3 LIÇÃO 4 TRI 2021 A CONVERSÃO DE SAULO DE TARSO

  3 LIÇÃO 4 TRI 2021 A Conversão de Saulo de Tarso  

3 LIÇÃO 4 TRI 2021 A CONVERSÃO DE SAULO DE TARSO

   

TEXTO AUREO

“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.3,4)    

VERDADE PRATICA

A verdadeira conversão a Cristo leva em conta o arrependimento, a fé em Jesus e uma completa transformação no pensamento, vontade e ação do homem.

LEITURA DIARIA

Segunda – Ef 2.8; Tt 2.11 A Graça de Deus opera na conversão

Terça – Rm 3.23-24 A graça é um favor outorgado por Deus na conversão

Quarta – Ef 4.22 Conversão é o despojamento do velho homem

Quinta – Ef 4.23,24 Conversão é o revestimento do novo homem

Sexta – Jo 16.7-8 O Espírito Santo atua para o arrependimento na conversão

Sábado – Sl 51.1; 2 Co 7.10 A conversão manifesta a tristeza pelo pecado    

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 9.1-9

1- E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo-sacerdote,

2- e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens, quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.

3- E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.

4- E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?

5- E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.

6- E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.

7- E os varões, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém.

8- E Saulo levantou-se da terra e. abrindo os olhos, não via a ninguém. E guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.

9 – E esteve três dias sem ver, e não comeu, nem bebeu.    

HINOS SUGERIDOS: 15, 18, 19 da Harpa Cristã

 

OBJETIVO GERAL

Asseverar que a salvação é por meio da graça, acompanhada de arrependimento e fé do pecador como resposta a salvação.

 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar a conversão de Saulo como ato da graça de Deus; Relacionar a conversão de Saulo com a doutrina bíblica da conversão; Elencar três faculdades interiores que são transformadas na conversão      

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Ao se encontrar com Jesus Cristo no caminho para Damasco, Saulo teve a sua vida completamente regenerada. A sua faculdade intelectual foi regenerada, pois seu encontro com o Senhor trouxe-lhe luz à mente. Sua faculdade emocional foi afetada, pois ao longo da vida do apóstolo, vemos sua profunda tristeza em perseguir seus irmãos em Cristo. E, final mente, a faculdade de sua vontade foi tocada. O apóstolo desejava apenas desgastar-se e deixar-se gastar pela causa do Evangelho. Assim, nada mais teria sentido para Paulo, senão, o de pregar o Cristo Crucificado. Que o Espirito Santo possa tocar nas faculdades intelectual, emocional e da vontade dos nossos alunos. Ore por isso. Clame por essa obra do céu.      

PONTO CENTRAL: Jesus nos salva por meio da graça e nós respondemos com arrependimentos e fé.

 

COMENTÁRIO INTRODUÇÃO

A conversão de Saulo de Tarso, indiscutivelmente, foi um dos mais importantes acontecimentos da história do Cristianismo. Saulo tornou-se um dos mais célebres defensores da doutrina de Cristo. Nesta lição, veremos como ele passou por uma mudança radical na forma de pensar acerca do nosso Senhor. No caminho para Damasco, de um modo poderoso, Jesus chamou à razão e entendimento de Saulo, e este mudou de atitude por meio de uma impactante experiência sobrenatural. Assim, se por um lado Cristo tomou a iniciativa; por outro, Saulo respondeu com arrependimento e fé.    

Comentário

  O ilustre escritor e pregador pastor Hernandes Dias Lopes escreveu que “Paulo não se converteu; ele foi convertido”. Foi, sem dúvida, uma conversão revolucionária na história do cristianismo. Sua conversão não foi nem mesmo uma decisão de Paulo, mas foi o próprio Cristo que fez valer a graça soberana de Deus, porque ele estava, de fato, perseguindo o nome de Jesus. Lucas, o historiador de Atos dos Apóstolos, foi quem deu destaque a essa conversão, descrevendo-a em outros textos de Atos nos capítulos 22.4-16 e 26.12-18. Naqueles dias, a identificação de “igreja” ainda não era conhecida, e o nome que identificava os seguidores de Jesus era “o Caminho” (At 9.2, ARA). Depois, esse nome “o caminho” aparece de novo em 19.9,23 e 22.4; 24.14 e 24.22. Mesmo que Paulo não se refira à Igreja como “o caminho”, a alusão a esse nome fora feita por Jesus, que falava “do caminho” como o que leva à vida, mas o que leva à perdição é “o caminho da perdição” (Mt 7.13,14). Mas Jesus não quis identificar esse nome como a sua Igreja. Em João 14.6, Jesus refere-se “ao caminho” como sendo Ele mesmo. A experiência dramática da luz resplandecente sobre Saulo de Tarso, derrubando-o por terra e deixando-o cego, foi tão forte que ele teve que ser conduzido a uma casa em Damasco (At 9.3,4). Nada diz que ele estivesse montado num cavalo ou nos lombos de um camelo, como alguns pregadores afoitamente declaram. Os homens que o acompanhavam levantaram-no e conduziram-no à casa onde ele ficaria por três dias, sem comer nem beber, mas aguardando o que haveria de acontecer consigo. Uma mudança radical de comportamento foi notada em Saulo não apenas fisicamente, mas a mudança de pensamento acerca de Cristo, a quem ele perseguia, também foi percebida. Os adeptos do determinismo preferem afirmar que ele não se decidira por Jesus, mas foi o próprio Jesus quem se decidiu por ele. Discordamos dessa última afirmação calvinista. Cremos, sim, pelo fato de Saulo estar bloqueado para entender o projeto de Deus, foi manifestada a sua graça preveniente, isto é, independentemente do estado pecaminoso do homem que está morto no pecado, Deus derrama da sua graça sobre o pecador para que ele possa crer. A graça divina não foi uma imposição de Deus, mas uma demonstração de sua misericórdia para com o orgulhoso Saulo de Tarso. Por meio da graça preveniente de Deus, Saulo pôde, por seu livre-arbítrio, fazer a escolha de reconhecer a Cristo na sua vida. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.    

 

A conversão de Paulo foi a mais importante da história. Talvez nenhum fato seja mais marcante na história da igreja depois do Pentecostes. Nenhum homem exerceu tanta influência no cristianismo. Nenhum homem foi tão notório na história da humanidade. Lucas ficou tão impressionado com a importância da conversão de Paulo que ele a relata três vezes em Atos (At 9, 22, 26). Destacamos alguns pontos sobre a conversão de Paulo. Lopes, Hernandes Dias. Paulo, o Maior Líder do Cristianismo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2009.  

 

Embora estivesse colecionando lembranças amargas, Saulo decidira continuar a luta. Irritado com a propagação da Igreja, prepara uma expedição a Damasco, onde, segundo ouvira falar, vários nazarenos haviam se refugiado por causa da perseguição desencadeada em Jerusalém. Além disso, pregavam ativamente a Cristo nas várias sinagogas. Saulo achava que poderia abater definitivamente os seguidores de Jesus se os expulsasse dessa fortaleza. Acompanhado por uma tropa de guardas do Templo, saiu de Jerusalém pela Porta de Damasco respirando ameaças e mortes. A distância até Damasco era de aproximadamente 240 quilômetros. Apesar de a estrada ser ladeada por uma das paisagens mais belas do mundo, o propósito de Saulo não era apreciar o cenário; era acabar com a Igreja de Cristo. A região achava-se repleta de lembranças históricas. Dois mil anos antes, Elieser, o damasceno, tornara-se servo de Abraão e viajara por aquela mesma estrada. Naamã passara por aquele caminho quando fora ter com Eliseu. Mas Saulo não queria pensar nessas coisas, pois estava dominado pelo ódio. Planejara caçar os cristãos e levá-los acorrentados a Jerusalém Para que fossem julgados e condenados pelo Sinédrio. Na túnica, trazia uma carta selada do sumo sacerdote aos rabinos de Damasco, ordenando que se lhe desse toda a assistência, pois era o representante legal das autoridades judaicas. O sol ardia quando eles chegaram às proximidades da velha cidade. À sua frente, estendia-se um vale bem irrigado e protegido por densas florestas com árvores de todo tipo. Lá estavam a palmeira com suas delicadas folhas e o álamo. Os vinhedos, nas encostas, eram os mais ricos de toda a Síria. Os viajantes geralmente abrigavam-se sob essas árvores quando o sol se encontrava no auge de sua força. Em sua impaciência, porém, Saulo não quis descansar. Na sinagoga, todos já tinham sido avisados de sua chegada. Quanto aos nazarenos, ainda se lembravam da confusão que ele criara em Jerusalém, por isso tremiam com a ideia de enfrentar novamente a perseguição. Isso significava que famílias seriam separadas e reduzidas à pobreza, ou até mortas. Haviam, porém, decidido manter-se fiéis a Cristo não importando as consequências. O meio-dia encontrou Saulo na periferia da cidade, apressando-se em direção a ela. As estradas estavam desertas àquela hora. Até mesmo o gado havia procurado a sombra dos arvoredos e aí se acomodara até que passasse o calor. Apesar de toda aquela calmaria, Saulo não parará a fim de descansar. Os guardas do Templo que o acompanhavam, embora surpresos, não ousavam fazer-lhe qualquer observação. O pequeno grupo aproximou-se do alto de um monte de onde se podia ver os prédios rebrilhando ao sol. Segundo o poeta, Damasco era “um punhado de pérolas numa taça de esmeralda”. Ball. Charles Ferguson. A vida e os Tempos do Apostolo Paulo. Editora CPAD. pag. 36.  

 

UMA LUZ OFUSCANTE; UMA VOZ DO CÉU. Uma obra-prima de Caravaggio. O perseguidor se transforma em pregador. A festa dedicada à conversão de Paulo é celebrada todos os anos, em 25 de janeiro, em muitas igrejas ocidentais, incluindo a minha. O acontecimento se transformou em uma metáfora cultural, e tradições, por um lado, e uso proverbial, por outro, conspiram juntos para fazerem de Saulo de Tarso, a partir de sua experiência de conversão, tanto famoso quanto obscuro. O incidente, narrado (com variações interessantes) três vezes no livro de Atos, é claramente vital: a partir das próprias observações autobiográficas breves de Paulo em suas cartas, está óbvio que algo cataclísmico lhe sucedeu naquele dia. Mas o que exatamente aconteceu? E o que isso significava?

  1. T. Wright; traduzido por Elissamai Bauleo. Paulo: uma biografia. Editora Thomas Nelson Brasil, 1 Ed. 2018.

 

I – A CONVERSÃO DE SAULO: UM ATO DA GRAÇA DE DEUS

      1. A conversão de Saulo e sua experiência sobrenatural. Em Atos 9.3, Lucas narra a impactante experiência sobrenatural de Saulo no caminho para Damasco. Surpreendido pelo resplendor do céu, mais forte que a luz do sol do meio-dia, o perseguidor da igreja caiu por terra e ficou cego. Se pelos argumentos racionais Saulo não ouvia sobre Jesus, o Crucificado, “a luz que ofuscou seus olhos” trouxe a voz do próprio Senhor que o confrontou de forma impactante: “Saulo, Saulo, porque me persegues? (At 9.4). Com sua ida a Damasco, o perseguidor tinha a intenção de acabar de vez com os seguidores de Jesus, mas foi surpreendido por uma experiência sobrenatural pela qual nunca havia passado. Segundo seu próprio testemunho, o perseguidor viu literalmente a pessoa de Jesus, o Ressurreto, que o despojou de seu “ego” arrogante. Nessa visão, Saulo pôde compreender quem era Jesus e sua obra redentora no Calvário.  

Comentário

    Alguns estudiosos da vida de Paulo negam o fato de que, ao derrubá-lo por terra, o Espírito Santo imediatamente trabalhou no seu emocional. Jesus falou aos seus discípulos certa feita: “Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir” (Jo 16.13). Portanto, a conversão de Saulo de Tarso não foi algo compulsivo, nem um transe hipnótico. Deus não obrigou a Saulo aceitar sua graça, mas concedeu-a livre e espontaneamente. Saulo, impactado pela visão de Jesus, permitiu que seu emocional abrisse a porta para tocar-lhe sua razão e entendimento. No texto base de Atos 9.3, Lucas narrou que, quando Saulo viajava para Damasco, foi surpreendido por um resplendor do céu mais forte que a luz do sol do meio-dia, que o fez cair por terra e ficar completamente cego. Se, pelos argumentos racionais, Saulo não fazia concessões para ouvir sobre Jesus, o Crucificado, agora, “a luz que ofuscou seus olhos” trouxe a voz do próprio Senhor Jesus, que o confrontou de forma impactante. A voz de Jesus era: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.4). Na entrada da cidade, já bem perto de Damasco, sua intenção de entrar na cidade e acabar de vez com o grupo dos seguidores de Jesus, que ele tratava-os como hereges, foi surpreendido por uma experiência transcendental em sua vida. Ele, segundo seu próprio testemunho, pôde ver literalmente a Pessoa de Jesus, o Ressurreto, que o despojou do seu “ego” arrogante. Naquela visão, Saulo pôde entender quem era Jesus e o porquê da sua obra redentora no Calvário. Uma das qualidades do nosso pentecostalismo é deixar o Espírito Santo trabalhar livremente com o nosso emocional para alcançar o nosso racional. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.    

