2 LIÇÃO 3 TRI 22 A SUTILEZA DA BANALIZAÇÃO DA GRAÇA

 

2 LIÇÃO 3 TRI 22 A SUTILEZA DA BANALIZAÇÃO DA GRAÇA

 

Texto Áureo

 

“Porque pela graça sois salvos por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.” (Ed 2.8)

 

Verdade Prática

 

A graça de Deus não é barata. Ela requer arrependimento, novo comportamento, ou seja, Nova vida em Cristo

 

Leitura Diária

 

Segunda – 1 Co 1.21 Deus achou por bem salvar

 

Terça – Rm 3.10 Não há um só justo diante de Deus

 

Quarta – Gn 3.17 A responsabilidade

 

Quinta – Rm 5.12b; Gn 3.23 A nefasta consequência do pecado

 

Sexta – 1 Tm 2.5; Jo 3.16 A graça de Deus é oferecida a todos

 

Sábado – MC 16.16; Jo 6.47 A graça de Deus é eficaz para quem crer

 

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

 

Efésios 2.4-10

 

4 – Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,

 

5 – estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),

 

6 e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;

 

7 – para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.

 

8 – Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.

 

9 – Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

 

10 – Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

 

 

Hinos Sugeridos: 37, 79, 205 da Harpa Cristã

 

 

PLANO DE AULA

 

 

1- INTRODUÇÃO

 

É preciso compreender de maneira bíblica o conceito da graça de Deus. Dessa compreensão os crentes dependem para não banalizar um bem tão precioso. Nesta lição, temos o propósito de analisar a graça de Deus no sentido bíblico, histórico e contemporâneo. Que seus alunos se conscientizem de que a graça é um bem precioso de Deus para a nossa vida e, por isso, não pode ser banalizada.

 

 

2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

 

A) Objetivos da Lição:

I) Explicar a natureza da graça;

II) Apresentar a graça no contexto bíblico;

III) Classificá-la no contexto histórico da Reforma Protestante;

IV) Pontua-la no contexto contemporâneo.

B) Motivação: Não há salvação sem a graça de Deus. Esse favor imerecido prova que o ser humano não tem capacidade em si mesmo para salvar-se. Entretanto, a graça também não é uma licença para pecar, como, infelizmente, muitos fazem pensar. Atentemos para o ensino da Bíblia a respeito de tão importante assunto.

C) Sugestão de Método: Na lição, há uma indicação de que a expressão “’graça barata” foi introduzida na literatura para expressar a vida cristã nominal ou mundanizada”. A partir desse conceito, ao introduzir o último tópico da lição, solicite aos alunos que citem exemplos em que a graça tenha sido banalizada. Em seguida, mostre que a graça de Deus compreende arre­pendimento, novo comportamento e nova vida em Cristo como bem expressa a verdade pratica de nossa lição.

 

 

3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO

 

Aplicação: O advento da graça é a maior prova do amor de Deus pela humanidade. Ela e preciosa porque é uma iniciativa de Deus para salvar o homem pecador. Por isso, não podemos banalizá-la. Ela revela um alto preço que foi pago pelo nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.

 

 

4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR

 

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio a Lições Bíblicas Adultos.

Na edição 91, p.37, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula:

1) O texto “Deus Tem Todo Direito de Estar Irado” é uma reflexão a respeito da necessidade da graça agir no mundo;

2) O texto “Sobre a Culpa” traz uma reflexão a respeito da culpa dentro do contexto contemporâneo da graça.

 

 

INTRODUÇÃO COMENTÁRIO

 

Nesta lição estudaremos sobre a graça de Deus. Não há dúvidas de que nos últimos anos os cristãos têm demonstrado maior interesse em conhecer melhor a doutrina da graça. Nesse sentido, pode-se dizer que há um despertar da graça. Contudo, para muitos, esse ensino continua ainda ofuscado. Nesse aspecto, pode se dizer que a doutrina da graça tem sido mal compreendida e, portanto, mal assimilada e, consequentemente, desvirtuada. Muito do que se prega e se ensina como sendo o Evangelho da graça, nada mais é do que uma forma deturpada da graça. É a graça Barateada.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

A doutrina da graça é o âmago do cristianismo bíblico. De acordo com o Dicionário Teológico Beacon, a graça é “o amor espontâneo de Deus, ainda que imerecido, para o homem pecaminoso, revelada supremamente na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo”. Nesse aspecto, observamos que a graça é, em absoluto, um dom de Deus outorgado a humanidade. Não há nenhum mérito humano em recebê-la.

Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

 

Durante uma conferência britânica a respeito de religiões comparadas, técnicos de todo o mundo debatiam qual a crença única da fé cristã, se é que existia essa crença. Eles começaram eliminando as possibilidades. Encarnação? Outras religiões tinham diferentes versões de deuses aparecendo em forma humana. Ressurreição? Novamente, outras religiões tinham histórias de retorno dos mortos. O debate prosseguiu durante algum tempo até que C. S. Lewis1 entrou no recinto. “A respeito do que é a confusão?”, ele perguntou, e ouviu a resposta dos seus colegas de que estavam discutindo sobre a contribuição única do cristianismo entre as religiões do mundo. Lewis respondeu: “Oh, isso é fácil. É a graça”.

Depois de alguma discussão, os conferencistas tiveram de concordar. A noção do amor de Deus vindo a nós livre de retribuição, sem cordas amarradas, parece ir contra cada instinto da humanidade. O caminho de oito passos do budismo, a doutrina hindu do karma, a aliança judaica, o código da lei muçulmana — cada um deles oferece um caminho para alcançar a aprovação. Apenas o cristianismo se atreve a dizer que o amor de Deus é incondicional.

Consciente de nossa resistência inata à graça, Jesus falou dela com frequência. Ele descreveu um mundo banhado pela graça de Deus: onde o sol brilha sobre bons e maus; onde as aves recolhem sementes de graça, sem arar nem colher para merecê-las; onde flores silvestres explodem sobre as encostas rochosas das montanhas sem serem cultivadas. Como um visitante de um país estrangeiro que percebe o que os nativos não percebem, Jesus viu a graça por toda parte. Mas Ele nunca analisou nem definiu a graça, e quase nunca usou essa palavra. Em vez disso, transmitiu graça por meio de histórias que nós conhecemos como parábolas — que tomarei a liberdade de transportar para um cenário moderno.

Philip Yancey. Maravilhosa Graça. Editora Vida Nova. 3ª Impressão, 2001. pag. 18-19.

 

 

Palavra-Chave: BANALIZAÇÃO

 

 

I – COMPREENDENDO A GRAÇA

 

 

1- A graça é divina.

 

Ao se afirmar que a graça é divina, se quer dizer com isso que a sua origem está inteiramente em Deus. Foi Ele quem quis agir com graça. O testemunho bíblico e que “aprouve a Deus salvar” os homens (1 Co 1.21). Isso significa que a origem da graça, bem como a iniciativa da salvação, é ato de Deus. A graça, portanto, tem origem no céu. Ninguém pode salvar a si mesmo.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

O termo “graça” pode ser encontrado tanto no Antigo como no Novo Testamento. Sendo, contudo, mais comum na teologia neotestamentária, especialmente nas Cartas Paulinas. No Antigo Testamento, encontramos a palavra hebraica hen com o sentido de favor imerecido. “Agora, se alcancei favor diante de ti, peço que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e obtenha favor diante de ti; e lembra-te que esta nação é teu povo” (Êx 33.13, NAA). Por outro lado, o termo grego para graça é charis, que ocorre 164 vezes no Novo Testamento, sendo 101 vezes nas Cartas de Paulo. “Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9, NAA).

Assim convém aqui vermos os aspectos soteriológicos da doutrina da graça, isto é, como ela se revela no plano de Deus para salvar a humanidade.

Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

 

GRAÇA

O conceito de graça é multiforme e sujeito a desdobramentos nas Escrituras, No AT, hen, “favor”, é o favor imerecido de hen superior a um subalterno. No caso de Deus e do homem, hen é demonstrado por meio de bênçãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos espirituais e livramentos, tanto no sentido físico quanto no espiritual (Jr 31,2; Êx 33.19). Hesed, “benevolência”, é a firme benevolência expressada entre as pessoas que estão relacionadas, e particularmente em alianças nas quais Deus entrou com seu povo e nas quais sua kesed foi firmemente garantida (2 Sm 7.15; Êx 20.6).

Na literatura grega a palavra charis fcinha os seguintes significados:

(1) Era usada para aquilo que causara atração, tal como a graça na aparência ou na fala.

(2) Era usada quanto à consideração favorável sentida em relação a uma pessoa.

(3) Era usada quanto a um favor.

(4) Era usada para significar gratidão.

(5) Era usada adverbialmente em frases como: “Por amor a alguma coisa”, charin tinos.

Mas foi somente com a vinda de Cristo que a graça assumiu seu significado pleno. O seu auto-sacrifício é a graça propriamente dita (2 Co 8,9). Esta graça é absolutamente gratuita (Rm 6.14; 5.15-18; Ef 1.7; 2.8,9). Quando recebida pelo crente, ela governa sua vida espiritual compondo favor sobre favor. Ela capacita, fortalece e controla todas as fases da vida (2 Co 8.6,7; Cl 4.6; 2 Ts 2.16; 2 Tm 2,1). Consequentemente, o cristão dá graças (icharis) a Deus pelas riquezas da graça em seu dom inefável (2 Co 9.15).

