4 LIÇÃO TRI 2021 PAULO, A VOCAÇÃO PARA SER APÓSTOLO

  4 LIÇÃO TRI 2021 PAULO, A VOCAÇÃO PARA SER APÓSTOLO

4 LIÇÃO TRI 2021 PAULO, A VOCAÇÃO PARA SER APÓSTOLO

 

TEXTO AUREO

“Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo.” (1 Co 1.1)  

VERDADE PRATICA

Deus chama pessoas para realizar grandes feitos no reino divino.

LEITURA DIARIA

Segunda – Gl 1.15  Um chamado pela presciência de Deus

 

Terça – At 9.15,16   Paulo, um vaso escolhido de Deus

 

Quarta – At 9.17; 1 Co 14.18        Paulo na dimensão do Espírito

 

Quinta – At 22.14     Deus o escolhe de antemão para fazer a sua vontade

 

Sexta – Ef 1.1           Paulo, separado para ser apóstolo

 

Sábado – Gl 1.17,18           A escola do deserto na Arábia Atos 9.15-22; Gálatas 1.11-18    

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 9.15-22; Gálatas 1.11-18

Atos 9 15 – Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. 16 – E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome. 17 – E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. 18 – E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado. 19 – E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco. 20 – E logo, nas sinagogas, pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus. 21 – Todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes? 22 – Saulo, porém, se esforçava muito mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo.   Gálatas 1 11 – Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, 12 – porque não o recebi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo. 13 – Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava. 14 – E, na minha nação, excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. 15 – Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, 16 – revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue, 17 – nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia e voltei outra vez a Damasco. 18 – Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro e fiquei com ele quinze dias.    

HINOS SUGERIDOS: 16, 93, 600 da Harpa Cristã

 

OBJETIVO GERAL

Revelar que Deus vocaciona atualmente os crentes para a sua obra.  

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Salientar o ponto de partida para a vocação de Paulo;

 

Enfatizar que a vocação de Paulo foi efetivada pelo Cristo Ressurreto;

 

Relacionar a vocação de Paulo com o aprendizado no deserto.    

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

Antes de o apóstolo Paulo exercer a sua vocação, ele passou por um aprendizado no deserto. O deserto lhe ensinou mais sobre Jesus, onde o apóstolo pôde reavaliar-se diante de Deus, mediante suas crenças e convicções. Ele podia agora confrontá-las com a revelação da graça de Deus em Cristo. Ainda no deserto, ele pôde refletir sobre a simplicidade, dominar suas paixões instintivas e, por meio da solidão, aprender a depender de Deus. O deserto que Paulo experimentou pode trazer profundos aprendizados para os nossos próprios “desertos”, quando os experimentamos quer na vida cotidiana, quer no ministério dado por Deus.      

PONTO CENTRAL: Deus chama para a sua obra.

 

COMENTÁRIO INTRODUÇÃO

Nesta lição, estudaremos a respeito da vocação de Paulo para o santo apostolado. Veremos o ponto de partida de sua vocação e sua escola de formação no deserto da Arábia. Assim, teremos uma visão geral de como Deus usa o tempo e as circunstâncias para formar um ministério útil para o Reino de Deus.    

Comentário

  Depois de dramáticos eventos no caminho de Damasco, Paulo foi confrontado com Cristo. Sua vocação estava estabelecida na presciência de Deus. Ele mesmo confirma esse fato aos gálatas quando diz: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça” (Gl 1.15). Paulo teve sua vocação precedida por uma transformação completa no seu encontro com Cristo. Mesmo não querendo submeter-se a uma mudança de mente, o Senhor lançou-o por terra para que ele, prostrado ao chão e impotente, ouvisse a voz de Jesus e o desafio de vir a ser um pregador do evangelho (At 9.20; 22.7,10). Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

Quando alguém se converte a Cristo de modo tão inesperado e radical quanto Saulo, passa a sentir de imediato um forte desejo de partilhar sua experiência com todos. Diante de um testemunho como o seu não há como disfarçar as emoções. A experiência de um homem que viu a glória divina nos aquece o coração. Saído de um ambiente tão rígido como o do farisaísmo, o choque que Saulo recebeu foi enorme. Seu modo de pensar modificara-se tão rapidamente, que ele precisava de tempo para descansar e refletir. Queria repensar o passado, observar lógica e tranquilamente o futuro, e preparar-se para a grande obra a que Deus o chamara. O Senhor não dissera que ele devia levar o nome de Cristo diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel? Saulo era um pensador profundo. Não tomava nenhuma atitude sem antes raciocinar e pesar as consequências. Algumas pessoas a tudo analisam; outras, não se preocupam com nada. A mente de Saulo era analítica; teve necessidade de refletir para ajustar-se aos fatos que lhe abalaram a estrutura existencial. Ao despedir-se dos cristãos de Damasco, isolou-se na Arábia a fim de concentrar-se nesta nova etapa de sua vida. Na Epístola aos Gálatas, Saulo revela que, depois de sua conversão, não se dirigiu aos apóstolos em Jerusalém, ou para quaisquer outros, a fim de se inteirar do Evangelho que mais tarde pregaria. O Evangelho foi-lhe revelado diretamente por Deus. Em várias ocasiões, apóstolo o enfatizou: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23). Ball. Charles Ferguson. A Vida e os Tempos do Apóstolo Paulo. Editora CPAD. pag. 41.      

I – O PONTO DE PARTIDA PARA A VOCAÇÃO DE PAULO

     1. Chamada e presciência divina. A vocação de Paulo foi estabelecida segundo a presciência de Deus. Ele mesmo confirma esse fato aos gálatas, quando escreve: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça” (Gl 1.15). O apóstolo experimentou uma completa transformação por meio do encontro com Cristo, e foi vocacionado por Ele para uma grande obra. O Livro de Atos atesta para uma chamada presciente quando o nosso Senhor diz a Ananias: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.15,16). Assim, Paulo foi batizado no Espírito Santo, batizado nas águas e teve a sua visão recuperada (At 9.18).    

Comentário

  A conversão de Saulo não foi repentina nem compulsiva. A narrativa de Lucas indica que Saulo teve que ser impactado intelectual e emocionalmente no caminho de Damasco para render-se ao chamado de Jesus. Saulo era um perseguidor implacável contra os seguidores de Cristo e estava indo para Damasco com carta branca das autoridades romanas e judaicas para prender e supliciar qualquer seguidor de Cristo que encontrasse. Não sabia ele que ninguém resiste a Deus. Na presciência divina, esse homem foi escolhido para ser o apóstolo dos gentios. Seu encontro com Jesus naquele caminho para Damasco, arrefeceu o perseguidor implacável. Depois de fazê-lo cair por terra, Jesus perguntou: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Essa pergunta de Jesus quebrou o orgulho de Saulo, que, sem nenhuma contra argumentação, ficou cego pelo resplendor de luz, e ele respondeu com outra pergunta: “Quem és tu, Senhor? Jesus lhe responde: ‘Eu sou Jesus, a quem tu persegues’”. A graça de Deus Pai manifestou-se poderosa e soberanamente, e Paulo prontamente se dispôs a obedecê-lo e segui-lo. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

Depois de falar do seu passado, Paulo passa a tratar do seu presente e contar como foi sua conversão. Ao destacar que a transformação ocorrida em sua vida não havia sido causada pelos judeus nem pela igreja, mas, sim, por um milagre espiritual operado pelo próprio Deus, mais uma vez Paulo defende seu apostolado, pela legitimidade de sua conversão. Destacamos aqui quatro pontos fundamentais. Em primeiro lugar, a eleição incondicional. “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer…” (1.15a). Não foi Paulo quem escolheu a Deus, mas foi Deus quem o escolheu. Deus não o escolheu porque previu que Paulo iria crer em Cristo, mas Paulo recebeu o dom da fé porque Deus o escolheu. Deus não o escolheu porque Paulo havia praticado boas obras; ele foi escolhido e separado antes mesmo de nascer. A eleição de Deus não se baseia no mérito, pois quando Deus o chamou Paulo era blasfemo, insolente e perseguidor. A eleição divina é incondicional. Como Deus conheceu Jeremias antes que fosse formado no ventre da sua mãe e o consagrou e o constituiu profeta antes de sair da madre (Jr 1.5), assim também Deus escolheu Paulo antes de seu nascimento (1.15). O chamado de Paulo foi feito antes que o apóstolo pudesse pensar por si mesmo, e isto deve comprovar que o seu evangelho não era de sua própria fabricação. Deus separou Paulo não apenas para a salvação, mas também com um propósito especial: que ele fosse o instrumento a levar essa salvação aos gentios (At 9.15; 22.15; 26.16-18). Calvino destaca aqui três passos: 1) a predestinação eterna; 2) a destinação desde o ventre; e 3) a chamada, que é o efeito e o cumprimento dos dois primeiros passos. Em segundo lugar, a chamada irresistível. “… e me chamou pela sua graça…” (1.15b). A eleição é incondicional e a graça é irresistível. Deus chama, e chama eficazmente. O mesmo Deus que escolhe é também o Deus que chama e, quando ele chama, sua voz é irresistível. Há dois chamados: um externo e outro interno, um dirigido aos ouvidos e outro ao coração. O próprio Paulo ensinou em sua Epístola aos Romanos: “Aos que [Deus] predestinou, a esses também chamou…” (Rm 8.30). Jesus diz: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Diz ainda: “Todo aquele que meu Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum, o lançarei fora” (Jo 6.37). De acordo com Calvino, Paulo quis mostrar que sua chamada dependia da eleição secreta de Deus e que ele fora ordenado apóstolo não por esforço próprio, porque se preparara para desempenhar esse nobre ofício ou porque Deus o considerara digno de perfazê-lo, e sim porque, antes mesmo de nascer, já havia sido separado pelo desígnio secreto de Deus. John Stott destaca que Paulo não merecia misericórdia, nem a pedira. Mas a misericórdia fora ao seu encontro, e a graça o chamara. Em terceiro lugar, a revelação sobrenatural. “… aprouve revelar seu Filho em mim…” (1.15b, 16). Deus revelou Jesus a Paulo e essa revelação não foi apenas no nível intelectual, mas, sobretudo, no nível experimental. A experiência que Paulo teve no caminho de Damasco mudou sua vida. O próprio Cristo ressurreto, a quem Paulo perseguira, apareceu-lhe e transformou sua vida. Sua conversão não foi um sugestionamento psicológico nem uma histeria emocional, mas uma revelação sobrenatural, que transformou radicalmente seu viver. John Stott tem razão quando escreve: “Paulo perseguia a Cristo porque cria que este era um impostor. Agora os seus olhos estavam abertos para ver Jesus não como um charlatão, mas como o Messias dos judeus, Filho de Deus e o Salvador do mundo”. Concordo com Warren Wiersbe quando diz que o mesmo Cristo que ensinou aqui na terra também ensinou, do céu, ao apóstolo Paulo. Assim, Paulo não inventou seus ensinamentos; ele os “recebeu” (Rm 1.5; ICo 11.23; 15.3). Isso significa que o Cristo dos quatro evangelhos e o Cristo das epístolas é a mesma pessoa; não há conflito algum entre Cristo e Paulo. Adolf Pohl está certo ao afirmar que essa revelação foi o cerne da experiência de Paulo. Essa revelação não ocorreu apenas diante dos seus olhos físicos, mas se passou de forma avassaladora dentro dele. O termo grego para “revelação”, apokaypsis, está relacionado com kálymma, “invólucro”. Um “invólucro”, que até então lhe obscurecia a verdade e a realidade do Crucificado, veio ao chão. Em 2Coríntios 3.16 Paulo escreve: “Mas quando alguém se converte ao Senhor, o véu (invólucro) é retirado”. LOPES, Hernandes Dias. GALATAS A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pag. 67-70.      