 

0Ao descerem o monte, um raio de luz, mais brilhante que o sol em todo o seu esplendor, veio subitamente sobre o pequeno grupo. Sua radiância era tanta que o sol pareceu enfraquecer. Eles ficaram ofuscados com o brilho e caíram por terra; alguns, de bruços para protegerem-se da luz, e outros com as mãos cobrindo os olhos, temendo aqueles raios. Admirados, entreolharam-se como que pedindo uma explicação do que houvera. Foi então que viram o seu chefe caído por terra, enquanto o animal, em que montara, mantinha-se perto dele amedrontado. Saulo falava com alguém, mas eles não viam o seu interlocutor. Embora parecesse uma voz, não lhe compreendiam as palavras. Agora os lábios de Saulo se moviam; tinha ele as mãos estendidas à sua frente como se estivesse cego. Saulo tremia da cabeça aos pés. Deitado no chão, sem nada ver, Saulo ouviu uma voz que lhe falava: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14). Perturbado com todos os pensamentos que o tinham perseguido desde a morte de Estêvão, temeroso, ousou perguntar: “Quem és tu, Senhor?” (At 26.15). “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 26.15). Na linguagem do amor, superior a tudo que já conhecera, ele ouve mui claramente: “Eu sou Jesus”. Seria este o Jesus que morrera? De repente, brota-lhe na alma a terrível compreensão de que estava errado. De fato, toda a sua vida fora um erro. O torvelinho que sentira, as perguntas que iam surgindo, a crescente convicção de que estivera lutando contra Deus – todos esses pensamentos pairavam diante de si com súbita clareza e, de tal forma, que não podia mais suportá-los. Todo o orgulho de sua origem farisaica, toda a dignidade do cargo e toda a arrogância advinda de sua reputação como o principal perseguidor do Cristianismo desmoronaram enquanto se achava ali, indefeso na estrada. Sua visão física lhe fora tirada para que a sua alma pudesse enxergar. Ele estava pensando nas palavras: “Por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrares contra os aguilhões”. Tais palavras eram próprias da vida campestre. Saulo vira muitas vezes o boi escoiceando o aguilhão, oferecendo inútil resistência. Em vez de obedecer a quem o dirigia e submeter-se a ele, o boi teimava e dava patadas nas varas que o dono usava para estimulá-lo. Era uma descrição mui apropriada da vida de Saulo. Ele estivera fazendo isso há meses, e como lhe fora difícil! Saíra para caçar os seguidores de Jesus; mas, em vez disso, descobriu que estava sendo caçado por Jesus, a quem perseguia. Essa foi a grande crise da vida de Saulo. Ele encontrou-se face a face com o Messias, e viu-se forçado a reconhecer que estava errado, e os nazarenos, certos: Jesus era o Cristo. Naquele momento, toda a sua luta cessou. Uma grande revolução, maior do que qualquer outra que já conhecera, teve lugar em seu íntimo. Estava quebrantado e abatido nas mãos daquEle que julgara ser seu inimigo. A rendição foi completa. Sua alma estava finalmente em paz. Ball. Charles Ferguson. A vida e os Tempos do Apostolo Paulo. Editora CPAD. pag. 36-37.  

 

 

Não há dúvida de que a experiência foi mística e profunda, e o momento decisivo dela terá ocorrido por volta do ano 35 d.C. Mas os detalhes ficaram por conta de seus seguidores, que os narraram muito depois, já sob efeito das lendas que se formaram a respeito. Os relatos estão nos Atos dos Apóstolos, nos capítulos 9, 22 e 26, e são contraditórios entre si, o que demonstra que o autor sabia dessas incongruências, mas preferiu manter as versões correntes: tinham o aval de fiéis de lugares diferentes. Elas confirmam que Saul partia para Damasco, em missão nas sinagogas daquela cidade síria, para combater o que considerava ser um desvio no interior da fé judaica. No percurso, foi tomado, de alguma forma, por Cristo, que se apresentou de forma direta ao jovem. As diferenças estão nos detalhes do ocorrido. Um relato, que parece ser mais antigo, está logo no início dos Atos dos Apóstolos e descreve a versão que deve ter sido corrente em Damasco: Durante a viagem, quando já estava perto de Damasco, de repente viu-se cercado por uma luz que vinha do céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saul, Saul, por que me persegues?” Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” A voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo. Agora, levanta-te, entra na cidade, e ali te será dito o que deves fazer”. Os homens que acompanhavam Saulo ficaram mudos de espanto, porque ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo levantou-se do chão e abriu os olhos, mas não conseguia ver nada. Então tomaram-no pela mão e o fizeram entrar em Damasco. Saulo ficou três dias sem poder ver. E não comeu nem bebeu (At 9,3-9). Vasconcelos. Pedro L. Funari. Pedro Paulo A.,. Paulo de Tarso Um Apóstolo para as Nações. Editora Paulus. Editora Paulus. pag. 22.          

 

2. A iniciativa de Jesus para transformar a mente de Saulo.

O impacto da visão resplandecente no caminho para Damasco tomou Saulo de surpresa. Sob o efeito do sucesso em Jerusalém contra os seguidores de Jesus, imbuído de uma coragem irracional, e bem relacionado com a casta sacerdotal, Saulo havia pedido “carta branca” das autoridades religiosas de Jerusalém para perseguir os seguidores de Jesus, com o mesmo rigor, em Damasco. Entretanto, dada a dureza do coração de Saulo, o Senhor tomou a iniciativa de sacudir a sua estrutura física, psicológica e espiritual agindo pessoalmente na sua direção.  

Comentário

  O impacto da visão resplandecente no caminho de Damasco tomou a Saulo de surpresa. Esse impacto da visão gloriosa na sua vida moveu com o emocional de Saulo, e ele pôde crer que o seu perseguido era o Cristo. Ele ainda estava sob o efeito do sucesso que teve em Jerusalém contra os seguidores de Jesus. Imbuído de uma coragem irracional, Saulo de Tarso, bem relacionado com a casta sacerdotal, tinha “carta branca” das autoridades sacerdotais de Jerusalém para proceder com o mesmo rigor em Damasco contra os seguidores de Cristo. Ele estava acompanhado por alguns outros fanáticos judeus e fariseus que pensavam como ele para acabar com o grupo de crentes em Cristo que havia em Damasco e que se reuniam em várias sinagogas na cidade. Dada a dureza de coração de Saulo, o Senhor, que o havia escolhido para ser o apóstolo dos gentios, tomou a iniciativa para sacudir com a estrutura física, mental e espiritual de Saulo, agindo pessoalmente com ele. A experiência da conversão de Paulo é crítica para que compreendamos este homem, cujo comprometimento total com Jesus está refletido não somente no Livro de Atos, mas também em suas 13 cartas encontradas em nosso Novo Testamento. Lucas nos dá nada menos que três versões da história da conversão […], duas das quais representam a história contada por Paulo, primeiramente a uma audiência de judeus e depois a uma de gentios. Está claro que a aparição de Cristo ressuscitado ao apóstolo foi fundamental, não somente para a conversão, mas também para sua consciência de que ele havia sido separado por Deus como uma testemunha e um apóstolo para o mundo. (RICHARDS, 2007, p. 264). Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.    

 

O ENCONTRO COM CRISTO Nada indica que o jovem Saul tenha conhecido Jesus de Nazaré. Nenhum documento antigo se refere a isso e tudo indica o contrário. A chegada do jovem Saul a Jerusalém parece ter ocorrido logo após a morte de Jesus. Os relatos sobre o encontro místico de Saul com Cristo são poucos e contraditórios. Paulo não fala disso com detalhes em lugar algum. É vago ao extremo: “Eu mesmo fui alcançado pelo Cristo Jesus” (Fl 3,12). A expressão no original grego significa talvez algo mais forte: Paulo foi tomado. Em outro lugar ele diz: o evangelho por mim anunciado não é segundo um ser humano. Pois eu não o recebi de um ser humano (nem o aprendi), mas por uma revelação de Jesus Cristo […] Quando, porém, Deus, que me separou desde o ventre de minha mãe, me chamou por sua graça, houve por bem revelar seu filho em mim… (Gl 1,11-12.15-16) Vasconcelos. Pedro L. Funari. Pedro Paulo A.,. Paulo de Tarso Um Apóstolo para as Nações. Editora Paulus. Editora Paulus. pag. 22.    

   3. A graça salvadora se manifestou a Saulo.

Na Carta aos Efésios 2.8, ele diz: “Pela graça sois salvos por meio da fé, isto não vem de vós, é dom de Deus”. Na epistola a Tito, diz também: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Logo, o ponto de partida da experiência de salvação de todos os homens é a graça de Deus. Essa graça é o favor imerecido de Deus em que sua justiça é satisfeita na morte expiatória de Jesus. Aqui, o mérito todo é de Cristo. Aos Romanos, ele escreve: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justifica dos gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.23-24). Ou seja, a graça é favor outorgado por Deus aos pecadores que estão debaixo de sua ira. Evidentemente, a conversão de Saulo foi mais do que um convencimento intelectual sobre Jesus; ela foi fruto da obra regeneradora do Espirito Santo em sua vida, levando-o a confessar que Jesus era o Senhor e Salvador de sua vida.    

Comentário

  Paulo não se converteu; ele foi convertido A causa da conversão de Paulo foi a graça soberana de Deus. Ele não se decidiu por Cristo; estava perseguindo Cristo. Na verdade, foi Cristo quem se decidiu por ele. Paulo estava caçando os cristãos para prendê-los, e Cristo estava caçando Paulo para salvá-lo (At 9.1-6). Não era Paulo que estava buscando a Jesus; era Jesus quem estava buscando a Paulo. A salvação de Paulo não foi iniciativa dele; foi iniciativa de Jesus. Não foi Paulo quem clamou por Jesus; foi Jesus quem chamou pelo nome de Paulo. A salvação é obra exclusiva de Deus. Não é o homem que se reconcilia com Deus; é Deus quem está em Cristo reconciliando consigo o mundo (2Co 5.18). Paulo não é salvo por seus méritos; ele era uma fera selvagem, um perseguidor implacável, um assassino insensível. Seus predicados religiosos, nos quais confiava (circuncidado, fariseu, hebreu de hebreus, da tribo de Benjamim), ele considerou como esterco (Fp 3.8, ARC). A nossa justiça aos olhos de Deus não passa de trapo de imundícia (Is 64.6). Lopes, Hernandes Dias. Paulo, o Maior Líder do Cristianismo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2009.  

  1. O vocábulo: No grego é charis. A palavra traduzida por «graça» envolve muitos sentidos. Sigmfica graciosidade, atrativos (ver Josefo, Antiq. 2,231), favor, cuidados ou ajuda graciosa, boa vontade (ver Atos 11:2; Rom. 3:24 e Gál. 1:15), saudação nas cartas, bênção expressa no fim das mesmas ou o desejo de bem-estar acerca dos leitores dessas cartas. Isso ocorre em todas as epístolas de Paulo, aparecendo ali os significados de aplicação prática da boa vontade, favor, dom gracioso, feito ou bênção graciosa (ver II Cor. 8:4,6 e ss., 19); favor divino e dom gracioso. Deus é o Deus de toda a graça (ver I Ped. 5:10; I Cor. 1:4 e II Cor. 4:15); pelo que esse vocábulo também indica os efeitos produzidos pelò modo gracioso como Deus trata com os homens (ver II Cor. 8:1; Rom. 1:5; 12:3; 15:15; I Cor. 3:10; Gál. 2:9 e Efé. 3:2) e também o sentimento de gratidão (ver Heb. 12:28 e Rom. 7:25).
  2. Palavras que indicam graça: Além do próprio termo grego, «charis», diversas outras palavras são aliadas ao mesmo, quanto ao seu sentido, e, com frequência, essas palavras são usadas em conexão com as ações graciosas de Deus para com os homens. A graça envolve temas como o «perdão»; a «salvação», em seus aspectos inicial, progressivo e final; a «regeneração»; o «arrependimento»; o «amor», a «longanimidade» e a «misericórdia» de Deus.