O apóstolo Paulo foi o principal instrumento humano para transmitir o pleno significado da graça em Cristo. O NT oferece a graça a todos, ao contrário do AT, que geralmente restringia a oferta da graça ao povo eleito de Deus, Israel. A graça em sua mais completa definição é o favor imerecido de Deus ao nos dar seu Filho, que oferece a salvação a todos, e dá àqueles que o recebem como Salvador pessoal uma graça acrescentada para esta vida e uma esperança para o futuro.

A graça soberana não é uma exibição arbitrária da graça de Deus. A fim de recebê-la, o homem deve crer. A fim de desfrutá-la, o crente deve ser obediente. A graça provê a justificação (Rm 3.24), a capacitação (Cl 1.29), uma nova posição (1 Pe 2.5,9), e uma herança (Ef 1.3,14). Pelo menos três motivos são indicados no NT quanto à razão pela qual Deus age com graça, especialmente na salvação. Ele o faz para expressar seu amor (Ef 2.4; Jo 3.16), para ser capaz de mostrar sua graça nos séculos vindouros (Ef 2.7), e para que o homem redimido produza bons frutos (Ef 2.10). A graça soberana é sempre intencional, pois a vida sob a graça é uma vida de boas obras.

PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 876.

 

 

As palavras mais frequentemente usadas no Antigo Testamento para transmitir a ideia de graça são chanan (“demonstrar favor” ou “ser gracioso”) e suas formas derivadas (especialmente chên) e chesedh (“bondade fiel” ou “amor infalível”). A primeira refere-se usualmente ao favor de livrar o seu povo dos inimigos (2 Rs 13.23; SI 6.2,7) ou aos rogos pelo perdão de pecados (SI 41.4; 51.1). Isaías revela que o Senhor anseia por ser gracioso com o seu povo (Is 30.18). Mas a salvação pessoal não é o assunto de nenhum desses textos.

O substantivo chên aparece principalmente na frase “achar favor aos olhos de alguém” (dos homens: Gn 30.27; 1 Sm 20.29; de Deus: Êx 34.9; 2 Sm 15.25). Chesedh contém sempre um elemento de lealdade às alianças e promessas, expresso espontaneamente em atos de misericórdia e amor. No Antigo Testamento, a ênfase recai sobre o favor demonstrado ao povo da aliança, embora as demais nações também estejam incluídas. 

No Novo Testamento, a “graça”, como o dom imerecido mediante o qual as pessoas são salvas, aparece primariamente nos escritos de Paulo. É um “conceito central que expressa mais claramente seu modo de entender o evento da salvação… demonstrando livre graça imerecida. O elemento da liberdade … é essencial”. Paulo enfatiza a ação de Deus, e não a sua natureza. “Ele não fala do Deus gracioso; fala da graça concretizada na cruz de Cristo”. Em Efésios 1.7, Paulo afirma: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”, pois “pela graça sois salvos” (Ef 2.5,8).

HORTON. Staleym. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Editora CPAD.

 

 

2- A graça é imerecida.

 

A graça é um favor imerecido. Isso significa que ninguém a merecia e nem tinha como merecê-la. De fato, a Escritura diz que “não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10). Nossa justiça própria é como trapo da imundícia (Is 64.6). A nossa condição antes de conhecermos a graça se assemelhava a de alguém que deve uma grande quantia e não tem com que pagar (Lc 7.42; Ef 2.4,5).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

O apóstolo Paulo afirma que por intermédio do homem entrou o pecado no mundo (Rm 5.12). Por conta da entrada do pecado no mundo, a condição da humanidade caída diante do pecado é de total impotência. O homem não pode fazer nada. É preciso a intervenção da graça de Deus para tirar a humanidade do domínio do pecado. Nesse aspecto, todos os homens e mulheres foram atingidos pelo pecado a tal ponto que, embora tenham sido feitos à imagem de Deus, não podem, por si mesmos, chegar a Deus.

Não há nada que o homem natural possua ou pratique que lhe faça merecida a graça de Deus.

Assim, observamos que o cerne da doutrina da graça está no fato de que mesmo a humanidade merecendo ser condenada, Deus por sua infinita graça a quer salvar. Em outras palavras, Deus poderia e pode ser contra o homem, mas, por causa de sua graça, Ele fica a seu favor. Isso é claramente mostrado de forma objetiva na encarnação de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Como afirmou Stephen Gunter, por meio de Cristo, o homem rebelde contra Deus experimenta o amor imerecido de Deus e inicia uma relação com Ele. Cristo, portanto, como afirmou o apóstolo Paulo, é a graça de Deus que se manifestou trazendo salvação a todos os homens (Tt 2.11).

Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

 

Declarado Inocente!

“Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos Profetas” (3.21). Essa seção que começa em Romanos 3.21 e se estende até 4.25 apresenta o remédio do diagnóstico que Paulo tinha dado anteriormente para a questão do pecado em Romanos 1.18—3.20. Vimos que Paulo primeiramente apresentou o mundo pagão totalmente mergulhado nas trevas do pecado. Por outro lado, a situação dos seus compatriotas judeus não era diferente. Eles também estavam debaixo do domínio do mesmo pecado. É, pois, nessa seção que o apóstolo apresentará a solução de Deus para a rebelião do homem — a justiça de Deus imputada a todos por Cristo Jesus.

À parte da lei, isto é, sem o concurso da lei, a justiça de Deus se manifestou para resolver o dilema humano. Essa justiça divina, que se manifestaria em Cristo Jesus, já era testemunhada pela própria lei e pelos profetas (v. 21). Primeiramente, a imagem que Paulo tem em mente aqui é de um tribunal. Alguém que se encontra como réu diante de um juiz e de quem espera o veredicto condenatório. Todavia, em vez de receber uma condenação, ele recebe a absolvição.

O expositor bíblico William Barclay mostra o pano de fundo da doutrina da justificação nessa passagem. Nesse exemplo de Paulo, imagina-se o homem diante do tribunal de Deus. Barclay destaca com muita propriedade que a palavra grega traduzida como “justificar” vem da mesma raiz de dikaiún e que todos os verbos gregos que terminam em ún têm o sentido de considerar alguém como algo e não o de fazer algo a alguém. Dessa forma, se alguém que é inocente se apresenta diante de um juiz, o juiz, evidentemente, o declarará inocente. Todavia, o caso mostrado por Paulo aqui é diferente. A pessoa que se apresenta diante de Deus é totalmente culpada, merecendo a punição do seu erro, porém, o justo Juiz, em uma demonstração de sua graça infinita, considera-o como se fosse inocente. Isso é o que se entende do significado da palavra “justificação” no contexto paulino. Quando Paulo diz “Deus justifica o ímpio”, significa, dentro do contexto da justificação, que Deus trata o ímpio como alguém bom. É evidente que tal raciocínio deixou os judeus totalmente escandalizados. Na mente dos judeus, apenas um juiz iníquo agiria dessa forma, pois justificar o ímpio é uma abominação para Deus (Pv 17.15); “não justificarei o ímpio” (Ex 23.7). Todavia, a argumentação de Paulo mostra que é exatamente isso o que Deus fez.

Na mente de Paulo, observa Barclay, se alguém desejasse saber como Deus é, então deveria olhar para Jesus, pois Ele revelou Deus aos homens. O verbo encarnado de Deus veio mostrar o grande amor de Deus pelos homens, mesmo estes estando mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Barclay destaca que “quando descobrimos isso e cremos, nossa relação com Deus muda radicalmente. Estamos conscientes do nosso pecado, mas não estamos aterrorizados ou distantes. Quebrantados e arrependidos, recorremos a Deus como uma criança triste se chega a sua mãe e sabemos que o Deus a quem chegamos é amor. Isso é o que significa justificação pela fé em Jesus Cristo. Isso significa que estamos em relacionamento correto com Deus porque acreditamos sinceramente que o que Jesus nos disse de Deus é a verdade. Já não somos estranhos que têm medo de um Deus irado. Somos filhos, crianças errantes que confiam no amor do Pai que os perdoará. E não podíamos nunca chegar a esse relacionamento com Deus, se Jesus não tivesse vindo para viver e morrer para nos dizer como maravilhosamente Deus nos ama”.

José Gonçalves. Maravilhosa Graça! O evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos. Editora CPAD. 1 Ed 2016. pag. 32-34.

 

 

SINOPSE I

 

Deus quis agir com graça para com todos os homens sem que eles merecessem e, por isso, essa graça é um favor imerecido.

 

 

II – A GRAÇA NO CONTEXTO BÍBLICO

 

 

1- A necessidade da graça.

 

Uma das doutrinas mais bem definidas e claras nas Escrituras é a referente à queda do homem. O primeiro fato a ser observado é que Adão, o primeiro homem, foi criado como um ser moralmente livre, podendo escolher o que fazer. A Escritura diz que Adão foi tentado (Gn 3.6), mas não coagido a pecar (Gn 2.16,17). Deus o responsabilizou por sua desobediência (Gn 3.17). O primeiro homem, portanto, de forma livre e voluntária, desobedeceu e pecou (Rm 5.12a). O segundo fato é que a queda do homem produziu consequências, tanto para ele como para sua posteridade. Adão era o cabeça da raça e como tal todos os homens estavam sob seus lombos (Rm 5.12b; Gn 3.23).