 

Ele descreve a maneira maravilhosa como foi dissuadido do erro dos seus caminhos, como foi levado ao conhecimento e fé em Cristo e designado para o ofício do apostolado (w. 15,16). Isso não foi feito de uma forma comum, nem por meios ordinários, mas de uma maneira extraordinária. Porque: (1) Deus “…desde o ventre de minha mãe me separou… ”. A mudança operada nele foi em consequência de um propósito divino, em que foi designado para ser cristão e apóstolo, antes de vir ao mundo ou ter feito bem ou mal. (2) Ele foi chamado “…pela sua graça”. Todos os convertidos são chamados pela graça de Deus. A conversão é o resultado do favor de Deus em relação aos convertidos, e é realizado pelo seu poder e graça neles. Mas havia algo peculiar no caso de Paulo, quanto à rapidez e à grandeza da mudança operada nele, e também da maneira como foi operada. Essa mudança não ocorreu pela mediação de outros, mas pela aparição pessoal de Cristo a ele e a operação imediata nele. Dessa maneira, ficou evidente a ação extraordinária do poder e favor divinos (3) Ele tinha Cristo revelado nele. Ele não só foi revelado a ele, mas nele. Não nos beneficiaremos da revelação de Cristo feita a nós se também Ele não for revelado em nós. Mas esse não era o caso de Paulo. Agradou a Deus “…revelar seu Filho…” nele, levá-lo ao conhecimento de Cristo e seu evangelho pela revelação especial e imediata. (4) Foi com esse desígnio que ele deveria pregá-lo aos gentios. O apóstolo não só deveria recebê-lo, mas pregá-lo a outros. Dessa forma, ele era tanto um cristão quanto um apóstolo pela revelação. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 548.            

 

 

    2. Um ministério na plenitude do Espírito.

Depois de passar pela experiência do Novo Nascimento, Paulo recebeu a plenitude do Espírito, isto é, ele foi batizado no Espírito Santo (At 9.17). Nesse sentido, o Livro de Atos revela que o ministério do apóstolo dos gentios recebeu uma unção especial do Espírito Santo. Foi um ministério marcado por pregação poderosa, curas, sinais, prodígios e maravilhas. Com o ministério do apóstolo, aprendemos que não podemos fazer a obra de Deus sem a atuação do Espírito Santo. Ele é que confirma a Palavra e a obra.  

Comentário

  “Aquele mesmo Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas (v. 17) e te convenceu do pecado de persegui-lo, me enviou agora para te consolar.” Una eademque manus vulnus opemque tulit – A mão que feriu cura, “Sua luz te deixou cego, mas Ele me enviou a ti para que tornes a ver, pois o proposito não era cegar teus olhos, mas os encantar para que visses as coisas por outra luz. Aquele que pôs barro em teus olhos me enviou para que tu os lavasses a fim de que eles sejam curados.” Ananias poderia entregar sua mensagem a Saulo muito apropriadamente nas palavras do profeta Oseias: Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele despedaçou e nos sarara, fez a ferida e a ligara. Depois de dois dias, nos dará a vida; ao terceiro dia> nos ressuscitara e viveremos diante dele (Os 6.1,2). Não serão mais aplicados agentes corrosivos, mas agentes lenitivos. (4) Ananias garante a Saulo que ele não só terá sua visão restabelecida, mas será cheio do Espirito Santo (v. 17). Já que ele será apostolo, não deve em nada ficar atrás do principal dos apóstolos. Ele tem de receber o Espirito Santo imediatamente, e não, como os outros, pela interposição dos apóstolos. O fato de Ananias impor as mãos sobre ele, antes de ele ser batizado, tem como alvo conceder o Espirito Santo. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 98.  

 

Como cristão, Saulo aceitou Jesus como Salvador e Senhor, e foi renovado e habitado pelo Espírito Santo. Agora ele é irmão em Cristo. O Senhor enviou Ananias para que a visão de Saulo fosse restaurada e ele fosse “cheio do Espírito Santo” (v. 17). Enquanto Ananias ora por ele, uma substância escamosa cai dos olhos de Saulo e ele recupera a visão. Saulo fora motivado por zelo ao perseguir os crentes, mas agora ele precisa de mais que zelo para cumprir sua tarefa profética de pregar o evangelho aos gentios. Ele tem de ser “cheio do Espírito Santo”, da mesma maneira que os discípulos foram no Dia de Pentecostes. O relato em Atos não declara precisamente quando ele recebeu o enchimento do Espírito. Muito provavelmente ele teve a experiência pentecostal quando Ananias lhe impôs as mãos. O ministério subsequente de Saulo em Damasco indica claramente que ele está cheio do Espírito. Depois da cura, ele é batizado por Ananias, o que pode implicar que ele já estava cheio com o Espírito. Então ele termina o jejum, mas não sai de Damasco. “Logo” Saulo começa a proclamar o evangelho nas sinagogas daquela cidade afirmando que Jesus é o Filho de Deus (v. 20). Sua pregação inspirada é sinal claro de que está cheio do Espírito. Ele “se esforçava muito mais”, confundindo “os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo” (v. 22). Curando Saulo de sua cegueira, o Senhor lhe dá um sinal poderoso de que o chama, e pelo batismo com o Espírito, o capacita a proclamar o evangelho a todo o mundo (v. 15). Esta experiência demonstra que Deus dá a plenitude do Espírito àqueles que o obedecem (At 5.32) e aos que fervorosamente o buscam (Lc 11.13). Note como depois do encontro com o Senhor na estrada, Saulo obedeceu à voz divina entrando em Damasco, onde passou três dias em intensa oração e jejum. Lucas é silencioso sobre o momento quando Saulo é cheio com o Espírito, bem como sobre qualquer manifestação que possa ter acompanhado a experiência. Ele não menciona, por exemplo, que ele tenha falado em línguas, mas na primeira carta de Paulo aos coríntios, ele afirma que fala em línguas, experiência que designa ao Espírito (1 Co 12.10,11; 14.18). Certamente sua experiência com o Espírito Santo em Damasco incluiu falar em línguas. A preocupação primária de Lucas é descrever a chamada de Saulo e a capacitação que ele recebeu para pregar as boas-novas. Sua experiência é consistente com o derramamento do Espírito sobre os crentes em Jerusalém e Samaria. A experiência carismática de Paulo, de acordo com Atos, é paralela à de Pedro. Paulo e Pedro são capacitados pelo Espírito a levar o nome de Jesus (At 2.4; 4.8,31; 9.17; 13.9,52). O fator mais importante no sucesso é que eles são guiados e capacitados pelo Espírito Santo. Como Lucas observou, o Espírito já trabalhou por Pedro de forma poderosa (At 2.14-41; 3-11-26; 4.8-12; 5.1-11), e essa forma é igual ao padrão para acontecimentos posteriores no ministério de Pedro (At 10.1—11.18; 12.1- 17). Consistente com a unção carismática de Paulo, o Espírito Santo está presente de maneira poderosa para torná-lo bem-sucedido como missionário apostólico. Porque foi cheio com o Espírito, ele testemunha de Jesus por obras de poder, como curar os doentes (At 14.8-20), expulsar os demônios (At 16.16-18) e ressuscitar os mortos (At 20.7-12). Ele também testemunha por palavras de poder, como o pronunciamento de uma maldição em Elimas, o Mágico (At 13.6-12) e seu testemunho poderoso diante do Sinédrio (At 23.1-11). Como Pedro, a unção especial de Paulo tem grande significado para o ministério que jaz à frente. Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. pag. 675-76.  

 

19a/Ananias finalmente venceu sua relutância, senão seu medo, e acabou indo à casa da rua Direita. Ali, impôs as mãos sobre Paulo, anunciando-lhe que havia sido enviado por Jesus, a fim de que tornes a ver, e sejas cheio do Espírito Santo (v. 17). Nenhuma palavra de recriminação, mas uma recepção calorosa à comunhão da igreja (cp. v. 27). A imposição de mãos deve ser vista como um sinal da cura dos olhos, não do enchimento de Paulo com o Espírito Santo— e menos ainda como método mediante o qual esse dom é concedido. O enchimento de Paulo com o Espírito Santo relaciona-se melhor com seu batismo, mas repitamos, não como o método ou meio, mas simplesmente como um sinal externo de uma graça espiritual interna (veja a disc. sobre 2:38). A vista de Paulo foi restaurada (Lucas descreve a cura empregando termos de medicina); Paulo foi batizado (teria sido pelas mãos de Ananias?), alimentou-se e “sentiu-se fortalecido”. E possível que este seja outro termo médico, e assim Paulo estava pronto para o que o aguardava. David j. Williams. Comentário Bíblico Contemporâneo. Atos. Editora Vida. pag. 197-198.        