III. A graça como meio de salvação, como um sistema de vida teológico, como sistema da «graça-fè»:

  1. Esse é o conceito teológico da graça, mostrando como o mesmo opera na redenção do homem, usualmente em contraste com o sistema da «lei».
  2. Isso incorpora as ideias dos vocábulos alistados nos pontos I e II, acima, a saber, o livre-favor de Deus, os seus «dons» aos homens, a sua bondade incomensurável, etc., e tudo com base no próprio desígnio divino, e não no valor do próprio indivíduo.
  3. Esse «livre-favor divino» é recebido (mas nunca merecido) mediante a fé, conforme nos ensina o presente versículo; e essa é a teologia padrão de Paulo.
  4. A graça opera por causa do «amor» de Deus e através do mesmo, mas sempre com o tempero de sua «misericórdia». A graça é divina, e não tem sua origem no homem, ainda que a perversidade humana possa rejeitá-la ou anulá-la.
  5. A graça é «mediada» pela eleição divina, isto é, o decreto de Deus, embora isso não elimine o livre-arbítrio humano. Porém, de que modo a eleição e o livre-arbítrio podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, não sabemos dizê-lo. (Ver Rom. 8:29 e 9:15,16, quanto a uma discussão acerca do problema das refeções entre o livre-arbítrio e o determinismo).
  6. A graça, embora mediada pela eleição, opera universalmente, visando à salvação de todos os homens (ver Rom. 11:32; I Ped. 3:18-20 e 4:6); e isso também mediante decreto e favor divinos. Também não sabemos como ambas as coisas podem ser uma verdade, mas aceitamos tal fato. Há um certo modo pelo qual Deus usa o livre-arbítrio humano sem destruí-lo, ainda que não saibamos explicar como isso sucede. As limitações do conhecimento humano, entretanto, não eliminam o valor da veracidade de certas proposições bíblicas. A fé pode ver e aceitar verdades mais elevadas do que pode fazê-lo a razão.
  7. Dentro do sistema da graça-fé, Deus redime o homem de modo totalmente à parte de seus méritos pessoais, e não em cooperação com os mesmos, porquanto a salvação vem exclusivamente pela fé, independentemente de obras. (Ver Rom. 3:24,28 no tocante a notas expositivas completas sobre a «justificação pela fé»).
  8. Contudo, segundo certo ângulo, a graça e as obras são sinônimas. A salvação deve incluir, necessariamente, a «santificação»; e esta última, como é claro, tem de incluir obras santas. Outrossim, os galardões determinam a extensão da glorificação, e os galardões estarão alicerçados sobre as nossas «obras». Mas essas oBras não são as obras da lei e nem têm qualquer alicerce sobre os méritos humanos. Antes, são aspectos do fruto do Espírito (ver Gál. 5:22,23), sendo produzidos no homem pelo Espirito, na medida em que este o transforma segundo a imagem de Cristo. Sem isso, ninguém jamais verá a Deus (ver Heb. 12:14). Todavia, visto que essas «obras» resultam das operações do Espírito, nada tendo a ver com o poder e o mérito humanos, na realidade são exteriorizações da graça divina. Portanto, essas duas realidades espirituais são sinônimas, meras perspectivas diversas pelas quais contemplamos o mesmo processo. A «graça» assinala o fato que o dom da salvação e algo totalmente «divino». As «obras», de acordo com a exposição acima, indicam aquilo que realmente é feito no homem e através do homem, pelo Espírito Santo. Não há qualquer contradição, pois, entre a graça e as obras, se ambas forem entendidas «espiritualmente». Essas «obras» não redundam em mérito humano, não se baseando na obediência à lei, considerada esta como um sistema. Pelo contrário, resultam da lei divina, escrita nas tábuas do coração. Operam segundo a «lei do Espírito», a força santifícadora que atua sobre o crente (ver Rom.8:2). 9. Cada passo progressivo da vida cristã se deve à graça. (Ver II Cor. 3:18, acerca do poder transformador do Espírito). A «chamada» vem pela graça (ver Gál. 1:5); o «arrependimento» também se deve à graça (ver II Tim. 3:5); e a própria «fé» tem origem na graça, pois também vem do Espírito (ver Efé. 2:8 e Gál. 5:22).
  9. A graça não elimina a obediência, mas antes, toma-a imperiosa (ver Rom. 1:5 e 6:17). A graça requer a «santificação», sendo a produtora desta última, porque é mediadora do poder do Espirito Santo, o qual é o agente dessas operações. A obediência e a santidade são meramente termos que apontam para a mesma realidade, a «santificação», mediante o que a imagem de Cristo vai sendo formada em nós. (Ver as notas expositivas sobre a «santificação», em I Tes. 4:3).
  10. Portanto, aquilo que realmente torna santos aos homens não é a lei, e, sim, a «graça»; e a santidade de que o homem necessita é a própria santidade divina, a única que Deus pode aceitar nos seus remidos. (Ver Rom. 3:21 acerca da -«santidade» ou «justiça» de Deus, dada aos homens dentro do sistema da graça-fé).
  11. Portanto, ninguém pode começar pela graça, e então passar a seguir a lei, como guia da conduta diária. A lei não pode guiar ao crente, da mesma maneira como não poderia tê-lo salvo, a princípio. (Ver as notas expositivas em Gál. 3:3 quanto a essa ideia. Ver Rom. 3:18,20 e Gál. 3:19 acerca da verdadeira função a lei, onde se vê que ela não tem função salvadora, por ser-lhe isso impossível).

A graça transcende ao poder da lei, e somente esse poder transcendental pode redimir, realmente, uma alma eterna. Dentro do sistema da graça-fé, o indivíduo se reveste de «Cristo», mediante a comunhão mística; e isso exige a sua santidade, e então a assegura, pois, do contrário, não terá ele sido salvo pela graça, sob hipótese nenhuma (ver Gál. 3:27). Mas o Espírito, que nos apresenta a Deus Pai, e nos torna filhos de Deus, garante a santidade e a salvação plena.

  1. A salvação, portanto, é um processo místico, produzido pelo Espírito, que vem habitar nos homens e ter comunhão com eles. Esse é um produto da graça, já que a lei jamais poderia proporcionar tal coisa.
  2. O Espirito Santo leva os homens a viverem segundo a lei do amor, espiritualizando-os e levando-os a cumprirem a lei inteira (ver Gál. 5:13,14). A fé opera mediante o princípio do amor (ver Gál. 5:6).
  3. A graça não elimina a lei da colheita segundo a semeadura, porquanto reforça a responsabilidade humana, ao invés de eliminá-la. Na graça o indivíduo pode e deve ser santificado, pois, de outra maneira, nunca poderá ver a Deus (ver Heb. 12:14 e Gál. 6:7,8). A graça toma tudo isso possível, pois serve de mediadora do Espírito divino para com os homens. A lei nunca poderia mediar o contato místico, porque somente mostrava o pecado, exigindo uma retidão que os homens não podem mesmo produzir.
  4. A graça assegura que a salvação será finalmente completada nos remidos, no caso daqueles que tiverem confiado em Cristo, levando-os da conversão à glorificação final (ver Rom. 8:14-39). Se alguém desviar-se (o que as Escrituras ensinam ser possível), será trazido de volta, ou nesta vida física, ou além do sepulcro, em alguma dimensão espiritual, de tal modo que a promessa de Cristo se cumpra, tendo ele garantiao que «nenhuma ovelha» se perderá. A graça é aquela medida constante e poderosa que jamais permitirá que se perca aquele que confiou em Cristo. (Quanto a notas expositivas sobre a «possibilidade de queda» e a «segurança eterna», e como poderemos reconciliar esses conceitos entre si, e como a graça garante essa reconciliação, ver Rom. 8:39). A «queda» é algo relativo à vida anterior às fronteiras eternas. Mas a «segurança» deve, finalmente, caracterizar ao crente, porquanto «pertence» ele a Cristo, mesmo que do Senhor se tenha desviado e perdido contato como Espírito. Na graça, a «segurança» é absoluta, pois essa é a promessa de Deus.

Nada poderá separar-nos, finalmente, do amor de Deus, que há em Jesus Cristo, ainda que, temporariamente, nossa própria perversidade possa fazer tal coisa. Deus tem suas maneiras graciosas e convincentes de eliminar, por fim, essa perversidade humana.

  1. Apesar de que a graça, naturalmente, como uma proposição teológica, se alinhe juntamente com a predestinação e a eleição, pois nelas todo o credito da salvação humana é atribuído a Deus, o que a graça também declara, não é ela contraditória ao livre-arbítrio e à responsabilidade humana. Isso é confirmado tanto pela doutrina neotestamentária como pela experiência diária. A própria graça possibilita uma salvação universal (ver Rom. 11:32); e o seu produto, a cruz de Cristo, atrai todos os homens a Cristo (ver João 12:32). Os decretos divinos são estabelecidos na graça; e de alguma maneira eles cooperam com o livre-arbítrio humano e se utilizam deste, sem destruí-lo. Porém, como isso ocorre, não sabemos dizê-lo. Existe uma graça «gerql» e também uma graça a «eleição». Mas como reconciliar esses dois aspectos entre si, não sabemos. Sem dúvida serão dois lados de uma verdade maior, que algum dia haveremos de compreender.

  «Porque pela graça sois salvos …» O tempo verbal usualmente empregado por Paulo, ao referir-se à salvação, é o presente, «estais sendo salvos». Assim sendo, Paulo concebia a «salvação progressiva», que tem prosseguimento desde agora e que chega à eternidade, nos lugares .celestiais. Mas aqui é usado o «perfeito», «fostes salvos», o que dá a ideia de algo definido e realizado, embora seus resultados continuem no presente, e, naturalmente, se estendam futuro a fora, segundo o contexto define a questão. A salvação também é referida como uma realidade futura, quando está em pauta a «plena glorificação», já nos céus (ver Rom. 5:9). Esse ponto de vista futurista da salvação pode ser visto em 1 Ped. 1:5, onde a salvação é algo a «ser revelado no último tempo». Por conseguinte, a salvação tem aspectos passado, presente e futuro. O trecho de Efé. 1:18 já demonstrara que o autor sagrado considera todas as bênçãos espirituais como realidades já recebidas. Ê que temos a «garantia» do Espírito, o qual assegura a posse futura ao conferir-nos uma realidade presente—a de conhecermos a Cristo e de desfrutarmos de comunhão com ele. (Ver I Cor. 1:4. Ver também Efé. 1:14 quanto a notas expositivas sobre a questão do «penhor» ou «garantia», onde aparecem referências a outras passagens que encerram esse ensinamento). A salvação, em seu sentido mais completo, inclui tudo quanto está envolvido na conversão, arrependimento e fé, na santificação, na glorificação e na herança. Em suma, tudo quanto está envolvido na redenção da alma e na sua transformação segundo a imagem de Cristo. Portanto, dependendo do aspecto que estiver sendo salientado, é usado o tempo passado, o presente ou o futuro do verbo escolhido. Se estivermos falando sobre a «conversão», então será usado o tempo passado; se estivermos aludindo à presente transformação da alma, segundo a imagem de Cristo, por operação do Espírito, ou então ao aprazimento presente de bênçãos espirituais, em Cristo, então será empregado um verbo no presente; e se nos referirmos à glorificação futura, começando pela «parousia» (a segunda vinda de Cristo), então será usado um verbo no futuro. A salvação, em seus estágios mais elevados, simplesmente envolve o conceito da alma humana a compartilhar da imagem e da natureza de Cristo, em que ela passa a ser tudo quanto ele é e a possuir tudo quanto ele tem, possuidora da plenitude daquele que enche a tudo em todos (ver Efé. 1:23), tendo sido transformada em sua imagem, de glória em glória (ver II Cor. 3:18), pois chegou a participar da própria divindade (ver II Ped. 1:4), chegou a compartilhar da perfeita santidade de Deus (ver Mat. 5:48), chegou a receber a justiça de Deus (ver Rom. 3:21), atingiu a sua glorificação (ver Rom. 8:30). É assim que uma alma remida chegará a receber a sua herança (ver Rom. 8:17). (Quanto a notas expositivas completas sobre a «salvação», onde também se apresenta a nota de sumário sobre o tema—Similar ao que fazemos neste versículo, acerca da «graça»—ver Heb. 2:3). «…mediante a fé…» O fato que a graça e a salvação são medidas pela fé é a doutrina paulina comum; e o fato que isso se dá de modo «independente» das obras humanas também é doutrina de Paulo. (Ver as notas expositivas completas sobre esse tema, em Rom. 3:22,24; 4:3,5 e 5:1. Quanto à nota de sumário, detalhada, sobre «a natureza e a função da fé», ver Heb. 11:1). Acerca das presentes palavras, devemos considerar os pontos abaixo:

  1. A fé não é alguma nova forma de «mérito», em substituição às «obras», como se a fé agradasse a Deus mais do que a obras, sendo aceita em lugar delas. É verdade que o ato de exercer fé, de ter uma alma receptiva para com a verdade espiritual, é algo agradável aos olhos de Deus; mas ninguém «agrada a Deus» de tal modo que só por isso venha a ser aceito no Amado. (Ver Efé. 1:6).
  2. O meio da salvação não é a fé humana. Esse meio é aquilo que Cristo realizou mediante sua vida, morte e ressurreição. Portanto, a «fé» não é a «causa» da salvação. A graça divina é que é essa causa, aquele fator que confere favor e dons espirituais gratuitos aos homens, conforme nosso próprio versículo deixa claro. (Ver também Efé. 1:7, em suas notas expositivas, quanto ao «meio» da salvação, onde é frisada a «expiação». E Rom. 5:11 conta com a nota de sumário sobre esse tema). A passagem de Rom. 6:3 mostra-nos que a ressurreição de Cristo nos dá vida, e isso por causa de nossa comunhão mística com ele. Tais questões estão envolvidas no «meio» da salvação, em suas «causas».
  3. A fé não é a «substância» da nossa salvação, porquanto é a justiça de Deus que provoca a nossa transformação metafísica segundo Cristo (ver Rom. 3:21 e 8:29).
  4. A fé serve mais de instrumento da salvação; em outras palavras, é aquilo que traz a salvação aos homens, aquilo que faz os homens receberem-na. A fé e o arrependimento são os dois lados da «conversão», o que é amplamente comentado em João 3:3-5. A fé é o reconhecimento, por parte da alma, daquilo que Cristo é, e por causa do que ela entrega aos cuidados dele, os desejos todos e o destino da própria existência. Quando a alma assim se entrega aos cuidados de Cristo, e dá-se o «arrependimento» por causa disso, então o indivíduo se «converteu». Esse é o primeiro passo da salvação, e o seu impulso é a «fé». Portanto, o justo «vive pela fé», e também «de fé em fé» (ver Rom. 1:17), de tal modo que o processo inteiro da salvação, em seus muitos aspectos, da santificação à glorificação, é recebido e concretizado para o indivíduo mediante uma fé sempre crescente. E essa fé, basicamente, indica a outorga ativa da própria alma aos cuidados de Cristo, com base no reconhecimento de sua pessoa e das obrigações que Cristo impõe aos homens.