Ninguém, portanto, ficou fora da esfera do pecado. Tendo caído no pecado, o homem não podia por si mesmo se libertar. Uma das consequências advindas da Queda foi a necessidade da satisfação da justiça divina. Por isso, a justiça de Deus exige a punição do pecado. Isso porque Deus sendo justo e santo não deixaria o pecado impune. Contudo, assim como Deus é justo, da mesma forma, Ele é amor. Isso é denominado pelos teólogos como a doutrina do “duplo amor de Deus” – O amor de Deus à justiça e o amor de Deus a humanidade. Se por um lado, a justiça divina exige a punição do pecado, por outro lado, o amor de Deus pela humanidade levou-o a prover a cruz como o meio de justificação (1Tm 2.5; Jo 3.16). Em Cristo Jesus, portanto, Deus manifesta o seu grande amor pela humanidade e vê nEle sua justiça satisfeita.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Não existe salvação fora de Cristo. Deus estabeleceu que Cristo fosse o Salvador daqueles que nEle cressem. Por outro lado, aqueles que o rejeitassem estariam condenados (Jo 5.4). Em Cristo somos eleitos. No dizer das Escrituras: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36, NAA). Isso implica que no processo da salvação uma resposta humana é exigida. “Creia no Senhor Jesus e você será salvo — você e toda a sua casa” (At 16.31, NAA). Contudo, essa eleição é de acordo com a presciência de Deus.

Ainda de acordo com Geisler:

Pedro falou nos “eleitos segundo a presciência de Deus Pai” (1 Pe 1.2). Dessa forma, por ser amor (1 Jo 4.16), é necessário que Deus aja de maneira amorosa, mas também por ser justo, faz-se necessário que Ele aja de maneira justa (Gn 18,25; Rm 2.11; 3.26). Entretanto, não havia necessidade de Deus formar criaturas morais; mas se Deus escolher formar criaturas morais […] é necessário que, diante das condições escolhidas por Deus para criar e salvar essas criaturas morais, Ele o faça de acordo com a liberdade que as concedeu. Logo, não existe nenhuma condição para que Deus conceda a salvação, mas existe uma (e somente uma) condição proposta para se receber o dom da vida eterna: a fé (At 16.31; Rm 4.5; Ef 2.8-9). Portanto, o recebimento da salvação está condicionado ao nosso crer. A salvação é incondicional da perspectiva daquele que a concede, mas é condicional do ponto de vista daquele que recebe (pois este precisa crer para recebê-la). Em suma, a salvação vem de Deus, mas a recebemos por meio da fé: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé” (Ef 2.8).

Assim, observamos que Deus não decretou desde a eternidade salvar alguns e condenar outros independentemente de suas vontades e escolhas.

Aqueles que acreditam que Deus impõe sua vontade independentemente das escolhas humanas pensam que essa é a única forma dEle satisfazer a sua justiça. De fato, Deus é justo e sua justiça exigia a punição do pecado.

Contudo, o mesmo Deus que é justiça também é amor. Se a sua justiça exigia a punição do pecador, por outro lado o seu amor exigia a sua redenção. É exatamente no nosso bendito Salvador Jesus Cristo que as exigências da justiça e da misericórdia divina são satisfeitas. Em Cristo o nosso pecado é punido e em Cristo o grande amor de Deus também é revelado.

Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

 

O pecado entrou no mundo por meio de Adão (v. 12)

Paulo muda o estilo de sua escrita, deixando de falar na primeira pessoa do plural até o versículo 21. O texto, no entanto, está estreitamente interligado com o anterior. Para falar sobre a situação da humanidade diante de Deus, o apóstolo reporta à história da queda de Adão, descrevendo sua consequência para chegar até a solução apresentada em Cristo. Paulo já havia reportado às principais figuras do povo judaico para identificar este povo com Jesus. Agora, ele faz um link com a figura do pai da humanidade” para relacionar a humanidade como um todo com Deus. Nos versículos 11 e 12, ele não menciona o nome de Adão e, muito menos, o de Eva, mas, para ele, o culpado pela entrada do pecado no mundo foi Adão. Não adiantou Adão transferir a culpa para Eva, assim como tem sido uma prática comum dos seres humanos transferir suas culpas para alguém ou algum acontecimento, ao invés de assumir a responsabilidade pelos seus atos. Neste texto, Paulo não demonstra preocupação com a origem do mal, mas sim com a forma que o pecado entrou no mundo.

O pecado de Adão é explicitado no relato da queda (Gn 3), quando ele rejeitou seguir o caminho traçado por Deus para seguir seu próprio caminho. O resultado disso foi a perda de comunhão com Deus e a nova situação de condenação sob a ira de Deus. O ser humano não encontra força em si mesmo para resistir ao pecado. O exemplo de Adão simboliza a situação do ser humano sem Deus, a condição da humanidade desde a queda. Pohl (1999, p. 96) afirma que “a humanidade não é um aglomerado de indivíduos isolados, mas forma um corpo. Cada um de seus membros vive em ‘simbiose’, vive junto com os demais membros, para o benefício recíproco ou também para o prejuízo mútuo”. Adão, como a figura do primeiro ser humano, traz consigo a responsabilidade de transmitir para os descendentes as consequências pelos seus atos. Todavia, Paulo vai mencionar o ato pecaminoso de Adão somente a partir do verc. 14.

A morte entrou no mundo por meio do pecado (v. 12)

Adão foi a porta de entrada do pecado no mundo, e o pecado, por sua vez, a porta de entrada para a morte. Neste texto, a interpretação para a morte se refere à morte espiritual, como punição pela desobediência humana, uma referência a Gn 2.17 e 3.19. A morte como algo antinatural, pois o pecado torna o ser humano mortal e condenável, mesmo que biologicamente vivo. Toda causa tem sua consequência. As pessoas, às vezes, confundem o perdão com não ser mais responsável por seus atos falhos. Uma pessoa que se rende a Cristo e deixa a vida de pecado, como já vimos em lições anteriores, é imediatamente justificada diante de Deus (declarada justa), mas ele continua responsável pelas consequências dos erros já cometidos. Por exemplo, vamos supor que esta pessoa tenha cometido um assassinato antes da conversão. Com o arrependimento e abandono da prática, Deus a perdoa, mas não assume a responsabilidade de livrá-lo de uma prisão. O que Deus garante é estar com ele na prisão. Todo pecado tem sua consequência. Por isso, Paulo recomenda em 1 Co 10.12 “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”. O pecado traz consigo muito prejuízo, e o pior de todos é a morte espiritual. O crente deve ficar atento para não dar lugar ao pecado em sua vida. Deve também preservar o que de mais precioso tem na vida, a saber, a comunhão que o primeiro Adão tinha com Deus, antes de pecar.

A morte sobreveio para toda a humanidade porque todos pecaram (v. 12)

Paulo continua abordando a relação entre o pecado e a morte, agora com uma abrangência maior: todos os seres humanos, uma vez que todos pecaram (Rm 2.12; 3.23). Existe uma discussão teológica se todos pecaram em Adão, ou seja, o pecado de Adão foi transferido para toda a humanidade, ou se o pecado é de responsabilidade individual de cada ser humano. A situação espiritual da humanidade não é uma fatalidade compulsória. Da mesma forma que Adão pecou, todos os demais seres humanos também pecaram, sendo cada um responsável pela sua própria desobediência. A escravidão do pecado é nutrida pelo próprio desejo pecaminoso no interior do ser humano (Tg 1.13-16). A humanidade não responde pelo pecado de Adão, mas consiste em sua própria culpa.

A cultura influencia o comportamento das pessoas. O ser humano tem a tendência de julgar as pessoas que pertencem a outra cultura ou religião, ignorando que, se nascesse no país onde essa pessoa nasceu e fosse influenciado pela mesma cultura, provavelmente iria ter a mesma crença. Por exemplo, a maioria da população do Iraque professa a fé do islamismo. Enquanto que, quem nasce no Brasil, tem uma tendência a ser cristão. O cristão não pode demonizar as pessoas que pertencem a outras religiões, mas entender que todas as pessoas, indistintamente, precisam da solução que Deus proveu para o pecado da humanidade: Jesus.

Dessa forma, o ambiente formado após a queda também influenciou as pessoas que vieram após o primeiro Adão. No entanto, mais à frente da carta, o apóstolo vai esclarecer que aquele que está em Cristo recebe uma nova natureza que vem de cima e passa a receber influência do Espírito Santo. Todavia, o cristão deve estar atento para não perder a comunicação com Ele para não ser influenciado pelo mundo. O crente justificado está no meio do mundo, mas não pertence a ele, e sim ao Pai (Jo 17-9, 11, 14b, 16).

Neves. Natalino das,. Justiça e Graça: Um Estudo da Doutrina da Salvação na Carta aos Romanos. Editora CPAD: 1 Ed 2015. pag. 77-80.

 

 

Uma explicação mais detalhada do paralelo, na qual observe:

(1) Como Adão, sendo uma pessoa pública, transmitiu o pecado e a morte a toda a sua posteridade (v. 12):

“…por um homem entrou o pecado”. Vemos o mundo sob um dilúvio de pecado e morte, cheio de iniquidades e repleto de calamidades. Então, vale a pena perguntar pela fonte que o alimenta, e você a encontrará na corrupção geral da natureza; e por qual brecha ele entrou, e você descobrirá que foi o primeiro pecado de Adão. Foi por um homem, sendo ele o primeiro homem (pois se alguém tivesse existido antes dele, seria livre), aquele homem de quem, como da raiz, todos nós viemos. [1] Através dele, entrou o pecado. Quando Deus disse que tudo era muito bom (Gn 1.31) não havia pecado no mundo; foi quando Adão comeu do fruto proibido que o pecado entrou no mundo. O pecado havia entrado anteriormente no mundo dos anjos, quando muitos deles se revoltaram contra sua submissão e abandonaram o seu primeiro estado; mas, antes do pecado de Adão, ele nunca havia entrado no mundo da humanidade. Então o pecado entrou como um inimigo, para matar e destruir, como um ladrão, para roubar e despojar; e foi uma entrada sinistra.