 

 

3. Deus mudou o nome de Saulo para Paulo?

 

Na Bíblia, vemos ocasiões em que Deus mudou o nome de pessoas (Abrão para Abraão [Gn 17.5]; Jacó para Israel [Gn 35.10]), como Jesus alterou o nome de Simão para Pedro (Mc 3.16; Jo 1.42). Entretanto, isso não se deu com o nome do apóstolo Paulo. Não há qualquer menção disso na Bíblia. O que explica a mudança de ênfase do nome de Saulo para Paulo é a origem do apóstolo. O nome “Saulo” (aportuguesado de “Saul”) remonta sua origem judaica; já “Paulo” (aportuguesado de Paulus, em latim), sua cidadania romana. Como o ministério do apóstolo buscava alcançar os gentios, o nome “Paulo” foi naturalmente usados no trabalho missionário e, consequentemente, nas Escrituras canônicas.      

Comentário

  SAULO, MUDANÇA DE NOME PARA PAULO Atos 13:9: “Todavia Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos nele”. Quase incidentalmente chegamos a saber, pela primeira vez, que Saulo também era chamado Paulo. Origenes favorecia a interpretação de que Saulo adotou um novo nome nessa altura de sua vida, tomando-o por empréstimo de seu notável convertido, Sérgio Paulo, tal como um conquistador poderia assumir um nome qualquer como seu título, como o nome de um adversário ou de uma cidade vencida Tal razão para a mudança do apelativo Saulo para Paulo não é muito provável nesta altura da narrativa, embora Jerônimo tivesse igualmente adotado essa ideia. O mais provável é que a menção da modificação do nome de Saulo para Paulo, aqui, se tenha feito devido ao fato de que outro Paulo fica fazendo parte das circunstâncias, tendo sido ele descrito na história; isso teria levado Lucas a lembrar-se de que Saulo também tinha outro nome. Alguns intérpretes pensam que, nesta seção, o autor sagrado extrai informações de uma nova fonte informativa, e, nessa outra fonte, Saulo é chamado Paulo; deste ponto particular por diante, assim aparece o seu nome no livro de Atos. (Ver a introdução do livro de Atos, acerca de suas fontes informativas.) Embora provavelmente esteja correta a teoria sobre uma nova fonte informativa, contudo não parece ser a melhor solução para o problema. Mas, se essa teoria estiver correta, então não passaria de coincidência o fato de o convertido Sérgio e o conversor Saulo serem ambos chamados Paulo.      A modificação do nome do apóstolo pode ter-se devido meramente ao instinto do autor sagrado. Exatamente neste ponto de sua vida, pelo menos conforme ele é encarado nesta narrativa, o Saulo do farisaísmo se transformava no grande apóstolo Paulo dos gentios; por conseguinte, parece mais próprio chamá-lo, doravante, por Paulo, um nome romano. É bem possível que, na qualidade de cidadão romano, o apóstolo sempre tivesse tido tal nome; e o mais certo é que esse apelativo tenha sido escolhido por ser de som similar ao seu nome hebraico, Saulo. O fato de que Lucas mencionou essa designação somente aqui, quando eleja a possuía a todo o tempo, provaria que tal modificação, na narrativa, se deu porque seu notável convertido, Sérgio, também possuía o mesmo nome próprio. Mais provável ainda é aquela interpretação de Agostinho e outros, que afirma que Paulo era o nome romano da família do apóstolo, e que tal nome teria sido tomado por empréstimo de qualquer família da qual os progenitores ou antepassados do apóstolo houvessem sido vassalos, antes de a cidadania romana haver sido obtida por sua família. Isso significaria que Saulo sempre teve também o nome próprio de Paulo; mas, enquanto esteve vinculado à Palestina, onde se instruiu, jamais empregou tal apelativo. Mas agora que se atirava à evangelização do mundo gentílico, Paulo se tomava um nome próprio mais conveniente para ele. Menos provável é a ideia do nome “Paulo” significar “pequeno” porque esse era seu apelido, por ser um homem de baixa estatura. Também menos provável é a ideia de que ele tomou esse nome como seu nome cristão, como sinal de ter deixado para trás todas as suas ligações com o judaísmo e tudo quanto isso significava. Alguns esticam essa interpretação para que inclua a ideia de que ele tomou o nome “Paulo”, que significa “pequeno”, como sinal de humildade. Porém, no texto sagrado não há indicação alguma sobre qualquer modificação de nome, e não há nada de especial na própria designação pessoal. Lucas simplesmente mencionou, de passagem, que Saulo também tinha outro nome próprio; e desse ponto em diante começa a usá-lo em lugar de “Saulo”, posto que “Paulo” era mais apropriado em contextos gentílicos. (Pode-se observar o costume que tinham os judeus de ser conhecidos por dois nomes, um judaico e outro gentílico, em trechos como Atos 1:23; 12:25; 13:1; CoL4:11 Josefo, Anttq. xii.9,7). CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 6. pag. 113-114.  

 

PAULO, O APÓSTOLO nome romano que quer dizer pequeno; também chamado Saulo, nome hebraico que significa procurado ou pedido). Um líder na igreja primitiva, cujo ministério foi principalmente direcionado aos gentios. MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 4. pag. 797.  

 

 

SAULO O antigo nome do Apóstolo Paulo, que o mudou após a sua conversão ao Cristianismo. Saulo, provavelmente, seja derivado de Saul que em hebraico significa “Paulo”. Era comum entre os hebreus a adoção de dois nomes, um hebraico para uso familiar e o outro em grego ou latim para a vida pública. Losch. Richard R., Todos Os Personagens da Bíblia de A a Z. Editora: Templos. pag. 135.  

SÍNTESE DO TÓPICO I

O ponto de partida para a vocação de Paulo foi a presciência divina e a pessoa do Espírito.

 

SUBSÍDIO PEDAGÓGICO

Parece que no passado havia uma percepção maior a respeito de jovens, e de muitos outros irmãos que entregavam a sua vida a Cristo, que desejavam por uma vocação na obra de Deus. Muitos se planejavam para ir aos seminários a fim de aperfeiçoarem-se para servir melhor na obra de Deus. Muitos obreiros relatam não perceber essa mesma disposição com o mesmo sentimento de outrora. Claro que isso não significa que não haja pessoas sendo vocacionadas, pois Deus as chama em qualquer tempo. Nesse sentido, promova uma reflexão a respeito das vocações por meio das seguintes indagações: Você se sente vocacionado por Deus para alguma obra? Em algum momento de sua vida, você ignorou ou tem ignorado esse chamado? O que você poderia fazer para aperfeiçoar-se melhor na obra de Deus? Você deve promover essa reflexão como introdução ao tema desta semana, ressaltando sempre que Deus chama pessoas para a sua obra.    

II – UMA VOCAÇÃO EFETIVADA PELO CRISTO RESSURRETO

       1. Saulo viu o esplendor glorioso do Cristo ressurreto (At 9.3-6). Não foi uma miragem, nem uma ilusão de ótica, mas Saulo viu realmente o Cristo ressurreto, a quem ele perseguia (At 9.17). Essa visão gloriosa ofuscou seu orgulho ante às autoridades judaicas e foi definitiva para a vida daquele que, mais tarde, seria um embaixador de Cristo entre os gentios.      

Comentário

  Quando Ananias orou por ele, sua visão foi recobrada, e o Espírito Santo encheu-o poderosamente. A partir de então, Saulo reconheceu que Jesus era o Senhor (At 22.8). Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

“Damasco” Esta cidade era antiga e era capital da Província da Síria situada no norte/nordeste da Galileia. Ficava a 240 quilômetros de Jerusalém.

  • “e de repente” Este termo também tem a conotação de “inesperadamente”.
  • “uma luz do céu” Paulo relata sua experiência com essa luz, diferentemente nos três relatos de sua

experiência em Atos:

  1. “uma luz do céu brilhando ao redor dele” (9:3);
  2. “uma luz muito brilhante, de repente brilhou do céu ao meu redor” (22:6);
  3. “Eu vi no caminho uma luz do céu, mas brilhante do que o Sol, brilhando ao meu redor” (26:13).

Paulo vividamente relembra esse evento! É bem possível que essa luz teologicamente / fisicamente se relacione com a glória (Shekinah) da presença de YHWH com Israel durante o período de peregrinação pelo deserto. O conceito hebraico de “glória” assume um aspecto de luz a partir deste acontecimento histórico (ver Tópico Especial: Glória em 3:13). Essa luz teria mostrado a Saulo, o rabino, que esta era a presença pessoal de Deus. 9:4 “ouviu uma voz” Esta voz celestial era alguma coisa familiar ao Judaísmo. Era conhecido como bath kol. Isto era um meio dos Judeus receberem informação e/ou confirmação de Deus (durante o período Inter bíblico entre o encerramento de Malaquias e o começo do ministério de João Batista). Esta forma de revelação era necessária por que não havia profetas inspirados nesse período.

  • “Saulo, Saulo” Em Hebraico essa repetição era uma maneira de mostrar intensidade.
  • “por que você Me persegue” Isto era extremamente significativamente por que mostra a continuidade e intimidade entre Jesus e Sua igreja (cf. Mat. 10:40; 25:40,45). Paulo estava perseguindo a Igreja, mas Jesus toma isso pessoalmente. De Atos 26:14 sabemos que Jesus falou a Paulo em Aramaico. Isso também era teologicamente significativo que o Cristianismo seja tanto uma pessoa (Jesus) como um grupo (igreja). As metáforas corporativas para a igreja são:
  1. Corpo
  2. Família
  3. Edifício
  4. Santos

Todas enfatizam a natureza corporativa da fé (cf. I Coríntios. 12:7). Ela começa de forma individual, mas move-se para o grupo (consciência e preocupação). Esta corporalidade individual pode ser vista na discussão de Paulo sobre Adão e Cristo em Rom. 5:12-21. O Um é parte do todo, o Uno pode afetar o todo (cf. Josué 7). 9:5a “quem é tu, Senhor” O que Paulo quis dizer com o uso de “Senhor”?

  1. Senhor, título de respeito (ex.: João 4:11)
  2. YHWH, traduzido por SENHOR no VT (ex.: Gen. 2:4)

Se a surpresa é o foco, então possivelmente o primeiro se aplica, mas se a luz do céu denota uma ação de Deus, então a segunda aplicação é o caso aqui. Se for o segundo caso, então repentinamente a teologia rabínica de Paulo é transformada. Que momento confuso e assustador esse tempo deve ter sido! 9:5b-6b Este verso não é encontrado nos primeiros manuscritos Gregos. Eles são encontrados somente na família Latina de manuscritos. Erasmo, traduzindo da Vulgara, os coloca em sua primeira edição do Novo Testamento Grego em 1516. Estas palavras são encontradas em Atos 26:14. Sua inclusão aqui mostra a tendência dos escribas de fazerem paralelos uniformes e cheios de todos os detalhes. “Eu sou Jesus a quem você persegue” Paulo está afirmando ter visto o Cristo Glorificado (cf. Atos 22:14; I Cor. 9:1; 15:8-9). Paulo entenderá mais tarde sua experiência como parte integral de seu chamado para ser o Apóstolo dos Gentios. Esse verso é explicado em detalhes nos versos 10-19. “os homens que viajavam” Isto possivelmente se refere a (1) policiais do templo que acompanhavam Paulo; (2) outros Judeus zelosos, provavelmente das sinagogas Helenísticas; ou (3) outros estudantes de teologia de Jerusalém.