A mão de um homem é capaz de trabalhar e de realizar muitas coisas. Entretanto, a mão não funcionará a menos que seja impulsionada pelos músculos e pelos nervos. E os músculos e os nervos operam por causa de sinais enviados pelo cérebro. Por igual modo, para que a salvação ocorra, é mister o «impulso» da fé, de sua «instrumentalidade», porque, de outra maneira, nada poderá ser efetuado. Uma tradução mais exata, diria: «…mediante a graça…», destacando o artigo definido. Pois aqui a graça é definida e limitada, e essa limitação é expressa neste mesmo texto, nos versículos quarto a sexto. Consideremos ainda os pontos seguintes: 1. a misericórdia e o amor de Deus, ambos abundantes, formam, juntamente, a graça divina. 2. A nossa ressurreição em Cristo, ou seja, a nossa comunhão mística com a sua vida, aplica a graça divina às nossas vidas. 3. A nossa glorificação em Cristo haverá de completar a operação da graça. Ê «essa graça» que envolve os elementos sobre os quais Paulo falava, a grande obra de Cristo, em seus variegados aspectos, feita graciosamente em favor dos homens, com base na misericórdia e no amor de Deus. Essa é «a graça» a respeito da qual Paulo falava. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 557-559.  

 

Agora a afirmação feita parenteticamente no versículo 5 é repetida, expandida e explicada. Por que pode o homem possuir vida celestial aqui e agora? Como pode ocorrer tal manifestação do amor de Deus que permite a toda Sua criação aprender e maravilhar-se? Porque “pela graça fostes salvos”. (RV). Esta salvação é inteiramente obra de Deus, a doação do Seu infinito amor. A parte dos homens em recebê-la pode ser descrita simplesmente pelas palavras mediante a fé (Rm 3:22, 25; G1 2:16; 1 Pe 1:5). E esta fé é melhor definida como um voltar-se para Deus com um sentido de necessidade, fraqueza, vazio e desejo de receber aquilo que Ele oferece, de receber o próprio Senhor (Jo 1:12). Ansioso por enfatizar com profunda clareza a natureza desta fé e a natureza da graça, Paulo, por meio de suas frases características, bem explicativas, neste versículo e no seguinte, exclui a possibilidade de vir o homem a obter esta salvação por qualquer mérito ou esforço pessoal. Primeiro acrescenta à sua afirmativa de salvação pela graça através da fé as palavras e isto não vem de vós, é dom de Deus. Algumas vezes interpretou-se isto como significando que a fé não é do homem, mas um dom de Deus. Se aceitássemos esta interpretação, teríamos de considerar a segunda parte do versículo oito como um parêntese — o versículo nove deve se referir à salvação e não à fé. Parece melhor, todavia, especialmente à luz do paralelismo entre versículos oito e nove e (não vem de vós… “não de obras”) entender todas as frases explicativas como em contraste com a salvação pela graça. O que o apóstolo quer dizer é que toda iniciativa e toda atitude no sentido de tornar acessível ao homem está salvação pertencem a Deus. “De Deus é o dom” é a tradução que melhor mostra a ênfase da disposição das palavras em grego. “Um homem que fique abandonado por Deus, cai em total desesperança. Ê a voz de Deus que acorda, que desperta, que leva o homem a pensar e inquirir; é o poder de Deus que fornece forças para agir; é o mesmo poder que proporciona satisfação à necessidade de uma nova vida.” Francis Foulkes. Efésios Introdução e comentário. Editora Vida Nova. pag. 64-65.    

SÍNTESE DO TÓPICO I

 

Jesus teve a iniciativa de transformar Saulo. Essa conversão se deu pelo impacto de uma experiência sobrenatural.

  SUBSÍDIO PEDAGÓGICO Para introduzir esta lição, fale um pouco do processo de conversão como a obra de salvação que Deus efetua no ser humano. Se Ele nos salva por graça mediante a fé, nós respondemos a essa graça com arrependimento e fé. Nesse sentido, com o auxílio da lousa, relacione as etapas em que essa obra gado por Deus aos pecadores que estão é efetuada por Deus e no homem.  

II – SAULO E A DOUTRINA BÍBLICA DA CONVERSÃO

 

   1. A conversão começa no arrependimento.

A palavra “arrepender-se” no grego bíblico é “metanoeo”, que significa “pensar de maneira diferente; sentir remorso”, uma disposição interior para mudar. No Novo Testamento, arrepender-se” traz a ideia de tristeza pelos próprios pecados, acompanhada de um desejo de corrigir o rumo. É a mudança na mente que induz à correção de caráter e de conduta moral (At 3.19); é a contrição do coração, o desejo de mudar de atitude quanto ao comportamento na vida cotidiana (Lc 15.10). Isso é obra do Espírito Santo (Jo 16.7,8). Portanto, a conversão é uma parte do processo de salvação do pecador. Ela assinala o início do despojamento do “velho homem” (Ef 4.22) e aponta para o revestimento do novo homem (Ef 4.24).      

Comentário

  Três coisas devem ser destacadas: Paulo reconhece que Jesus é o Senhor (At 22.8). Aquele a quem ele resistira e perseguira é de fato o Senhor. Verdadeiramente, ele ressuscitou dentre os mortos. Verdadeiramente, ele é o Messias, o Filho de Deus. Aquela luz brilhou na sua alma, iluminou seu coração, tirou as escamas dos seus olhos espirituais (2Co 3.16). Paulo reconhece que é pecador (At 22.8). Paulo toma conhecimento de que seu zelo religioso não agradava a Deus. Na verdade, estava perseguindo o próprio Filho de Deus. Ele reconhece que é o maior de todos os pecadores. Reconhece que está perdido e precisa da salvação. Paulo reconhece que precisa ser guiado pelo Senhor (At 22.10). A autossuficiência de Paulo acaba no caminho de Damasco. Ele agora pergunta: “… que farei, Senhor?…” (At 22.10). Agora quer ser guiado! Está pronto a obedecer. Ele que esperava entrar em Damasco na plenitude de seu orgulho e bravura, como um autoconfiante adversário de Cristo, estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo Cristo a quem se opunha. O Senhor ressurreto aparecera a ele. A luz que viu era a glória de Cristo, e a voz que ouviu era a voz de Cristo. Cristo o capturou antes que ele pudesse capturar qualquer crente em Damasco. Lopes, Hernandes Dias. Paulo, o Maior Líder do Cristianismo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2009.  

 

 

Este sermão incorpora a mesma exigência que a do dia de Pentecoste, no que diz respeito ao que os judeus tinham de fazer a fim de cancelar o seu crime de haverem rejeitado e crucificado ao Messias, a saber, o arrependimento. E isso, desta vez, sem o acompanhamento do «batismo», que era o rito que simbolizava e servia de confissão pública de fé em Jesus como o Messias e Salvador. (Ver Atos 2:28, quanto a tudo quanto está subentendido neste versículo. Comentários adicionais sobre o arrependi- mento podem ser vistos em Mat. 3:2 e 21:29. Quanto a notas expositivas sobre a «conversão», ver João 3:3, no terceiro ponto, sob o título «Novo Nascimento»). O verbo grego aqui traduzido por «convertei-vos» é «epistrepho», palavra essa que significa «voltar-se», «retornar», «fazer meia-volta», «voltar-se novamente», sendo utilizada por toda a parte, na literatura grega, para indicar as ações físicas subentendidas nesses termos. Quando o vocábulo é utilizado em sentido religioso, pode falar do retorno intelectual, isto é, da mudança de opinião, da modificação da atitude moral, da volta da alma para Deus, em que a pessoa essencial se volta para Deus, contra quem estivera em rebeldia e de quem se desviara. Quando esse termo é aplicado à conversão, fica subentendido que o indivíduo se desvia de uma vida anteriormente dedicada ao «eu», que se mostrava contrário a Deus, para então voltar-se para Deus, entrando num novo caminho, começando uma nova vida. Naturalmente isso pressupõe a operação de Deus na alma do indivíduo envolvido, que o leva a assim «converter-se», o que só pode vir mediante a operação do Espírito Santo. Não obstante, a própria pessoa exerce o seu livre-arbítrio nessa operação, e os dois fatores cooperam juntamente para produzir a conversão. O Arrependimento E A Conversão

  1. Essas ideias são amplamente comentadas em outros lugares. Quanto ao «arrependimento», ver Atos 2:38; quanto à «conversão», ver João 3:3.
  2. Quanto ao papel desempenhado nessa questão pelo «livre-arbítrio humano», ver as notas em I Tim. 2:4.
  3. O arrependimento e a fé, juntos, constituem a conversão. (Ver notas sobre a «fé», em Heb. 11:1).
  4. A conversão resulta em uma autêntica santificação, segundo se vê em I Tes. 4:3 e nas notas a respeito; do contrário, não terá havido conversão.
  5. A transformação moral redunda em transformação metafísica do ser, de modo que os homens nascem em um mundo novo, como se fossem um novo gênero de criaturas, filhos que Deus está conduzindo à glória (ver notas em Heb. 2:10). Dessa forma, participam da própria natureza de Cristo (ver II Cor. 3:18). É disso que consiste a salvação (ver notas em Heb. 2:3).

A conversão é um tema que surge com frequência neste livro de Atos, figurando no mesmo por cerca de dez vezes, a saber, neste versículo e em Atos 9:34,40; 11:21; 14:15; 15:19; 16:18; 26:18,20 e 28:27. (Ver também os trechos de Mat. 13:15; Marc. 4:12; Luc. 22:32 e João 12:40). O emprego da voz média aqui, no original grego, dá ao verbo «converter-se» a mesma força da expressão «voltai-vos», que foi usada pelos profetas mais antigos das Escrituras. (Ver Eze. 14:6 e 18:30,32). «…para serem cancelados os vossos pecados…» O perdão dos pecados é retratado nessas palavras. (Quanto a notas expositivas gerais sobre o «perdão dos pecados», ver Atos 2:38 e Rom. 3:25). A imagem que subjaz à expressão aqui é a de uma acusação que cataloga os pecados do indivíduo penitente, mas cuja lista é cancelada pelo amor perdoador de Deus Pai; e esse cancelamento se assemelha ao ato de apagar o que se escrevera à mão. Assim é que o vocábulo é usado em passagens como Sal. 51:1; Isa. 43:25 e Col. 2:14. No grego clássico, o verbo «cancelar» é o antônimo do termo «eggraphein», que significa «registrar um nome». Assim utilizou-se Aristõfanes dessa palavra: «Fazem coisas intoleráveis, registrando alguns de nós, ao passo que cancelam outros e tomam a registrá-los, por duas ou três vezes» (Paz, 1180). Assim, pois, a grande lista de registros negativos;, contra o indivíduo envolvido, chamados «pecados», é anulada, ficando inteiramente limpo o registro, o que representa o fato espiritual da alma perdoada e purificada de seus atos pecaminosos. No caso em foco, o cancelamento era da culpa dos maus-tratos com que os judeus haviam acolhido ao Messias, ao ponto de levarem-no à crucificação. Todavia, apesar de profundo como é o perdão dos pecados, e apesar de ser extremamente necessário, isso é tão-somente o começo da vida espiritual, e não o seu grande alvo. Pois o grande alvo não tem apenas um aspecto negativo, isto é, não consiste meramente na remoção da culpa do pecado; mas também se reveste de um aspecto positivo, que é a participação na perfeita natureza moral de Deus, segundo nos dá a entender um trecho como Mat. 5:48, que diz: «Portanto, sede vós perfeitos como perfeito è o vosso Pai celeste». CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 85.  

 

 

“Arrependam-se, pois, e convertam-se a Deus.” Aqui está a resposta à pergunta: “O que faremos acerca do nosso pecado?” Com base em evidência escriturística de que Deus cumpriu as profecias messiânicas, Pedro ordena que seus ouvintes se arrependam (comparar com 2.38). Eles precisam renunciar à sua vida pregressa e dar uma meia volta no seu modo de pensar, a fim de que não mais sigam seus caminhos de outrora, mas ouçam obedientemente a Palavra de Deus cumprida em Jesus Cristo. O arrependimento afeta a existência humana em sua totalidade; atinge o âmago do ser e afeta todo o relacionamento externo com Deus e com o próximo. Arrepender-se é dar as costas ao pecado; fé é voltar-se para Deus.23 Pedro diz ao povo para voltar-se para Deus, que em linguagem simples quer dizer: arrepender-se e crer. Para que os seus pecados sejam apagados.” Pedro apresenta um quadro dos pecados do homem gravados numa lousa que pode ser apagada. Embora ele não diga quem limpa a lousa, nós sabemos que somente Deus perdoa pecados por meio de Jesus Cristo. Talvez essa seja uma indicação do jeito típico do hebreu expressar um pensamento sem usar o nome de Deus. A palavras de Pedro constituem uma alusão ao batismo, que é o símbolo da lavagem dos pecados do homem. Note-se que Pedro emprega a palavra pecados no plural a fim de englobar a totalidade dos pecados do crente. Quando Deus perdoa os pecados do homem, o relacionamento entre este e Deus é restaurado. Isso significa que o homem entra num novo período de sua vida. Pedro expressa esse pensamento em termos característicos. Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento Atos dos Apóstolos. Editora Cultura Cristã. pag. 184-185.    

   2. A conversão de Saulo promoveu uma transformação pessoal.

Foi o que aconteceu com Saulo, pois a luz do resplendor do céu cegou-lhe os olhos carnais e o fez ver o Cristo ressuscitado. abrindo-lhe os olhos espirituais para conhecê-lo como Senhor e Salvador (9.3). Essa experiência sobrenatural e impactante o fez indagar ao Cristo ressuscitado sobre o que deveria fazer. De uma vontade egoísta e individualista, Saulo demonstra agora completa resignação à vontade soberana de Cristo (9.6).    

Comentário

  Encontramos dois sentidos que se traduzem por “arrependimento” no Novo Testamento. O primeiro sentido de arrependimento é “tristeza”, e o outro sentido é a “contrição e o desejo de mudar de atitude”. Aos coríntios, Paulo definiu o arrependimento assim: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte” (2 Co 7.10). A tristeza segundo Deus lembra ao pecador seus próprios pecados, e, consequentemente, essa lembrança produz tristeza pelos pecados cometidos. Arrepender-se implica no desejo de correção. Significa mudança de mente que induz à correção de caráter e de conduta moral. É obra do Espírito Santo. Outro sentido para entender a palavra “arrependimento” refere-se à “contrição e o desejo de mudar de atitude”, de comportamento na vida cotidiana. A luz do resplendor que cegou os olhos de Saulo fizeram-no ver o Cristo Ressuscitado e abriu-lhe os olhos do seu interior para conhecer, de fato, a Jesus e torná-lo seu senhor e Salvador. Essa visão fez com que ele indagasse o Cristo glorificado sobre o que deveria fazer a partir de então. Sua vontade, antes egoísta e individualista, é agora demonstrada por Saulo numa total resignação à vontade soberana de Cristo. O arrependimento e a fé são os dois elementos essenciais da conversão. Significa “dar meia volta” ou “virar-se para trás” (At 15.19; 2 Co 3.16). Na língua grega do Novo Testamento, o termo grego metanoia expressa a ideia de “arrependimento”. Por exemplo, em Atos 2.38, Pedro disse à multidão depois do Pentecostes: “[…] arrependei-vos (“deem meia volta”), e cada um de vós seja batizado em nome do Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

 

Uma evidência incontestável da conversão de Paulo (At 9.10-20). Três verdades nos provam essa tese: Paulo evidencia sua conversão pela vida de oração (At 9.10,11). A prova que Deus deu a Ananias de que Paulo agora era um irmão, e não um perseguidor, é que ele estava orando. Quem nasce de novo tem prazer de clamar “Aba Pai”. Quem é salvo tem prazer na comunhão com o Pai. Paulo é convertido e logo começa a orar! Paulo evidencia sua conversão pelo recebimento do Espírito Santo (At 9.17). Ananias impõe as mãos sobre ele, e ele recebe o Espírito e 􀅺ca cheio do Espírito Santo. Charles Spurgeon disse que é mais fácil você convencer um leão a ser vegetariano do que uma pessoa ser convertida sem a ação do Espírito Santo. Paulo evidencia sua conversão pelo recebimento do batismo (At 9.18). Não é o batismo que salva, mas o salvo deve ser batizado. O batismo é um testemunho da salvação. Uma pessoa que crê precisa ser batizada e integrada na igreja. Ananias chamou Paulo de irmão. Ele entrou para a família de Deus. Lopes, Hernandes Dias. Paulo, o Maior Líder do Cristianismo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2009.  

 

 

Pode-se observar que foi a partir desse ponto que Paulo começou a Naquele receber ordens do Senhor Jesus Cristo, a quem somente agora cessara de perseguir. Isso foi para ele o começo da expressão da vida de Paulo, o apóstolo que estava destinado a modificar drasticamente o curso da história humana, o destino de muitos homens. Na resposta dada pelo Senhor Jesus, Saulo recebeu toda a informação de que era capaz de usar; e isso por intervenção divina. Os agentes humanos, tal como Ananias, além de outros, haveriam de completar a obra, levando Saulo à perfeita compreensão do que o Senhor Jesus esperava da parte dele. As revelações divinas, entretanto, é que davam conteúdo à mensagem pregada por Paulo, o apóstolo, e as mais elevadas revelações de Deus vieram por intermédio dele. Vemos, portanto, que Paulo se rendeu imediatamente a Cristo, porque a sua alma reconheceu a veracidade da visão, tal como Tomé também chegara a reconhecer o senhorio de Jesus Cristo quando este lhe apareceu, após haver ressuscitado. (Ver a João 20:28). As experiências místicas purificam a mente do indivíduo, e, acima de tudo, confere um maior entendimento sobre as verdades espirituais. «O orgulho do fariseu é agora derrubado até o pó; e a fúria do perseguidor não somente foi restringida, mas também o leão foi transformado em um cordeiro». (Adam Clarke, in loc

 

Naquele momento exato Cristo começou a formar-se em Saulo (ver Gál. 1:16), e o novo homem começou a ser formado; daquele instante em diante para ele tudo era «…já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim…» (Gál. 2:20). E isso, para Paulo, tornou-se um axioma da vida. Começou a semear esses pensamentos, os quais deram fruto na forma de atos; estes se fizeram hábitos, e os hábitos determinaram-lhe o destino. (Quanto a notas expositivas sobre a «natureza da conversão», ver João 3:3, sob o terceiro ponto, O Novo Nascimento. Quanto à regeneração, ver João 3:3-5. Quanto à vida eterna, ver João 3:15. Quanto à fé ver Heb. 11:1. Quanto à salvação, ver Heb. 2:3. Quanto ao arrependimento, ver Mat. 3:2 e 21:29). A conversão de Saulo de Tarso, depois da ressurreição de Cristo, destaca-se como um dos mais importantes acontecimentos da história do cristianismo, um dos resultados do que foi que o cristianismo se tornou distinto e separado do judaísmo. Saulo indagou de Cristo glorificado o que deveria fazer. E, quanto a essa pergunta, Matthew Henry (in loc.) tece o seguinte comentário: «O desejo sério de ser instruído por Cristo, no caminho da salvação, é sinal evidente de que uma boa obra foi iniciada na alma…A grande modificação, na conversão, é operada no terreno da vontade, e consiste na resignação dessa vontade às mãos de Cristo». CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 191-192.    

 

   3. A conversão faz parte da doutrina bíblica da Salvação.  

 

O choque da experiência sobrenatural do “resplendor de luz” sobre os seus olhos, transformou a mente de Saulo, levando-o a reconhecer o Cristo que, outrora tanto rejeitava, agora o fazia apóstolo (1 Co 15.8-10). Como vimos, a verdadeira conversão é a que nasce da tristeza para com o pecado e o reconhecimento de que o homem precisa “dar meia volta” para Deus. É uma mudança que tem raízes na obra regeneradora do Espirito Santo efetuada na vida do pecador. Como obra de Deus, a conversão é uma manifestação externa da regeneração operada pelo Espirito no interior do homem, que implica mudança de pensamento, vontade e ação; uma mudança que altera todo o curso da vida do pecador (Ef 4.25-30). É o ato divino pelo qual Deus faz com que o pecador volte para Ele em arrependimento e fé. Portanto, uma verdadeira conversão revela uma poderosa transformação na vida do convertido.      

Comentário

  A narrativa de Lucas em Atos 9 tornou-se uma doutrina de importância da igreja cristã. Alguns estudiosos reúnem “conversão e vocação”, porque alguns biblistas entendem que não houve uma conversão, mas uma chamada para a missão entre os gentios. A notável experiência de Paulo no caminho para Damasco foi um exemplo indiscutível de conversão cristã. A verdadeira conversão é aquela que nasce da tristeza para com o pecado e o reconhecimento de que precisa “dar meia volta” para Deus. É uma mudança que tem suas raízes na obra regeneradora efetuada na vida do pecador pelo Espírito Santo. Como obra de Deus, a conversão é uma manifestação externa da regeneração operada pelo Espírito Santo. A conversão implica em mudança de pensamentos, de desejos e vontades e deve alterar todo o curso da vida do pecador. É o ato de Deus pelo qual Ele faz com que o pecador volte-se para Ele com arrependimento e fé. No caso de Saulo de Tarso, o choque da experiência mística do “resplendor de luz” sobre os seus olhos revolucionou sua mente, levando-o a reconhecer que o Cristo que tanto rejeitava agora o fazia seu apóstolo. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

As Palavra Envolvidas Latim, Com (totalmente) + vetere (virar), portanto, fazer uma mudança radical, girar completamente. No hebraico temos sub, que significa girar ou voltar, que é usado em ações físicas, morais e espirituais. No grego temos epistrepho, que tem estes mesmos significados e usos. Uso Bíblico. As ideias bíblicas principais são o abandono da maldade e pecado, ler. 18:8, com a dedicação do ser a Deus, Mal. 3:7. Deus é a força ativa nesta virada. ler. 31:18. As pessoas que recusam esta operação espiritual terminam castigados, Amós 4:6-12. O Novo Testamento harmoniza-se com o Velho Testamento sobre este assunto. Ver Atos 14:15, 26: 18. A verdadeira conversão envolve fé e arrependimento, Atos 3:19, 26:18. Um exemplo radical de conversão é o caso de Paulo, Atos 9:1-18. A conversão pode vir de súbito, mas normalmente tem um longo tempo de preparação. Tipos·de Conversão

  1. Não religiosa, politica, As pessoas são convertidas a certos sistemas políticos, às vezes de súbito, por forças humanitárias, racionais ou egoístas. Subsequentemente, elas procuram utilizar estes sistemas para o melhoramento da sociedade ou para fins egoístas, ou os dois.
  2. Conversão biológica. Os adolescentes, frequentemente, são mais religiosos naquela idade do que em qualquer outra época da vida. Mais do que zelo jovem pode ser envolvido nisto. Psicólogos nos informam que há evidências que indicam que este tipo de conversão pode ser simplesmente a sublimação das energias sexuais em ideais religiosos. Muitos jovens que são radicalmente religiosos nesta época, uma vez casados, cessam de ter qualquer zelo religioso. Alguns psiquiatras acham que a própria religião é somente um refinamento do libido.
  3. O nascimento de um novo ser. Este novo ser pode ser simplesmente a entrada de um jovem na vida do adulto. Os jovens têm muito zelo natural, e muitos ideais. Aproximando-se a idade de tomarem-se adultos, eles podem expressar esta qualidade num tipo de novo nascimento, quando deixam a vida de crianças e começam a vida de adultos. Embora esta transição possa ter elementos fortes de envolvimento na religião, ela não é necessariamente, espiritual. Muitas vezes, alguma coisa permanente de valor é assim levada para a vida de adulto, mas isto, em si, não qualifica a experiência como um produto do Espirito.
  4. Uma resolução de conflito. Paulo nos ensina que o conflito entre o bem e o mal no homem é um terror, Rom, capo 7. A maioria das religiões procuram resolver este conflito, embora por meios diferentes. Também as filosofias, psicologias e políticas prometem resolver este conflito. Em qualquer caso, no qual, alguma resolução seja alcançada, resulta em uma experiência de conversão. Os filósofos fazem convertidos» aos seus sistemas, resolvendo conflitos entre ideias. As religiões fazem a mesma coisa, e normalmente, neste caso, o problema do pecado está envolvido. Portanto, todos os tipos de religiões, cristãs ou não, produzem seus convertidos. Muitos deles tornam-se fanáticos e procuram propagar sua fé, porque, dizem eles, isto funciona», e como prova, eles se apresentam. Tudo isto pode ter algum valor, embora não tenha nada a ver com a conversão bíblica. Naturalmente, muitos acham que todas as conversões são essencialmente iguais, sendo exercícios psicológicos, e não há razão para exaltar a variedade bíblica acima das outras.                    CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. pag.892-893.  

 

 

CONVERSÃO Mudança total de direção na vida ou na orientação moral. Para os cristãos, significa a mudança de um tipo de vida que não leva Deus em consideração para uma na qual a pessoa se submete a Cristo. A conversão é resultado do arrependimento. No AT, conversão é basicamente deixar o curso de vida anterior ou retornar dele na direção do Senhor, o Deus de Israel. Israel frequentemente teve de retornar para o seu Deus (Dt 4.30) – seus indivíduos (SI 51) ou como nação (Jr 4.1); nações estrangeiras precisavam voltar-se para Deus pela primeira vez (SI 22.27). A característica típica é alguém voltar-se da iniquidade (Jr 26.3; 36.3; Ez 18.21,27; 33.9,11), de uma vida de deslealdade a Deus para uma vida de obediência a ele (Is 10.20,21; 14.2; Jr 34.15; Os 14.4). A conversão significa uma mudança interior de orientação que se expressa em um modo transformado de viver. No NT, João Batista começa o chamamento à conversão (Mt 3.2; Mc 1.4; Lc 3.3), fazendo um chamado profético para que as pessoas mudem a mente (que é o significado da raiz do termo grego) à luz da proximidade do Reino de Deus. Essa mudança de vida deve incluir uma mudança nas ações que comprove sua realidade (Mt 3.8; Lc 3.8). Jesus pregou a mesma mensagem (Mt 4.17; Mc 1.15), acrescentando que, uma vez que o reino chegara em sua pessoa, a obediência a ele era parte das boas-novas da conversão. No entanto, ela poderia também implicar más notícias, pois alguém seria amaldiçoado se não conseguisse fazer essa mudança radical (Mt 11.20; Lc 13.3-5). A conversão é radical, mas também simples, pois requer a simplicidade de uma criança que se entrega por inteiro, e não a autodefesa calculada do adulto (Mt 18.3). Fora dos Evangelhos, a “conversão” não é um termo frequentemente usado, exceto no livro de Atos, onde o termo ou as ideias a ele conectadas de arrependimento e de volta ao Senhor compõem o chamamento ao compromisso, que tem seu ápice nos sermões evangelísticos (2.38; 3.19; 8.22), descreve o compromisso dos novos cristãos com o Senhor (9.35; 11.21) e retrata a mudança de vida como um voltar-se das trevas para a luz (26.18-20). Autores posteriores olham para a conversão (2Co 3.16), preocupam-se com os cristãos convertendo-se ao paganismo ou ao judaísmo (G1 4.9) e clamam pela reconversão de cristãos que deixaram a fé e estão sob risco de juízo (Tg 5.19,20; Ap 2.5,16,22; 3.19). Como no AT e na pregação de João e de Jesus, a conversão tem três fatores. Primeiro, é voltar-se de algo, que inclui pecados específicos, deuses falsos ou simplesmente viver para si mesmo (lTs 1.9; Ap 9.20,21; 16.11). Segundo, é um produto da vontade de Deus e de sua obra graciosa no mundo (At 11.18; Rm 2.4; 2Co 7.10; 2Tm 2.25; 2Pe 3.9). Terceiro, é voltar-se para alguém, um compromisso de toda a vida com Deus em Jesus Cristo (At 14.15; lTs 1.9; IPe 2.25). Ela é, desse modo, uma reorientação total, espetacular ou discreta, repentina ou gradual, emocional ou calma, na qual uma pessoa transfere sua lealdade total para Deus. Veja também Fé; Graça; Justificação, Justificado; Arrependimento; Santificação. Philip W. Comfort e Walter A. Elwell. Dicionário Bíblico Tyndale. Editora geográfica. pag. 380.  

SÍNTESE DO TÓPICO II

A conversão do homem começa no arrependimento e perpassa a transformação pessoal.

 

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“A regeneração tem lugar naquele que se arrepende dos seus pecados, volta-se para Deus (Mt 3.2) e coloca a sua fé pessoal em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador […]. A regeneração envolve a mudança da velha vida de pecado em uma nova vida de obediência a Jesus Cristo (2 Co 5:17; CI 3.10). Aquele que realmente nasceu de novo está liberto da escravidão do pecado […]. e passa a ter desejo e disposição espiritual de obedecer a Deus e de seguir a direção do Espírito (Rm 8.13,14). Vive uma vida de retidão (1 Jo 2.29), ama aos demais crentes (1. Jo 4.7), evita uma vida de pecado (1 lo 3.9; 5.18) e não ama o mundo (1 Jo 2.15,16)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1576).  

CONHEÇA MAIS

*Sobre a conversão de Saulo “Os versículos 3-9 [Atos 91 registram a conversão de Paulo fora da cidade de Damasco (cf, 22.3-16; 26.9-18). Que sua conversão ocorreu nessa ocasião, e não posteriormente na casa de Judas (v.11), fica claro à luz do seguinte: (1) Ele obedece as ordens de Cristo!…), Paulo e chamado ‘Irmão Saulo’ por Ananias […]. Para ler mais, consulte a “Bíblia de Estudo Pentecostal“, editada pela CPAD, pp.1648-49.          

III – AS TRÊS FACULDADES INTERIORES TRANSFORMADAS NA CONVERSÃO

   

   1. Faculdade intelectual.

Nesse campo da alma, o homem muda o seu modo de pensar e reconhece sua condição de pecador. A Bíblia chama isso de “conhecimento do pecado”, conforme Romanos 3.20: “Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele [de Deus] pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado”.      

Comentário

  Naturalmente, o processo da conversão de um pecador inicia-se no campo da mente. Uma das obras do Espírito Santo é o convencimento do pecado na mente do pecador. Jesus declarou que o Espírito Santo seria enviado para convencer o mundo, como está escrito: “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo; do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16,8-11). Portanto, o ato de convencer, nesse caso, pertence ao Espírito Santo. É o Espírito Santo que opera a mudança de conceito e de opinião. A Bíblia chama isso de “conhecimento do pecado”. O texto diz literalmente: “Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele [de Deus] pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20). Por isso, a importância da pregação do evangelho. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

Paulo conclui sua tese acerca da culpabilidade do homem e encerra seu argumento mostrando a total impossibilidade de o homem sair absolvido do tribunal de Deus, fiado em seus méritos ou estribado em suas obras. Assim escreve o apóstolo: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. Duas coisas merecem destaque neste versículo:

  1. A finalidade da lei (3.20). Paulo diz que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. W. Burrows diz que a lei revela a inescapável realidade do pecado, a natureza maligna do pecado, a força mortal do pecado e a culpa irremediável do pecado. Adolf Pohl tem toda razão de enfatizar que a lei de maneira alguma torna alguém pecador, mas ela revela o pecador como tal.

A lei possibilita não a salvação, mas a ira (4.15). A lei não foi dada com o propósito de justificar o homem, mas com o fito de provar sua culpa. John Stott está com a razão quando diz que o motivo pelo qual a lei não pode justificar os pecadores é porque sua função é revelar e condenar seus pecados. E a razão pela qual a lei nos condena é que nós a quebramos. Na mesma linha de pensamento, Lutero escreve: O principal motivo da lei é fazer que os homens sejam não melhores, mas piores; quer dizer, ela lhes mostra o seu pecado, para que a partir desse conhecimento eles possam ser humilhados, aterrorizados, esmagados e quebrantados, e, dessa forma, sejam levados a sair em busca da graça e chegar assim àquela Semente abençoada [Cristo]. A lei apenas faz o diagnóstico, mas não é o remédio. A lei é como um espelho: aponta nossa sujeira, mas não a remove. É como um prumo: identifica a sinuosidade de uma parede, mas não a endireita. E como um farol: mostra o obstáculo do caminho, mas não o remove. E como um raio-X:, revela o tumor, mas não o remove. E como um termômetro: diz quando uma pessoa está com febre, mas não a cura. A lei é boa quando usada para produzir convicção de pecado, mas é impotente para salvar do pecado. Como Lutero destaca: sua função não é justificar, mas aterrorizar. Somente após sermos condenados pela lei, estaremos prontos para ouvir o magnífico, “mas agora” do versículo 21, com o qual Paulo passa a explicar como Deus interveio, por intermédio de Cristo e sua cruz, para a nossa salvação.

  1. A inabilidade da lei (3.20). Paulo diz que ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei. Tanto a lei cerimonial quanto a lei moral não pode justificar o homem diante de Deus, não porque sejam imperfeitas, mas porque o homem é imperfeito. A lei é boa, santa, justa e espiritual, mas o homem é pecador. Ele não consegue viver à altura de suas exigências.

A lei exige que o homem ame a Deus de todo o seu coração, alma, mente e força e a seu próximo como a si mesmo (Mt 22.37-40), mas o homem é incapaz de atingir esse padrão. O homem é culpado dos pecados de comissão e omissão, dos pecados públicos e secretos. Está condenado por Deus não só por causa do que diz e faz, mas por causa do que é, ou seja, por causa de seu estado pecaminoso. Consequentemente, só é possível uma conclusão. O homem está condenado, condenado, condenado. Sua condição é aquela de total desesperança e desespero. Geoffrey Wilson é pertinente quando diz que a doutrina da graça pregada por Paulo se baseia firmemente em uma doutrina adequada do pecado, porque ele sabia que apenas a pessoa convencida de pecado tem interesse naquele que salva do pecado. O texto que consideramos é uma espécie de dobradiça na carta aos Romanos. Francis Schaeffer com razão conclui que chegamos, aqui, ao final da apresentação de Paulo da “primeira metade do evangelho”. Ele levou a maior parte do capítulo 1, todo o capítulo 2 e grande parte do capítulo 3 para evidenciar que precisamos da salvação. Daqui para a frente, Paulo abrirá um novo tema em sua carta, mostrando como podemos ser salvos. Se Paulo tivesse parado sua carta aqui, o desespero tomaria conta da humanidade. Então, não haveria saída e seriamos condenados ao desespero dos existencialistas que não veem esperança para o homem. No entanto, graças a Deus, a porta da esperança nos é apresentada. O caminho de retorno a Deus é apontado e a mensagem da salvação é anunciada! LOPES. Hernandes Dias. Romanos O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 156-159.  

 

 

Uma outra função da lei mosaica é aqui especificada. Seu propósito jamais foi de servir de meio de justificação, mas antes, de meio que revela a verdadeira natureza do pecado. «…obras da lei…» Do Que Consiste a Lei Aqui Aludida ?

  1. Alguns dizem que se trata de lei cerimonial, e não da lei moral (os dez mandamentos). Vários intérpretes têm assumido essa posição, a fim de evitar a doutrina paulina da eliminação da lei como meio de salvação.
  2. Outros supõem que esteja especificamente em foco a lei moral, o decálogo. Mas é óbvio que essa é uma limitação por demais restrita. A circuncisão, por exemplo, era tida como essencial à salvação pelos judeus, e, no entanto, não fazia parte do decálogo.
  3. Provavelmente a lei judaica inteira está em pauta, a legislação mosaica, em seus aspectos moral e cerimonial. Os judeus não dividiam a lei nesses dois aspectos, conforme fazem os teólogos modernos. Para eles, a lei inteira envolvia obrigações morais, e alguns dos estatutos cerimoniais eram reputados como os requisitos mais importantes (por exemplo, a lavagem de mãos e copos, ou o uso das filactérias).
  4. Alguns intérpretes emprestam um sentido lato ao versículo—qualquer lei, a mosaica ou a voz da consciência. Em face de Rom. 2:14, essa idéia parece estar correta.

«…obras…» Do Que Consistem Essas Obras?

  1. Alguns afirmam que as obras humanas meritórias (aquelas produzidas pelo esforço humano) são as que de nada valem diante de Deus.
  2. Não se pode duvidar, entretanto, que as obras aqui referidas são aquelas envolvidas na obediência à legislação mosaica. Tais obras não podem justificar.
  3. Que dizer sobre as obras realizadas no poder do Espírito? Mesmo as obras espirituais não podem justificar o homem, apesar de seguirem-se obrigatoriamente à fé.

Relação Entre As Obras E A Justificação E A Graça

  1. É claro que as boas obras devem vir após a conversão. (Ver as notas em Efé. 2:10 acerca disso). O princípio da fé é um princípio vivo que, naturalmente, produz boas obras, pois, do contrário, nem existirá fé.
  2. Porém, as boas obras envolvem mais que esse fator. Se definirmos essas obras como «aquilo que 0 Espírito faz em nós e através de nós», então tais obras tornar-se-ão sinônimas da graça. (Isso é comentado em Efé. 2:8). O Espírito opera em nós tanto 0 querer como o realizar, segundo a boa vontade de Deus (ver Fil. 2:13). Essa espécie de obras é um cultivo do Espírito (ver Gál. 5:22) e não é mero resultado da salvação, pois é a própria salvação em operação.
  3. Além disso, as obras determinam o nível dos galardões ou posição na glória futura. Posto ser a glorificação o estágio final da salvação, então temos de afirmar que as obras espirituais fazem parte da salvação. Porém, isso nada tem a ver com o princípio legal mediante 0 qual os homens, através do esforço humano, adquirem algo. É atuação do Espírito, mas nós as realizamos!
  4. Visto que a justificação envolve mais em Paulo que a declaração forense da correta situação perante Deus, a fim de incluir tanto a santificação quanto a glorificação (ver notas em Rom. 5:18), então as obras espirituais fazem parte da questão, embora no sentido acima explicado.

«…o pleno conhecimento do pecado…» A lei cerimonial também demonstrava a natureza do pecado, já que através de seus muitos símbolos os judeus se tornavam capazes de entender algo sobre a pecaminosidade da transgressão, a necessidade do pecado ser perdoado, o sacrifício que isso envolveria da parte do Filho de Deus, etc., devido à natureza profundamente corrupta e pervertida do pecado. A circuncisão, por sua vez, falava da necessidade do indivíduo despir-se de sua natureza carnal, bem como da necessidade dele participar de uma nova modalidade de vida, como membros que eram os judeus de uma nação nova, separada das outras e consagrada a Deus. A lei moral, entretanto, revela mais particularmente a natureza do pecado. Pois a lei moral, quando é compreendida espiritualmente, e não apenas legalisticamente, revela a natureza santa do próprio Deus, até onde somos capazes de compreendê-la. Pois os mandamentos da lei moral, assim compreendidos, não se referem apenas aos atos externos, mas também aos desejos e motivos do coração. E por isso que o Senhor Jesus expandiu o alcance da lei, em seu famoso sermão da montanha. (Ver Mat. 5:1-48, especialmente). A lei mosaica teve por intuito levar os homens aos pés de Cristo, mostrando-lhes a sua perversão e a necessidade de perdão: porém, esse uso foi e continua sendo pervertido por certos, os quais pensam que podem salvar-se mediante um mais intenso empenho na observância da lei, ao invés de darem à lei o seu devido papel de «aio» (ver Gál. 3:24,25).

 

E esse papel, uma vez cumprido (quando o indivíduo já implorou a misericórdia divina, mediante 0 arrependimento e a fé no sangue de Cristo), põe fim à finalidade da lei: «Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê» (Rom. 10:4). «…conhecimento do pecado…» não se refere à mera «percepção» da existência e da natureza do pecado, e, sim, como diz, Vincent (in loc.): «…uma familiaridade com o pecado que leva o indivíduo ao arrependimento, à fé e ao caráter santo». E assim esse autor expressa o pensamento que Paulo apontava para algo que não se reduz ao mero entendimento sobre a natureza do pecado, pois, paralelamente a tal reconhecimento, vem o impulso de procurar a cura para tal pecado. De fato, no original grego, é usada a forma nominal intensiva para a palavra aqui traduzida por «conhecimento», isto é, «epignosis», o que lhe dá o sentido de «conhecimento claro e exato». (Quanto a uma lista de versículos que ensinam a verdade da justificação à parte das obras, ver os seguintes trechos: Rom. 3:20,28: 4:5,13,14; 5:19,20; 6:14; 7:4,6; 10:4; II Cor. 3:14; Gál. 2:16; 5:18; I Tim. 1:9; Efé. 2:8,9 e Heb. 7:18,19). «…ninguém…» é palavra que se fosse literalmente traduzida diria «nenhuma carne», ou seja, nenhum ser humano. Fica, pois, salientada a fragilidade da natureza humana, resultante do pecado. Estão em foco todos os «mortais» vivos, que são aqueles que necessitam ainda da redenção, porque jamais se arrependeram e nem exerceram fé em Cristo. Não há força «carnal» capaz de alcançar a justificação. Para tanto, é mister a força «espiritual», que reside no Espírito de Deus, e não no homem. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 618.    

   2. Faculdade das emoções.

Nesse campo da alma, o pecador experimenta uma mudança de sentimentos na vida interior, onde se manifesta a tristeza pelo pecado contra um Deus santo e justo. Em 2 Coríntios 7.10 está escrito: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependi mento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”. No Antigo Testamento, o salmista Davi demonstra tristeza pelo seu pecado e roga por misericórdia: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias” (Sl 51.1).    

Comentário

  A tristeza piedosa produz vida (7.9,10a). A tristeza segundo Deus é a ferida que cura, é a assepsia da alma, é a faxina da mente. E a tristeza que leva o homem a fugir do pecado para Deus, e não de Deus para o pecado. E a tristeza que leva o homem a abominar o pecado, e não apenas as consequências dele. A tristeza pelo pecado produz arrependimento verdadeiro, e o arrependimento atinge três áreas vitais da vida: razão, emoção e vontade. Arrependimento é em primeiro lugar mudança de mente. E transformação intelectual. E abandonar conceitos e valores errados e adotar os princípios e valores de Deus. Arrependimento é também mudança de emoções. E sentir tristeza pelo erro, e não apenas pelas consequências dele. E sentir nojo do pecado. Mas, finalmente, arrependimento implica em uma mudança da vontade. E dar meia-volta e seguir um novo caminho. Judas Iscariotes passou pelas duas primeiras fases do arrependimento: intelectual e emocional.

 

Ele reconheceu seu erro, confessou-o, sentiu tristeza por ele, mas não se voltou para Deus. Essa é a diferença entre remorso e arrependimento. A tristeza piedosa não para no primeiro ou segundo estágio, mas avança para o terceiro, que é uma volta para Deus! Foi assim com Pedro. Ele não apenas reconheceu seu erro e chorou por ele, mas voltou-se para Cristo. Foi assim com o filho pródigo. Não apenas caiu em si, mas voltou para a casa do Pai, arrependido. A tristeza mundana produz morte (7.10b). A tristeza do mundo produz morte. Essa é a tristeza daqueles que se enroscam no cipoal da culpa e caem no atoleiro da autoflagelação. E a tristeza daqueles que açoitam a si mesmos não porque estão quebrantados, mas porque foram apanhados em seu pecado. É o sentimento daquela pessoa que está triste não porque roubou, mas porque foi flagrada e apanhada no ato do roubo. Essa tristeza produz morte, pois não vem acompanhada de arrependimento verdadeiro. Essa é a tristeza do remorso. LOPES, Hernandes Dias. II Coríntios O triunfo de um homem de Deus diante das dificuldade. Editora Hagnos. pag. 180-181.  

 

 

Paulo sabe que, apesar de tudo, nossa melhor intenção pode causar dano em outros no serviço de aconselhamento. A carta podia transportar a igreja para aquela “tristeza” errada, que fecha o coração e “produz morte”. Mas também o temor de escrever e enviar uma carta dessas teria levado a igreja a sofrer grave “dano”, privando-a da ajuda decisiva da salutar mudança de pensamento. “Porque a tristeza segundo Deus produz mudança de pensamento para a salvação, de que ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo produz morte.” Uma tristeza separada de Deus, que o mundo conhece de diversas formas, “produz morte”. Por meio dela uma pessoa é destruída no íntimo. Contudo a “tristeza segundo Deus” produz “mudança de pensamento”, que por sua vez serve à nossa salvação. Tais dores, por mais que nos possam afligir interiormente, em determinadas épocas da vida são para nós a melhor coisa que pode nos acontecer, bem como o único caminho para a nossa salvação. Por isso ninguém “se arrepende” de um “arrependimento” desses. Ele conduz à vida. Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos II Corinto. Editora Evangélica Esperança.  

 

 

O contraste neste texto é claro: verdadeiro arrependimento versus remorso, e salvação versus morte. Uma das caras desta moeda proverbial é positiva e elaborada; a outra é negativa e breve. A disparidade é tão evidente que qualquer um pode notá-la.

  1. Tristeza que provém de Deus. «Porque a tristeza que ocorre segundo a vontade de Deus, gera arrependimento que produz salvação, da qual não há que lamentar-se». Uma vez mais, Paulo condensa seu ensino sobre a lei de Deus, Sua vontade e Seu conselho, na expressão segundo Deus (veja-se os comentários ao versículo 6). Quer dizer que a tristeza pelo pecado deve perceber-se no contexto de Deus, que nos dá Seus mandamentos, revela-nos a Sua vontade e guia o Seu povo à obediência.

A tristeza que Paulo menciona refere-se à tristeza pelo pecado cometido; tal tristeza pode levar o pecador arrependido a derramar lágrimas de amargura. Por exemplo, quando Pedro negou a Jesus, jurando não conhecê-Lo, ouviu cantar o galo. A partir desse canto, lembrou-se das palavras que Jesus lhe havia dito, saiu para fora e chorou amargamente (Mt 26:74–75). Paulo escreve que a tristeza que vem de Deus, produz arrependimento; mas em todas as suas epístolas usa o termo grego metanoia (arrependimento) só quatro vezes (Rm 2:4; 2Co 7:9, 10; 2Tm 2:25). E o verbo relacionado com este substantivo, arrepender-se, ocorre só uma vez em suas cartas (2Co 12:21). Embora os Evangelhos Sinóticos registram repetidas vezes o substantivo e o verbo, o Evangelho de João e as Epístolas carecem de ambos. Mas Paulo e João expressam esta ideia com dois substitutos: o substantivo fé e o verbo crer. Estas duas palavras ocorrem numerosas vezes nos escritos de João e de Paulo, e indicam a ação de um pecador quando se volta para Deus em plena dependência dEle. O Antigo Testamento ensina que Deus quer que o Seu povo se afaste do pecado e se torne para Ele.

Este ensino aparece graficamente refletida na profecia de Ezequiel: «Mas se o ímpio se arrepender de todos os pecados que cometeu e pratica o que é justo e correto, certamente viverá» (Ez 18:21, 27). O arrependimento leva à salvação — diz Paulo — o qual não é algo do que lamentar-se. Ninguém nunca poderá dizer que ele ou ela, fizeram mal ao arrepender-se e receber assim a salvação. Salvação significa restauração à plenitude de vida. Significa voltar a estar completo, a viver em harmonia com Deus e Seu povo. Talvez a declaração de Paulo: «arrependimento que produz salvação, do qual não há que lamentar-se», era um bem conhecido axioma da igreja primitiva.26 É inconsequente procurar averiguar se a cláusula não há que lamentar-se está relacionada com arrependimento ou com salvação. É evidente que o arrependimento genuíno desemboca na salvação, que então pode descrever-se como algo do que não há que lamentar-se.

  1. Tristeza que provém do mundo. «Mas a tristeza do mundo produz a morte». Que contraste! Agora, sim, vemos o contrário à frase que acabamos de ler. A contrição é afastar do pecado e voltar-se para Deus; mas a tristeza deste mundo é remorso que se manifesta em sentimentos de culpabilidade. Pedro se arrependeu e voltou com os apóstolos, e depois se encontrou com Jesus (Mt 26:75; Lc 24:33–34). Judas estava cheio de remorso, mas voltou para os sumos sacerdotes, que o rejeitaram (Mt 23:3–5). Pedro foi restaurado e se tornou a cabeça dos apóstolos (Jo 21:15–19). Judas se suicidou e foi condenado à destruição (At 1:18–19).

Os coríntios escolheram a vida, arrependendo-se e voltando para Deus. Receberam a salvação plena e gratuita; e sua relação com Deus e com Paulo foi restaurada completamente. Quando um pecador se arrepende, Jesus diz que os anjos do céu se alegram (Lc 15:7, 10). Paulo também transbordava de alegria ao saber que o coração do povo de Corinto tinha mudado. Sua carta e a visita de Tito não tinham sido em vão. Os coríntios tinham abandonado seus maus caminhos e voltaram seus passos para o Deus vivo, o Autor da salvação. Por isso Paulo não encontrava limites à sua alegria quando Tito lhe trouxe aquelas notícias da igreja de Corinto. Simom J. Kistemaker. Comentário do Novo Testamento I Coríntios. Editora Cultura Cristã. pag. 378-380.    

 

 

 3. Faculdade da vontade.

Se o homem está convencido em seu intelecto e sentimento a respeito do seu pecado, resta-lhe agora exercer a sua vontade. O pecador agora pode pensar, desejar e fazer o que deve ser feito para a glória de Deus (Fp 4.8,9). Como imagem de Deus, o homem foi dotado com a faculdade de escolher livremente. Entretanto, e infelizmente, o pecado fez a separação entre a vontade do homem e a de Deus. Por isso, o Espírito Santo atua para convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8) para, então, tornar unir sua vontade com a de Deus. Há uma teoria que afirma que o homem perdeu completamente o livre-arbítrio por ocasião do pecado. Refutamos essa ideia. Com o auxílio da graça divina, e ajudado pelo Espírito Santo, o homem pode escolher, decidir e mudar de vida.      

Comentário

  O pensamento, uma área estratégica a ser guardada (4.8) Pensamentos errados levam a comportamento errado, e comportamento errado leva a sentimento errado. Por isso, devemos levar todo pensamento cativo à obediência de Cristo (2Co 10.5). As nossas maiores batalhas são travadas no campo da mente. Nessa trincheira, a guerra é ganha ou perdida. O homem é aquilo que ele pensa. Precisamos fechar os portais da nossa mente para o que é vil e abrir as suas janelas para o que é verdadeiro, justo, amável e de boa fama. Precisamos jogar para o sacrário da nossa mente o que é elevado e esvaziar todos os porões da nossa mente de tudo aquilo que é impróprio. Somos aquilo que registramos em nossa mente. Se arquivarmos em nossa mente coisas boas, de lá tiraremos tesouros preciosos, mas se tudo o que depositamos são coisas malsãs, não poderemos tirar dela o que é proveitoso. Paulo faz uma lista do que que deve ocupar os nossos pensamentos: Em primeiro lugar, tudo o que é verdadeiro. A palavra grega alethe pode significar “verdade” em oposição àquilo que é irreal, insubstancial, ou “verdade” em oposição à falsidade. Noventa e dois por cento de tudo aquilo que ocupa a mente das pessoas, levando-as à ansiedade, são coisas imaginárias que nunca aconteceram ou envolvem questões fora do controle das pessoas. F. F. Bruce diz que a ordem de Paulo poderia tratar-se de uma advertência contra a indulgência mental em fantasias ou difamações infundadas. Tudo o que é verdadeiro, aqui, possui as qualidades morais de retidão e confiança, de realidade em contraposição à mera aparência. Em segundo lugar, tudo o que é respeitável. A palavra grega é semnos e traz a ideia de alguém que vive neste mundo com uma profunda consciência de que o Universo inteiro é um santuário e tudo o que ele faz deve ser um culto a Deus. A mente que se concentra em assuntos desonestos corre o perigo de tornar-se desonesta. Honestidade é o contrário da duplicidade de caráter que avilta a moral, sendo incompatível com a mente de Cristo. Os crentes devem ser dignos e sinceros tanto em suas palavras quanto em seu comportamento.