Então entrou a culpa do pecado de Adão, que foi imputada à posteridade, e uma corrupção e depravação geral da natureza. Eph ho – por isso (assim nós lemos), melhor, em quem, todos pecaram. O pecado entrou no mundo através de Adão, pois todos nós pecamos nele. Como está em 1 Coríntios 15.22: “…todos morrem em Adão”, também aqui, nele “…todos pecaram”; pois está em conformidade com a lei de todas as nações que nas ações de uma pessoa pública sejam contadas as ações das pessoas que elas representam e que as ações de cada membro do corpo estão implicadas nas ações de todo o corpo. Assim sendo, Adão agiu como uma pessoa pública, pela soberana ordenação e designação de Deus, e que ainda se baseou em uma necessidade natural; pois Deus, como o autor da natureza, fez disso a lei da natureza, que, assim como as outras criaturas, o homem devia gerar em sua própria semelhança. Em Adão, portanto, como em um receptáculo comum, foi depositada toda a natureza humana, dele fluindo para toda a sua posteridade; pois toda a humanidade é feita “…de um só” (At 17.26), assim, à medida que essa natureza se mostra em seu estar em pé ou cair, antes que ele se livre dela, consequentemente ela é propagada a partir dele. Por isso, pecando Adão e caindo, a natureza tornou-se culpada e corrupta e foi assim propagada.

Dessa forma, nele todos pecamos. [2] “…pelo pecado, a morte”, pois a morte é o salário do pecado. O pecado, quando consumado, gera a morte. É claro que, quando veio o pecado, a morte veio com ele. Aqui a morte significa toda aquela miséria que é a devida recompensa pelo pecado, a morte temporal, espiritual e eterna. Se Adão não tivesse pecado, não teria morrido; a ameaça era: “…no dia em que dela comerdes, certamente morrerás” (Gn 2.17). [3] “…assim também a morte passou…”, isto é, a sentença de morte passou, como a um criminoso, dielthen – passou a todos os homens, como uma doença contagiosa se espalha por uma cidade, de maneira que ninguém escapa. E o destino universal, sem exceção: a morte passa por todos. Há calamidades universais ligadas à vida humana que provam isso satisfatoriamente.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 337.

 

 

2- A extensão da graça.

 

As Escrituras afirmam que Deus quer salvar a todos (1Tm 2.4). Deus ama todos os homens. Logo, o mais vil pecador, no lugar onde estiver, é amado por Deus e, por isso, deve ser alcançado. O alcoólatra, o adúltero, o homicida etc., todos serão aceitos por Deus se receberem a graça divina, Cristo Jesus. Essa graça é extensiva a todos os homens. Ela é universal. Contudo, essa graça não é universalista. Uma coisa não tem relação com a outra. O universalismo prega que todos, independente de credo, religião ou arrependimento, ou comportamento, serão salvos. Ao contrário, a graça é universal porque é estendida a todos os homens. Todos os que se arrependerem e confessarem a Cristo podem ser salvos. A graça é oferecida a todos (Tt 2.11). Contudo, só se torna eficaz na vida daquele que crer (Mc 16.16; Jo 6.47).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Ao se tratar da doutrina da extensão da salvação é preciso que se faça distinção entre universalidade e universalismo. A salvação é universal porque Deus no seu grande amor quer salvar todos os homens (Jo 3.16). Deus “deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4, NAA).

Argumentando contra aqueles que veem uma expiação limitada nos textos do Evangelho de João 1.29; 3.16 e 1 Timóteo 2.4-6, David Allen destacou que essas passagens bíblicas não podem se ajustar a ideias préconcebidas trazidas para se juntar a esses textos.

Passagens como João 1.29, João 3.16 e 1Timóteo 2.4-6 simplesmente não podem ser acorrentadas às cadeias lexicais limitadas que restringem o significado de “mundo” e “todos” a algo menor que a humanidade. Este é um enorme erro linguístico. D.A. Carson apontou corretamente […] que mundo nas Escrituras nunca significa “os eleitos”. O contexto geralmente deixa claro se “todos” ou “mundo” significa “todos sem exceção” ou “todos sem distinção”. Estes três textos são claros, para não mencionar uma dúzia de outros textos do Novo Testamento.

Simplesmente não é exegeticamente possível interpretar “todos” e “mundo” nos três textos listados acima, e vários outros, de uma forma limitada.

Assim vemos que a expiação é ilimitada porque é extensiva a todos os homens. Isso evidentemente, não quer dizer que todos os homens serão salvos porque nem todos creram na mensagem do evangelho e nem tampouco responderão a ela. Por outro lado, o universalismo acredita que Deus, devido a sua bondade, salvará a todos independentemente de suas vontades e escolhas.

Gonçalves. José,. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo. As Sutilezas de Satanás neste Dias que Antecedem a Volta de Jesus Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

 

 

A manifestação da graça (2.11)

“Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (2.11). Só podemos ter uma vida santa por causa da epifania, “manifestação” da graça de Deus. A graça de Deus sempre existiu. Deus sempre foi gracioso.

Porém, em Cristo, essa graça despontou majestosa da mesma forma que o romper da alva.

O substantivo epifaneia significa a visível aparição de alguma coisa ou de alguém que estava invisível. Essa palavra era usada no grego clássico em relação à alvorada, ao amanhecer, quando o sol transpõe a linha do horizonte e se torna visível. É a mesma palavra que aparece em Atos 27.20, quando Lucas diz que por vários dias nem o sol nem as estrelas apareceram [fizeram epifania], É claro que as estrelas ainda estavam no céu, mas não apareceram.

A graça de Deus brilhou como sol sobre aqueles que viviam nas regiões da sombra da morte. Essa graça se manifestou quando Jesus nasceu num a estrebaria, cresceu num a carpintaria e morreu numa cruz. Essa graça brilhou quando de seus lábios se ouviam palavras de vida eterna, quando ele curava os enfermos, purificava os leprosos, lançava fora os demônios e ressuscitava os mortos. A graça resplandeceu quando o Filho de Deus entregou sua vida na cruz e a reassumiu na gloriosa manhã da ressurreição. A graça se manifestou para resgatar o homem do seu maior mal e oferecer a ele o maior bem.

Destacamos três aspectos da epifania da graça:

Em primeiro lugar, a origem da graça (2.11). Paulo fala da graça de Deus. A graça tem sua origem em Deus. Ela emana de Deus. Embora Deus sempre tenha sido gracioso, pois é o Deus de toda a graça, ela se tornou visível em Jesus Cristo. A graça de Deus foi esplendorosamente mostrada em seu humilde nascimento, em suas graciosas palavras e em seus atos movidos de compaixão; mas, sobretudo, em sua morte expiatória.

A graça de Deus é totalmente imerecida. Não há nada em nós que reivindique o amor de Deus. Não há nenhum merecimento em nós. O amor de Deus tem nele mesmo sua causa. A graça é um favor imerecido. Deus trata de forma benevolente aqueles que merecem seu juízo.

Em segundo lugar, a natureza da graça (2.11). A graça de Deus é salvadora. A graça é o favor superabundante de Deus pelos pecadores indignos. Kelly diz que a graça de Deus representa o favor gratuito de Deus, a bondade espontânea mediante a qual ele intervém para ajudar e livrar os homens. E m Jesus, a graça de Deus desponta como um sol sobre o mundo escurecido pelas sombras da morte.

Gosto da definição de William Hendriksen:

A graça de Deus é seu favor ativo que outorga o maior de todos os dons a quem merece o maior de todos os castigos.-‘“

Por isso, a graça triunfa sobre nossa iniquidade. Ela é maior do que o nosso pecado e melhor do que a nossa vida.

Onde abundou o pecado, superabundou a graça. Somos salvos pela graça. Vivemos pela graça. Dependemos da graça. Nada somos sem a graça. Por causa da graça, embora perdidos, fomos achados; embora mortos, recebemos vida.

Em terceiro lugar, a extensão da graça (2.11). A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. A epifania da graça não alcança todos os homens quantitativamente, mas todos os homens qualitativamente.

A salvação é universal no sentido de que alcança todos aqueles que sao comprados para Deus, procedentes de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9), mas não no sentido de todos os homens, sem exceção. A salvação é universal porque alcança todos os homens sem acepção, mas não a todos os homens sem exceção. Não há universalismo na salvação.

O que a Bíblia ensina sobre a universalidade da graça de Deus é que ela rompe todas as barreiras, derruba todos os preconceitos e alcança pessoas de todos os gêneros, idades e posições (2.1-10). A graça é acessível a todos: homens e mulheres, idosos e jovens, escravos e senhores, judeus e gentios.“

Nessa mesma linha de pensamento João Calvino afirma:

“A salvação é comum a todos”, e isso fica expressamente claro pelo fato de Paulo mencionar os escravos cristãos.

Porém, Paulo não alude aos homens no individual, mas destaca classes individuais, ou seja, diferentes categorias de pessoas.

Concluo esse ponto citando Albert Barnes;

O plano de Deus tem sido revelado a todas as classes de homens e a todas as raças, inclusive servos e chefes; vassalos e reis; pobres e ricos; ignorantes e sábios.

LOPES. Hernandes Dias. TITO E FILEMOM. Doutrina e Vida, um binômio inseparável. Editora Hagnos. pag. 91-94.

 

 

«…graça…» No grego é charis, que indica «graciosidade», «atrativo», «favor». Neste ponto não está em foco a graciosidade geral de Deus, e, sim aquele favor particular que enviou a Cristo para ser o nosso Salvador, e que agora eleva os homens à salvação moral e metafísica, conferindo-lhes o que chamamos de «salvação». (Há notas expositivas completas sobre o conceito da «graça», dentro das páginas do N.T., em Efé. 2:8.