  • “ouvindo a voz mas não vendo ninguém” Existe uma aparente discrepância entre 9:7 e 22:9 nos detalhes desse evento. Tem havido diversas teorias sobre como lidar com isso:
  • Isto é um problema de sintaxe. O VERBO “ouvir” pode tomar um GENITIVO (9:7) ou um ACUSATIVO (22:9). Essas diferentes formas têm diferentes implicações ou conotações. A NRSV, em uma nota de rodapé trás “o Grego sugere que seus companheiros ouviram o som de uma voz, mas não as palavras ditas”.
  • Outros dizem que é similar a João 12:29-30 sobre a entrada de Jesus em Jerusalém e a voz do céu.
  • Outros dizem que é a voz de Paulo que está sendo destacada aqui, não a de Jesus. Eles ouviram Paulo falando, mas eles não ouviram Jesus falando.
  • Outros dizem que isto é similar ao problema Sinótico.

Diferentes escritores dos Evangelhos registram os mesmos eventos, sermões e ações de Jesus de diferentes maneiras, de acordo com os diferentes relatos das testemunhas oculares. Bob Utley. Atos Série Guia de estudos e Comentário Novo Testamento Volume 3B. Editora: pag.130-132.   O encontro (v. 3-6). Aquela luz tão veloz quanto o raio (esse é o significado do verbo), mais clara que o sol do meio-dia da Síria, só poderia ser a glória shekiná, indicando a presença divina. Dessa gloria, veio a intrigante pergunta: Saulo, Saulo, por que você me persegue? Quem era a pessoa que estava falando assim? A voz partindo daquela glória só podia ser a voz de Deus; daí a expressão Senhor na pergunta de Paulo Quem és tu, Senhor? (v. 5) tem o propósito de um título divino, e não de um mero “senhor” de cortesia. Eu sou Jesus, a quem você persegue foi a resposta — uma revelação que significava que, em um momento extraordinário do tempo, Saulo precisou identificar o Senhor Javé do AT, a quem tão zelosamente tentava servir, com o Jesus de Nazaré, a quem tão ferozmente perseguia nas pessoas dos seus santos. O choque no mais profundo da sua alma foi tremendo e se expressou fisicamente na perda da visão; mas, uma vez que a identificação foi feita, Saulo não teve dúvidas ou reservas e, a partir daquele momento, pôde dizer verdadeiramente: “para mim o viver é Cristo” (Fp 1.21). A NVI preserva o verdadeiro texto dessa narrativa, mas os detalhes adicionais das narrativas posteriores deveriam ser observados. Os companheiros de Saulo “sentiram ” a presença celestial, mas não viram o Senhor; ouviram a voz de Saulo, mas não a do Senhor (v. 7; 22.9). Bruce; F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. Editora Vida. pag. 1778  

 

O jato de luz apareceu a Saulo perto do meio-dia (22:6; 26:13), mas a luz era mais forte do que a luz do sol. A voz que vinha do meio da luz falou a Saulo em hebraico, ou aramaico (26:14). Embora a maioria dos judeus da Dispersão falasse o grego, os pais de Saulo falavam o aramaico e ensinaram-lhe essa língua (Fl. 3:5). Essa era a língua usada nas escolas rabínicas de Jerusalém. A voz informou Saulo que ao perseguir os cristãos ele perseguia a Cristo. A princípio Saulo não entendeu o significado dessa experiência. Pediu que a voz se identificasse. Senhor no grego significa, muitas vezes, pessoa de respeito (16:30; 25:26); mas aqui indica uma resposta reverente e respeitosa. A voz identificou-se como a do Jesus glorificado. Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Editora Batista Regular. pag. 43-44    

   2. Uma vocação inevitável para o apostolado entre os gentios.

 

Deus escolheu Saulo de antemão para fazer conhecer a sua vontade (At 22.14). Qual era a vontade dEle para Saulo? Torná-lo um embaixador de Cristo, um pregador do Evangelho (At 9.20). Não por acaso, as várias cartas do apóstolo às igrejas plantadas por ele eram assim identificadas: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” (Ef 1.1). O apóstolo não foi ordenado em Jerusalém, nem por uma comissão de apóstolos formada por Pedro, João e Tiago, ou por outros apóstolos de Cristo. O que prevaleceu foi a declaração de Jesus para Ananias, discípulo fiel de Cristo em Damasco: “Vá, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome diante dos gentios e reis, bem como diante dos filhos de Israel” (At 9.15). Ananias, com autoridade delegada pelo próprio Senhor Jesus numa visão, foi ao encontro de Saulo, na rua chamada Direita, e lá chegando, “impôs as mãos sobre Saulo” (At 9.17).      

Comentário

  Paulo estabeleceu três requisitos para alguém ocupar o apostolado. O primeiro e mais importante é a chamada e a comissão específicas por parte do Senhor Jesus Cristo […] Os dois outros requisitos são firmados em 1 Coríntios 9.1,2 […]. O segundo requisito é que o apóstolo deve ter visto o Senhor Jesus Cristo. No caso de Paulo, esse requisito foi satisfeito na estrada de Damasco (At 9.1-9). O terceiro requisito talvez não seja a rigor um requisito, mas uma características ou prova do apostolado. Refirome ao seu apelo aos coríntios, que são por ele chamados de “o selo do seu apostolado”. Noutras palavras: Paulo apelava para a eficácia de seu ministério, especificamente no plantio das igrejas. Fica evidente, pois, que o único requisito do apostolado é a chamada pessoal e a comissão do Senhor Jesus Cristo. Ter visto o Senhor ressurreto não o pressuposto básico. Pois outros o tinham visto (1 Co 15.6), e nem por isto tornaram-se apóstolos. Semelhantemente, não poucos foram os que se tornaram eficazes no ministério e até na implantação e igrejas, como Filipe em Samaria, por exemplo, mas isso não os fez apóstolos. Portanto, é fundamental para o apostolado a chamada pessoal e a comissão dada pelo Senhor Jesus Cristo. (DEERE, 1995, p. 234) Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

 

Em primeiro lugar, Paulo apresenta-se como o remetente da carta (1.1). “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus.” Embora alguns teólogos do século XX de viés liberal tenham ousado pôr em dúvida a autoria paulina dessa carta, praticamente todos os eruditos desde o século I apontam Paulo como autor dessa missiva.10 Willard Taylor diz que, já no século II, os pais da igreja atribuíram a epístola a Paulo de Tarso. Inácio de Antioquia (martirizado em 115 d.C.) conhecia a epístola para Efésios e sabia que era paulina. O bispo Policarpo de Esmirna e também os autores da epístola de Barnabé e do pastor de Hermas dão evidências de atribuir Efésios ao apóstolo Paulo. A autoria paulina é sustentada por outros líderes cristãos do século II, incluindo Irineu de Lyon, Clemente de Alexandria e Tertuliano de Cartago. O famoso Cânon Muratoriano (190 d.C.) traz Efésios em sua relação de livros cristãos autorizados. Paulo é apóstolo de Cristo não por inspiração própria, ou por usurpação, nem mesmo por qualquer indicação do homem, mas por vontade de Deus.12 A igreja não nomeia apóstolos; eles são chamados por Jesus. Nenhum homem pode constituir a si mesmo apóstolo; esse papel é da economia exclusiva de Cristo. Não temos mais apóstolos na igreja contemporânea, uma vez que a revelação de Deus está completa nas sagradas Escrituras. Hoje, seguimos o ensinamento dos apóstolos, conforme revelação registrada nas Escrituras. Russell Shedd diz que a palavra apóstolo, que indica o reconhecimento da autoridade de Paulo, baseia-se numa palavra aramai da shaliah. Esse termo sugere que o apóstolo é aquele que é comissionado não apenas como missionário que leva uma mensagem; não apenas como embaixador que tem sua carta selada para entregar a um rei de outro país; mas como procurador que substitui aquele que o mandou. Ele pode tomar iniciativas. Assim, o que ele faz e fala, o realiza em Cristo. Paulo, como apóstolo, nos traz uma mensagem inspirada, com autoridade. Em segundo lugar, Paulo indica os destinarios da carta (1.1). “Aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso. ” A cidade de Éfeso era a capital da Ásia Menor e a maior metrópole da Ásia. Abrangia uma extensa área, e a sua população era superior a 300 mil habitantes. Ela era o centro do culto de Diana, a deusa da fertilidade, cujo templo, localizado a cerca de 1.600 metros da cidade, era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo e constituía o principal motivo de orgulho para Éfeso. Quatro vezes maior do que o Partenon de Atenas, o templo de Éfeso levou, segundo a tradição, 220 anos para ser construído. Corria, na época, um dito popular de que “o Sol nada via mais belo no seu trajeto do que o templo de Diana”.” Paulo esteve três anos na cidade de Éfeso e, ali, plantou uma pujante igreja, que se tornou influenciadora em todos os rincões da Ásia Menor. A igreja de Éfeso tem dois endereços: ela é cidadã do mundo (está em Éfeso) e cidadã do céu (está em Cristo). Francis Foulkes diz que toda a vida do cristão está em Cristo. Como a raiz enterrada na terra, o ramo ligado à videira, o peixe está no mar e o pássaro, no ar, também o lugar da vida do cristão é em Cristo.13 A palavra santo não quer dizer uma pessoa que não peca. Os santos não são pessoas mortas canonizadas, mas pessoas vivas separadas por Deus para viver uma vida diferente. Fiéis são todos aqueles que confiam em Cristo Jesus. Todo aquele que é fiel também é santo, e todo santo é fiel. A palavra grega hagioi, “santos”, quer dizer separados. Nos dias do Antigo Testamento, o tabernáculo, o templo, o sábado e o próprio povo eram santos por ser consagrados, separados para o serviço de Deus. Uma pessoa não é “santa” nesse sentido por mérito pessoal; ela é alguém separada por Deus e, por conseguinte, é chamada a viver em santidade. LOPES, Hernandes Dias. EFESIOS Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pag. 12-14.  