O decoro nas conversações, nos costumes e na moral é muito importante, diz William Hendriksen. Em terceiro lugar, tudo o que é justo. A palavra grega dikaios enfatiza aqui uma correta relação com Deus e com os homens. Tendo recebido de Deus tanto a justiça imputada quanto a comunicada, os crentes devem pensar com retidão, diz Hendriksen. William Barclay diz que essa é a palavra do dever assumido e do dever cumprido. O reverso disso encontramos no homem iníquo que “maquina o mal na sua cama”, a fim de executá-lo depois, à luz do dia (Am 8.4-6). Em quarto lugar, tudo o que é puro. A palavra grega hagnos descreve o que é moralmente puro e livre de manchas. Ritualmente descreve algo purificado de tal maneira que se faz apto para ser oferecido a Deus e usado em seu serviço. Pureza de pensamento e de propósito é condição preliminar indispensável para a pureza na palavra e na ação, diz E E Bruce. Em quinto lugar, tudo o que é amável. A palavra grega prosphiles traz o significado de agradável, aquilo que suscita amor. Trata-se de algo que se auto-recomenda pela atração e encanto intrínsecos. São aquelas coisas que proporcionam prazer a todos, não causando dissabor a ninguém, à semelhança de uma fragrância preciosa, diz E F. Bruce.

Em sexto lugar, tudo o que é de boa fama. A palavra grega euphemos significa literalmente “falar favoravelmente”. No mundo, há demasiadas palavras torpes, falsas e impuras. Nos lábios do cristão e em sua mente, devem existir somente palavras que são adequadas para ser ouvidas por Deus. Em sétimo lugar, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento. Ao invés de continuar sua seleção, Paulo resume, agora: “se alguma virtude há”, do grego arete, cujo significado é “virtude moral”, e “se algum louvor existe”, do grego epainos, “aquilo que merece louvor ou que inspira a aprovação divina”. Ambos os termos descrevem as qualidades que devem marcar as atitudes e ações dos crentes. LOPES, Hernandes Dias. Filipenses: a alegria triunfante no meio das provas. Editora Hagnos. pag. 235-237.    

 

 

 

Se alguém quiser ter esta paz interior de Deus e manter uma vida livre de preocupações, certos passos devem ser dados, notavelmente em seus pensamentos. Esta lista descreve o que deve permear a mente dos crentes. Os crentes devem fixar seus pensamentos em coisas que são: Verdadeiras. A verdade inclui fatos e declarações que estão de acordo com a realidade (não mentiras, rumores ou exageros), que são sinceros (não enganosos ou com motivos maus), leais, fiéis, próprios, confiáveis, e legítimos. A verdade é uma característica de Deus.

  • Honestas. Estas questões são dignas de respeito, dignificadas e exaltadas em caráter ou excelência.
  • Justas. Pensamentos e planos que atendam os padrões de justiça de Deus.

Elas devem manter a verdade; elas devem ser íntegras.

  • Puras. Livres de contaminação ou culpa; não misturadas e não modificadas; inteiras. Paulo provavelmente estava falando da pureza moral, algo que é frequentemente muito difícil de manter nos pensamentos.

Amáveis. Pensamentos de grande moral e beleza espiritual, não do mal. De boa fama. Coisas que falam bem do pensador — pensamentos que recomendam, dão confiança, permitem a aprovação ou o elogio, revelam o pensamento positivo e construtivo. Os pensamentos de um crente, se ouvidos por outros, devem ser admiráveis, não constrangedores. Que tenham virtude. Excelência moral; nada de qualidade inferior. Dignas de louvor. Esta frase pode ser entendida como “qualquer coisa que mereça o louvor do pensador”, ou “qualquer coisa que Deus considere digna de louvor”. Paulo vivia e continuava vivendo de acordo com as suas palavras, de modo que ele podia rogar aos crentes que colocassem em prática o que eles tinham aprendido dele (de seu ensino e instrução). As Escrituras só foram compiladas em uma Bíblia mais tarde, de maneira que os padrões de crença e comportamento estavam incorporados aos ensinos e exemplos daqueles que tinham a autoridade. Paulo podia falar confiantemente; as pessoas podiam seguir o seu exemplo, porque ele estava seguindo o exemplo de Cristo (1 Co 11.1). Se os crentes continuassem praticando as virtudes que Paulo citou acima, eles experimentariam o Deus de paz. Deus é a fonte de paz para todos os crentes. Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 389-390.  

 

Pensar corretamente (Fp 4:8) A paz envolve o coração e a mente. “Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito [mente] é firme; porque ele confia em ti” (Is 26:3). Pensamentos incorretos geram sentimentos incorretos, e logo o coração e a mente veem-se divididos e estrangulados pela ansiedade. É preciso ter consciência de que os pensamentos são reais e poderosos, mesmo que não possam ser vistos, pesados nem medidos. Precisamos “[levar] cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10:5). Semeie um pensamento, colha uma ação. Semeie uma ação, colha um hábito. Semeie um hábito, colha um caráter. Semeie um caráter, colha um destino! Paulo descreve em detalhes as coisas em que devemos pensar como cristãos. Tudo o que é verdadeiro. Segundo Walter Cavert, uma pesquisa sobre a ansiedade mostrou que apenas 8% das coisas que deixam as pessoas ansiosas são motivos legítimos para preocupação. Os outros 92% são imaginários, nunca aconteceram ou envolvem questões fora do controle das pessoas. Satanás é mentiroso (Jo 8:44) e deseja corromper a mente com suas mentiras (2 Co 11:3). Satanás continua a nos abordar da mesma forma que abordou Eva no jardim: “É assim que Deus disse…?” (Gn 3:1 ss).

O Espírito Santo controla a mente por meio da verdade (Jo 17:1 7; 1 Jo 5:6), mas o diabo tenta controlá-la por meio de mentiras. Sempre que cremos em uma mentira, Satanás assume o controle! Tudo o que é respeitável e justo. Ou seja, tudo o que é “digno de respeito e correto”. Muitas coisas não são respeitáveis, e os cristãos não devem pensar nelas. Isso não significa enterrar a cabeça na areia e evitar tudo o que é desagradável, mas sim não dedicar atenção a coisas desonrosas nem permitir que elas controlem os pensamentos. Tudo o que é puro amável e de boa fama. “Puro” refere-se, provavelmente, à pureza moral, uma vez que as pessoas daquela época, como as de hoje, eram constantemente tentadas pela impureza sexual (Ef 4:17-24; 5:8-12). “Amável” significa “belo, atraente” . “D e boa fama” refere-se ao que é “digno de ser comentado, atraente”. O cristão deve encher a mente com os pensamentos mais nobres e elevados, não com os pensamentos abjetos deste mundo depravado. Tudo o que tem virtude e louvor. Se tem virtude, servirá de motivação para nos aperfeiçoar; se tem louvor, é digno de ser recomendado a outros. Nenhum cristão pode se dar o luxo de desperdiçar “energia mental” com pensamentos que o rebaixam ou que prejudicam outros quando compartilhados. Ao comparar essa lista com a descrição que Davi faz da Palavra de Deus, no Salmo 19:7-9, vemos um paralelo. O cristão que enche o coração e a mente com a Palavra de Deus tem um “radar embutido” que detecta pensamentos indevidos. “Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço” (SI 119:165). Os pensamentos corretos nascem da meditação diária na Palavra de Deus. Viver corretamente (Fp 4 :9 ) Não é possível separar atos exteriores de atitudes interiores.

O pecado sempre resulta em inquietação (a menos que a consciência esteja cauterizada), enquanto a pureza resulta sempre em paz. “O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre” (Is 32:17). “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica” (Tg 3:17). A vida correta é uma condição necessária para se experimentar a paz de Deus. Paulo considera quatro atividades: “aprender e receber” e “ouvir e ver”. Uma coisa é aprender a verdade e outra bem diferente é recebê-la e assimilá-la no seu interior (ver 1 Ts 2:13). Não basta ter fatos na cabeça, é preciso ter verdades no coração. Ao longo de seu ministério, Paulo não apenas ensinou a Palavra, mas também a viveu na prática para que seus ouvintes pudessem vê-la em sua vida. Nossa experiência deve ser semelhante à de Paulo. Devemos aprender a Palavra, recebê-la, ouvi-la e colocá-la em prática. “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes” (Tg 1:22). A “paz de Deus” é um parâmetro que nos ajuda a determinar se estamos dentro da vontade de Deus. “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração” (Cl 3:15). Se estivermos andando no Senhor, a paz de Deus e o Deus da paz exercerão sua influência sobre nosso coração. Sempre que desobedecemos, perdemos a paz e sabemos que fizemos algo de errado.

A paz de Deus é o “árbitro” que “nos dá um cartão amarelo”! Orar corretamente, pensar corretamente e viver corretamente: essas são as condições para ter segurança e vitória sobre a ansiedade. Se Filipenses 4 é o “capítulo da paz” do Novo Testamento, Tiago 4 é o “capítulo da guerra” e começa com a seguinte pergunta: “D e onde procedem guerras e contendas que há entre vós?”. Tiago explica as causas da guerra: orações incorretas (“Pedis e não recebeis, porque pedis mal”; Tg 4:3); pensamentos incorretos (“vós que sois de ânimo dobre, limpai o vosso coração”; Tg 4:8); e uma vida incorreta (“não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?”; Tg 4:4). Não há meio termo. Ou nós entregamos inteiramente ao Espírito de Deus e oramos, pensamos e vivemos corretamente, ou nós entregamos à carne e ficamos divididos e ansiosos. Não há com que se preocupar! E a preocupação é pecado! (ver Mt 6:24-34). Com a paz de Deus para nos guardar e o Deus da paz para nos guiar, que motivos temos para nos preocupar? WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 125-126.    

SÍNTESE DO TÓPICO III

As três faculdades interiores transformadas na conversão são a intelectual, a das emoções e a da vontade.

  SUBSÍDIO TEOLÓGICO “A regeneração é a nova criação e transformação da pessoa (Rm 12.2; Ef 4.23,24) efetuadas por Deus e o Espírito Santo (3.6 [João]). Por esta operação, a vida eterna da parte do próprio Deus é outorgada ao crente (3.16; 2 Pe1.4; 1 Jo 5.11), e este se torna um filho de Deus (1.12; Rm 8.16,17; Gl 3.26) e uma nova criatura (2 Co 5.17: Cl 3.10). Já não se conforma com este mundo (Rm 12.2), mas é criado segundo Deus ’em verdadeira justiça e santidade’ (Ef 4.24). A regeneração é necessária porque, à parte de Cristo, todo ser humano, pela sua natureza inerente e pecadora, é incapaz de obedecer a Deus e de agradar-lhe (Sl 51.5; 58.3; Rm 8.7.8: 5.12; 1 Co 2.14)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1576).  

CONCLUSÃO

A conversão de Saulo foi provocada pelo impacto do resplendor de luz que ofuscou a sua visão e obrigou-o a reconhecer que não podia mais lutar contra Cristo. A conversão é, portanto, uma obra divina em que o homem responde com arrependimento e fé. Na conversão, a soberania de Deus “caminha de mãos dadas” com a responsabilidade humana. Por isso, o arrependimento e a fé conduzem o pecador a ser redimido pelo sangue de Cristo.    

PARA REFLETIR

 

A respeito de “A Conversão de Saulo de Tarso”, responda:

  • O que Lucas narra em Atos 9.3?

Em Atos 9.3, Lucas narra a impactante experiência sobrenatural de no caminho para Damasco.

  • Qual é o ponto de partida da salvação de todos os homens?

O ponto de partida da experiência de salvação de todos os homens é a graça de Deus.

  • O que significa “arrepender-se”?

A palavra “arrepender-se” no grego biblico é “metanoeo”, que significa “pensar de maneira diferente; sentir remorso”, uma disposição interior para mudar.

  • O que é a verdadeira conversão?

A verdadeira conversão é a que nasce da tristeza para com o pecado e o reconhecimento de que o homem precisa “dar meia volta” para Deus. É uma mudança que tem raízes na obra regeneradora do Espírito Santo efetuada na vida do pecador.

  • Quais as três faculdades interiores que são transformadas na conversão?

A faculdade intelectual, a das emoções e a da vontade.  ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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Uma resposta para “3 LIÇÃO 4 TRI 2021 A CONVERSÃO DE SAULO DE TARSO”

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