Essas notas abordam os vários aspectos da graça divina, incluindo o sistema paulino de salvação da «graça-fé», em contraste com os sistemas «legalista» e «sacramental»), «…de Deus…» No original grego é usado o genitivo possessivo, porque o favor lhe pertence; mas também «vem» dele, como sua fonte originária. Tal como por toda a parte da Bíblia, aprendemos que Deus é o grande benfeitor dos homens. Comparar isso com a passagem de I Tim. 2:3, onde Deus é chamado de «Salvador», o qual «…deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade» (I Tim. 2:4). Sim, Deus é o «Salvador de todos os homens, especialmente daqueles que creem». Isso é uma declaração de cunho polêmico, contra os gnósticos.

Estes removiam Deus para bem longe dos homens, mediante seu conceito de uma interminável sucessão de mediadores angelicais, de tal modo que concebem uma divindade «deísta», sem qualquer interesse direto de entrarem contato direto com os homens. Bem ao contrário dessas ideias, Deus se interessa pelos homens de tal maneira que é chamado de «Salvador» deles; e ele tem feito intervenção na história humana, percebendo-se que ele tem trazido a sua «graça» para com todos.

«.. .a todos os homens. ..» Não temos aqui qualquer calvinismo restrito, e, sim, outra ênfase sobre a universalidade da provisão divina da salvação, uma reiteração do que aparece nas referências acima citadas. (Ver João 12:32 quanto a notas expositivas sobre como a graça de Deus, dada em Cristo, deve produzir resultados universais, tão grande é o seu poder). O fato que a graça é conferida a «todos os homens» também é uma questão polêmica. Os gnósticos costumavam classificar os homens em três grupos:

Haveria os «hílicos» ou «terrenos», indivíduos tão absortos cora as coisas materiais que não havia meio de se liberta rem delas, tendo fatalmente de perecer com elas. A matéria, na concepção dos gnósticos, seria a própria essência do mal; e a maioria dos homens estaria, de tal maneira dominada pela matéria que não haveria qualquer esperança de redenção. Dessa maneira, os gnósticos ensinavam que os «hilicos» seriam totalmente incapazes de redenção, devendo perecer, necessariamente.

Haveria os indivíduos «psíquicos», uma classe de indivíduos capaz de certo grau inferior de redenção, como os profetas do A.T., os quais tinham alguma espiritualidade.

Finalmente, havia um pequeno grupo seleto, os «pneumáticos» ou «espirituais», os quais eram passíveis da redenção mais gloriosa, isto é, a reabsorção no ser de Deus. Esses se aproximariam de Deus através do seu «conhecimento gnóstico». Esse conhecimento era esotérico, operando através da mágica.

O autor sagrado nega a todas essas coisas, através dos seguintes pontos: a. Todos os homens são passíveis de redenção, b. Deus está interessado pelos homens, não sendo ele uma divindade «deísta». c. A sua graça se estende a todos, e não apenas a alguma elite. d. Essa graça nos traz a «salvação», e isso no nível mais elevado da glória, o que é aqui visto como possível para todos os homens, até mesmo para pessoas de baixa condição social, como eram os escravos.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 5. pag. 433.

 

 

SINOPSE II

 

No contexto bíblico, a graça é uma necessidade de todos os homens. Por isso, ela é estendi­da a toda a humanidade.

 

 

AUXILIO VIDA CRISTÃ

“DEUS TEM TODO DIREITO DE ESTAR IRADO

Muitos não entendem, porque confundem ira divina com raiva humana. Ambas têm pouca coisa em comum. A ira dos homens é tipicamente autoacionada, e inclinada a explosões de tempestades e atos violentos. Ficamos irados por havermos sido passados para trás, negligenciados ou enganados. Esta é a ira dos homens, não de Deus. Deus […] se ira porque a desobediência sempre resulta em autodestruição. Que tipo de pai se sentaria e assistiria seu filho ferindo­-se a si próprio.

Que espécie de Deus faria o mesmo? Você acha que Ele da risadinhas quando vê um adultério, ou ri em silêncio de um assassinato? Pensa que Ele olha para o outro lado, quando produzimos programas de entrevistas baseados em prazeres perversos? Imagina que Ele balança a cabeça e diz ‘Humanos são humanos’? Eu não acho. Anote e sublinhe em vermelho: Deus está legitimamente irado. Deus é santo. Nossos pecados são uma afronta à sua santidade” (LUCADO, Max. Nas Garras da Graça: Você não pode escapar do seu amor. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, pp.30-32).

 

 

III – A GRAÇA NO CONTEXTO DA REFORMA

 

 

1- A corrupção da doutrina da graça.

 

O contexto da Reforma Protestante do século XVI é muito diversificado. Contudo, é possível identificar alguns fatores que contribuíram para o surgimento da Reforma: o catolicismo perdia influência e, por isso, surgiu uma reação contra os líderes religiosos por conta de seu baixo nível moral; a rejeição da doutrina católica como valida; um maior interesse pela educação, que deixa de ser um privilégio dos líderes católicos; é uma maior diversidade doutrinária. De uma forma direta, pode-se afirmar que a Reforma surge como uma resposta ao enfraquecimento, deturpação e negação da doutrina da graça, que no período medieval, havia sido totalmente desconfigurada. A salvação pelas obras havia substituído a salvação pela fé somente Rm 1.17. Em outras palavras a Salvação havia se tornado meritória.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

O movimento reformador de Lutero não foi iniciado pela indignação justa e moral de um Savonarola ou um Erasmo dirigido contra superstições percebidas ou contra a corrupção do papado renascentista. O movimento de Lutero estava enraizado em sua própria ansiedade pessoal sobre a salvação: uma ansiedade que, se a resposta popular a ele serve de qualquer indicativo, foi disseminada por toda a Europa. Essa ansiedade foi um efeito da crise do fim do período medieval já esboçado, mas sua raiz residia na incerteza da salvação pregada na mensagem da Igreja.

[…]Lutero não conseguia acreditar que Deus era aplacado pelo esforço humano de dar o melhor de si para ser salvo. No fim da vida, o reformador refletiu sobre luta que travara com essa teologia do pacto, registrando: Embora vivesse de modo irrepreensível como monge, sentia que era pecador diante de Deus, com uma consciência extremamente atribulada […] Odiava o Deus justo que punia pecadores […] No entanto, bati, de modo importuno, na mesma porta que o apóstolo Paulo batera antes de mim, desejando ardentemente saber a mesma coisa que Paulo sabia (LW, 34, p. 336–7).

A “porta” era a passagem de Romanos 1:17: “Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé.’” Até esse ponto, Lutero, como tantos outros contemporâneos, ouvira o evangelho como uma ameaça da ira justa de Deus, uma vez que a teologia e prática pastoral medievais o apresentavam como um padrão segundo o qual pecadores deveriam andar caso quisessem alcançar salvação. Agora, porém, Lutero percebia que não devia pensar na justiça de Deus no sentido ativo (de que precisamos nos tornar justos como Deus), porém no sentido passivo (de que Deus nos dá sua justiça). A boa nova, descobrira Lutero, é que a justificação não é o que o pecador alcança, mas o que ele recebe; não é o pecador que muda, mas sua situação diante de Deus. Em suma, o termo “justificado” quer dizer que Deus considera justo o pecador (LW, 34, p. 167).

Deus não quer nos redimir pela nossa justiça, mas de uma justiça e sabedoria externas: não por meio daquela que procede de nós e aumenta em nós, mas daquela que vem de fora; não daquela que se origina aqui na terra, mas daquela que vem do céu. Portanto, devemos aprender sobre uma justiça que não se origina em nós, que procede de outro lugar” (LW, 25, p. 136).

Lindberg, Carter. História da Reforma. 1. ed. 2017. Editora: Thomas Nelson Brasil.

 

 

MARTINHO LUTERO

Lutero foi um gigante da história; foi tão importante que certa vez foi descrito como um “oceano”. Há quem creia que tenha sido a figura europeia mais significativa do segundo milênio. Ele foi o Reformador pioneiro, o primeiro a quem Deus usou para produzir uma transformação do Cristianismo e do mundo ocidental.

Foi, inquestionavelmente, o líder da Reforma alemã. Numa época de corrupção eclesiástica e apostasias, ele foi um valente campeão da verdade; sua poderosa pregação e pena ajudaram a restaurar o evangelho puro.

PERDIDO EM AUTOJUSTIÇA

No monastério, Lutero se viu arrastado à procura da aceitação de Deus através das obras. Ele escreveu:

Torturei-me com oração, jejum, vigílias e congelamento; tal austeridade poderia ter-me matado. […] O que mais eu buscava agindo assim senão Deus, o qual presumivelmente via minha extremada observância da ordem monástica e minha vida austera? Eu andava constantemente em meio a um sonho e vivia em meio a uma idolatria real, porquanto não cria em Cristo: eu apenas o considerava um severo e terrível juiz, pintado como alguém sentado sobre um arco-íris.

Em outro lugar, ele relembra: “Quando eu era monge, esbaldei-me grandemente por quase quinze anos com sacrifício diário, torturei-me com jejuns, vigílias, orações e outras obras mui rigorosas. Sinceramente, eu cria que assim adquiriria justiça por meus próprios esforços.”

Em 1507, Lutero foi ordenado ao sacerdócio. Quando celebrou sua primeira missa, enquanto segurava o pão e o cálice pela primeira vez, sentiu-se tão aterrado com a ideia da transubstanciação que quase desmaiou. Ele confessou: “Eu fiquei totalmente aturdido e tomado pelo terror. Pensava de mim mesmo: ‘Quem sou eu para elevar meus olhos ou minhas mãos à majestade divina? Pois não passo de pó e cinza e saturado de pecado, e estou falando ao Deus vivo, eterno e verdadeiro’.” O medo apenas se misturava à sua luta pessoal por aceitação junto a Deus.

Em 1510, Lutero foi enviado a Roma, onde testemunhou a corrupção da igreja romana. Ele subiu a Scala Sancta (“A Escada Santa”), supostamente, a mesma escada pela qual Jesus subiu quando compareceu perante Pilatos. De acordo com as fábulas, os degraus foram levados de Jerusalém para Roma, e os sacerdotes alegavam que Deus perdoava os pecados de quem subisse aquela escada de joelhos. Lutero fez isso, repetindo a Oração do Senhor, beijando cada degrau e buscando a paz de Deus. Mas, quando chegou no topo, olhou para trás e pensou: “Quem sabe se isto é autêntico?”

Ele não se sentiu mais perto de Deus.

Lutero recebeu seu grau de doutorado em teologia na Universidade de Wittenberg em 1512, e ali foi nomeado professor da Bíblia. Notavelmente, Lutero manteve esta posição pedagógica por quase trinta e quatro anos, até sua morte em 1546. Na sala de aula, antes de tudo ele prelecionava sobre os Salmos (1513–1515), Romanos (1515–1517) e Gálatas e Hebreus (1517–1519). Mas, quanto mais Lutero estudava, mais perplexo ficava. Uma dúvida o consumia: Como um homem pecador pode ser justo diante de um Deus santo?

TETZEL E A CONTROVÉRSIA SOBRE A INDULGÊNCIA

Em 1517, um dominicano itinerante chamado John Tetzel começou a vender indulgências nas proximidades de Wittenberg, oferecendo o perdão de pecados. Esta prática absurda fora inaugurada durante as cruzadas com o fim de arrecadar dinheiro para a igreja. Os cidadãos podiam comprar da igreja uma carta que supostamente livrava do purgatório um ente querido que havia morrido. Roma se beneficiou imensamente dessa impostura. Neste caso, essas rendas visavam ajudar o papa Leão X a pagar as despesas da nova basílica de São Pedro, em Roma. A famosa oferta de Tetzel era: “Assim que a moeda soa no fundo do cofre, a alma voa do purgatório.”

Steven J. Lawson. Pilares da graça. Editora Fiel, 2016.

 

 

2- A Restauração da doutrina graça.

 

Como foi observada, a reforma, portanto, surge como reação à corrupção da doutrina da graça. Lutero, monge alemão agostiniano, se torna o principal porta voz da doutrina ‘pela fé somente”. Posteriormente, o lema luterano seria conhecido como as cinco solas: sola gratia (só a graça). Os reformadores estavam também convictos de que somente através o retorno às escrituras a doutrina da graça poderia ser restaurada. Foi por isso que lutaram. Foi por isso que sofreram e, até mesmo, morreram. A graça não aceita misturas. É pela graça somente que somos salvos.

 

 

COMENTÁRIOS

 

A graça de Deus. Cremos que todos os homens e mulheres foram atingidos pelo pecado a tal ponto que, embora tenham sido feitos à imagem de Deus, não podem, por si mesmos, chegar a Deus. Não há nada que o homem natural possua ou pratique que lhe faça merecida a graça de Deus. A Bíblia ensina: ״Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.11). A Bíblia qualifica essa condição espiritual como “mortos em pecado” (Cl 2.13) e “mortos em ofensas” (Ef 2.5). A ideia de morte, aqui, é de separação, e não de aniquilamento. Deus derrama sua graça, sem a qual o homem não pode entender as coisas e’s- pirituais, ou seja, foi Deus quem tomou a iniciativa na salvação, “do Senhor vem a salvação” (Jn 2.9), agindo em favor das pessoas.

Graça é um favor imerecido. É por meio da graça que Deus ca- pacita o ser humano para que ele responda com fé ao chamado do evangelho: “Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (Rm 11.6). Todavia, os seres hu- manos, influenciados pela graça que habilita a livre escolha, são livres para escolher: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.17). Deus proveu a salvação para todas as pessoas, mas essa salvação aplica-se somente àquelas que creem: “isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (Rm 3.22). Nesse sentido, não há conflito entre a soberania de Deus e a liberdade humana.

Soares. Esequias,. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Editora CPAD. pag. 113.

 

 

A EXCLUSIVIDADE DA ESCRITURA

Por sua vez, a mensagem dos Reformadores veio a ser sumariada em cinco slogans conhecidos como os solas da Reforma: sola Scriptura (“somente a Escritura”), solus Christus (“somente Cristo”), sola gratia (“somente a graça”), sola fide (“somente a fé”) e soli Deo gloria (“glória somente a de Deus”). O primeiro destes, sola Scriptura, foi o marco definidor do movimento.

Há somente três formas possíveis de autoridade espiritual. Primeiro, há a autoridade do Senhor e de sua revelação escrita. Segundo, há a autoridade da igreja e seus líderes. Terceiro, há a autoridade da razão humana.

Quando os Reformadores clamaram “somente a Escritura”, estavam expressando sua submissão à autoridade de Deus como expressa através da Bíblia. James Montgomery Boice declara o âmago da convicção deles: “Somente a Bíblia é nossa autoridade última – não o papa, nem a igreja, nem as tradições da igreja ou os concílios eclesiásticos, menos ainda intuições pessoais ou sentimentos subjetivos, mas somente a Escritura.”

A Reforma foi essencialmente uma crise sobre o tipo de autoridade que teria a primazia. Roma reivindicava a autoridade da igreja lado a lado com a Escritura e a tradição, a Escritura e o papa, a Escritura e os concílios eclesiásticos. Os Reformadores, porém, criam que a autoridade pertencia exclusivamente à Escritura. Schaff escreve:

Enquanto os humanistas retrocediam aos antigos clássicos e reviviam o espírito do Paganismo grego e romano, os Reformadores voltaram às santas Escrituras nos idiomas originais e reviveram o espírito do Cristianismo apostólico. Foram incendiados por um entusiasmo pelo evangelho, tal como nunca fora conhecido desde os dias de Paulo. Cristo se ergueu do túmulo das tradições humanas e pregava novamente suas palavras de vida e poder. A Bíblia, até então um livro somente dos sacerdotes, agora era traduzida outra vez e melhor que nunca para os idiomas vernaculares da Europa, e se tornou um livro do povo. Cada cristão podia doravante ir à fonte-mestra da inspiração e sentar-se aos pés do Divino Mestre, sem permissão e intervenção sacerdotais.

Steven J. Lawson. Pilares da graça. Editora Fiel, 2016.

 

 

Às vezes, a Reforma é descrita em termos de expressões representativas, como “somente pela graça” (sola gratia), “somente pela Escritura” (sola scriptura) e “somente pela fé” (sola fide). Já vimos o que o reformador queria dizer com somente pela graça; o que, porém, queria dizer com sola scriptura e sola fide? Com esses brados de guerra, Lutero não queria denotar a mesma coisa que alguns protestantes modernos defendem. Segundo ele, a Palavra de Deus é, em primeiro lugar, Cristo e, em segundo lugar, a Palavra pregada ou falada. Lutero gostava de enfatizar que a fé vem quando alguém ouve a promessa de Deus (Romanos 10:17) por estar ciente de que é mais fácil nos distanciarmos do que lemos do que tapar os ouvidos ao que escutamos.

Apenas em um terceiro nível Lutero relacionava a Palavra de Deus às palavras escritas da Bíblia. A Bíblia é, em vez disso, “o manto e a manjedoura na qual Cristo jaz […] A manta é simples e humilde, mas caro é o tesouro, Cristo, que jaz nela” (LW, 35, p. 236). “Algo realmente revolucionário sobre a posição de Lutero [foi] sua insistência de que todas as tradições deveriam ser testadas em paralelo com a Escritura e que, além dos mandamentos explícitos da Bíblia, a liberdade cristã é como um campo vasto e aberto” (Marshall, 1996, p. 62).

Lindberg, Carter. História da Reforma. 1. ed. 2017. Editora: Thomas Nelson Brasil.

 

 

Graça na Reforma

A mensagem reformada de Lutero acerca da salvação somente pela graça não poderia ter parecido mais diferente em comparação com seu antigo ensinamento pré-reformado sobre a salvação pela graça. E foi assim que ele começou a falar: “Não é justo aquele que muito faz, mas aquele que, sem obras, crê muito em Cristo”.72 Aqui, a graça não trata de Deus construir sobre nossas obras justas ou de nos ajudar a realizá-las.

Lutero começava a ver que é Deus quem “justifica os ímpios” (Romanos 4.5), e não apenas quem reconhece e recompensa aqueles que conseguem tornar-se piedosos. Deus não é quem tem de edificar sobre nossos fundamentos; ele cria a vida para nós. E, em vez de buscar ajuda e, finalmente, depender de si mesmo, Lutero voltava a depender inteiramente de Cristo, em quem toda a justiça é realizada. “A lei diz: ‘faz isso’, e isso nunca é feito. A graça diz: ‘crê nisso’, e tudo já foi feito.”

Aqui, Lutero encontrou uma mensagem tão boa que quase parecia incrível. Era uma boa-nova para o fracasso repetido, notícia de um Deus que vem, não para o justo, mas para os pecadores (Mateus 9.13).

Michael Reeves e Tim Chester. Por que a Reforma ainda é importante. Editora Fiel. 1Ed em Português. 2017.

 

 

SINOPSE III

 

A graça no contexto da Reforma revela duas realidades: a corrupção da doutrina da graça; e a restauração da doutrina da graça.

 

 

IV – A GRAÇA NO CONTEXTO CONTEMPORANEO

 

1- A graça barateada.

 

Há muito a expressão “graça barata” foi introduzida na literatura para expressar a vida cristã nominal ou mundanizada. De fato, o evangelho expresso por alguns ensinadores não reflete mais a graça. Parece que quanto mais crescem, menos influência os evangélicos estão causando na sociedade. Urge voltar para o Evangelho da genuína graça de Deus.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Um dos exemplos mais conhecidos desse tipo de posição é o de Brennan Manning, incensado pelos emergentes. Ele declarou recentemente não ver nada demais em alguns cristãos serem homossexuais. Manning, que é americano e foi batizado como Richard Francis Xavier, é ex-frade franciscano, formado em Teologia e Filosofia, e autor de livros como O evangelho maltrapilho, A assinatura de Jesus, Convite à loucura, O impostor que vive em mim e O obstinado amor de Deus, todos já publicados no Brasil.

Ele é muito conhecido por defender um estilo de vida simples e abnegado como algo central para a vida cristã. Conforme diz sua própria apresentação, além de ter vivido em clausura e contemplação, chegou a habitar voluntariamente entre as populações carentes nos Estados Unidos e na Europa, foi ajudante de pedreiro na Espanha, carregou água para populações rurais, lavou pratos na França e deu apoio espiritual a presidiários na Suíça. Outro detalhe é que, em suas palestras, os temas de Manning sempre são invariavelmente amor e graça, porém a graça que ele apresenta assemelha-se, muitas vezes, ao que Dietrich Bonhoeffer, em seu livro Discipulado, chamou de “graça barata”.

Apesar de a Bíblia, como já foi dito séculos atrás, mostrar que Deus ama o pecador, mas abomina o pecado (Jo 3.16; lTs 4.1-8; lPe 1.13-16), o Deus de Manning, muitas vezes, parece ser diferente: ama o pecador, mas sem se importar com o pecado. E esse discurso é recepcionado prazerosamente pelos emergentes, que veem em Manning um dos exemplos máximos de espiritualidade em nossos dias.

O escritor Andy Comiskey, diretor do ministério Desert Stream nos Estados Unidos, que tanto evangeliza homossexuais como discípula e acompanha os que entre eles se convertem a Cristo, em artigo publicado no site Pastoral Care Ministries, intitulado “O perigo da graça sem a verdade” (http://leannepayne.

com/articles/displayarticle.php?articleid=5), conta sua experiência com Manning.

Inicialmente, ele destaca que as mensagens de Manning, como já falamos, são sempre sobre o mesmo tema: amor. Por isso, a princípio, sentiu-se atraído pelas suas palestras e livros, mas logo ficou incomodado ao perceber que o amor que pregava Manning tem muito pouco a ver com o amor de Deus como ensina a Bíblia; pois não é o amor que, além de perdoar os nossos pecados, muda nosso comportamento e, nos momentos de fraqueza em nossa caminhada espiritual, não apenas nos abraça, mas também nos restaura. Ao contrário, é um amor que aceita a nossa perversidade sem se incomodar, que perdoa-nos sem se preocupar com nossa mudança de vida. Comiskey ficou preocupado com isso e, então, resolveu marcar um encontro com Manning para conversar sobre o assunto.

Daniel., Silas. A Sedução das Novas Teologias. Editora: CPAD. pag. 55-56.

 

 

Em seu cotidiano, o homem medieval se via cercado, por toda parte, de imagens que lhe serviam de aviso sobre a vida eterna e como alcançá-la.

Como dissera Gregório, o Grande (f. 604), Papa do início da idade medieval: “imagens são o livro dos leigos”. Igrejas medievais apresentavam a Bíblia e a vida dos santos em pedras, vitrais e madeira.

O indivíduo medieval não compartimentalizava a vida nas esferas sagrada e secular. Desse modo, os “livros dos leigos” eram evidentes na fonte da cidade e na prefeitura, talhados em portas e pintados em paredes, tanto de casas quanto de edifícios públicos.

Seja onde as pessoas andassem, trabalhassem e se reunissem para tratar de notícias e boatos, haveria lembretes religiosos de sua origem e de seu destino, quer fosse o céu, quer fosse o inferno.

Uma vez que o inferno não era a opção preferida, a Igreja e seus teólogos desenvolveram uma série de práticas e exercícios para ajudar pessoas a evitá-lo. A ironia era que, ao tentar prover segurança em um mundo inseguro, a Igreja espelhava, em grande medida, os novos desenvolvimentos urbanos e econômicos que exacerbavam a insegurança humana. Suspenso entre esperança e medo, o indivíduo tinha que alcançar seu propósito por intermédio de todo um sistema de serviços quid pro quo que refletiam a nova “mentalidade fiscal” do burguês urbano, absorvido na crescente economia de lucro. Tomado como um todo, a cristandade do fim da Idade Média parecia tão baseada em performance quanto os novos empreendimentos da época.

O próprio esforço da teologia e prática pastoral do fim da idade medieval de prover segurança apenas levava um mundo inseguro a uma insegurança ainda maior e à incerteza sobre a salvação. Uma das ideias escolásticas-chave que levaram a essa incerteza sobre a salvação era expressa na frase facere quod in se est: “faz o que está dentro de ti; faz teu melhor”. Ou seja, lutar para amar a Deus da melhor forma possível — por mais fraca que seja — fará com que ele recompense os esforços de alguém com a graça necessária para fazer algo ainda melhor. A vida de peregrinação do cristão em direção à cidade celestial era cada vez mais percebida não apenas do ponto de vista literal, mas como também do teológico, na forma de uma economia da salvação. Conforme mencionado anteriormente, essa “matemática da salvação” se concentrava no alcance máximo de boas obras com o fim de merecer a recompensa de Deus. Tanto na religião quanto no início do capitalismo, o trabalho contratual merecia recompensa. Indivíduos eram responsáveis por sua própria vida, pela sociedade e pelo mundo dentro dos limites estipulados por Deus e com base neles. Cuidado pastoral tinha a intenção de prover um meio de segurança por meio da participação humana no processo da salvação. Essa teologia, no entanto, aumentava o senso de crise porque lançava as pessoas de volta aos seus próprios recursos. Isto é: não importa quão cheias de graça eram suas obras, o fardo da prova para essas boas obras caía outra vez nos ombros do praticante, dentre os quais o mais sensível passava a se perguntar como poderia saber se tinha feito o melhor.

Lindberg, Carter. História da Reforma. 1. ed. 2017. Editora: Thomas Nelson Brasil.

 

 

2- O valor da graça.

 

Escrevendo aos coríntios, o apóstolo da graça afirmou “Vocês foram comprados por preço” (1Co 7.23 – NAA). Paulo foi um defensor do Evangelho da graça. Em seu tempo ele não aceitou de forma alguma os penduricalhos que alguns cristãos quiseram por ao Evangelho. O apóstolo sabia do alto preço que custou a nossa salvação – o sangue de Cristo. A salvação é de graça, mas o seu preço custou caro. Duas coisas precisam ser observadas neste texto. Primeiramente, a voz passiva do verbo grego indica que outra pessoa fez a transação por nós e o tempo verbal (aoristo) diz que essa transação foi completa. Não há mérito humano, Cristo pagou o preço e fez tudo por nós. Nada mais precisa ser acrescentado à nossa salvação. Isso é graça.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

A maioria das pessoas, entretanto, ficavam agradecidas por qualquer ajuda que pudessem obter em sua busca pela salvação. Ossos de santos e outras relíquias eram avidamente coletados e venerados, com a convicção de sua eficácia em reduzir sentenças ao purgatório. Assim, a igreja do Castelo de Wittenberg era dedicada a Todos os Santos; dentro dele, o príncipe de Lutero, Frederico III, guardava uma das maiores coleções de relíquias de seu tempo: mais de 19 mil peças, que custavam mais de 1 milhão e 900 mil dias de indulgência. Essa intoxicação piedosa com números estava também evidente na celebração de missas. Em 1517, foram celebradas mais de 9 mil missas na igreja de Todos os Santos do Castelo de Wittenberg, algo que consumiu 40.932 velas (cerca de 3.150 quilos de cera!), custando 1.112 moedas de ouro (Brecht, 1985, p. 118).

A coleção de relíquias de Frederico incluía um pedaço da sarça ardente, fuligem da fornalha ardente, leite de Maria e um pedaço do berço de Jesus, um espinho de sua coroa e um pedaço da cruz, sem contar outros tesouros, adquiridos a um alto custo (estimado em cerca de 200 mil moedas de ouro) e exibidos abundantemente em mostruários caros (Hillerbrand, 1964, p. 47–9; Strehle e Kunz, 1998, p. 77–101; Kühne, 2001, p. 92–115; Junghans, 2003, p. 26). O cardeal Alberto, contemporâneo de Lutero, cria que sua coleção de relíquias representava o equivalente a 39.245.120 anos fora do purgatório (Swanson, 1995, p. 217–25).

A prosperidade extraordinária do negócio de indulgências era abastecida tanto pelo desejo dos que criam quanto pelo interesse financeiro da Igreja. Se isso soa surpreendente, pense na atratividade e no sucesso de alguns evangelistas do nosso tempo, que, usando meios de comunicação de massa, prometem satisfazer desejos modernos de controlar a Deus e vencer suas inseguranças. A cristandade do fim da era medieval foi caracterizada como tendo um “imenso anseio pelo divino”. Estudiosos ficaram, às vezes, perplexos quanto ao grande aumento de piedade popular no fim da Idade Média. Nenhum outro período celebrou tantos festivais e procissões religiosas, nem se dedicou, com o mesmo afinco, à construção de igrejas.

Peregrinações em massa, normalmente desencadeadas por algum suposto milagre e associadas com a Ceia do Senhor, se espalhavam como fogo. O lado obscuro dessa devoção era a erupção de ataques contra os judeus e pessoas tidas como bruxas. Milagres pareciam se multiplicar por toda parte no império, e a veneração dos santos alcançou seu auge, mudando de forma:  eles passaram a ser retratados em tamanho real, individualizados e trajados com vestes contemporâneas. Os santos estavam, agora, alinhados com a organização social e transformados em padroeiros para cada exigência humana. A prática de dar ao bebê o nome de um santo se tornou tão difundida que os antigos nomes alemães praticamente desapareceram. Inseguras sobre a salvação, as pessoas tentavam garanti-la tomando posse de mediadores entre elas e Deus.

Lindberg, Carter. História da Reforma. 1. ed. 2017. Editora: Thomas Nelson Brasil.

 

 

A completa falta de controle sobre o próprio destino, conforme era a sorte dos homens expostos nos mercados de escravos, nos dias de Paulo, era algo sentido intensamente, por causa do fato de ser isso uma realidade brutal na antiga estrutura social. O homem moderno, que nada tem conhecido sobre a escravidão em primeira mão, não pode apreciar plenamente o impacto das ilustrações apresentadas por Paulo, que incluem certos aspectos próprios do negócio de compra e venda de escravos. O homem ou a mulher comprados por um negociante de escravos se tornava a propriedade dele no sentido mais estrito da palavra. Tinha tal senhor a liberdade de matar um escravo seu, o que geralmente era feito através da crucificação. E não havia lei que pudesse chamá-lo a prestar contas perante a justiça. De fato, qualquer tentativa nesse sentido teria sido reputada ridícula. Certa quantia em dinheiro adquiria o direito de usar legalmente a pessoa escravizada; e se havia alguns poucos senhores humanos, havia um número enorme de senhores desumanos, do que resultavam muitíssimas atrocidades contra toda a razão e a dignidade humanas. O uso da instituição da escravatura dava a entender os seguintes pontos:

A sujeição total do escravo a seu senhor.

A posse completa do escravo por seu senhor.

O poder de vida e morte que o senhor exercia sobre o escravo.

A «destruição» da independência do escravo.

A integração da personalidade do escravo na personalidade de seu senhor.

Somente a morte física podia livrar um escravo do domínio de seu senhor, ou, se um senhor assim quisesse fazê-lo, poderia vender um escravo seu a outrem, havendo assim a transferência de direitos sobre o o citado escravo.

Neste versículo, o apóstolo Paulo enfatiza a exclusividade da posse do senhor de escravos, a fim de descrever uma situação espiritual.

(Comparar com o trecho de Rom. 7:2). Todo escravo só podia ter um senhor de cada vez, o qual exercia toda a autoridade sobre ele.

Paulo lança mão da instituição da escravatura a fim de ilustrar o seu ponto de que o crente deve viver em total submissão a Cristo; a fim de ilustrar que Jesus Cristo, por direito de compra, através de seu sangue expiatório, que libertou os escravos do pecado da tirania do pecado, tem direitos totais sobre o crente; a fim de ilustrar o fato de que, possuindo «direitos totais», Cristo tem autoridade completa sobre o crente; a fim de ilustrar que o crente deixa de ser um indivíduo, mas que a sua personalidade começa a ser integrada na vontade do seu Senhor; e a fim de ilustrar que nem mesmo a morte física pode livrar o crente de sua total imersão na personalidade de Cristo, porquanto lhe pertencemos tanto na vida como na morte. (Ver Rom. 14:8).

A enormidade do preço·. O ponto central deste versículo gira em torno do «preço» que foi pago para garantir a libertação do crente. A redenção faz com que o crente se torne totalmente pertencente a Cristo, visto que o preço pago pelo Filho de Deus foi enorme. (Ver as notas expositivas sobre a «expiação», em Rom. 5:11; e sobre a «propiciação», em Rom. 3:25). A «enormidade» do preço foi exposta visando impressionar os crentes acerca da totalidade do senhorio de Cristo sobre a sua igreja e sobre cada indivíduo existente na mesma.

O presente versículo é paralelo ao trecho de I Cor. 6:20, com uma aplicação diferente, embora ambas essas passagens falem sobre o «preço» pago para conduzir os homens de volta a Deus. (Ver as notas expositivas sobre I Cor. 6:20, onde essas ideias são expandidas). A ideia de «ser comprado por preço», isto é, a noção de «resgate», são expressões comuns do N.T. para dar a ideia de «expiação», o que é ilustrado através de outras referências bíblicas, nas notas expositivas acima aludidas. Ali, a posse «exclusiva» é usada como argumento contra a imoralidade, que consiste do abuso do corpo de maneiras não aprovadas pelo Senhor Jesus.

Aqui, entretanto, a posse exclusiva é mencionada a fim de mostrar como o crente não pode deixar-se escravizar por outro homem (na outra porção deste versículo), embora, de maneira geral, isso também ilustra a qualidade da nossa submissão a Cristo, mostrando que nossa servidão é total, e que todos os crentes são escravos dessa ordem. Disso se conclui que é questão indiferente que um crente, que nasceu escravo ou que se tornou escravo no decurso de seus anos, venha a procurar tornar-se livre. Pois, sem importar que estejam «livres» ou em «servidão», conforme os homens consideram a questão, a verdade é que todos os crentes se encontram em verdadeira servidão ao verdadeiro Senhor, Jesus Cristo, ainda que seja assim que realmente desfrutem da mais completa liberdade que os homens possam conhecer.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 108.

 

 

A primeira parte desse versículo é uma repetição exata de 6.20, mas as palavras estão colocadas num contexto completamente diferente. No capítulo anterior, Paulo escreveu sobre prostitutas e instruiu os coríntios para que fugissem da imoralidade sexual. Ele lembrou a eles que o corpo de cada um era um templo do Espírito Santo e depois acrescentou que os coríntios pertenciam a Cristo, porque foram comprados por um preço. Agora ele coloca as mesmas palavras, “vocês foram comprados por um preço”, no contexto de Cristo libertar os escravos do pecado e da morte. Cristo libertou os coríntios do pecado e pagou por eles com o preço de seu sangue (ver 1Pe 1.18,19). Aqueles que foram comprados por Cristo devem ter plena segurança de sua salvação.

Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento I Coríntios. Editora Cultura Cristã. pag. 331-332.

 

 

SINOPSE IV

 

No contexto contemporâneo é preciso tomar cuidado com o barateamento da graça, e priorizarmos o valor de tão grande doutrina cristã.

 

 

AUXÍLIO TEOLÓGICO

 

SOBRE A CULPA

“Algum tempo atrás, li a história de um menino que estava atirando pedras com um estilingue. Ele nunca conseguia acertar o alvo. Quando retornou ao quintal da vovó, avistou o pato de estimação da velha senhora. Num impulso, fez pontaria e mandou ver. A pedra atingiu o pato, e este morreu. Apavorado, o menino escondeu a ave na pilha de lenha, apenas para levantar os olhos e descobrir que sua irmã estava observando. […] A cada momento de sua vida, seu acusador está arquivando acusações contra você. Ele tem anotado cada erro, e marcado cada escorregão. Negligencie suas prioridades, e ele [o acusador] tomara nota disso. Abandone suas promessas, e ele registrara tudo. Tente esquecer seu passado; ele o lembrará. Tente desfazer seus erros; ele o frustrará” (LUCADO, Max. Nas Garras da Graça: Você não pode escapar do seu amor. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.170).

 

 

CONCLUSÃO

 

Nesta lição, partimos da necessidade de compreender corretamente o que é a graça de Deus. Vimos como a graça de Deus foi entendida em diferentes contextos. A Bíblia é sempre a régua através da qual qualquer entendimento da doutrina da graça precisa ser medido. Como verberou na Reforma, a Escritura continua ecoando em nossos dias – a salvação é somente pela graça.

 

 

REVISANDO O CONTEUDO

 

1- O que se quer dizer com a expressão “a graça é divina”?

Ao se afirmar que a graça é divina, se quer dizer com isso que a sua origem está inteiramente em Deus.

 

2- Qual é a diferença entre a graça universal e a “graça universalista”?

A graça é extensiva a todos os homens. Ela e universal. Contudo, para ser universal, não significa dizer que ela é universalista, que quer dizer que todos independente de credo, religião ou arrependimento, serão salvos.

 

3- Segundo a lição, como surge a Reforma Protestante?

A Reforma Protestante surge como uma reação à corrupção da doutrina da graça.

 

4- O que quer dizer a expressão “graça barata”?

A expressão “graça barata” diz respeito à vida cristã nominal ou mundanizada.

 

5- O que o apóstolo Paulo afirmou ao escrever aos coríntios?

Escrevendo aos coríntios, o apóstolo da graça afirmou: “Vocês foram comprados por preço” (1Co 7.23 – NAA).

 

 

VOCABULÁRIO

 

Lombo: Cada uma das regiões simétricas situadas de um lado e do outro da coluna vertebral, abaixo ou após as costelas.

 

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

 

  Acesse mais:  Lições Bíblicas do 2° Trimestre 2022 

 

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