 

 

Paulo sempre teve uma maneira peculiar de iniciar suas cartas sem fugir ao estilo da época. A carta inicia com o nome do escritor, depois o do destinatário e, finalmente, a saudação. Paulo toma o estilo convencional de seu tempo e o coloca num nível mais elevado, porque seu tratamento é para irmãos na fé. 1.1. Sua identificação pessoal — v. 1 Ele começa, como de praxe na época, com o primeiro nome, “Paulo”, e, a seguir, apresenta os títulos mais importantes, que lhe asseguram uma autoria apostólica. Após iniciar com o nome, Paulo designa a si mesmo “servo de Jesus Cristo”. Um título que todos os verdadeiros cristãos possuem, se realmente servem ao Senhor Jesus Cristo. 1.2. Sua identificação ministerial — v. 1 Apóstolo é o título que ele mais usa em referência a si mesmo. O Novo Testamento apresenta três significações para esse título: a) Dá a ideia de um mensageiro (2 Co 8.23); b) Quando Paulo e Barnabé são enviados pela igreja de Antioquia para pregar, o sentido da palavra “apóstolo” toma o significado de enviado (At 14.4-14); c) A significação de “apóstolo” nessa carta é a de embaixador de Cristo (2 Co 5.20). Em princípio, embaixador referia-se quase que exclusivamente aos 12 apóstolos, nomeados e enviados por Jesus e feitos testemunhas oculares de sua ressurreição. Paulo não foi um dos 12, mas afirma convictamente ter sido enviado por Cristo e se denomina, em várias de suas cartas, como “apóstolo de Jesus Cristo” (Rm 1.1; 1 Co 1.1; 2 Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; 1 Tm 1.1; Tt 1.1). Paulo se diz apóstolo de Jesus Cristo não só no sentido de pertencer a Ele, mas também no de ser enviado por Ele como embaixador a terras estrangeiras. Cabral. Elienai., Comentário Bíblico: Efésios. Editora CPAD. pag. 9-10.        

 

 

3. A vocação mudou o rumo da vida de Saulo.

 

De perseguidor dos seguidores de Jesus, de personalidade tenaz e obstinada (At 9.1.1-6), Deus chamou Saulo e o transformou no apóstolo que seria o maior responsável pela expansão da Igreja no mundo gentílico. A operação da graça salvadora na vida de Saulo promoveu uma mudança radical em sua vida. Foi Jesus que o confrontou, o surpreendeu e o chamou pelo nome. Cristo ainda chama o ser humano para frutificar no Reino de Deus. É necessário um encontro real com Cristo. Quando isso acontece, Ele capacita o ser humano para o seu propósito. Assim aconteceu com Saulo.    

Comentário

  DESERTO Nos países do Oriente, as grandes planícies geralmente estão sujeitas a prolongadas secas e consequentemente, à esterilidade. A esterilidade prolongada produz os desertos. Os hebreus contavam com vários vocábulos para nomear esses lugares; essas palavras são intercambiáveis, e as traduções as têm confundido de tal modo que não podemos estar certos quando está em vista, ou não, um verdadeiro deserto. Há quatro palavras hebraicas e uma palavra grega que precisam ser levadas em conta:

  1. Midbar, “pasto». Palavra usada por duzentas e cinquenta e sete vezes no Antigo Testamento, que tem sido traduzida como “pastagem. (Êxo. 3:1; 5:11) ou “deserto» (GSn. 14:5). Também era palavra aplicada à região entre a Palestina e o Egito, incluindo o Sinai (Núm. 9:5). Com o artigo definido temos «o deserto da Arábia» (I Reis 9:18), quando então estamos tratando com um autêntico deserto. Terras de pastagem, com circunstâncias climáticas adversas, podem tornar-se desertos, o que explica a conexão entre o vocábulo e o uso do mesmo. A ideia de esterilidade com frequência se faz presente (Gên, 14:6; 16:7; Deu. 11:24. Ver também Deu. 32:10; J6 24:5; Isa. 21:1 e ler. 25:24, onde algumas versões dizem «íeserto»).
  2. “Arabah, que significa, literalmente, «esterilidade», e que com frequência é palavra traduzida por “deserto». – Porém, parece que, originalmente, referia-se a uma planície, um extenso território, A porção plana do vale do Jordão tinha esse nome, estendendo-se até as margens do mar Vermelho (Deu. 1:1; 2:8; Jos. 12:1). Novamente, por causa de condições climáticas adversas, essas extensas planícies podiam tornar-se verdadeiros desertos, o que explica o uso dessa palavra com esse sentido. No hebraico, uma planície, um lugar estéril, um lugar ermo e um deserto podem ser referidos através da mesma palavra. Essa palavra hebraica ocorre por cinquenta e sete vezes no Antigo Testamento. Por exemplo: Isa. 25:1,6; 40:3; 41:19; 51:3: Jer. 2:6: 17:6; 50:12; Eze. 47:8.
  3. Yeshimon, «desolação», «solidão», palavra hebraica usada por sete vezes no Antigo Testamento: Sal. 68:7; 78:40: 106:14: 107:4; lsa. 43:19,20; Deu. 32: 10. Essa palavra também podia apontar para um deserto, em vista de sua solidão e desolação.

Aparece· com o artigo para indicar aqueles lugares desolados de ambos os lados do mar Morto, Em Num. 21:20 é usada como um nome próprio, como se fosse a designação de um lugar especifico, em algumas traduções (nossa versão portuguesa diz «deserto.).

  1. Chorbah, «desolação». Palavra hebraica usada por trinta vezes, como em Sal. 102:6; Isa. 48:21; Eze. 13:4. Nesses trechos, as traduções geralmente traduzem essa palavra por «deserto», mas, em Esd, 9:9; Sal. 109:10 e Dan. 9:12, está em foco aquilo que se tomou uma desolação, pelas condições climitieas adversas ou pela atuação humana.
  2. No grego, eremia e hemos aparecem, respectivamente, por quatro e por quarenta e oito vezes, a saber: Mat. 15:33: Mar. 8:4; 11 Cor. 11:26; Heb. 11:38; Mat. 3:1,3 (citando Isa. 40:3); 4:1; 11:7; 14:13,15; 23:38; 24:26; Mar. 1:3,4,12,13,35,45; 6:31,32,35; Luc. 1:80; 3:2,4; 4:1,42; 5:16; 7:24; 8:29: 9:12; 15:4: João 1:23; 3:14; 6:31,49; 11:54; Atos 1:20 (citando Sal. 69:26); 7:30,36,38,42 (citando Am6s 5:25); 7:44: 8:26; 13:18; 21:38; I Cor. 10:5; Gál. 4:27 (citando Isa, 54;1): Heb. 3:8 (citando Sal. 95:8); 3:17; Apo. 12:6,14′; 17:3. Esses termos gregos’ significam, ambos, «deserto ou «lugar ermo», ou seja, não somente um verdadeiro deserto’, mas também um lugar desabitado ou escassamente habitado. Josefo usou essa palavra para indicar deserto, campina ou lugar ermo (C. Ap. 1,89). Em Anti. 20,169 ele usou a palavra para indicar o deserto da Arábia, e a forma verbal, eremo o significa «despovoar», «assolar», conforme se vê em Mat. 12:25; Luc. 11:17; Apo. 17:16; 18:16,19; I Esdras 2:17; 11 Esdras 12 e Josefo (Guerras 2.279; Anti. 11:24),

Uso Figurado. Ideias como solidão, tentação e perseguição são referidas por essas palavras (e seus outros possíveis usos). Ver lsa. 27:10; 33:9. As nações que se esquecem de Deus e ignoram os seus os, tomam-se desertos (lsa. 32:15; 35:1), tal como sucedeu a Israel, quando abandonou o seu Deus (Isa. 40:3). CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 2. pag. 83.      

 

 

O impacto do encontro e a operação da graça salvadora foi o ponto de partida para promover uma mudança radical de atitude de Saulo. Tudo o que Saulo de Tarso queria antes do encontro com Cristo era prender os seguidores de Jesus Cristo e destruir o poder do seu nome (At 9.1-6). Entretanto, Saulo foi surpreendido por Jesus. Não foi Saulo quem clamou por Jesus, mas foi Jesus quem confrontou a Saulo e chamou-o pelo nome. A obra de salvação é mérito de Deus Pai, por meio de Jesus Cristo em sua obra expiatória. É Deus quem reconcilia o mundo consigo (2 Co 5.18). A vocação de Saulo estava determinada pela vontade soberana de Deus. Aos apóstolos que estiveram com Jesus fisicamente, sua missão básica seria lançar os fundamentos da igreja a partir de Jerusalém. Mas, quando o Senhor chamou a Saulo, assim o fez porque esse homem de personalidade tenaz e obstinada seria aquele que expandiria a igreja no mundo gentio. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

 

