqueles unidos a ele – ele é a nossa santificação (lCo 1.30).

A santificação inicial A natureza progressiva de nossa santificação é explícita em muitas passagens, particularmente na declaração de Paulo de que os cristãos são transformados “com glória cada vez maior” até a imagem do Senhor (2Co 3.18; v. Rm 12.1,2; Fp 3.14; Hb 6.1; 2Pe 3.18).

Além disso, as inúmeras ordens encontradas nas Escrituras implicam que o cristão experimenta o crescimento.

Ao mesmo tempo, entretanto, um grande número de expressões nas Escrituras revela que a santificação é dada ao crente concomitante com a regeneração. Por exemplo, Paulo frequentemente se refere aos cristãos como “santos”, isto é, aqueles que são santos (Rm 1.7; Ef 1.1 etc.); essa linguagem sugere que santificação já é de posse dos crentes. De fato, Paulo diz especificamente que os cristãos coríntios foram “santificados” (lCo 1.2), e ele até combina a santificação com purificação (= regeneração?) e justificação como se todos os três elementos tivessem acontecido ao mesmo tempo (6.11). E difícil alguém pensar em uma imagem mais poderosa que a morte, sugerindo que seja uma dissolução permanente e irrevogável da relação do crente com o pecado.

E desnecessário dizer, certamente, que essas passagens não ensinam a perfeição absoluta para cada cristão a respeito da conversão. Tal interpretação forçaria um conflito com um claro ensino das Escrituras como um todo. Ainda mais, é interessante notar que os “santos” coríntios caracterizaram-se por uma terrível imaturidade (lCo 3.1-3; 6.8; 11.17-22).

Então, como interpretar essas passagens? Alguns escritores sugerem que Paulo está falando de uma santificação “potencial” — isto é, embora nossa relação com o pecado não tenha sido cortada, Deus nos deu o que precisamos para substituir isso. Há um elemento de verdade nessa informação, mas dificilmente isso faz justiça por si só à força da linguagem de Paulo. Talvez uma explicação mais simples seja dizer que é uma santificação “posicionai”. De acordo com essa visão, Paulo está falando em termos legais quando se refere ao nosso status diante de Deus. Certamente podemos reconhecer o elemento judicial na discussão de Paulo (Rm 6.7 usa a palavra “justificado”), mas, se isso é tudo que é dito, então muito mais satisfatória é a visão de que o ensino contém tanto o elemento judicial quanto uma referência experiencial e real.

 

Santificação progressiva

Pesquisa histórica Embora todos os grupos cristãos reconheçam a necessidade de ser transformado pela renovação da mente (Rm 12.2), diferenças consideráveis podem ser encontradas entre eles com relação a essas questões. Os reformadores, de um modo geral, tinham uma visão um tanto “pessimista” da santificação pessoal. Essa perspectiva está claramente explicitada na Confissão de fé de Westminster (1647), que declara que a santificação “é imperfeita nesta vida; e ali ainda permanecem resquícios de corrupção em toda parte, onde se trava uma guerra contínua e irreconciliável no coração do crente” (XIII.ii). Embora a confissão enfatize o poder triunfante do Espírito, alguns cristãos creem que seu impulso básico obscurece a necessidade e a possibilidade de uma vitória espiritual.

De algum modo, os ensinos de John Wesley (1703-91) podem ser vistos como uma reação natural às formulações usuais dos calvinistas e luteranos.

Fortemente influenciado pelo movimento petista de sua época, Wesley deu muita atenção ao lado experiencial do cristianismo e, embora sem muita consistência, finalmente formulou a doutrina de que a santificação é possível nesta vida. Durante o século 19, o interesse na possibilidade da perfeição (embora não percebido em um sentido absoluto) espalhou-se por muitos círculos cristãos. De acordo com alguns, a perfeição resultou da erradicação do pecado; já para outros, a vitória espiritual foi ganha pela neutralização do pecado que ainda permanece no coração do cristão. A última abordagem se tornou característica do Movimento da Vida Vitoriosa.

Esses vários grupos “perfeccionistas” estavam sujeitos a uma crítica incisiva pelo teólogo de Princeton, Benjamin B. Warfield (1851-1921). O debate continua, embora não tão vigoroso, desde então.

A agência para a santificação Muito da controvérsia enfoca o papel do ser humano na santificação.

Enquanto todos os cristãos concordam que a santidade seria impossível sem a ajuda de Deus, é difícil definir precisamente quanto essa verdade afeta a própria atividade. Na tradição católica romana, tanta ênfase tem sido colocada no poder purificador do batismo e no caráter meritório das boas obras que alguém pode questionar se o significado da graça divina não é ignorado.

No outro extremo estão alguns expoentes do Movimento da Vida Vitoriosa, cuja ênfase no “deixe ir e deixe Deus” (um slogan que tem algum valor, se usado adequadamente) às vezes sugere que os crentes permanecem completamente passivos na santificação.

Nenhuma passagem das Escrituras é mais relevante sobre essa questão do que Filipenses 2.12,13, onde Paulo usa sua autoridade para rebater os que acham que podem trabalhar para a própria salvação, com a afirmação de que é Deus quem provê a força espiritual necessária para essa tarefa. Pode ser tentador enfatizar a primeira parte da declaração de modo a ignorar o significado fundamental da segunda, ou ainda mais tornar-se tão aprisionado pela ênfase de Paulo sobre a graça divina que o peso da responsabilidade pessoal é negligenciado. Entretanto, o apóstolo parece ter, deliberada e cuidadosamente, mantido o equilíbrio entre essas duas verdades.

A santificação exige disciplina, concentração e esforço, como fica claro em muitas exortações das Escrituras, especialmente aquelas onde a vida cristã é descrita com imagens como as de corrida e de luta (ICo 9.24-27; Ef 6.10-17). Mas os cristãos devem sempre resistir às tentações de assumir que de fato podem se santificar, que o poder espiritual vem de seu interior e que podem, portanto, contar com sua força pessoal. Essa é uma tensão difícil, embora não seja mais intrigante do que o paradoxo da oração (“Por que orar quando Deus, que conhece nossas necessidades e é onisciente e soberano, fará sempre o que é melhor de qualquer modo?”). Ainda assim, talvez o “segredo” real da santidade consista precisamente em aprender a manter o equilíbrio. Confiar completamente em Deus como verdadeiro agente na santificação, enquanto fielmente descarta a responsabilidade pessoal do indivíduo.

Philip W. Comfort e Walter A. Elwell. Dicionário Bíblico Tyndale. Editora geográfica. pag. 1658-1660.

 

 

3- A doutrina da glorificação.

 

A doutrina da glorificação é a última etapa de nossa salvação (Rm 8.17,30). Nesse processo, o pecador é salvo pela graça, justificado pela fé, santificado pelo Espírito, e prossegue até “à medida da estatura de Cristo” (Ef 4.13). Quer dizer que ao final do processo da salvação a glória perdida no Éden, pelo primeiro Adão, será restaurada (1 Co 15-45). Trata-se de uma promessa da futura transformação de nosso corpo mortal em corpo glorioso (Fp 3.21), que se dará por ocasião da vinda do Senhor (1 Co 15.52-54).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A Escritura Sagrada diz: “se é certo que com Ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8.17). Acerca desse texto, o Comentário Aplicação Pessoal sublinha que “só iremos gozar da nossa herança futura, se o nosso relacionamento com Cristo for suficientemente autêntico para podermos enfrentar o sofrimento em seu nome, por amor ao Senhor”. Indica que o cristão justificado pela fé e santificado pelo Espírito Santo ao sofrer perseguição por amor a Cristo, e suportar injustiças por causa de seus valores, está experimentando o sofrimento de Cristo para poder compartilhar de sua glória na eternidade. Paulo ratifica essa verdade ao declarar que aos que Deus “chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.30).

Desse modo, a doutrina da glorificação é a última etapa de nossa salvação. Nesse processo, o pecador é salvo pela graça, justificado pela fé, santificado pelo Espírito e prossegue até que todos cheguemos “a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13, ACF). Em nossa trajetória cristã, continuamos sendo aperfeiçoados, mas nunca chegaremos à perfeição até chegarmos ao céu. Quer dizer que, somente ao final do processo da salvação, a glória perdida no Éden pelo primeiro Adão será finalmente restaurada (1 Co 15.45). Trata-se de uma promessa da futura transformação de nosso corpo mortal em corpo glorioso (Fp 3.21), que se dará por ocasião da vinda do Senhor (1 Co 15.52-54; 2 Co 3.18). Esse novo corpo será eterno, imortal, imperecível.

Baptista., Douglas, A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.

 

 

Glorificação do crente Em 2Coríntios 3.18 a transformação espiritual é descrita como uma mudança de glória em glória. A glorificação é o último evento na mudança de glória em glória no processo da salvação, conforme Paulo o descreve (Rm 8.28-30). O verbo usado no versículo 30 está no tempo passado, o que, para alguns, significa a certeza e a finalidade da glorificação.

A glorificação é a finalização, a consumação, a perfeição, a plena realização da salvação. A glorificação é a perfeição da santificação à medida que pertence ao caráter íntimo do ser. Nenhuma passagem trata desse tema tão extensamente quanto Efésios 5.27. Nessa passagem, Paulo escreveu sobre apresentar a igreja a Cristo, porém o que ele diz acerca da igreja é verdade para todos os cristãos. Jesus apresentará a igreja a si mesmo “gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável”. Ou, na linguagem de 2Timóteo 2.10, “por isso, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus, com glória eterna” (NVI).

Assim como o ser interior experimenta a glorificação, do mesmo modo o corpo do crente. Paulo chama a ressurreição do corpo de redenção do corpo (Rm 8.23). Em Filipenses 3.21, Paulo fala da transformação dos corpos de humilhação (i.e., humilhados pelo pecado e pela mortalidade) em corpos de glória, idênticos ao de Cristo. O poder que fará isso é o poder de Deus pelo qual ele sujeita todas as coisas ao seu domínio.

O mais extenso tratamento dado à glorificação do corpo se encontra em ICoríntios 15, com alguns detalhes adicionais em 2Coríntios 5. O tema de Paulo em ICoríntios 15 é o de que assim como os cristãos nasceram do barro mortal de Adão, eles carregarão consigo a imagem do Filho de Deus imortal. Paulo contrasta os dois corpos. O corpo presente é perecível; o corpo ressurreto será imperecível.

Este corpo é de desonra; o corpo ressurreto será de glória. Este corpo é de fraqueza; o corpo ressurreto será de poder. Este corpo é o da ordem física presente; o corpo ressurreto será da ordem futura, espiritual, eterna.

A salvação envolve justificação, regeneração e santificação nesta vida. Na vida vindoura, ela significa a glorificação do ser interior e a ressurreição do corpo em glória. Mas essa pessoa glorificada deve viver em um ambiente glorificado. Por conseguinte, as Escrituras devem logicamente concluir o curso da salvação com um novo céu glorioso, uma nova terra e uma nova Jerusalém.

Philip W. Comfort e Walter A. Elwell. Dicionário Bíblico Tyndale. Editora geográfica. pag. 750-751.

 

 

Glorificação

A palavra glorificação» é usada nos seguintes casos:

Tomar glorioso ou honroso, louvar, exaltar. Ver Joio 12:28; 13:31; 32; Atos 2:13. No caso de Jesus Cristo, isso teve lugar, especialmente, por ocasião de sua ressurreição e ascendo.

Conduz;” os crentes ao estado celestial da glória, onde compartilharia do estado glorioso de Jesus Cristo, participando de sua imagem e natureza, isto,” da pr6pria natureza divina (Rom. 8:29: Colo 2: 10; II Ped. 1:4). Isso significa que receberemos a própria plenitude de Deus (Efé. 3:19).Exibir o louvor (ver I Cor. 6:20). Os céus declaram a glória de Deus, no dizer de Salmos 19:1.

Os homens glorificam a Deus em suas vidas, quando obedecem aos seus preceitos e buscamos desenvolvimento espiritual (I Cor. 10:31; Joio 17:5; Heb, 6:1ss). Este artigo destaca mais o segundo ponto, acima, ou seja, o aspecto escatológico do assunto, a glorificação do crente.

Característica Geral

As grande doutrina bíblicas que envolvem a salvação do homem assemelham-se aos elos de uma corrente. Temos assim a eleição, a chamada, o arrependimento, a fé (estas últimas delas” coisas formam a conversão), a regeneração, a justificação, a união com Cristo, a santificação, a preservação(cujo lado humano é a ‘perseverança) e a glorificação.

Como vemos, a glorificação,’ é o’ último elo, dessa cadeia. Porém, cada um desses elos aponta para algum estágio e/ou qualidade do processo ,da salvação. A glorificação espera-nos ainda no futuro, pois é o aspecto celeste da salvação do homem, aquilo que o Senhor realizará, emú1timo lugar, em favor das almas humanas remidas. Porém, caímos em erro quando pensamos na glorificação como um ato único, isolado, Antes, trata-se de um processo eterno.

A verdade é que Paulo não estabelece claras distinções entre as doutrinas de justificação, santificação e aspectos da glorificação. Em Rom. 8:30, santificação é omitida e Paulo pula” da justificação para a glorificação, – como se esta fosse o próximo passo no progresso da experiência crista.

Porém, a verdade é que a justificação subentende a santificação, sendo mesmo a sua semente e raiz.

Podemos observar, em Rom, 5:18, a expressão justificação que dá vida», o que indica que a justificação é a base e a fonte da vida, e essa vida é a «vida eterna»: e a vida eterna a glorificação, já que, nas Escrituras, «vida eternas, não significa meramente existência sem princípio ou sem fim, mas antes, uma «modalidade de vida», Quando as Escrituras falam da «vida eterna», pois, indicam a vida de Deus, da qual os crentes se tornaram participantes mediante a regeneração efetuada pelo Espírito Santo. A justificação, portanto, é a fonte, contendo em forma de semente esse tipo de vida, aqui chamado de glorificação.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 915.

 

 

SINOPSE III

A mensagem das epístolas permanece atual: ressalta a justificação, santificação e glorificação do crente.

 

 

AUXÍLIO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

“O que é o Processo de Comunicação.

As partes do processo de comunicação são as seguintes:

1– Aquele que envia-codifica (o emissor-codificador) a mensagem (o professor). Essa pessoa tem três deveres. Em primeiro lugar, deve escolher as palavras. Em segundo lugar, deve dar sentido às palavras. Em terceiro lugar, deve usar as palavras adequadamente.

2– Aquele que recebe-decodifica (o receptor-decodificador) a mensagem (aluno). Essa pessoa também tem três deveres. Em primeiro lugar, deve reconhecer as palavras. Em segundo lugar, deve interpretar as palavras. Em terceiro lugar, deve relacionar o significado das palavras ao que já conhece.

3– A mensagem. Essa é a lição que o professor deseja ensinar.

4– O canal. Esse é o método que o professor usa para transmitir a lição. A mensagem está na mente do professor, que é a pessoa que envia-codifica. O professor dá às palavras o significado que deseja transmitir ao seu aluno. A mensagem é colocada em um canal para ser transmitida ao aluno. Um canal é a maneira como o professor transmite a mensagem. O aluno (receptor-decodificador) deve receber a mensagem e decodificá-la. Quando ouvir as palavras do professor, deverá saber o seu significado. Este é o processo da interpretação. O aluno deve aplicá-las à sua vida” (TOWNS, Elmer L. Enciclopédia da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.163).

 

CONCLUSÃO

As Epístolas são livros divinamente inspirados e representam quase 80% do cânon do Novo Testamento. O conjunto de doutrina destas epístolas, revelado aos seus diversos autores, continua a instruir o povo de Deus, a formar o caráter do crente salvo em Jesus, e a preparar a Igreja para a vinda do Senhor.

 

 

Vocabulário

 

Docetismo: Doutrina herética propagada entre os séculos II e III d.C., que nega a existência do corpo físico de Jesus. Para os propagadores dessa heresia, Jesus seria apenas espírito.

 

 

REVISANDO O CONTEÚDO

 

 

1- Cite as epístolas que dão instruções a respeito da salvação.

As epístolas que enfatizam os aspectos da doutrina da salvação são: Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios.

 

2- Cite as epístolas que instruem a respeito dos últimos dias.

As epístolas que enfatizam os últimos acontecimentos são: 1 e 2 Tessalonicenses.

 

3- O que 1 Pedro aborda?

A epístola de 1 Pedro aborda o sofrimento cristão.

 

4- Qual é a ênfase da Carta aos Hebreus?

A Carta aos Hebreus enfatiza a supremacia de Cristo.

 

5- Explique a doutrina da glorificação.

A doutrina da glorificação é a última etapa de nossa salvação.

 

 

 

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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2 respostas para “12 LIÇÃO 1 TRI 2022 AS EPÍSTOLAS INSTRUEM E FORMAM OS CRISTÃOS”

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