A TRANSFORMAÇÃO Tudo acabara em poucos instantes, mas foi a maior experiência de Saulo. Nela, pensaria até o dia da sua morte. Naquele momento, Jesus o dominara, mudando-lhe por completo a vida. Nenhuma dúvida nem interrogação ser-lhe-iam possíveis a partir daquele instante. Pois não tivera uma simples visão de Jesus; fora, de fato, uma aparição do Cristo, não mais com a glória velada, como nos dias de seu ministério terreno, mas com tamanha plenitude de glória que o homem não podia suportar lhe o brilho. Saulo falaria disso mais tarde como a última das aparições de Jesus aos seus seguidores após a ressurreição (1 Co 15.8). Moisés teve a mesma experiência no Monte Sinai, quando a visão da glória do Senhor aparecera-lhe como um fogo devorador. Foi isso que Isaías viu quando o Senhor o chamou para o ministério. Essa foi também a experiência de Pedro, Tiago e João no monte da Transfiguração. Foi o que João viu em Patmos e depois de tê-lo visto, “caí a seus pés como morto” (Ap 1.17). E para o rabino de Tarso, era concedida uma entrevista com o Cristo ressurreto. Posteriormente, alguns vieram a duvidar de seu apostolado, alegando que ele jamais vira o Senhor. Mas a todos os seus inimigos, podia responder que recebera a sua comissão diretamente de Jesus que lhe dissera: Te apareci por isso, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te deste povo e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em mim (At 26.16-18). Quando seus companheiros, já recuperados dos efeitos da visão, foram ajudá-lo a pôr-se em pé, descobriram que ele estava cego, por isso tiveram de conduzi-lo pela mão à cidade. Que mudança nele se operou! Tinha sido um orgulhoso fariseu, cavalgando com pompa e autoridade, cheio de indignação e soberba. Mas, num momento, foi transformado num servo trêmulo, que tateava, humilde e quebrantado, agarrando-se à mão de um soldado que o guiou ao seu destino. Ao chegar a Damasco, entrou num quarto da casa de Judas, na rua chamada Direita, e pediu que o deixassem a sós. Queria tempo para pensar. Já afastado do mundo por causa de sua cegueira, podia finalmente ordenar seus pensamentos. Sentou-se no escuro, imaginando como Deus poderia usar um cego em sua obra. Saulo não comeu nem bebeu durante três dias. Estava por demais absorvido em seus pensamentos. Todo o passado descortinava-se diante de si. Pensou no zelo do pai ao educá-lo como fariseu. Lembrou-se do rigor da escola em Tarso e de como as palavras dos rabinos haviam lhe marcado a vida. Recordou-se do Templo e de todas as suas belas e agradáveis cenas. Como poderia esquecer-se das multidões dos adoradores entregando os sacrifícios aos sacerdotes. Agora, porém, nada disso lhe tinha importância. O Messias aparecera e fora crucificado exatamente pelas pessoas a quem viera abençoar. Toda a vida de Saulo parecia estar desmoronando. Podia ver agora que estivera lutando contra Deus. Cego por seu farisaísmo, ele havia perseguido o Messias. Todavia, ei-lo quebrantado aos pés do Salvador. Toda a sua vida mudara por meio da força dessa colisão com o Cristo. Estêvão tinha razão: tanto ele (Saulo) como o Sinédrio haviam cometido um gravíssimo erro. Os anos estéreis, porém, terminaram; o futuro devia ser ocupado na proclamação dessas grandes descobertas. Quando prendia os nazarenos, Saulo o fazia com espírito de vingança e ira. Era o inimigo mortal deles. Mas quando Jesus de Nazaré o prendeu, não havia vingança nem ira. Se em seu poder, Deus o derrubou por terra, em seu amor o levantou e dele tomou posse. Saulo começa a compreender como Estêvão pôde orar pelos inimigos mesmo quando as pedras o atingiam mortalmente. Em Cristo, encontrou uma paz até então desconhecida para ele, o implacável fariseu. Enquanto Saulo, jejuando no escuro, pensava e orava a respeito das estranhas experiências que tivera, tem uma visão em que um discípulo, chamado Ananias, vinha vê-lo a fim de lhe restaurar a visão. Ball. Charles Ferguson. A Vida e os Tempos do Apóstolo Paulo. Editora CPAD. pag. 37-38.    

SÍNTESE DO TÓPICO II

A visão gloriosa do Cristo Ressurreto mudou definitivamente o rumo da vida de Paulo.

 

CONHEÇA MAIS

Presciência Divina “[Do lat. praesentia, ciência inata] Atributo metafísico e incomunicável de Deus, através do qual Ele se faz eternamente presente no tempo e no espaço, conhecendo todas as coisas antecipadamente (1 Sm 2.3; 1 Jo 3.20).” Para ler mais, consulte o “Dicionário Teológico”, editado pela CPAD, p.303.    

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“O Jesus ressurreto é quem aparece a Saulo (cf. 1 Co 9.1; 15.8) e lhe diz: ‘Saulo, Saulo, por que me persegues?’ (At 9.4). Essa pergunta é dirigida ao propósito imediato de Saulo destruir a Igreja. Atacar os discípulos de Jesus não é, como Saulo pensa, mera perseguição de pessoas que adoram de maneira herética. É um ataque contra o próprio representante divino, na pessoa do seu povo. […] De começo, Jesus não se identifica. Então o perseguidor pergunta: ‘Quem és, Senhor?’ (v.5). O termo de tratamento ‘Senhor’ usado aqui pode ser simplesmente um título de respeito. Mas há forte apoio para o entendermos no sentido cristão de ‘Senhor’ (cf. At 1.6,24; 4.29; 7.59,60; 9.10,13; 10.14; 11.8; 22.19). Saulo confessa que está falando com Ele como Senhor, reconhecendo que se dirige à pessoa divina. […] O Senhor exaltado se identifica como Jesus, a quem Saulo está perseguindo. Lá, na estrada de Damasco, o crucificado, revelado a Saulo na sua glória divina, o transforma (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento: Mateus – Atos. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.674).      

III – VOCAÇÃO DE PAULO E O APRENDIZADO NO DESERTO

     

 

 1. A ida para o deserto.

 

O ministério de Paulo precisava de uma preparação austera, silenciosa, de comunhão com Deus e de reflexão. Em vez de ir a Jerusalém para aprender com os apóstolos, ele afastou-se dos judeus nas sinagogas, onde posteriormente passou a apresentar Cristo. Paulo tomou o caminho da Arábia, a sudeste de Damasco, sob o domínio do rei Aretas (Gl 1.17,18; cf. 2 Co 11.32). O apóstolo preferiu viver em um lugar, na região desértica da Arábia, onde habitavam alguns grupos nômades e ele era totalmente desconhecido. No deserto, Deus ensinou Paulo a ser o líder que Ele precisava para expandir o seu reino.    

Comentário

  A obra que Paulo teria de fazer requeria uma preparação austera e silenciosa de comunhão com Deus e de reflexão. Em vez de ir a Jerusalém para aprender com os apóstolos, ele preferiu afastar-se do envolvimento com os judeus nas sinagogas, onde, posteriormente, ele passou a ir para apresentar a Cristo. Saulo tomou o caminho da Arábia, a sudeste de Damasco, sob o domínio do rei Aretas (2 Co 11.32). Sabendo que era desconhecido naquela região desértica da Arábia, ele preferiu viver em algum lugar onde habitavam alguns grupos nômades e onde ele era totalmente desconhecido. Ele sabia que lhe faltava maior conhecimento acerca de Cristo, que se revelara a ele, e que, se voltasse a Jerusalém, enfrentaria dúvidas, oposição e rejeição. Os próprios apóstolos tiveram dificuldades em aceitá-lo facilmente. Não havia qualquer presunção ou orgulho da parte de Paulo de submeter-se ao crivo dos apóstolos. Então, foi para o deserto da Arábia, dando oportunidade a si mesmo de reavaliar suas crenças e convicções judaicas, comparando-as com a revelação da graça de Deus em Cristo Jesus. Depois de três anos aproximadamente, entre a sua conversão e o seu retorno a Jerusalém (Gl 1.17,18), Saulo estava mais bem preparado para explicar sua vocação aos líderes da igreja em Jerusalém. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

VIVENDO PARA CRISTO Saulo saíra das trevas para a luz. Morrera para a velha vida, sob a Lei, e fora cheio do Espírito. Desejava, agora, provar o seu arrependimento através de uma vida de serviço a Cristo. Essa perspectiva dava-lhe grande alegria. Depois de ter-se alimentado, levantou-se com um zelo tão intenso por Cristo que excedia de muito sua antiga dedicação ao Judaísmo. Ananias voltou para anunciar aos cristãos de Damasco que o perigo passara. Saulo não só havia desistido de persegui-los, como também fora batizado, invocando o nome de Cristo. Era agora um nazareno. Eles receberam-no, pois, com grande alegria; acolheram-no como a um irmão. Os cristãos de Damasco fortaleciam a Saulo diariamente com a cordialidade de sua comunhão, e doutrinavam-no acerca de Jesus. Ele se mostrava mais que atento. Os irmãos falaram-lhe do Salvador, de sua vida e de sua obra. Ficaram surpresos ao ver o conhecimento que ele tinha das Escrituras e como constatava rapidamente, agora, que todas elas apontavam para Jesus. Sua erudição deixou-os admirados. Ele parecia encontrar argumentos fortes e favoráveis a Cristo que antes lhe haviam escapado. Seus corações encheram-se de alegria ao compreender que ele também viria a ser um grande mestre das doutrinas enunciadas pelo Senhor Jesus. Durante o curto período em que permaneceu em Damasco – somente alguns dias – Saulo cresceu espiritualmente e já ansiava por testemunhar da grandiosa experiência que tivera na estrada de Damasco. Junto com Ananias e outros nazarenos, visitou a sinagoga e pregou a Cristo. Ele era hábil em rebater todos os argumentos dos fariseus. Como tivesse o dom da oratória, causou grande impressão sobre o povo. Embora não pudesse dizer muito a respeito dos ensinamentos de Jesus, sabia apelar para a Lei, os Profetas e os Salmos. Ele sentia-se mui à vontade nesses tópicos. A primeira vez que Saulo visitou a sinagoga, que se achava repleta, foi um grande dia para os nazarenos. Ali estava um jovem, destemido e forte, que tivera o privilégio de ser educado na escola de Gamaliel. A maioria dos judeus sabia de seu ódio a Cristo, e alguns que suspeitavam dos nazarenos, achavam que a sua missão em Damasco era necessária. Inicialmente, Saulo contou-lhes a história de sua ida a Damasco e do incidente na estrada: como encontrara a Jesus de Nazaré e contemplara com os próprios olhos, aquEle a quem vinha perseguindo, e como, desde então, toda a sua vida se transformara. Ele cria agora que Jesus era o Cristo. Com sua habilidade de rabino, citou passagem após passagem do Antigo Testamento para provar a messianidade de Jesus. Ao terminar o discurso, confessou publicamente o seu pecado em perseguir os seguidores de Jesus, e descreveu a nova vida que nele havia por meio da habitação interior do Espírito Santo. Ninguém podia acreditar no que estava ouvindo: “Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam esse nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais sacerdotes?” (At 9.21). Ao verem-no abjurar as antigas crenças, ficaram indignados. O primeiro discurso de Saulo como nazareno foi respondido pelos rabinos da sinagoga, que o tacharam de falso mestre e traidor da nação. Negaram o uso que o novo discípulo de Cristo fazia das Escrituras, discutindo acaloradamente com ele sobre o correto significado destas. Mas não puderam refutar lhe os argumentos, nem a sua experiência na estrada de Damasco. Quando a congregação retirou-se, todos estavam comovidos com o que ouviram. Alguns creram, mas a maioria achava que Saulo merecia ser expulso da sinagoga e açoitado publicamente. O inimigo declarado e preconceituoso de Cristo mudara rápida e drasticamente, transformando-se num cristão inabalável, com a determinação de entregar sua vida ao serviço do Senhor. Ao cair diante de sua glória, tornara-se de Jesus um servo para todo o sempre. Saulo vira-o ressurreto, e tinha plena certeza disso. E, sobre esta certeza, construiu todas as suas esperanças na eternidade. Foi ainda está certeza que o levou a pregá-lo com toda a autoridade (1 Co 9.1). Ball. Charles Ferguson. A Vida e os Tempos do Apóstolo Paulo. Editora CPAD. pag. 39-40.  

 

NOVOS PASSOS DE UM CRENTE Paulo tardaria a tornar-se o grande apóstolo. Pouco há de informação sobre esses primeiros tempos, que foram, contudo, determinantes na formação do pregador. Não se submeteu aos irmãos de Jerusalém: Não consultei carne e sangue, nem subi, logo, a Jerusalém para estar com os que eram apóstolos antes de mim. Pelo contrário, parti para a Arábia e, depois, voltei ainda a Damasco (Gl 1,16-17). Tendo tido contato direto com Cristo, não consultou outros crentes, menos ainda os apóstolos de Jerusalém, mas já partiu em missão, segundo suas recordações muitos anos depois. Quanto tempo tardou antes de voltar a Damasco? Pregou nas sinagogas da Arábia nabateia, atual Jordânia, ou já se voltou para os árabes não judeus? Nada sabemos, embora convenha a prudência e nada indique que Paulo já pregasse fora do âmbito das comunidades judaicas. De volta a Damasco, é certo que Paulo atuava nas sinagogas, com a esperada oposição. Paulo relatou, muitos anos depois: Em Damasco, o governador do rei Aretas mandou pôr guarda em toda a cidade, para me prender. Mas, por uma janela, me desceram num cesto, muralha abaixo. E, assim, escapei das mãos dele (2Cor 11,32-33). Nos Atos dos Apóstolos (9,23), foram os judeus que tentaram matá-lo, mas no final aparece o mesmo relato do cesto. Talvez se possa imaginar que, tendo pregado nas sinagogas nabateias da Arábia, o rei tenha acedido a uma demanda dos judeus de Damasco, para dar cabo do agitador. O que importa assinalar é o caráter arrebatador de Paulo: o fervor continuava, com a nova fé. Contudo, essa nova fé, como pensam diversos estudiosos, como o teólogo Henry Chadwick e o historiador Martin Goodman, era considerada, por seus praticantes, como parte do judaísmo. Vasconcelos. Pedro L. Funari. Pedro Paulo A.,. Paulo de Tarso Um Apóstolo para as Nações. Editora Paulus. Editora Paulus.    

 

   2. As lições do deserto.

 

O apóstolo sabia que precisava aprofundar o seu conhecimento acerca de Jesus Cristo, pois seu caminho seria de confrontos com dúvidas, oposição e rejeição. Então, foi para o deserto da Arábia e ficou três anos aproximadamente, entre a sua conversão e o seu retorno a Jerusalém (Gl 1.17,18). Esse período serviu para Paulo reavaliar a si mesmo diante de Deus, suas crenças e convicções judaicas, confrontando-as com a revelação da graça de Deus em Cristo Jesus. Assim, Paulo se preparou para explicar sua vocação aos líderes da igreja em Jerusalém.    

Comentário

  No caminho de Damasco, Saulo foi derrubado ao chão por Cristo e foi desafiado a render-se, a começar pelo seu nome – até então, um nome judaico. A seguir, ele passou a utilizar seu nome romano, Paulo, com o qual se tornou conhecido em seu ministério. Ao tomar o rumo do deserto para refletir e aprender, o agora Paulo foi despido de toda a filosofia e religiosidade legalista do judaísmo. No deserto, ele aprendeu que a simplicidade era a chave que abria a porta do cristianismo. Ele aprendeu no deserto a dominar suas paixões substituindo-as pelo gozo da salvação em Cristo. No deserto, a sua imensidão esmaga tanto o poder quanto a fraqueza do homem e, então, passa-se a depender totalmente de Deus. Paulo, antes de sua conversão, foi um homem acostumado a dominar o seu ambiente. Daí ele descobre na experiência do silêncio e da solidão do deserto que as coisas de Deus são do modo como Ele quer, e não do modo como queremos que sejam. No deserto, Paulo aprendeu a ser o líder que Deus precisava para a expansão do Reino de Deus. Sem dúvida, Paulo é um dos maiores exemplos de liderança do Novo Testamento. Naturalmente, o modelo máximo é Jesus, e Paulo modelou sua liderança no conhecimento de alguém que adquiriu acerca de Jesus […]. Ele não se intimida em reafirmar sua igualdade com os demais apóstolos em termos de autoridade e liberdade para pregar o evangelho. (CABRAL, 2009, p. 129) Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.  

 

Por que a Arábia, então? A resposta obsoleta, óbvia e direta é que Paulo, ávido por dizer às pessoas sobre Jesus, dirigiu-se à Arábia em sua primeira “missão evangelística”. Estudiosos e pregadores escreveram e falaram sobre a “atividade missionária de Paulo na Arábia” como se essa interpretação fosse um caso fechado, mas, como geralmente é o caso, a resposta óbvia está quase certamente errada. Mais uma vez, como geralmente ocorre, a dica do que Paulo quer dizer está nas Escrituras que ele conhecia tão bem. Recordamos que o jovem Saulo de Tarso era, em um sentido judaico e técnico, “extremamente zeloso das tradições ancestrais” — uma linha que aparece em Gálatas imediatamente antes da passagem supracitada. Recordamos, além disso, que, em tradições judaicas dos dias de Saulo, havia dois heróis antigos de “zelo”: Fineias, o jovem sacerdote que havia ferido o israelita e a moabita com uma lança, e Elias, que ludibriara e matara os adoradores de Baal, divindade cananeia da fertilidade. Fineias é importante para o nosso entendimento de Paulo por razões às quais retornaremos, ao passo que Elias é importante para Paulo sobretudo por nos dar uma dica sobre a jornada do apóstolo à “Arábia”. No primeiro século, a palavra “Arábia” cobria um território amplo. Poderia fazer referência ao antigo reino Nabateu, que, a leste, abrangia um pedaço da Síria — aproximando-se, de fato, de Damasco — e que, ao sul, passando pela atual Jordânia, incluía a península do Sinai. Mas uma das únicas referências ao Sinai no Novo Testamento — de fato, na mesma carta, a carta de Paulo aos Gálatas — nos dá uma localização muito mais específica: o monte Sinai, na península ao sul da Terra Santa e a leste do Egito. O monte Sinai era onde Deus havia descido em fogo e dado a Torá para Moisés; era o lugar da revelação, o lugar da lei, o lugar onde a aliança entre Deus e Israel, estabelecida anteriormente com Abraão, Isaque e Jacó, foi solenemente ratificada. Sinai, o grande monte na Arábia, era, nesse sentido, o lugar dos começos, o lugar para o qual gerações subsequentes olhavam em retrocesso como ponto de partida do relacionamento longo e tumultuoso, o casamento geralmente instável entre este Deus estranho, libertador e exigente e seu povo obstinado e arrogante. Foi para o Sinai que Elias fugiu quando tudo deu errado, e foi também para o Sinai que Paulo de Tarso se dirigiu, pela mesma razão. Esse, então, é o motivo pelo qual ele foi para a Arábia: entregar sua antiga comissão e adquirir uma nova. Sua lealdade ao Único Deus de Israel estava tão firme quanto sempre esteve, e, visto que muitos cristãos, e também muitos judeus, presumiram o contrário (sugerindo, por exemplo, que o apóstolo Paulo era um traidor do mundo judaico ou que nunca o havia entendido para início de conversa), é importante destacar este ponto, até mesmo antes de abordamos a obra principal da vida de Paulo. À medida que tentamos descobrir exatamente o que aconteceu em seguida, fontes nos apresentam um turbilhão de incidentes, culminando com uma breve visita de Saulo a Jerusalém antes de seu retorno a Tarso. O tempo de Saulo em Damasco, incluindo sua viagem para a Arábia e seu retorno, levou aproximadamente três anos, provavelmente de 33 a 36 d.C. (Questões de cronologia são sempre complicadas, porém as linhas gerais estão claras). Assim, embora o alarme e a ira relacionados à sua proclamação inicial de Jesus tenham sido reais o suficiente, parecem ter levado certo tempo antes de, aparentemente, tornarem-se violentas. Apenas quando as ameaças se tornaram sérias, com sua vida em perigo não apenas com a ameaça da população local judaica, mas também em decorrência ameaça de um oficial local, Paulo fez sua famosa escapatória, evitando guardas nos portões da cidade ao ser baixa do pelos muros em um cesto. T. Wright; traduzido por Elissamai Bauleo. Paulo: uma biografia. Editora Thomas Nelson S.A. 1. Ed. 2018.  

 

Seminário intensivo com Jesus na Arábia Há um intervalo muito importante na vida de Paulo entre Atos 9.20,21 e Atos 9.22. No começo, Paulo apenas pregava e afirmava que Jesus era o Filho de Deus (At 9.20,21). Mas, depois, Paulo mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo (At 9.22). Demonstrar é mais do que afirmar. Demonstrar é provar cuidadosa e meticulosamente o que se afirma. Demanda um exame acurado, uma investigação precisa, uma análise profunda. Onde Paulo esteve e o que aprendeu para passar do primeiro estágio da afirmação para o segundo estágio da demonstração? O livro de Atos não nos responde, mas encontramos a resposta na carta aos Gálatas. Após sua conversão, Paulo não foi para Jerusalém, onde estavam os apóstolos, mas rumou para as regiões da Arábia, onde permaneceu três anos, fazendo um seminário intensivo com o próprio Senhor Jesus. O próprio Paulo registra esse fato, assim: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11,12). Depois de passar três anos examinando cuidadosamente o Antigo Testamento, ele descobriu que Jesus era, de fato, o Messias prometido. Paulo narra como foi que isso aconteceu nesses três anos: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco” (Gl 1.15-17). Lopes, Hernandes Dias. Paulo, o Maior Líder do Cristianismo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2009.  

 

   3. Mais lições do deserto.

 

Saulo passou a usar seu nome romano Paulo, com o qual se tornou conhecido em seu ministério. Ao tomar o rumo do deserto para refletir e aprender, o agora Paulo foi despido de toda a filosofia e religiosidade legalista do judaísmo. No deserto, ele aprendeu que a simplicidade era a chave que abria a porta do cristianismo, que era preciso dominar suas paixões, substituindo-as pela alegria da salvação em Cristo. Ele também aprendeu que a imensidão do deserto esmaga o poder e a fraqueza do homem; agora ele só pode depender de Deus. Por isso, Paulo descobre também, na experiência do silêncio e da solidão no deserto, que as coisas de Deus são do modo como Ele quer e não como nós queremos. No deserto, Deus ensinou Paulo a ser o líder que Ele precisava para expandir o seu reino.    

Comentário

  No deserto, longe do burburinho da vida urbana, com as rochas e areias ardentes durante o dia, e as estrelas silentes à noite, despojou-se Saulo das amarras de uma vida inteira, libertando-se da Lei e da tradição judaicas. Na quietude da Arábia, andou com Deus. Aqui, o Senhor revelou a Saulo as grandes verdades que viriam a ser as âncoras de sua pregação. Foi aqui também que reestudou as Escrituras, e meditou sobre as grandes doutrinas que iria em breve ensinar em todas as igrejas. Aprendeu o valor da comunhão com Deus, tornando-se lhe sensível à vontade. Foi no deserto que Moisés veio a encontrar Deus. E foi num momento de desespero, que Elias procurou a quietude do deserto. No deserto, o maná alimentou o povo de Deus por quarenta anos. Que lugar seria mais propício para Saulo reencontrar-se com o Senhor? Onde poderia ser alimentado diariamente pelo pão do céu senão aqui? É impossível saber os detalhes daqueles dias de consagração. Mas de uma coisa não temos dúvida: Saulo deixou o deserto plenamente convicto e preparado para apresentar as razões de sua fé. Ele sabia que, no exato momento em que abrisse os lábios na sinagoga, os fariseus opor-se-lhe-iam amargamente, taxando-o de hipócrita, traidor. Por isso, deveria estar preparado a fim de apresentar tanto a sua defesa quanto a de Jesus com toda a sua força e poder. Na defesa da fé, seria imprescindível que tivesse ideias muito claras acerca da salvação oferecida por Cristo. Falar de uma experiência é simples, mas debater com os filósofos e defensores de outras religiões exige um conhecimento bem definido e pontos de vista sólidos. Além de justificar a morte de Cristo conforme predita nas Escrituras, Saulo teria de explicar porque isso foi necessário e por que Deus o exigiu. Ao pensar no propósito da vida e na felicidade de que ora desfrutava, Saulo concluiu: o que aprendera na escola rabínica era de fato uma poderosa verdade. O supremo propósito do ser humano é receber o favor divino. Mas a única maneira de se obter tal favor é submeter-se à justiça de Deus. Somente Ele pode conceder-nos a paz. Ball. Charles Ferguson. A Vida e os Tempos do Apóstolo Paulo. Editora CPAD. pag. 41-42.  

 

Uma exagerada confiança em si mesmo Uma vez acolhido na igreja-mãe, onde outrora perseguira com tanta fúria os cristãos, Paulo tem livre trânsito para sair da cidade e entrar nela, a 􀅺m de pregar aos judeus e discutir com os helenistas. Mas toda essa desenvoltura não alcança os resultados que Paulo esperava. Talvez até aqui Paulo ainda estivesse confiando em si mesmo para obter sucesso em seu ministério. Ainda estava vivendo sob a égide da antiga aliança. Em vez de frutos do seu trabalho, enfrenta mais perseguição. Eis o relato de Lucas: “Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, pregando ousadamente em nome do Senhor. Falava e discutia com os helenistas; mas eles procuravam tirar-lhe a vida” (At 9.28,29). Ao dar testemunho de sua conversão muitos anos depois, ao ser preso nessa mesma cidade de Jerusalém, Paulo narra uma experiência dramática. Ele não foi apenas rejeitado pelo povo da cidade. Foi dispensado também da obra pelo próprio Deus. Acompanhemos o relato que o próprio apóstolo faz: “Tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, sobreveio-me um êxtase, e vi aquele que falava comigo: Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito” (At 22.17,18). Em vez de Deus mudar os oponentes de Paulo, é Paulo que tem de mudar e sair da cidade. Paulo não quer sair da igreja de Jerusalém. Ele chega a discutir com Deus. Pensa que Deus está cometendo um erro estratégico ao tirá-lo desse campo. Ele pensa ser o homem certo para essa empreitada. Mas Deus não cede; é Paulo que tem de arrumar as malas e ir embora. Vejamos a argumentação de Paulo com Deus: “Eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam. Mas ele me disse: Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios” (At 22.19-21). Como Paulo reluta em sair, ele é retirado pelos irmãos: “Tendo, porém, isto chegado ao conhecimento dos irmãos, levaram-no até Cesárea e dali o enviaram para Tarso” (At 9.30). O jovem Paulo sofre mais um golpe em seu orgulho. Quando ele arruma as malas e vai embora de Jerusalém, imediatamente os problemas da igreja se resolvem: “A Igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31). Talvez nada ira tanto o orgulho de um pastor do que sair da igreja e ver que após sua saída todos os problemas dela se resolvem. Volte para casa, jovem! Paulo saiu de Jerusalém e foi para Tarso, sua cidade natal. E ali ficou não pouco tempo no anonimato, num completo ostracismo. Nada sabemos desse longo período de sua vida. Aquele que estava com a mente povoada de muitos sonhos, e nutrindo na alma o ideal de pregar a Palavra em Jerusalém, está, agora, sozinho, esquecido, fora do palco, longe das luzes da ribalta. É importante perceber que Deus ainda está tratando com ele. Na verdade, Deus está mais interessado em quem nós somos do que no que fazemos. Vida com Deus precede trabalho para Deus. A nossa maior prioridade não é fazer a obra de Deus, mas conhecer o Deus da obra. O Deus da obra é mais importante do que a obra de Deus. Paulo precisava aprender que o sucesso na obra não vinha dele mesmo, mas de Deus. Ele precisava passar da antiga aliança para a nova aliança. Na antiga aliança, tudo depende de nós e nada, de Deus; na nova aliança, tudo depende de Deus e nada, de nós. Se quisermos fazer a obra de Deus 􀅺ados em nossas próprias forças, fracassaremos. Se dependermos apenas dos nossos recursos, nos frustraremos. A nossa suficiência vem de Deus. Tarso não foi um acidente na vida de Paulo, mas uma escola de treinamento. O deserto é a escola superior do Espírito Santo onde Deus treina seus líderes mais importantes. Tarso foi o deserto de Paulo. O deserto não é um acidente em nossa vida, mas uma agenda de Deus. É Deus quem nos leva para o deserto. Não gostamos do deserto. Ele não nos promove. Ele nos tira do palco. Ele apaga as luzes dos holofotes e nos deixa sem qualquer projeção. Deus nos leva para o deserto não para nos exaltar, mas para nos humilhar. O deserto é o lugar onde Deus treina seus líderes mais importantes. Deus não tem pressa quando se trata de preparar os seus líderes. Vivemos numa geração que tem muita pressa. Gostamos de restaurantes fast-food. Mas os líderes não podem amadurecer no carbureto. Eles não podem pular o estágio do deserto. Deus preparou Moisés quarenta anos para usá-lo durante quarenta anos. Deus preparou Elias três anos e meio para usá-lo num único dia, no cume do monte Carmelo. O Senhor Jesus só começou seu ministério com 30 anos de idade. Paulo passou quatorze anos em Tarso antes de ser poderosamente usado por Deus na obra missionária. Lopes, Hernandes Dias. Paulo, o Maior Líder do Cristianismo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2009.  

SÍNTESE DO TÓPICO III

A vocação de Paulo foi aperfeiçoada no deserto pelo qual o apóstolo passou durante três anos.

 

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Identificando um Chamado Possuir um ‘chamado’ é ter sido convocado por Deus para o cumprimento de uma tarefa que, com base em sua autoridade, é Ele mesmo quem estabelece o que deve ser feito, como deve ser feito e por quem deve ser feito. Com base nisso, podemos destacar três lições:

  1. O mérito não é de quem é chamado, mas de quem chama;
  2. A tarefa a ser realizada não pertence a quem foi chamado, mas a quem chamou;
  3. Não se trata de um peso, mas de um privilégio concedido pela graça divina.

[…] Quem chama passa a ser visto como infinitamente mais importante do que quem é chamado, e isso significa dizer que as razões, as formas e objetivos devem sempre girar, única e exclusivamente, em torno da Pessoa de Deus, o que é o Chamador” (TORRALBO, Elias. Vocação: Descobrindo o seu chamado. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, pp.12,15).  

CONCLUSÃO

A grande verdade que aprendemos nesta lição é que Deus não mudou seu método para vocacionar e chamar a quem Ele quer. Para isso, Ele usa experiências muitas vezes dolorosas no deserto da vida. É preciso aguçar a nossa sensibilidade espiritual para identificarmos o chamado de Deus para a nossa vida.  

PARA REFLETIR

  A respeito de “Paulo, a Vocação para Ser Apóstolo”, responda:   Segundo a lição, em que a vocação de Paulo foi estabelecida?

A vocação de Paulo foi estabelecida segundo a presciência de Deus.  

 

O que explica a mudança de ênfase do nome de “Saulo” para “Paulo”?

O que explica a mudança de ênfase do nome de Saulo para Paulo é a origem do apóstolo.  

 

Qual era a vontade de Deus para Paulo?

A vontade de Deus para Paulo era torná-lo um embaixador de Cristo, um pregador do Evangelho (At 9.20).  

 

Do que o ministério de Paulo precisava?

O ministério de Paulo precisava de uma preparação austera, silenciosa, de comunhão com Deus e de reflexão.  

 

Segundo a lição, cite algumas lições do deserto aprendidas por Paulo.

No deserto, ele aprendeu que a simplicidade era a chave que abria a porta do cristianismo, que era preciso dominar suas paixões, substituindo-as pela alegria da salvação em Cristo. Ele também aprendeu que a imensidão do deserto esmaga o poder e a fraqueza do homem; agora ele só pode depender de Deus.    

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

 

Acesse mais: 

Lições Bíblicas do 4° Trimestre 2021 

Acesse nossos grupos e tenha mais conteúdo:

 

3 respostas para “4 LIÇÃO TRI 2021 PAULO, A VOCAÇÃO PARA SER APÓSTOLO”

  1. A Paz do Senhor Jesus sempre em tua vida, teu ministério.
    Excelentes estudos, os quais em muito tem me auxiliado nos meus estudos e ensino da EBD.

    Deus continue abençoado poderosamente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *