5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

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TEXTO ÁUREO

“Se alguém falar, faie segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém!” (1 Pe 4.11)

VERDADE PRÁTICA

Os dons de profecia, de variedades de línguas e de interpretação das línguas são para edificar, exortar e consolar a Igreja de Cristo.

Leitura Diária

Segunda       – Jo 1 7.17             A Palavra de Deus é a verdade

Terça           – 1 Tm 4.14            Não despreze o dom de Deus

Quarta         – 1 Co 14.3            Os objetivos do dom de profecia

Quinta          – 1 Co 14.32          Equilíbrio e bom-senso quanto aos dons

Sexta           – 1 Co 14.22-25     Sinais para os fiéis e para os infiéis

Sábado        – 1 Co 12.31          Buscar os dons com zelo

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

1 Coríntios 12.7,10-12; 14.26 32

I Coríntios 12

7 – Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.

10 – e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas.

11 – Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas,

S repartindo particularmente a cada um como quer.

12 – Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e s todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.

1 Coríntios 14

26 – Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.

27 – E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete.

28 – Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus.

29 – E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.

30 – Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.

31 – Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados.

32 – E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.

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INTERAÇÃO

Prezado professor, na lição de hoje estudaremos a respeito dos três dons de elocução: profecia, variedade de línguas e interpretação. Qual o propósito destes dons? Atualmente temos visto muita confusão e falta de sabedoria no uso destes dons, em especial o de profecia, por isso, precisamos estudar com afinco este tema a fim de que não sejamos enganados pelos falsos profetas. Paulo exortou os crentes de Corinto para que eles procurassem com zelo os dons espirituais e em especial o dom de profecia, pois aquele que profetiza edifica toda a igreja. Por isso, ao preparar a lição, ore e peça que o Senhor conceda a você e aos seus alunos os dons de profecia, de faiar em línguas estranhas e o de interpretá-las.

OBJETIVO GERAL

Apresentar os Dons de elocução.

OBJETIVOS

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

Analisar biblicamente o dom de profecia.

Compreender o dom de variedade de línguas.

Valorizar o dom de interpretação de línguas.

HINOS SUGERIDOS 33, 77, 185

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ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, para introduzir o primeiro tópico da lição, faça as seguintes indagações: “O que é ser profeta?” “Qual é a função do profeta?” Depois de ouvir os alunos, explique que o profeta é aquele que fala em lugar de outrem. Sua função é proclamar os oráculos de Deus a fim de que a Igreja seja edificada, exortada e consolada. A Palavra de Deus nos exorta a não desprezarmos as profecias, todavia precisamos examiná-las com sabedoria, de acordo com a Palavra de Deus, pois muitos falsos profetas têm se levantado atualmente. Leia, juntamente com os alunos 1 Tessalonicenses 5.20,21. Ressalte que a Igreja não pode deixar de julgar as profecias e discernir os espíritos.

PALAVRA-CHAVE

Elocução: Ação ou efeito de enunciar o pensamento por palavras.

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COMENTÁRIO INTRODUÇÃO

O estudo da lição desta semana concentrar-se-á nos três dons classificados como os de elocução: profecia, variedade de línguas e interpretação das línguas. Os propósitos destes dons especiais são os de edificar, exortar e consolar a Igreja de Cristo (1 Co 14.3). Isso porque os dons de elocução são manifestações sobrenaturais vindas de Deus, e não podem ser utilizadas na igreja de forma incorreta. Assim, devemos estudar estes dons com diligência, reverência e temor de Deus, para não sermos enganados pelas falsas manifestações.

Comentário

Deus sempre quis comunicar-se com o homem. O relato bíblico sobre a criação do ser humano demonstra, de modo bem evidente, que Deus comunicava-se diretamente com o ser criado. Sem dúvida, ao por o homem no jardim, para deste ser o responsável e guardador, Deus lhe deu as instruções necessárias, fazendo-lhe ouvir sua voz. E o fez, falando diretamente com o ser criado.

Com a Queda, rompeu-se a comunhão com Deus. Antes, sentiam satisfação em ouvir a voz de Deus, que lhes parecia música suave, pois foram os primeiros sons que penetraram em seus ouvidos, naquele momento inicial da criação. A história se repete. Se o homem, e, muito mais, o crente, não zelar pela comunhão com Deus, o pecado destrói a comunicação com o Senhor. Mas, no seio da igreja cristã, Deus comunica-se com seus servos, através da leitura da Bíblia; através de seus mensageiros, pregadores, ensinadores e líderes, visando sua edificação. De modo sobrenatural, o Senhor usa pessoas, com os dons especiais de expressão verbal, ou de elocução, para transmitir sua vontade, orientações, exortações e direção divina.

Pelo dom de profecia, Deus supre aquilo que a mensagem costumeira não consegue alcançar. Quantas vezes, no meio da congregação, um servo ou uma serva de Deus, que tem esse dom, levanta-se e entrega uma mensagem de exortação, de alerta, ou de edificação para toda a comunidade presente. Via de regra, a profecia autêntica provoca alegria e glorificação a Deus. Em outras ocasiões, o dom de variedade de línguas é usado por Deus, com interpretação, para confortar a igreja ou, equivalendo a uma profecia (com interpretação), consolar ou edificar o seu povo.

Infelizmente, nos tempos presentes, percebe-se que muitas igrejas, ditas pentecostais, substituíram a adoração viva e cheia da presença do Espírito Santo, por um tipo de liturgia social, em que palmas e danças tomam o lugar da glorificação a Deus. Os dons espirituais são esquecidos, ou nunca procurados. Não se pode dizer que palmas sejam gestos ilícitos, de modo algum. Há ocasiões, em que elas cabem bem, na expressão de louvor. Quanto às danças, a nosso ver, era um costume oriental, bem aceito e praticado entre o povo de Israel. Mas, no culto neotestamentário, não conseguimos constatar, biblicamente, que haja espaço para essa expressão corporal. Vemos que a adoração a Deus, em glórias, aleluias e em línguas estranhas, é muito mais eloquente para a adoração individual e coletiva. E, quando o dom de variedade de línguas é praticado, com interpretação, é de grande valor para a igreja.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 53-54.

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Neste ponto o dom de profecia é contrastado com o dom de línguas. (Quanto ao dom de profecia, ver as notas de introdução ao décimo segundo capítulo). Todo o homem fala em seu idioma nativo; mas o que alguém diz na profecia, é inspirado por Deus. O próprio indivíduo compreende o que diz, ou, pelo menos, entende a maioria das palavras que profere. Ê guiado pelo Espírito Santo, para que diga coisas significativas e importantes; não repete meramente algum conhecimento que já tivesse como mestre, expandindo-as. Pode fazer isso, é verdade; mas as suas palavras envolvem um fenômeno inspirativo. Não se espera que aquele que profetiza ultrapasse as Escrituras; mas haverá sempre de ensinar elevadas verdades espirituais, quer estejam quer não estejam escritas na Bíblia. Quem profetiza fala como um agente direto do Espírito de Deus, e não indireta ou secundariamente como um mestre. (Ver mais detalhes a esse respeito, nas notas expositivas acima mencionadas). Quem profetiza também pode prever o futuro, visto que tal fenômeno transparece em profecias em que foram usados profetas do N.T., ainda que, nesta passagem específica, estejam muito mais em foco os ensinamentos inspirados. O Profeta Fala

1. Ele é inspirado e transmite mensagens inspiradas.

2. Sua mensagem edifica à igreja, e não se orgulha devido ao uso de seu dom.

3. Não transforma a igreja em um teatro, entrando em competição com outros profetas.

4. Em contraste com as línguas sem interpretação, o profeta fala a outros, para o bem deles, e não se dirige a si mesmo, visando o seu proveito próprio.

«…edificando…» No original grego, essa palavra era usada para indicar a ereção literal de edifícios, conforme se vê em Mat. 2:41 e Marc. 13:1,2. Porém, também era usada metaforicamente, no sentido de edificação espiritual, como um meio de desenvolvimento espiritual. (Ver também I Cor. 8:1, onde essa palavra é explanada. E outras referências onde essa palavra reaparece são I Cor. 10:23; 14:4,17; Rom. 15:20; Gál. 2:18 e I Tes. 5:11). Tal como um edifício qualquer é levado à sua totalidade e utilidade, mediante um processo contínuo de edificação e aprimoramento, assim também se dá no caso da alma humana, ou mesmo da comunidade de almas remidas. Torna-se necessário um desenvolvimento gradual; porquanto nenhum crente se aperfeiçoa imediatamente, e nem de maneira fácil. A profecia é o dom espiritual que mais contribui para o nosso desenvolvimento em Cristo, para nossa transformação moral em Cristo, para nossa transformação metafísica à imagem de Jesus Cristo (ver Rom. 8:29, onde há uma nota de sumário sobre essa elevadíssima doutrina). Por essa razão é que o dom profético se reveste de tanta importância. De fato, de alguma maneira, todos os dons espirituais visam exatamente esse propósito, o desenvolvimento espiritual do crente, segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, conforme aprendemos em I Cor. 12:7.

«…exortando…» No sentido de exercer a vontade, para que se faça o que é direito, e não para que se faça o que é mal. Essa palavra pode significar «exortação» (ver Fil. 2:1), «consolo» (ver II Cor. 1:4-7), «súplica» (ver II Cor. 8:4), ou mesmo a combinação de exortação e consolo, que também é «encorajamento» (ver Heb. 6:18). Está em pauta o despertamento da vontade para que se faça o que é correto e próprio. A maioria dos intérpretes entende que aqui se deve compreender a «exortação» no sentido de «encorajamento». Assim sendo, mediante o dom da profecia, o indivíduo pode ser encorajado, exortado, consolado, sujeito a uma súplica, porquanto compreende o que se diz; e aquilo que ouve tem a energia do poder do Espírito de Deus. Sem o acompanhamento da interpretação, entretanto, o dom de línguas não pode conseguir tal efeito; por conseguinte, as línguas formam um dom inferior ao da profecia.

«…consolando…» No original grego, um vocábulo diferente do anterior é usado aqui, embora essas duas palavras pudessem ser sinônimas, ambas as quais dão a entender «consolo», embora a palavra que ora consideramos significa especificamente isso. Sua forma verbal, «paramutheomai», significa «animar», «encorajar», «consolar». Por conseguinte, sua forma nominal significa «encorajamento», «consolo». Há uma outra forma nominal dessa palavra que também significa «encorajamento», «consolo» ou «alívio». (Ver Sófocles, El. 129; Thu. 5, 103, 1; Epigr. Gre. 951,4; Filo, Praem. 72; Josefo, Guerra dos Judeus 6,183; 7,392). Muitas são as aflições e as tristezas pelas quais devem passar todos os crentes. Pode-se observar facilmente, na experiência humana, que os crentes não são poupados, em qualquer sentido, da tristeza geral e das dores que afligem a humanidade em geral. No entanto, em Cristo, mediante o dom da profecia, há alívio para tais sofrimentos. Ouvimos falar acerca da providência de Deus, de seu amor e cuidado, de seu propósito, e a mente do crente é levada a compreender assim o propósito da agonia, bem como a esperança relativa ao futuro, quando toda a adversidade será finalmente eliminada, e quando a própria morte física (o pior dos males físicos) houver de ser tragada na vitória. Ora, o falar em línguas, sem a ajuda da interpretação, não pode realizar isso, não pode consolar, fortalecer, encorajar. Por isso é que o dom de línguas é inferior à profecia.

Por esses motivos é que a profecia, no dizer de Findlay (in loc.), «…serve para melhor edificar a igreja cristã, para estimular a vontade dos crentes e para fortalecer o espírito cristão».

«Edificação, ânimo, encorajamento, conforme a necessidade de cada um». (Shore, in loc.).

O leitor pode examinar as notas expositivas sobre «Barnabé», que possuía esse dom altamente consolador, em Atos 4:36.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 216.

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I Cor 14.3 O que significa, em contraposição ao ―falar em línguas‖, o propheteuein, o ―falar profético‖? “Quem fala profeticamente fala a pessoas edificação, exortação e consolo” [tradução do autor]. Essa sucinta frase revela de imediato que não se trata de um ―profetizar‖ no sentido corrente de predizer o futuro, como nós costumamos falar de ―previsão do tempo‖ e coisas semelhantes. A palavra como tal aponta para os ―profetas‖ da Antiga Aliança. Contudo entenderemos esses personagens de forma equivocada se os considerarmos tão somente como anunciadores de acontecimentos futuros. Em primeiro lugar sua tarefa era confrontar povo, sacerdotes e rei com todo o seu fracasso, toda a sua culpa. Deviam conclamar ao arrependimento. Precisavam chamar atenção para a santa vontade de Deus, ensinar, exortar e consolar. Unicamente no contexto dessa grande incumbência geral eles também precisam apontar para o futuro e ameaçar ou confrontar mediante determinadas revelações sobre o futuro. Quem, pois, falava como ―profeta‖ na igreja não apenas tinha de prenunciar, como Ágabo, uma carestia, mas cuidar, como declara expressamente também o v. 3, da ―edificação‖ por meio da ―exortação e do consolo‖.

O “falar profético” refere-se, pois, a um falar inteligível em palavras simples, dirigido e plenificado pelo Espírito de Deus, e por isso atingindo coração e consciência de pessoas. Seu conteúdo pode variar muito, de acordo com a incumbência de Deus. Porém seu objetivo sempre é a edificação da igreja como corpo de Cristo.

Werner de Boor. Comentário EsperançaCartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.

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I – DOM DE PROFECIA (1 Co 12.10)

1. O que é o dom de profecia?

De acordo com Stanley Horton, o dom de profecia relatado por Paulo em 1 Coríntios 14 refere-se a mensagens espontâneas, inspiradas pelo Espírito, em uma língua conhecida para quem fala e também para quem ouve, objetivando edificar, exortar ou consolar a pessoa destinatária da mensagem. Profetizar não é desejar uma bênção a uma pessoa, pois essa não é a finalidade da profecia. Infelizmente, por falta de ensino da Palavra de Deus nas igrejas, aparecem várias aberrações concernentes ao uso incorreto deste dom. Não poucos crentes e igrejas locais sofrem com as consequências das falsas profecias. Apesar dei exortar-nos a não desprezar ou sufocar as profecias na igreja local (1 Ts 5.20), as Escrituras orientam-nos a que examinemos “tudo”, julgando e discernindo, pelo Espírito, o que está por trás das mensagens. Toda profecia espontânea deve ser julgada (1 Co 14.29-33).

Comentário

No Antigo Testamento, havia um “ministério profético”, reconhecido e considerado por toda a nação. Hoje, não existe esse ministério nas igrejas cristãs. Existem pessoas ou mensageiros de Deus, que possuem o “dom de profecia”, usado em determinadas ocasiões, como propósitos definidos, como veremos mais adiante. Entre os dons ministeriais, objeto de outro comentário, há dom de “profeta”. No AT, as palavras entregues pelos profetas não admitiam julgamento, exceto quanto a seu cumprimento. Quando o profeta era de fato “homem de Deus”, nenhuma palavra deixava de se cumprir (1 Sm 3.19). Se não se cumprisse, era um falso profeta e era punido com pena de morte (Dt 13.5; 18.20,22). Em o Novo Testamento, os profetas podem ser julgados ou avaliados (1 Co 14.29). Fico a imaginar se houvesse punição para os falsos profetas de hoje…

O dom de profecia, no Novo Testamento, possui algumas diferenças, em relação ao ministério profético do Antigo Testamento. Na Antiga Aliança, os profetas, ou mensageiros de Deus, tinham mensagens dirigidas a todo o povo, à nação de Israel e, em determinadas ocasiões, a pessoas individualmente, a reis, a profetas e a quem Deus quisesse enviar sua palavra. Em o Novo Testamento, a mensagem profética é proclamada, no seio de uma igreja local. Dificilmente, há uma mensagem para toda a nação. Embora essa hipótese não seja descartada, Deus age e fala como quer.

Deve-se considerar que a profecia, bem como outras manifestações do Espírito Santo, é absolutamente necessária nos dias presentes. Concluir que os dons, os carismas, os milagres, sinais e prodígios, foram apenas para os dias dos apóstolos, é querer reduzir o poder e a ação do Espírito Santo a uma matriz teológica, acadêmica e intelectualizada, que não se coaduna com as afirmações da Palavra de Deus.

1. O QUE É DOM DE PROFECIA

Para entendermos melhor esse dom, precisamos saber um pouco sobre o significado da palavra profeta e profecia. No Antigo Testamento, a palavra profeta é navi, (hb. Nãbi’) que se refere ao homem que era inspirado pelo Espírito Santo para entregar as mensagens de Deus para as pessoas (cf. 2 Pe 1.21). A palavra profetizar, no Antigo Testamento, é nãbã isto é, “a função do verdadeiro profeta quando ele fala a mensagem de Deus para o povo sob a influência do Espírito Divino (1 Rs 22.8; Jr 29.27; Ez 37.10).’

No Novo Testamento, a palavra grega para profecia é propheteia, formada de dois termos, depro, que significa “adiante”, “antecipado” e phemi, “falar”. Assim, nesses termos, profecia significa “a declaração do que não pode ser conhecido por meios naturais (Mt 26.68), é a descrição antecipada da vontade de Deus, quer com referência ao passado, presente e futuro (veja Gn 20.7; Dt 18.18; Ap 10.11; 11.3”.2 Profetizar, no grego, se resume numa palavra, propheteiiein, que significa “falar em nome de alguém, em favor de alguém”.

O dom de profecia é um dom especial, em que seu portador transmite uma mensagem para a igreja ou para alguém, na inspiração do Espírito Santo. Não pode ser uma mensagem humana, pessoal da parte do que a transmite, mas é falada numa linguagem humana. É necessário ter cuidado com as distorções que podem ocorrer na transmissão da mensagem profética, na igreja de hoje.

Diz a Bíblia: “O profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor” (Jr 23.28 — grifo nosso). Não deve haver mistura da “palha” das “profetadas”, que ocorrem aqui e ali, em certas igrejas, com o genuíno “trigo” da verdadeira profecia, transmitida por um servo ou serva de Deus, pela inspiração do Espírito Santo.

Segundo Raymond Carlson, “A profecia, no Novo Testamento, que difere de uma pregação comum, é uma manifestação sobrenatural, dada para edificação, exortação e consolação. Através de 1 Coríntios 14.30, entendemos que o dom nos é dado por revelação através do Espírito”.3 Uma pregação pode ter caráter profético, mas nem toda pregação é profecia. Raymond Carlson diz que a profecia, “como seu homônimo dom de línguas, tem de conter elementos de revelação, conhecimento e doutrina”. Aqui, cabe um esclarecimento. Sem dúvida, a profecia resulta de revelação espiritual e de conhecimento, concedido por Deus. Mas não pode trazer nova doutrina, pois tudo o que consta na Bíblia é a Palavra de Deus, suficiente e necessária para nossa edificação. Quando o autor citado diz que a profecia deve conter doutrina, certamente quer dizer que ela tem que ter fundamento doutrinário ou bíblico. A profecia não pode acrescentar nada à Bíblia.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 54-56.

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    A profecia é uma manifestação do Espírito de Deus e não da mente do homem, e é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso: 1 Co 12.7.

    Embora o dom da profecia nada tenha a ver com os poderes normais do raciocínio humano, pois é algo muito superior, isso não impede que qualquer crente possa exercitá-la: “Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados”, 1 Co 14.31.

    Ainda que nalguns casos o dom da profecia possa ser exercido simultaneamente com a pregação da Palavra, é evidente que esse dom é dotado de um elemento sobrenatural, não devendo, portanto, ser confundido com a simples habilidade de pregar o Evangelho.

Dada a importância desse dom em face dos demais dons espirituais, e dentro do contexto da doutrina pentecostal, necessário se faz uma análise cuidadosa, no sentido de conceituá-lo no seio da Igreja hoje.

    O apóstolo Paulo adverte os crentes a procurar “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1 Co 14.1); isto por razões que ele mesmo enumera:

    a. Porque “o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação… O que profetiza edifica a igreja”, 1 Co 14.3,4.

    “Edificação”, “exortação” e “consolação” são os três elementos básicos da profecia, são a razão de ser e de existir desse dom. É evidente que isto contraria a crença tão popular entre nós, de que o principal elemento da profecia é o preditivo (predição do futuro). Certamente, que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento contêm numerosas profecias preditivas, muitas das quais já se cumpriram, e outras estão se cumprindo, e outras ainda se hão de cumprir, No entanto, no conteúdo geral das Escrituras, o elemento preditivo da profecia é relativamente o menor.

    b. Porque ‘‘se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. Os segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós”, l Co 14.24,25.

    Há algo mais que precisamos ter em mente quanto ao dom de profecia e o seu uso na Igreja hodiemamente:

    a) O dom de profecia nunca deve exercer propósitos diretivos ou de governo sobre a Igreja. No Antigo Testamento, Israel era governado por reis e o culto era dirigido pelos sacerdotes, mas nunca por alguém que se tivesse distinguido por um ministério cem por cento profético. Os profetas eram apenas colaboradores na condução do povo. O mesmo aconteceu com a Igreja do Novo Testamento: o seu governo sempre esteve sob a responsabilidade dos presbíteros ou bispos, ou pastores, mas nunca sob a responsabilidade de profetas.

    Escreveu o missionário Eurico Bergstén, que “quando alguém, por meio de profecia, penetra na direção da igreja, mostra que é dominado por influências estranhas. Abre-se, então, uma porta para a perturbação… Quando alguém se faz ‘oráculo de profeta’, para responder a perguntas e orientar os crentes, está usando indevidamente o dom de profecia… O dom de profecia não atinge, nesta dispensação, a faixa de consulta, pois tem uma outra finalidade: a edificação da Igreja”.

   b) Devido a possíveis abusos quanto ao uso do dom da profecia, este dom está sujeito a análise e a consequente julgamento. Recomenda o apóstolo Paulo: “…falem dois ou três profetas, e os outros julguem”, 1 Co 14.29.

   Paulo arremata suas advertências quanto ao dom de profecia, dizendo: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”, 1 Co 14.37.

   O dom de profecia não deve ser desprezado (1 Tm 4.14), mas despertado (2 Tm 2.16), a fim de que a Igreja seja enriquecida: 1 Co 1.57.

Raimundo F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora CPAD.

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Dom da profecia: Esse é o dom principal, a habilidade de usar certos poderes, a inspiração da mensagem, a qual transcende o que é meramente didático. Esse dom inclui o conhecimento prévio, mas envolve especialmente certo poder de ministrar ensino, instrução, consolo, ainda que em um nível superior ao do mestre ordinário, o qual é, essencialmente, transmissor de preceitos adredemente conhecidos. O profeta pode falar por intuição, inspiração e revelação, mediante alguma forma de discernimento que ultrapassa o que é natural, através do dom sobrenatural do conhecimento.

Levantaram-se na igreja primitiva falsos profetas, provavelmente alguns dos quais eram psiquicamente dotados, embora não usassem seu dom para defesa da justiça. Por essa razão foi mister avisar aos crentes que pusessem à prova todas as coisas (ver I Tes. 5:20 e ss.). Esse dom continuaria sendo útil se fosse genuíno, não forçado, embora o «cânon» das Escrituras estivesse já firmemente estabelecido. Pode-se aceitar que nenhuma «profecia» excederá aos limites da verdade revelada nos documentos básicos; mas a profecia pode contribuir bastante para interpretar tais verdades, além de abordar necessidades específicas da igreja local, envolvendo questões de ensino, questões morais, que pessoas menos dotadas não saberiam resolver com sucesso. Considerando-se o dom profético sob esse prisma, esse é um dom altamente desejável na igreja cristã moderna.

Com base nesse pensamento, pode-se ver que um bom profeta, que opere no seio da igreja cristã, pode ser meio para dar solução a vários problemas, trazendo luz para situações difíceis. Tal solução precisaria de tempo extraordinário se fosse usado somente o método comum do ensino. Mais do que isso ainda, a verdadeira profecia exerce certa forma de poder e autoridade entre os irmãos que serve de meio poderoso para aproximar os homens mais ainda de Cristo, inteiramente à parte das mensagens faladas. Um profeta, pois, exerce um poder imediato maior, em uma igreja local, que um pastor comum. Por isso mesmo, o pastor que, ao mesmo tempo, é profeta, é um extraordinário presente para a igreja.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 188.

O crente não deve desprezar as profecias (5.20). As mensagens apostólicas eram revelatórias. Atualmente, as mensagens são expositivas. Profecias aqui não são apenas ensinos escatológicos, mas todo o conteúdo das Escrituras.

O dom de profecias era o mais importante na Igreja primitiva (ICo 14.1). Paulo disse que a profecia fala aos homens edificando, exortando e consolando (ICo 14.3). Paulo ensina que a edificação, a exortação e o consolo que emanam da Palavra não devem ser desprezados na igreja. William Hendriksen lembra que o dom de profecia era como uma chama ardente. Essa chama não deveria ser apagada ou extinta! Assim, Paulo une os dois assuntos, como se estivesse dizendo; “Ao Espírito não apaguem; aos pronunciamentos proféticos não desprezem”. Isto porque ao desprezarem as profecias estavam rejeitando Aquele que é sua fonte, o Espírito Santo o mesmo escritor ainda esclarece; A razão para tal descrédito das palavras proféticas pode ser facilmente percebida. Onde quer que Deus planta trigo, Satanás semeia o seu joio. Onde quer que Deus estabeleça uma igreja, o diabo erige uma capela. E assim também, sempre que o Espírito Santo capacita determinados homens para operarem curas milagrosas, o diabo semeia suas “maravilhas da mentira”. E sempre que o Paracleto coloca em cena um autêntico profeta, o enganador apresenta seu falso profeta. A mais fácil – não, porém, a mais sábia – reação a esse estado de coisas é o desprezo a toda profecia. Acrescente-se a isso o fato de que os fanáticos, os intrometidos e os ociosos de Tessalônica talvez não gostassem de alguns dos pronunciamentos dos legítimos profetas, o que nos fez entender prontamente por que entre alguns membros da congregação a proclamação profética caíra em descrédito. É preciso deixar claro que não existem hoje novas revelações de Deus fora das Escrituras. Como disse, Billy Graham, a Bíblia tem uma capa ulterior. Ainda mesmo que um anjo viesse do céu e pregasse alguma novidade fora da Bíblia deveria ser anátema. A revelação de Deus está contida na Escritura. Ele fala pela Escritura. Por isso, devemos restaurar a supremacia da Palavra e a primazia da pregação na Igreja contemporânea.

LOPES. Hernandes Dias. 1 e 2 Tessalonicenses. Como se preparar para a segunda vinda de Cristo. Editora Hagnos. pag. 149-150.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Não desprezeis as profecias (20; “não desprezeis as expressões vocais proféticas”, NASB; “nem desprezem o que é dito em nome do Senhor”, CH). O verbo grego exoutheneite (desprezeis) é, literalmente, “contar como nada”. Profetizar está relacionado como um dos dons do Espírito, mas no Novo Testamento o sentido geral aceito é “dizer adiante” (o significado literal da palavra grega traduzida por profecias). Assim, significa a pregação cristã e não a “revelação antecipada”, embora este significado não esteja totalmente ausente (cf. 1 Co 14.24,25). Considerando que o espúrio ficaria misturado com a realidade, seria fácil desprezar todas as profecias. Mas Deus escolheu falar com os homens através de expressões vocais humanas, e por mais que o vaso seja humilde e inábil, o ouvinte tem de procurar a mensagem de Deus para si.

Examinai tudo (21; “discerni tudo”, BJ; “usem o bom senso a todo custo”, CH; “examinai tudo cuidadosamente”, NASB; “ponham à prova todas as coisas”, NVI; cf. BAB, BV, NTLH; “julgai todas as coisas”, RA). Estas últimas três exortações na passagem equilibram as primeiras duas. O julgamento cristão, o bom senso, o exame criterioso são ações imprescindíveis na vida da igreja. Isto também é o Espírito que dá (cf. 1 Co 14.29; 12.10, onde “discernir” é um dos dons). Erdman escreve: “Paulo não especifica as provas a serem aplicadas. Em outra passagem, ele dá a entender que todos os dons espirituais devem ser exercidos em amor, que o verdadeiro propósito dos dons deve ser a edificação das pessoas e que as pessoas que são movidas pelo Espírito reconhecerão o senhorio de Cristo e se empenharão em promover a sua glória”.41

Retende o bem (21). Quando o trigo e o joio forem separados, retenha o trigo. Quando descobrir a falsificação pelo som do metal genuíno, mantenha o que é de valor. Ninguém jamais ficou rico apenas descartando o que é espúrio. Esta é a ilusão do crítico destrutivo.

Árnold E. Airhart. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 400.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

I Tes 5.19 Se em tudo isso a nova vida da igreja, e consequentemente também de cada cristão, já foram descritas sem qualquer moralismo, as frases subsequentes falam ainda mais de efeitos do Espírito Santo situados em um nível muito diferente de tudo o que comumente chamamos de “moral-religioso”. No início aparece a advertência: “Não apagueis o Espírito!” Espírito Santo é fogo! Será que ainda estamos conscientes disso, nós que consideramos a sã doutrina como marca essencial da verdadeira igreja e temos tanta predileção pela sua temperatura amena? A instintiva e apaixonada aversão de Lutero contra todo “entusiasmo”, que tornou ainda mais difícil e negativo seu encontro com todo tipo de movimentos complicados na época da Reforma, fez da preocupação com “fanatismo” um traço fundamental das igrejas evangélicas. Sempre que há um fogo flamejando, tememos imediatamente o nefasto incêndio que ameaça o edifício da igreja. Por essa razão é típico para a histórica eclesiástica evangélica que os novos movimentos nela nunca foram saudados com alegria, mas sempre foram inicialmente alvos de suspeita e combate. “Apagar” fogo questionável aparece como uma das principais tarefas da direção da igreja e da teologia. Paulo, porém, adverte justamente de forma oposta: “Não apagueis o fogo do Espírito Santo!” Logo já deve ter havido uma tendência nessa direção na jovem igreja – uma constatação surpreendente para nós.

Talvez era essa a tendência naquela parcela da igreja, que via com preocupação a conduta inquieta e agitada dos “desordeiros”, aos quais a exortação de 1Ts 4.11 se dirigia em particular e contra os quais 2Ts investe de forma ainda mais incisiva. Nesse caso teríamos aqui de fato um paralelo com acontecimentos da época da Reforma. Mas então é particularmente digno de nota que justamente pessoas como Paulo e seus colaboradores não tirem aquelas conclusões temerosas que impregnaram nosso sangue, mas advertem aquele grupo crítico da igreja contra todas as tentativas de “apagar”! Também aqui Paulo foi novamente capaz de unir coisas aparentemente contraditórias: “Empenhai tudo para serdes tranquilos” e “Não apagueis o Espírito”. Nada pode ser mudado na natureza de fogo do Espírito, e o fogo procura e precisa queimar. Quando se ignora isso, obtém-se aquele “Espírito Santo” cuja existência é apenas postulada dogmaticamente, mas não mais experimentada pela igreja de forma viva e irrefutável.

Aquele efeito e dom do Espírito que para Paulo sempre foi o mais importante e digno de ser conquistado (1Co 14.1; o “amor” não constitui dom do Espírito, mas fruto do Espírito! – Gl 5.22) é o propheteuein, o “profetizar”. Também poderíamos traduzir simplesmente “falar como profeta”. Entendemos mal os profetas quando os consideramos como uma espécie de adivinhos do futuro. São portadores da mensagem divina a Israel, mensagens que dizem respeito primordial às circunstâncias atuais e somente daí tiram as consequências para o futuro e, sob esse aspecto, também predizem coisas vindouras. Conforme 1Co 14.24s propheteuein na igreja também é, sobretudo, o dom de ver e denunciar com força penetrante as condições essenciais de pessoas. Dependendo de cada caso, essas palavras também podem ter sido associadas a anúncios de juízos divinos e manifestações divinas da graça. Tais “profecias” também havia em Tessalônica. Novamente parece que nelas também podem ter emergido críticas na igreja. Ainda que agora já lancemos um olhar prévio sobre a segunda carta, capazes de deduzir dela consequências para a realidade na época da primeira, podem ter sido manifestadas várias “profecias” que começavam a clamar “por meio do Espírito” (2Ts 2.2): “O dia do Senhor chegou!”.

O grupo sensato da igreja se defendia com razão contra tal “fanatismo”. Mas tirava disso diretamente a conclusão genérica a que se chegou na época da Reforma: de nada valem todas essas “profecias”. E agora é novamente muito grandioso e importante que Paulo – que neste caso específico dava toda razão à crítica! – não concorda simplesmente com isso: “muito bem! O melhor é que vocês deem fim a todo esse profetismo!”, mas pelo contrário adverte: “Não menosprezeis as profecias.” Apesar de tudo prevalece, e precisa prevalecer, o cumprimento da promessa de Joel por ocasião de Pentecostes: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos” (At 2.17). É preciso que vigore o anseio de pessoas como Moisés: “Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta!” (Nm 11.29). Apesar de todas as difíceis e amargas experiências da igreja de Deus até nos nossos dias, isso precisa continuar assim! O fogo do Espírito precisa queimar e enviar suas chamas, do contrário restará tão-somente lava endurecida, da qual os teólogos fabricam suas peças doutrinárias.

I Tes 5. 21s Todavia: “Julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de maldade.” Novamente a palavra apostólica unifica questões opostas. Quando pessoas produzem percepções através do Espírito Santo e anunciam atos divinos, será que resta aos ouvintes somente uma coisa: a sujeição obediente? “Assim diz o Senhor” – será que neste caso ainda podemos “julgar”? Porventura os profetas da antiga aliança não exigiram de rei, sacerdote e povo a aceitação incondicional da palavra? No AT com razão! Mas na igreja de Jesus não apenas os “videntes” possuem o Espírito Santo, mas todos, ou seja, também os ouvintes das profecias! Justamente porque na nova aliança não apenas ditos proféticos isolados são inspirados pelo Espírito, mas todo o coração está continuamente repleto dele, os ditos divinos já não aparecem mais tão inequivocamente destacados ao lado dos pensamentos e sentimentos humanos. Vimos anteriormente que para o NT todo falar dos crentes deve ser “palavra de Deus”. Nesse caso, porém, pode ocorrer com uma maior facilidade do que no AT que os “profetas” involuntária e desavisadamente mesclem dádivas do Espírito e ideias próprias, coisas espirituais e psíquicas. Por isso na nova aliança também há uma necessidade bem maior do que na antiga de “examinar as profecias”. Portanto, o caminho genuíno passa exatamente no meio termo entre menosprezo e supervalorização!

Quando, enfim, a igreja de Jesus em todo o mundo se recuperará a atitude de, por puro medo do “fanatismo”, não apagar constantemente o Espírito, sendo por isso pobre de fogo, vigor e dons? Quando ela deixará de ser refém acrítica de todo movimento que parece possuir algo “vivo”, e será realmente capaz de ouvir e julgar?!

O resultado de um exame é sempre duplo. Coisas boas, valiosas são destacadas. Agora “retende-o”! Não permitais que a palavra ouvida seja apenas agitação de uma hora, mas acolhei-a em vossa vida e vosso serviço. Em contraposição, “abstende-vos de toda forma de maldade”. A palavra não autêntica, oriunda de nossa própria natureza, sempre pode ser reconhecida pelo fato de que também possui em si algo de nossa natureza maligna. Aqui nossa resistência precisa ser implacável. Tão logo surgir algo indisciplinado ou amargo, sem amor ou egoísta, a igreja precisa declarar seu não, até mesmo quando isto alega resultar do Espírito, sendo apresentado com entusiasmo e exigências. Talvez possamos dar mais um passo e ver “o” maligno, o diabo, por trás do mal. Então também Paulo já teria contado com a possibilidade de que o inimigo tentaria penetrar na igreja mesclando coisas más e perigosas à proclamação. No presente contexto a admoestação teria o seguinte sentido: reconheçam o inimigo, o maligno, em qualquer configuração e disfarce, justamente também no disfarce especialmente devoto e santo! Rejeitai-o com a mesma determinação com que acolheis o bem.

Evidentemente essa obrigação de examinar e discernir não é fácil. Seria muito mais belo se pudéssemos aceitar sem preocupação e com alegria tudo o que penetra em nossos ouvidos no âmbito da igreja. Mas isso não acontece de acordo com nossos desejos e nossa comodidade. Os tessalonicenses não conseguem se furtar à verdadeira situação e à consequente tarefa sem conjurar graves ameaças à vida da igreja. E nós tampouco o podemos.

Werner de Boor. Comentário Esperança I Carta aos Tessalonicenses. Editora Evangélica Esperança.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

I Cor 14. 30 Entretanto também é possível que a um profeta ou um membro da igreja que “esteja assentado” e ouve, “venha uma revelação”. Nesse caso o respectivo não deve esperar até que o profeta que está falando termine, mas deve aceitar como sinal que o Senhor que concede a revelação quer que essa nova palavra seja dita naquele instante. Então “cale-se o primeiro”. Será que conseguirá fazê-lo? Será que não é tão ―impelido‖ pelo Espírito que precisa continuar falando sem vontade própria? Não é assim que Paulo considera a atuação do Espírito Santo.

I Cor 14. 32 “Os espíritos dos profetas estão subordinados aos profetas” [tradução do autor]. Paulo está conjugando – como já fez no v. 12 – o plural de espírito, uma conotação que para nós a princípio soa estranha. Paulo não quer dizer que o Espírito Santo se dissolve numa pluralidade de ―espíritos‖, mas que ele, em sua atuação, se doa a cada pessoa de tal maneira que passa a ser ―espírito dela‖. Tanto mais surpreendente torna-se a afirmação de que o Espírito, que segundo 1Co 12.11 distribui soberanamente seus dons como quer, agora se “subordina” a pessoas. Como isso é possível?

I Cor 14. 33a A razão é que “Deus não é de confusão, e sim de paz”. Consequentemente, seu Espírito tampouco causa desordem, fazendo com que vários profetas falem ao mesmo tempo uns contra os outros. O próprio Espírito está disposto a silenciar no primeiro orador, se desejar levantar sua voz em outro. Por isso o profeta também é capaz de se calar e não tem de continuar a falar desenfreadamente. Na formulação da frase justificativa é bonito que Paulo não chama o Deus vivo de ―Deus da ordem‖, mas que designe o contrário da “confusão” como “paz”. Para Deus não interessa a ordem como tal. Porém todo seu objetivo é a comunhão entre as pessoas, a cooperação de todos os membros em plena paz.

I Cor 14. 31 Retomemos agora a frase, que parece estar em contradição com o v. 29, por causa do ―porque‖ que lhe dá início: “Porque podeis falar profeticamente um após o outro”. Esse ―porque‖ apenas poderá ser compreendido se o número dos ―profetas‖ que profetizam for restrito dessa maneira justamente para que, se possível, ―todos‖ os membros da igreja possam exercer o ―falar profético‖ tão essencial. Novamente a finalidade é “que todos aprendam e sejam exortados” [tradução do autor]. O falar conduzido pelo Espírito deve jorrar com tanta abundância e multiformidade para que cada pessoa na igreja receba aquilo de que ela precisa para sua vida de fé em termos de ensinamento e exortação.

Werner de Boor. Comentário EsperançaCartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

2. A relevância do dom de profecia.

O dom de profecia é tão importante para a Igreja de Cristo que o apóstolo Paulo exortou a sua busca (1 Co 14.1). Não obstante, ele igualmente recomendou que o exercício desse dom fosse observado pela ordem e cuidado nos cultos (1 Co 1 4.40). Os crentes de Corinto deveriam julgar as profecias quanto ao seu conteúdo e a origem de onde elas procedem (1 Co 1 4.29), pois elas possuem três fontes distintas: Deus, o homem ou o Diabo. Devemos nos cuidar, pois a Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, mostra ações dos falsos profetas. O Senhor Jesus nos alertou: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mt 7.15). Vigiemos!

Comentário

ERROS A SEREM EVITADOS NO USO DO DOM DE PROFECIA

1) Usar a profecia para guiar a igreja

A mensagem através do dom de profecia tem como finalidade: “exortação, edificação e consolação” (1 Co 14.3). Não tem por objetivo guiar ou direcionar a administração da igreja local. A Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, é o manual da Igreja e tem todas as orientações sobre a administração espiritual, humana e material da igreja cristã. Vemos, em Atos 13.1-3, que, quando Deus quis enviar missionário, O Espírito Santo se dirigiu aos líderes, como Barnabé, Simeão (Níger), Lúcio de Cirene, Manaén e Saulo. Não se dirigiu a “um profeta” em particular.

2) Usar o dom de profecia como um “oráculo”

Tendo em vista a finalidade da profecia, não é correto o crente só fazer as coisas se consultar um profeta. Essa prática tem endeusado irmãos ou irmãs, a quem Deus deu o dom, para se tomarem verdadeiros “gurus” de determinadas pessoas. Há exemplos de profetas, nas igrejas, cujo lar se transformou em lugar de verdadeira romaria. Há, até, os que praticam a simonia (At 8.18), profetizando para receber ofertas dos que lhe procuram. Deus pode usar, e tem usado, homens e mulheres de caráter cristão ilibado, para consolar e orientar casos específicos de pessoas que precisam de uma palavra específica para eles. Mas é preciso cuidado. A profecia é para o proveito da igreja e não de domínio particular.

3) Usar o dom de profecia como fonte de doutrina

É completamente errado e contraria a Palavra de Deus. A fonte por excelência de doutrina é a Palavra de Deus. Nenhuma profecia pode acrescentar ou retirar o que já foi revelado nas Sagradas Escrituras. Quem o fizer, incorre no perigo de ser punido por Deus. “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade Santa, que estão escritas neste livro” (Ap 22.18,19).

4) Usar o dom de profecia deforma descontrolada

O dom de profecia deve ser usado, na igreja, com decência e ordem. Diz Paulo: “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Co 14.39, 40). A igreja em Corinto, como já vimos, possuía todos os dons, operando em seu meio. Talvez por isso, houve que se achasse mais importante ou santo do que os outros que não possuíam dons, e achavam-se no direito de usar os dons como bem entendessem. Por isso, o apóstolo exortou quanto à necessidade de ordem e decência no culto.

Quando este autor liderava a juventude, há quase 30 anos, aconteceu um fato constrangedor, mediante o uso do dom de profecia. Um grupo de jovens e adolescentes passou a reunir-se em casa dos colegas, e passarem noites inteiras em oração e vigílias. Em princípio, com o consentimento dos pais, não haveria nada a se reprovar. No entanto, aquele grupo passou a considerar-se porta-voz de Deus, e a considerar os que não faziam parte dele como carnais, inclusive este que escreve este texto. Em pouco tempo, aqueles jovens estavam-se sentindo autossuficientes, e não davam mais satisfação à igreja e muito menos à direção da mocidade.

Um dizia que Deus estava mandando ir à casa de um irmão para levar uma mensagem. Outro dizia que Deus lhe falara para irem a outro estado, para dar uma mensagem para um pastor. Em certa ocasião, na casa de um do grupo, os jovens se deitaram no chão, rapazes com as moças, e passaram a noite em vigília. Em dado momento, uma jovem começou a “ser usada em profecia”. E falou para um jovem: “O teu noivado não é do meu agrado. A que tenho preparado para ti é o vaso que estou usando”. Se o jovem que ouvira a mensagem não tivesse convicção do seu noivado teria acabado o relacionamento com sua noiva, com quem se casou e vive muito bem.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 59-61.

I Cor 14.1. a. Contraste entre o dom de profecia e o dom de línguas (versículos primeiro a décimo segundo).

«…Segui o amor…» Sim, devemos seguir o amor, devido às muitas razões expostas no capítulo anterior, que é o hino ao amor. Quanto ao «amor».

consideremos os seguintes pontos:

1. O amor é o regulador dos dons espirituais, levando cada um deles a ser usado de maneira apropriada, sobretudo como parte da edificação geral da igreja, bem como da eliminação daqueles fatores que impedem a união da igreja, devido ao aparecimento de facções, com base no orgulho humano e suas manifestações.

2. O amor é o grande elevador dos dons espirituais; enriquece a expressão ‘ de cada um deles.

3. O amor é maior do que os dons espirituais, algo que deve ser buscado por si mesmo, inteiramente à parte da questão dos dons espirituais. Essa é a virtude que nos torna mais semelhantes a Deus, pois Deus é amor. É também a maior das virtudes; pois apesar da fé e da esperança serem imensas virtudes, o amor ainda é maior, sendo a base fundamental da fé e da esperança.

4. O amor é o caminho mais rápido de retorno a Deus, porquanto inspira toda a conduta humana, requerendo a mais elevada e nobre expressão de um homem.

5. Visto que o amor é totalmente altruísta, negando ao próprio «eu», essa condição é altamente desejável na comunidade cristã, tanto quanto na vida do crente individual. (Quanto a muitas outras ideias acerca de como o amor deve ser seguido, ler a exposição do décimo terceiro capítulo).

Este versículo sumaria os dois capítulos anteriores: «Segui o amor» é a mensagem do décimo terceiro capítulo; «Zelai pelos dons espirituais» é a mensagem do décimo segundo capítulo.

«…procurai com zelo os dons espirituais…» Isso é reiteração de I Cor. 12:31 (conclusão do décimo segundo capítulo), excetuando que ali os «melhores dons» é que devem ser seguidos. Porém, este décimo quarto capítulo também encerra essa mensagem, visto que agora Paulo  começa a mostrar especificamente quais são os maiores dons espirituais. Por isso é que este versículo sumaria os capítulos doze e treze, ao mesmo tempo que serve de introdução ao presente décimo quarto capítulo, que é uma expansão ainda maior sobre a questão dos dons maiores, além de regulamentar o emprego de todos os dons espirituais. (Quanto a uma descrição completa acerca dos «dons espirituais», ver a lista dos mesmos, em que cada qual é separadamente esclarecido, na introdução ao décimo segundo capítulo. Quanto a notas expositivas sobre o sentido da injunção «buscai os dons», ou «zelai pela obtenção dos dons espirituais», ver I Cor. 12:31. Essas notas expositivas também explicam o significado da palavra grega aqui traduzida por «…procurai com zelo…» Acerca de como essa «busca» não é contrária ao fato que Deus «determinou» quem deve possuir este ou aquele dom—segundo é afirmado em I Cor. 12:18. Ver também 12:31).

«…principalmente que profetizeis…·» Todos os dons espirituais são úteis, visto que todos eles são propiciados por Deus; mas nem todos se revestem de igual importância; e Paulo destaca esse fato, primeiramente, ao contrastar as línguas e a profecia. O dom da profecia deve ser mais intensamente desejado que qualquer outro dom espiritual, devido às seguintes razões, que Paulo se preparava para ventilar:

1. A profecia visa a edificação da igreja (ver o terceiro versículo deste capítulo), o que é o tema mais reiterado deste capítulo, e não apenas a edificação do crente individual, como é o caso das línguas, quando não interpretadas.

2. A profecia serve para exortar (ver o terceiro versículo).

3. A profecia também serve para consolar (ver o mesmo versículo).

4. A profecia é um meio de transmitir revelações e doutrinas (ver o sexto versículo).

5. A profecia faz «soar» aquele toque da mensagem cristã que leva o crente a preparar-se para a batalha espiritual (ver o oitavo versículo).

6. A profecia é uma voz clara, em um mundo de vozes confusas (ver o décimo versículo).

7. A profecia é um meio de bênção, principalmente de ação de graças a Deus, do que a comunidade inteira pode participar (ver os versículos dezesseis e dezessete); por conseguinte, se assemelha às línguas e até lhe é superior, porque beneficia a todos, e não somente aquele que fala. 8. A profecia é o dom espiritual que abençoa supremamente os crentes (ver o vigésimo segundo versículo).

9. A profecia é uma maneira de ensinar (ver o trigésimo primeiro versículo).

«A prédica moderna é o sucessor da profecia, mas sem a sua inspiração”. “Desejemos intensamente esse dom (a profecia), mais do que qualquer outro, sobretudo em relação às línguas (ver os versículos dois em diante)». (Faucett, in loc.).

I Cor 14.29. A mesma regra é estabelecida no caso de profetas, atingindo o número daqueles que devem exercer a profecia, semelhante à regra concernente aos que falam em línguas. (Ver as notas expositivas sobre essas razões, no primeiro parágrafo das notas expositivas sobre o vigésimo sétimo versículo).

«Esse dom (da profecia) está sujeito à disciplina do autocontrole. As reuniões de natureza religiosa, tais como as reuniões de outras naturezas, podem ser saturadas ao ponto da total incapacidade dos ouvintes absorverem qualquer coisa mais, se houver um excesso de iluminação profética. (Ver a exegese sobre o trigésimo versículo). Paulo sabia que o indivíduo pode ficar ofuscado ante o excesso de luz, em mais de um sentido.

Há um lugar genuíno para a proporção na prédica, até mesmo nos casos onde há um único pregador. Aqueles que pregam se inclinam por esquecer a significação do fato que eles contam com um tempo normalmente maior para meditarem e para se prepararem, do que aqueles que são os ouvintes.

Deixar os ouvintes com a impressão que o pregador tem reservas, e que essas poderão ser expostas em uma ocasião posterior apropriada, é muito melhor do que a tentativa de exaurir as riquezas inexauríveis do evangelho, em uma única reunião pública. Quão sábio era Paulo!» (John Short, in loc.).

No tocante ao dom profético, as instruções são menos explícitas e enfáticas do que as instruções relativas ao dom de línguas, no tocante ao número de participantes. As palavras «…quando muito…» são deixadas de lado. Paulo realmente anelava para que o número de manifestações em língua fosse limitado. No tocante à profecia, entretanto, parece que ele dizia que três manifestações seriam, de modo geral, um limite conveniente.

Os profetas atuam como os guardiães da igreja, «…e os outros julguem…» Esse juízo deve averiguar se a «profecia» proferida vem ou não da parte do Espírito de Deus. O dom do «discernimento de espíritos» sem dúvida alguma é o dom que aqui entra em ação; não está em foco o mero juízo intelectual, e nem apenas um juízo gerado pela reação emocional ao que acaba de ser dito. Paulo quis dar a entender um julgamento verdadeiramente espiritual, mediante certa operação do Espírito de Deus.

Essa manifestação protege a congregação dos falsos profetas, porquanto nem todos que dizem «Assim diz o Senhor» realmente falam por inspiração divina.

Paulo parece dar a entender que os que falam por inspiração também possuem algum discernimento espiritual. Esses deveriam perceber se alguém está falando mediante o «Espírito Santo», ou mediante algum espírito estranho, talvez até mesmo maligno, que se apresente como anjo de luz, com o propósito de iludir (ver II Cor. 11:14); e também deveriam esses perceber se o espírito humano do profeta está de acordo com a natureza do Espírito de Deus e seus ensinamentos. (Quanto ao «dom do discernimento de espíritos», ver a introdução ao décimo segundo capítulo, onde todos os dons espirituais são alistados e ventilados).

Assim, pois, os profetas devem agir como aqueles que edificam a congregação, e também como aqueles que são seus guardiões. Não devem permitir que mestres e ensinamentos falsos atuem livremente na igreja.

I Cor 14. 40. Eis outra afirmativa sumariadora, desta vez recapitulando a sua ênfase sobre a necessidade de uma ordem apropriada, do respeito devido as tradições apostólicas, no que concerne aos cultos púbicos dos crentes, a necessidade de ser evitada a confusão de ser buscada a vangloria, de inovações e praticas que, aos olhos de Paulo, fossem vergonhosas, como as mulheres se desfazerem do véu, ou como as mulheres participarem do ensino público nas igrejas «…Com decência.. » o sentido dessas palavras é que tudo deveria ser efetuado de maneira «apropriada», em «boa conduta». A forma verbal significa «conduzir-se com dignidade», «conduzir-se com decoro», de maneira «cavalheiresca». As facções existentes na comunidade cristã de Corinto, ao procurarem avidamente sua glória pessoal, as desordens que havia quando da celebração da Ceia do Senhor, o abandono do véu pelas mulheres, o abuso dos dons espirituais, sobretudo o dom de línguas, tudo isso eram motivos que levava aqueles crentes a se mostrarem desordenados e malcomportados, além de se mostrarem indecorosos nos cultos públicos.

«…e Ordem.. » Isto é de conformidade do que é ordeiro. Talvez se trate de um tema militar, que indica algo que deve ser feito sobre disciplina apropriada. A cada dom Espiritual se deveria dar o seu devido lugar, e que os cultos de adoração, incluindo a “Ágape” não fosse sujeito a excessos e abusos

Não tumultuosamente como um levante, mas como um exercito ordeiro, onde cada qual exerce seu lugar e aja no momento apropriado e da maneira certa». (Hodge, in loc.).

…” decentemente , o que requer o bom gosto e o comportamento crista° s apropriados; e em ordem que indica um método e uma regra de proceder extremamente cristãos.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 215; 228; 234.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

I Cor 14.1. A profecia é o dom mais importante (14.1). Em suas palavras iniciais, Paulo usa dois verbos que são significativos: Segui a caridade e procurai com zelo os dons espirituais. O verbo seguir (literalmente, perseguir) “indica uma ação interminável, enquanto ‘procurai com zelo’ realça a intensidade e não a continuidade da ação”. O amor deve ser buscado com persistência, mas também é correto desejar os dons. Desses dons, Paulo coloca em primeiro lugar a profecia, que está intimamente ligada à pregação. O elemento essencial é a transmissão de uma mensagem diretamente inspirada por Deus. Várias comparações entre falar em línguas e profetizar vêm a seguir, e indicam as fraquezas e as limitações da glossolalia da maneira como era praticada em Corinto.

I Cor 14. 29. O ato de profetizar estava sujeito a uma regulamentação (14.29-33a). Assim como o falar línguas estranhas estava sujeito a certas regras, o mesmo acontecia com a profecia: E falem dois ou três profetas (29). Aqui o apóstolo está novamente preocupado com o fato de nenhum grupo ou dom se tornar dominante. Embora Paulo tivesse deliberadamente classificado a profecia como superior ao falar em línguas, ele não iria permitir uma excessiva exposição de qualquer dom, mesmo que se tratasse de um dom classificado como “superior”. Além disso, aquele que profetizasse poderia estar sujeito a cometer erros. Portanto, Paulo diz: e os outros julguem. A palavra julgar (diakrinetosan) significa discernir, discriminar. “Era dever de todos examinar se aquilo que estava sendo declarado estava de acordo com a verdade”.

Nos versículos 39-40, Paulo faz uma referência final aos dons espirituais. Em relação à profecia ele é positivo ao afirmar: Procurai, com zelo, profetizar (39). Se um homem deseja falar na igreja, fale sob a direção do Espírito Santo, de maneira a fortalecer a igreja. Sobre o outro assunto Paulo se mostra cauteloso: Não proibais falar línguas. Este dom não deveria ser proibido ou desprezado. Pois, em seu próprio lugar, e em sua própria ocasião, ele é sem dúvida uma valiosa capacitação.

A discussão sobre o lugar da profecia e do falar em línguas termina com um notável princípio. A adoração é essencial para edificar o corpo de Cristo, mas, às vezes, a adoração que busca ou enfatiza de forma exagerada a presença e o poder do Espírito Santo pode chegar a ser caótica e confusa. Aqui o princípio de Paulo é importante: Faça-se tudo decentemente e com ordem (40).

A palavra decentemente (euschemonos) significa que “tudo deve ser feito adequadamente e em boa ordem”.93 A palavra ordem (taxin) tem um significado semelhante – “de maneira ordenada”.94 Adam Clarke escreve: “Onde a decência e a ordem não são observadas em cada parte da adoração a Deus, não se pode adorar de uma forma espiritual”.96 Paulo almejava a presença e o poder do Espírito Santo; e o apóstolo sabia que o Espírito Santo trabalha para produzir harmonia, paz, ordem e edificação.

Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 348-349; 353-355.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

I Cor 14.1 “Correi atrás do amor” [tradução do autor]. Na sequência Paulo pensa naqueles irmãos em Corinto que não têm nenhum amor ou amor insuficiente. No entanto, sua palavra também se refere à igreja toda. ―Amor‖ não é uma ―posse‖, que ―possuímos‖ seguramente de uma vez por todas. Precisamente quando penso ter amor suficiente já não tenho mais amor verdadeiro. No amor continuamos incessantemente ―devedores‖, para amar sempre mais e com maior veracidade (Rm 13.8). O texto de 1Ts 4.9s é característico: pelo fato de terem amor fraternal, os tessalonicenses podem e devem transbordar ainda mais nele. Assim é que cumpre sempre “correr atrás” do amor. Essa metáfora aponta, do mesmo modo como a figura do ―vestir-se‖ (Cl 3.14), para a circunstância de que não conseguimos produzir o amor por nós mesmos, mas que ele tampouco cai facilmente em nosso colo; antes temos de agarrá-lo e nos apropriar dele por meio de plena atividade pessoal.

O capítulo 13 nos mostra a importância singular do amor também diante dos mais elevados dons do Espírito. Contudo isso não significa que esses dons sejam sem valor. Não, “procurai com zelo os efeitos do Espírito” [tradução do autor]. Quando o amor deseja ajudar verdadeiramente, ele carece da força e da capacidade que tornariam essa ajuda eficaz. Apesar de todos os dons do Espírito não sou ―nada‖ sem amor; mas sem os efeitos do Espírito permaneço ineficaz com meu amor. Consequentemente, porém, o valor de cada dom do Espírito e a hierarquia dos dons também são determinados pelo amor. É nítida a intenção de Paulo de não acrescentar 1Co 14 diretamente a 1Co 12. Somente a partir do ágape é possível julgar corretamente os dons do Espírito. Por trás das exposições de 1Co 14 está a lucidez de 1Co 13. Cabe entender 1Co 14 a partir de 1Co 13.

No final de 1Co 12 Paulo havia dito de forma bem genérica: ―Procurai os maiores dons.‖ É o que ele agora detalha com clara determinação por meio do convite: “Mas principalmente que profetizeis.” Chegou, assim, à questão realmente concreta que estava em jogo em Corinto. Qual é o dom do Espírito ―mais valioso‖, essencial e ―maior‖? Ao que parece, muitos em Corinto declaravam: é o falar com a ―língua‖. Paulo discorda com persistente seriedade, opondo ao ―falar com língua‖ o ―falar profético‖ como o efeito do Espírito singularmente importante. É isso que está em jogo em todo o presente trecho. Agora temos de mantê-lo diante de nós como um todo, a fim de penetrar num território que se tornou completamente estranho para nós.

I Cor 14. 29,31 A compreensão da frase seguinte não é fácil. Parece haver uma contradição entre a ordem de que “profetas devem falar apenas dois ou três” e a asserção “todos podereis falar profeticamente, um após outro” [tradução do autor]. A contradição somente se soluciona se considerarmos os ―profetas‖ como pessoas distintas dos membros da igreja que ―falam profeticamente‖. Em vista desse ―falar profético‖ Paulo podia conceber como uma situação desejada que “todos profetizem”, incentivando por isto os membros da igreja irrestritamente a buscar o dom do ―falar profético‖. Nesse caso não pode deixar que apenas dois ou três façam uso da palavra. Não, evidentemente existem ―profetas‖ num sentido próprio, que por isso também aparecem na listagem de 1Co 12.28 como permanentemente incumbidos. Desse grupo definido, dois ou três devem usar da palavra em cada reunião da igreja. Reparamos na diferença entre os v. 27 e 29. Sobre o falar em línguas e sua manifestação Paulo fala apenas de maneira condicional: “No caso de alguém falar em línguas” e se houver a presença de um intérprete. Essas condições não ocorrem nos “profetas”. Eles foram concedidos à igreja com toda a certeza, motivo pelo qual estão presentes e “devem” falar. Obviamente também deles falem apenas dois ou três, “e os outros julguem (o que é dito)”. Na palavra ―outros‖ pensamos em primeiro lugar em todos os demais ―profetas‖, além daquele que está falando no momento; são especialmente convocados para um julgamento assim. 1Ts 5.20s revela, porém, que Paulo considera a igreja toda fundamentalmente autorizada e comprometida, pelo Espírito Santo que nela habita, a ―examinar‖ os profetas e suas afirmações. Por consequência, é possível que também na presente passagem Paulo entenda por ―outros‖ os membros da igreja em si. Nessa instrução não é mencionado o dom especial do ―discernimento dos espíritos‖. Tudo está sendo visto de maneira bastante livre e viva, sem uma fixação sistemática.

I Cor 14. 40 A exigência incondicional é que nada aconteça em confusão descontrolada e que não se atue de forma egoísta e sem amor, mas que “tudo seja feito com decência e (boa) ordem”. Isso, porém, também já é o bastante. O apóstolo não prescreve uma ―ordem‖ determinada, que seria a única correta por motivos dogmáticos ou litúrgicos. Vale a livre atuação de Deus pelo Espírito Santo. Como ele poderia ser capturado em ordens prescritas? Com toda a certeza, porém, ―o Deus da paz‖ deseja conduta conveniente e boa ordem. Tudo que é desregrado, descontrolado e impulsivo é caracterizado de antemão como não-divino. Na frase final do grande bloco destaca-se mais uma vez o que ficou explícito para nós acima, p. 228s, sobre a importância abrangente da decisão de Paulo na questão dos dons do Espírito.

Werner de Boor. Comentário EsperançaCartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Mt 7.15. Temos aqui uma advertência contra os falsos profetas. Devemos prestar atenção para não sermos enganados ou nos deixar impressionar por eles. Profetas são aqueles que preveem as coisas que vão acontecer. Existem alguns, mencionados no Antigo Testamento, que tinham a pretensão de fazer previsões, sem dar nenhuma garantia, e os acontecimentos desmentiram as suas pretensões; dentre eles, estão Zedequias (1 Rs 22.11) e um outro Zedequias (Jr 29.21). Os profetas também ensinavam ao povo o seu dever, de modo que os falsos profetas mencionados aqui também eram falsos mestres. Cristo, que além de Messias era um Profeta e um Mestre enviado por Deus com a missão de enviar outros mestres que com Ele aprendessem, está nos advertindo a prestar atenção nos impostores. Ao invés de terem a pretensão de curar as almas com tuna doutrina saudável, eles não fazem mais do que envenená-las.

Os falsos mestres e os falsos profetas: 1. São todos aqueles que afirmam ter certas incumbências, não as tendo. Aqueles que fingem que possuem garantia e orientação imediatas, supostamente enviadas por Deus e divinamente inspiradas; eles estão mentindo. Embora sua doutrina possa ser verdadeira, devemos ter cuidado, pois são falsos profetas. Falsos apóstolos são aqueles que dizem ser apóstolos, mas estão mentindo (Ap 2,2); eles são falsos profetas. “Tome cuidado com aqueles que fingem ter revelações; não os aceite sem provas suficientes, para que um absurdo não seja aceito, seguido de outra centena deles”.

2. São todos aqueles que pregam uma falsa doutrina sobre tudo aquilo que é essencial à religião. Que ensinam aquilo que é contrário à verdade que está em Jesus, a verdade que está de acordo com a santidade. A primeira dissertação parece ser a verdadeira noção do que é um pseudoprofeta, ou de alguém que finge ser um profeta, enquanto geralmente a última também está de acordo com ela. Pois aquele que exibe cores falsas, a pretexto delas, e com maior sucesso, ataca a verdade. “Tenha cuidado com eles, suspeite deles e, quando tiver descoberto sua falsidade, afaste-se e nada tenha a ver com eles. Fique em guarda contra essa tentação, que nos é geralmente dirigida nos dias da reforma, e do alvorecer de uma luz divina que possui imensa força e esplendor”. Quando a obra de Deus é reavivada, Satanás e seus agentes ficam mais ocupados.

Aqui temos:

I Uma boa razão para ter esse cuidado. Tenha cuidado com eles, pois são lobos vestidos como ovelhas (v. 15).

1. Precisamos ter muito cuidado porque suas pretensões são muito justas e plausíveis e, assim sendo, irão nos enganar se não estivermos em guarda. Eles aparecem vestidos como ovelhas, usando a mesma vestimenta dos profetas, que era simples, grosseira e tosca. Usarão trajes rudes para enganai’ (Ze 13.4). A Septuaginta chama o manto de Elias de manto de pele de ovelha. Devemos prestar atenção para não sermos iludidos com as vestes e a aparência dos homens, como as dos escribas, que preferiam andar usando vestes longas (Lc 20.46).

Ou, falando figurativamente, eles pretendem ser cordeiros, e externamente parecem ser totalmente inocentes, inofensivos, humildes, úteis e tudo mais que é bom, e se colocam acima de todos os homens. Eles fingem ser homens justos e, por causa da sua aparência, são aceitos entre as ovelhas e isso lhes dá a oportunidade de fazer-lhes o mal sem que ninguém perceba. Eles e suas mentiras estão cercados de ilusórias pretensões de santidade e devoção. Satanás se transforma num anjo de luz (2 Co 11.13,14). 0 inimigo tem chifres como um cordeiro (Ap 13.11), e as feições de um homem (Ap 9.7,8). Sua linguagem é sedutora e suas maneiras são suaves como a lã (Em 16.18; Is 30.10).

2, Também precisamos ter muito cuidado porque sob essas pretensões seus desígnios são mal-intencionados e enganadores e, no seu interior, eles não passam de lobos devoradores. Todo hipócrita é um lobo com peie de ovelha. Ele não é uma ovelha, mas o seu pior inimigo, que aparece apenas para destruir, devorar e espantar as ovelhas (Jo 10.12), para levá-las para longe das suas companheiras e de Deus, conduzidas por atalhos tortuosos. Aqueles que pretendem nos enganar com qualquer verdade, e nos dominam com terror, sob qualquer que seja seu propósito, têm a intenção de faze)- mal à nossa alma. Paulo dá a eles o nome de lobos cruéis (At 20.29). Eles são glutões e servem ao próprio ventre (Rm 16.18), eles lucram conosco e fazem de nós a sua presa. Como isso é muito fácil, e também muito perigoso, tenha cuidado com os falsos profetas.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 85-86.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Mt 7.15. Mencionam-se profetas! São pessoas que falam em nome de Deus. Assim também esses profetas se apresentam no meio da comunidade de Cristo como quem usa palavras santas e fala em nome de Deus. Não obstante, o que dizem e o que fazem não é de Deus, porque sua motivação íntima é sombria e sacrílega. Por isso se comparam a lobos vorazes que andam sob a veste de ovelhas e, como piores inimigos do rebanho, dividem a comunidade do Senhor.

Como seria bem mais fácil viver seguindo a Jesus, andar no caminho estreito, se não irrompessem sempre de novo na própria comunidade de Jesus a ânsia de poder e de vantagem pessoal, a necessidade de prestígio e as discórdias. Desse modo, cada um precisa acautelar-se diante do outro e cuidar de si próprio e do “rebanho”.

O sinal de reconhecimento para discernir quem é lobo e quem é ovelha é definido por Jesus nos termos: Pelos seus frutos os conhecereis! Quando a comunidade do Senhor for fiel na oração e na vigilância, em breve se revelará quais foram os poderes ocultos e sombrios e as motivações dos “lobos em peles de ovelha”. Promoveram a sua própria obra e não a obra de Deus. Será descoberto se tinham o Espírito de Deus ou o espírito de baixo, se produziram fé ou descrença, se levaram à paz ou à discórdia, se buscaram a santificação ou não, se aproximaram de Deus ou fixaram as pessoas a si próprios, se defenderam com toda a clareza a vontade de Deus ou perseguiram alvos egoístas.

Efeitos e frutos do Espírito Santo somente podem crescer sobre o chão do Espírito Santo, não sobre a areia desértica do espírito anticristão. Para tornar isso mais uma vez palpável o Senhor lança mão de outra dupla de parábolas, das sebes de espinhos e das árvores imprestáveis em combinação com os seus frutos.

Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

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3. Propósitos da profecia.

A profecia contribui para a edificação do crente. Porém, ainda existe muita confusão a respeito do uso dos dons de elocução, e em especial ao de profecia e sua função. Há líderes permitindo que as igrejas que lideram sejam guiadas por supostos profetas.

A Igreja de Jesus Cristo deve ser conduzida segundo as Escrituras, pois esta é a inerrante Palavra de Deus- A Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, deve ser o manual do líder cristão. Outros líderes, também erroneamente, não tomam decisão alguma sem antes consultar um “profeta” ou uma “profetisa”. Estes profetizam aquilo que as pessoas querem ouvir e não o que o Senhor realmente quer falar. Todavia, a Palavra de Deus alerta-nos a que não ouçamos a tais falsários (Jr 23.9-22).

Comentário

Como todos os demais dons espirituais, o de profecia tem propósitos especiais da parte de Deus para a Igreja de Jesus Cristo. Só deve ser usado de forma correta, com base na Palavra de Deus. “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7) ou proveitoso para a igreja. De maneira bem clara e até didática, o dom de profecia tem três finalidades básicas, em proveito da igreja: “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação” (1 Co 14.3).

1) Edificação

Assim como um edifício de pedras é edificado pouco a pouco, com a união dos elementos materiais, com a argamassa própria, da mesma forma, os crentes em Jesus são “edifício de Deus” (1 Co 3.9). A formação espiritual de um discípulo de Jesus começa com a conversão, mas não para no discipulado inicial. Deve continuar por toda a vida. Pouco a pouco, o ensino da Palavra e da doutrina do Senhor vai construindo o caráter cristão no crente.

Mas, às vezes, é necessária uma mensagem especial ou específica para alguém ou para toda a congregação. E aí que Deus usa um profeta para transmitir uma mensagem da parte de Deus, visando corrigir ou colocar “no prumo”, ou “no nível”, alguma área da edificação espiritual. Pastores são “serventes” ou “servidores” do supremo Arquiteto ou Construtor, que é Cristo. Não são perfeitos na edificação. Sua mensagem, mesmo com base na Bíblia, carece de reparos, aqui e ali. Em grande parte das igrejas, pelo país afora, há grande falta de preparo para o ensino da Palavra de Deus. Há obreiros despreparados até para os mais elementares ensinos bíblicos. Por misericórdia, o Senhor dá sabedoria até mesmo a pessoas sem cultura para transmitir sua mensagem, mas, há ocasiões em que só uma mensagem específica, para determinadas ocasiões, pode suprir o que é indispensável para a edificação do Corpo de Cristo, no que respeita à igreja local.

2) Exortação

Exortar tem o sentido de “chamar para fora”, para orientar, ajudar e ensinar. Deriva da palavra grega parakalao, que tem o sentido de confortar, inspirar, defender e guiar. Exortar não tem o sentido distorcido, entendido por alguns, de que significa ameaçar, intimidar, ou causar pavor, na igreja. O verbo grego parakalao tem origem em outra palavra de muito significado, Paracleto, que significa Consolador, o título que é dado ao Espírito Santo (cf. Jo 14.16; 15.26). Por isso, Paulo ensina que quem exorta deve fazê-lo “com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2).

Uma mensagem profética ajuda a entender como aplicar a Profecia Maior, que é a Bíblia Sagrada, para os dias presentes, quando surgem problemas, situações e circunstâncias, que não existiam, quando a mensagem bíblica foi escrita. Sem o ensino da Palavra de Deus e da mensagem profética, há uma tendência para a ocorrência de desvios de conduta e distorções perigosas no meio das igrejas locais. Diz Provérbios: “Não havendo profecia, o povo se corrompe…” (Pv 29.18a).

As inovações e modismos têm tomado conta de muitos redutos pentecostais. A chamada “teologia da prosperidade” tem causado grandes estragos, com sua filosofia utilitarista dos dons e da Palavra de Deus. O evangelho antropocêntrico tem dado ao homem a primazia nas decisões e ensinamentos de muitos líderes. Aberrações teológicas ou práticas estranhas têm ocorrido, em certas igrejas. A “unção do riso”, “a unção do leão”, “a urina ungida”, inventada por determinada igreja (os crentes saíram urinando, nas esquinas e ruas de uma cidade, para “marcar território”), para o pecado diminuir. Em lugar disso, a pecaminosidade tem aumentado; certo pregador, “celebridade” pregou que seu suor era ungido, pois seu DNA era ungido. Com isso, levou muito dinheiro dos irmãos, além do “cachê polpudo”. Nada disso tem fundamento bíblico. São ensinos heréticos, que têm grande aceitação no meio de igrejas e atraem muitos crentes que não conhecem a Palavra de Deus.

Deus disse, no Antigo Testamento: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento…” (Os 4.6). Essa palavra aplica-se de modo bem atual, ao que está ocorrendo no meio dos evangélicos.

3) Consolação

O Espírito Santo é chamado de “O outro Consolador” (cf. Jo 14.16). Ele é o parakleto prometido por Cristo. Por isso, também usa o dom de profecia, para transmitir mensagem de consolação aos servos de Deus. Já vimos que o verbo parakaleo (gr.) significa consolar, confortar. E o que podemos ver em Barnabé, amigo de Paulo (At 4.36; ver Rm 15-4,5; 1 Co 14.3; 2 Co 1.3,4-7)). Consolação vem deparaklesis (gr.) e tem o sentido de “consolar”, “dar alegria”, dar “paz”. Paulo diz que todos os crentes podem profetizar (se Deus conceder tal dom), visando a consolação da igreja: “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados” (1 Co 14.31 — grifo nosso).

Muitas vezes, infelizmente, o zelo exagerado de alguns ministros, com a palavra e as normas da igreja local faz com ele se torne agressivo, intolerante e radical. E esquecem que, no meio da congregação, há dezenas de pessoas que estão experimentando momentos difíceis e dolorosos em suas vidas. E estão precisando mais do que nunca de ouvir uma palavra de consolação. A exortação pesada, às vezes, é necessária. Mas fazer uso do púlpito para chicotear as ovelhas, indiscriminadamente, é falta do espírito de consolação. O Espírito Santo é o mesmo. Ele consolava no Antigo Testamento (SI 23.4; Is 51-12) e continua consolando na Dispensação da Graça (2 Co 1.4; 7.6). Faltaria espaço literário, sem dúvida, se pudessem ser registradas todas as mensagens de consolação que Deus tem dado à sua Igreja, no Brasil e em todos os lugares do mundo. Em cultos de oração, nos círculos de oração, em tantos lugares; em reuniões informais de oração, Jesus tem confortado seus servos, principalmente os que sofrem por causa do seu Nome e do evangelho. “O Dom de Profecia, portanto, serve para falarmos sobrenaturalmente aos homens, assim como o Dom de Línguas serve para falarmos sobrenaturalmente a Deus”.’

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 56-59.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Importância dos profetas e da profecia no NT. O leitor casual da Bíblia não está apto a compreender que o NT contém a mesma quantidade de referências a profetas e profecias que o AT; não apenas porque esse era um novo período de revelação, mas porque muitas referências do período de revelação anterior foram incluídas. O personagem central no NT, Jesus Cristo, é o maior profeta de todos (cp. Dt 18.15-19). Seu ofício como sacerdote e rei pode assumir proporções maiores na mente do leitor comum, mas sua atividade profética não deveria ser negligenciada. O termo “profeta” é aplicado a ele cerca de doze vezes.

Em sua capacidade como profeta, Jesus expôs o pecado da humanidade, mostrou o caminho da salvação através da confiança nele mesmo, encorajou o povo de Deus, revelou a natureza de Deus numa extensão nunca mostrada antes e deixou claro o padrão do Senhor para aqueles que são salvos. E dado mais espaço nos evangelhos aos registros de suas atividades proféticas, ou seja, sua revelação da verdade de Deus, do que a outras ações. “Ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mt 7.29).

João Batista, o precursor de Cristo, foi um profeta no verdadeiro sentido do AT. Grande parte de sua atividade consistia em repreender os homens pelo pecado, declarando o castigo que viria, advertindo-os sobre a ira vindoura e admoestando-os ao arrependimento. Ele falou sem hesitação do pecado nos lugares altos, de maneira rememorativa das atividades de Elias e Isaías. Ele perdeu sua vida em consequência direta disso (Mc 6.18-27).

Muitos dos que praticaram a função profética na época de NT foram mais distintos em outras atividades, como na tarefa dos apóstolos de administrar o estabelecimento da igreja. Além das vezes em que o termo é aplicado a Cristo, e as cinco vezes em que é usado para João Batista, o NT designa ocasionalmente outros indivíduos como profetas ou profetisas, ou diz que eles profetizaram. Estas incluem Zacarias, o pai de João Batista (Lc 1.67), Ágabo (At 11.28; 21.10), Bamabé, Simeão, Lúcio e Manaém (At 13.1), Judas e Silas (At 15.32) e as filhas de Filipe o evangelista (At 21.9).

Caifás, o sumo sacerdote, é descrito em João 11.51 como preferido uma profecia. Isso dá a distinção clara entre o caráter de um homem e sua posição como porta-voz da revelação de Deus, pois nesse caso o Senhor fez com que um dos oponentes de Cristo expressasse palavras que comunicavam uma verdade vital, que era diferente de tudo o que Caifás pretendia expressar.

Em Efésios 2.20; 3.5 e 4.11, Paulo fala de apóstolos e profetas como dons de Deus à sua igreja em seus primeiros dias. A passagem de 1 Coríntios 11-14 menciona muitas vezes homens e mulheres que profetizavam nas reuniões da igreja, descrevendo indivíduos na igreja que afirmavam agir como porta-vozes de Deus, ou que estavam transmitindo sua mensagem, o qual eles tinham recebido através da Palavra dele.

Um falso profeta, chamado Bar-Jesus, é mencionado em Atos 13.6. Apocalipse 2.20 fala da “mulher Jezabel, que a si mesma se declara profetisa”. O apóstolo João admoesta os crentes: “…provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (lJo 4.1).

MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 3. pag. 1089-1090.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Oráculos contra os Falsos Profetas, 23.9-40.

Tendo lidado com os líderes políticos na seção anterior, Jeremias agora volta sua atenção para os líderes religiosos da sua nação. Nenhum grupo tinha dado tantos problemas para Jeremias como os profetas profissionais e alguns sacerdotes. A época é a mesma da seção anterior, provavelmente no reino de Zedequias.

1. A Dor de Jeremias (23.9-10)

Jeremias sentiu-se esmagado com o que estava acontecendo entre os líderes religiosos dos seus dias: O meu coração está quebrantado dentro de mim; todos os meus ossos estremecem; sou como um homem embriagado (9). Apesar da maldição10 da seca com suas consequentes catástrofes, o povo era flagrantemente imoral. Aterra está cheia de adúlteros (10), sua carreira de vida é incorrigivelmente má, “e seu poder é ilegítimo” (NVI). Quando o profeta viu essas condições à luz do caráter de Deus e sua palavra santa, ele foi dominado por tristeza e dor.

2. O Caráter Profano dos Profetas (23.11-15)

Jeremias não perde tempo para chegar à verdadeira causa dessa situação: tanto o profeta como o sacerdote estão contaminados (11). Esses homens que deveriam estar reverenciando a Deus e todas as coisas santas eram culpados de sacrilégio; na minha casa achei sua maldade. Eles lidavam com as coisas sagradas de maneira irreverente. O dia da sua visitação (12) seria seu tempo de juízo. O Reino do Norte tinha sido abertamente apóstata. Em Samaria, os profetas profetizaram da parte de Baal ruidosamente (13), e essa foi a causa principal de Israel ir para o exílio. Mas Judá tinha sobrepujado em muito a Israel em sua maldade. Os profetas em Jerusalém eram culpados dos tipos de pecados mais depravados — cometeram adultérios, e andam com falsidade (14) — não obstante proclamam a palavra do Senhor com grande bravata. Uma coisa horrenda (“imundice” rodapé da KJV) pode se referir ao pecado de sodomia, visto que Jerusalém é comparada a Sodoma e Gomorra. A capital de Judá era um “sumidouro” de perversidade moral. E, pior de tudo, esses líderes religiosos pareciam permanentemente enraizados em seus caminhos perversos, “para que nenhum deles se converta de sua impiedade” (NVI).

A profanação, no entanto, tornou-se a semente de ruína e morte: “o caminho deles será como lugares escorregadios nas trevas” (12, NVI). Além do mais, diz o Senhor […]: Eis que lhes darei a comer alosna, e lhes farei beber […] fel (15). Essa é a forma bíblica de dizer que seu fim será repleto de desgraça e pesar.

3. A Proclamação do Engano (23.16-22)

Jeremias agora censura esses profetas falsos por profetizarem o engano. Suas razões para a acusação não são difíceis de achar: a) Eles recebem suas ideias da fonte errada, ou seja, do seu coração (16). b) Eles proclamam o que o povo quer ouvir: Paz tereis […] Não virá mal sobre vós (17). c) Eles não estiveram no conselho (sodh) do Senhor (18), senão saberiam qual era a palavra de Deus para esse momento: Uma tempestade penosa cairá cruelmente […] não se desviará a ira do Senhor até que execute e cumpra os pensamentos do seu coração (19-20). d) Eles saíram e proclamaram sem uma comissão ou sem uma mensagem: Não mandei os profetas […] não lhes falei a eles; todavia, eles profetizaram (21). e) Se eles tivessem tido disposição de ouvir o conselho (22) do Senhor, eles saberiam a verdadeira palavra, e teriam se salvado e a nação.

C. Paul Gray. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 4. pag. 319-320.

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Deus expõe os pecados dos falsos profetas (Jr 23:9-40)

De acordo com o que se encontra registrado em Jeremias 14:14, as palavras de Deus resumem toda essa seção: “Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu íntimo são o que eles vos profetizam”.

Jeremias concentrou-se em três áreas na vida deles especialmente abomináveis. Sua conduta vergonhosa (vv. 9-15). Os verdadeiros profetas sabem como é algo sério ser chamado por Deus para proclamar sua Palavra e aceitam a responsabilidade com temor e tremor. Quando veem pessoas que se dizem profetas e que vivem como pecadores, isso lhes causa angústia. Não é de se admirar que o coração de Jeremias estivesse quebrantado e que tremesse como um bêbado! Jeremias se deu conta do que os falsos profetas estavam fazendo ao povo e à terra e encheu-se de revolta: “De mim se apoderou a indignação7 por causa dos pecadores que abandonaram a tua lei” (SI 119:53).

Os falsos profetas estavam cometendo adultério e se reunindo nas casas de prostituição (Jr 5:7). Depois, iam ao templo e fingiam adorar a Jeová (Jr 23:11), transformando a casa de Deus num covil de salteadores (Jr 7:9-11). Contudo, a palavra “adultério” também inclui a adoração que prestavam a ídolos, abandonando o Deus vivo (com quem Israel era “casada”) e sendo infiéis às promessas da aliança.

Os falsos profetas conduziram Israel, o reino do Norte, para o mau caminho (Jr 23:13) e estavam fazendo o mesmo com Judá, o reino do Sul (v. 14). Baal era o deus cananeu da chuva, ao qual os judeus costumavam recorrer nas épocas de seca (1 Rs 17 – 18), e sua adoração incluía a “prostituição sagrada”. Jerusalém estava se tornando como Sodoma e Gomorra – cidades tão perversas que Deus teve de destruí-las (Jr 20:16; Gn 18 – 19).

A terra passava por uma seca muito grave (Jr 23:10, ver cap. 14), pois os falsos profetas levaram o povo a transgredir as estipulações da aliança com Deus. O Senhor prometeu enviar as chuvas de que precisavam, tanto as primeiras quanto as últimas (Dt 11:10-15; 28:12), porém também os advertiu de que fecharia os céus e a terra secaria caso não lhe obedecessem (Dt 11:16, 17; 28:23, 24).

“A terra chora por causa da maldição” (Jr 23:10). Mas os pecadores se recusavam a fugir, apesar de Deus ter prometido julgá-los em seu devido tempo (vv. 12, 15).

Quando uma nação precisa de cura, normalmente é porque o povo de Deus não está obedecendo nem servindo ao Senhor como deveria. Temos a tendência de culpar políticos desonestos e os vários fornecedores de prazeres escusos pelo declínio moral de uma nação, mas Deus culpa seu próprio povo. “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2 Cr 7:14).

Sua mensagem desonesta (vv. 16-32).

Em primeiro lugar, os falsos profetas ofereciam ao povo uma falsa esperança (Jr 23:16-20). “O Senhor disse: Paz tereis […]. Não virá mal sobre vós” (v. 1 7; ver 6:13-15; 8:10-12).

É evidente que se tratava de uma mensagem que agradava o povo, e os judeus, assustados, agarravam-se a ela com unhas e dentes. No entanto, os falsos profetas não haviam recebido essas mensagens da parte de Deus; inventaram-nas em seu próprio coração. Em lugar de paz, o Senhor estava preparando uma tempestade (Jr 23:19). Deus estava prestes a liberar sua ira santa sobre seu povo pecador, e quando finalmente compreendessem os propósitos divinos, seria tarde demais para deter o redemoinho.

Os falsos profetas não apenas davam ao povo falsas esperanças, como também ministravam sob uma falsa autoridade (Jr 23:21-24). Deus não havia lhes falado e, mesmo assim, profetizavam. Deus não os havia chamado e, mesmo assim, se diziam enviados por ele. Se fossem verdadeiros profetas da parte de Deus, teriam vivido em piedade e encorajado o povo a abandonar sua perversidade.

Em vez disso, ensinavam uma “teologia” que agradava o povo e que tornava conveniente aos judeus ser religiosos e continuar a viver em pecado.

Jeová não era uma divindade local como os ídolos pagãos, mas sim um Deus transcendente, que reina acima de todas as coisas e que preenche o céu e a Terra (vv. 23, 24). Nem tampouco era cego como os ídolos (Sl 11 5:5), incapaz de ver os pecados do povo. “Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja?” (Jr 23:24).

Pelo fato de darem ouvidos a falsos profetas, os judeus creram em mentiras sobre o Senhor, e aquilo em que cremos a respeito de Deus determina a forma como vivemos.

Por fim, falavam sob uma falsa inspiração (vv. 25-32). Dependiam de sonhos e de ilusões de sua mente e até mesmo plagiavam as mensagens uns dos outros! Comparadas com o trigo nutritivo da Palavra, suas mensagens eram apenas palhas; não se podiam comer, edificar e nem mesmo aquecer alguém com elas.

A mensagem dos verdadeiros profetas é como um martelo que pode destruir e reconstruir (ver jr 1:10) bem como quebrar até mesmo as pedras mais duras (Jr 23:29). A Palavra é como fogo que consome e purifica qualquer coisa que toca. Jeremias tinha a Palavra ardendo em seu coração (Jr 20:9; ver Lc 24:32) e em seus lábios (Jr 5:14). Era o acrisolador de Deus, usando o fogo da Palavra para testar a vida do povo (Jr 6:27). Há falsos profetas e mestres em nosso mundo atual (2 Pe 2:1; 1 Jo 4:1-6), pessoas que dizem conhecer a vontade do Senhor por causa de seus sonhos, de seus estudos de astrologia ou de seus “dons” espirituais especiais. Alguns invadiram a igreja (Jd 3, 4;. Qualquer um que afirme falar em nome do Senhor deve ser testado pela Palavra de Deus. “À lei e ao testemunho! Se eles não ralarem desta maneira, jamais verão a alva” te 8:20).

WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. IV. Editora Central Gospel. pag. 141-143.

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Acusações contra os profetas de Judá (23:9-40)

A série de oráculos precedente tratou dos governantes seculares. Agora Jeremias passa a se preocupar com os líderes da vida religiosa da nação.

9-15. Os pecados dos profetas falsos. Coração, no sentido que é usado aqui, denota mais um estado mental profundamente perturbado, do que emocional. Sua mente não pode compreender a maneira que estes profetas escolheram para abusar da sua vocação profissional, e ele está chocado com o comportamento corrupto deles, equiparado pela depravação do Povo Escolhido. TM e LXX divergem quanto à sequência dos itens do v. 10, e não há certeza sobre a sequência correta. Fazendo uma avaliação crítica dos que diziam ser profetas, Jeremias considera os judeus piores que seus irmãos do norte. Eles concordaram com as orgias dos rituais do culto a Baal, unânimes com os sacerdotes. Veja 2 Rs 21: 5 e Ez 8:6-18, onde práticas imorais e sacrifícios idólatras tinham se infiltrado até no culto no Templo em Jerusalém. Seu caminho mau (13: 16) deixará agora a descoberto sua natureza traiçoeira, e eles serão como pessoas que andam por caminhos escorregadios no escuro, tropeçando e caindo uma sobre a outra.

A indecência dos profetas de Samaria (13) era adorar a Baal; o escândalo dos profetas de Jerusalém (14) era que eles incentivavam abertamente adultério e falsidade, ultrapassando a maldade de Sodoma e Gomorra. Jeremias coloca toda a responsabilidade pela depravação moral de Judá sobre os ombros destes homens perversos.

16-20. Características do falso profetismo. Jeremias identifica os traços desta atividade como uma separação fundamental da realidade espiritual, moral e política. Os profetas falsos criam naquilo que eles queriam que fosse verdade, expressando expectativas falsas de paz. Suas visões eram auto-induzidas, não inspiradas por Deus. Cristo avisou que nos últimos dias surgiriam profetas falsos, enganando a muitos (Mt 24: 5, 11). Se os colegas falsos de Jeremias tivessem se apresentado para ouvir as palavras do Senhor e proclamá-las (18), estariam falando de julgamento, como ele, e não de paz (22). Os w. 19-20 são repetidos em 30: 23s com algumas mudanças.

Eles trazem as decisões da corte celestial que os profetas falsos ainda não conheciam porque tinham sido julgados à revelia; não estão fora do lugar, como pensam alguns. Os últimos dias (20) apontam para o dia do julgamento, quando a justiça divina será feita em Judá. Então o significado dos acontecimentos, até o momento não reconhecido por causa da auto-ilusão, ficará dolorosamente claro. O termo dia pode ser interpretado como messiânico (cf Is 2: 2, Os 3: 5).

21-32. A missão fraudulenta dos profetas falsos. Qualquer profecia que fale de um futuro de paz em vez de proclamar a ira de Deus é falsa. Deus, que está perto, pode ver tudo que está por trás, e os profetas falsos não podem se esconder do seu olhar perscrutador. Certas classes de profetas pagãos em Mari (Tel Ariri, no médio Eufrates) e em outros lugares achavam que sonhos era o método normal de eles receberem revelações.24 O v. 26 apresenta algumas dificuldades textuais, e o significado original é muito obscuro. Sugiro a seguinte tradução: Por quanto tempo continuará isto na mente dos profetas que proclamam mentiras, destes profetas do auto-engano? Suas visões irreais desviavam a atenção da moralidade da aliança e a focalizavam nos ritos imorais de Baal. Falta substância aos seus sonhos vaidosos, como à palha, enquanto que a palavra profética alimenta os que a recebem, como o trigo. Os profetas falsos iniciam suas observações com uma fórmula que quer indicar inspiração divina, porém as palavras que pronunciam foram inspiradas por outros indivíduos e não se aplicam à situação presente (30, 31).

RK. Harrison. Jeremias. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 96-97.

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AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO I

Subsídio Teológico

“Paulo era grato a Deus por falar em línguas, e mais do que todos os coríntios. Na igreja, porém, diz que preferiria falar cinco palavras com seu entendimento, a fim de que pudesse, pela sua voz ensinar aos outros, do que dez mil palavras em línguas (1 Co 14.18,19). Mas não deseja com isso excluir as línguas. É parte legítima de sua adoração (1 Co 14.26).

Paulo lhes adverte para que cessem de proibir o falar em línguas. Segundo parece, alguns não gostavam da confusão causada pelo uso exagerado das línguas. Procuravam solucionar o problema por meio da proibição total do falar em línguas. Mas a experiência era preciosa, e a bênção excelente, para a maioria dos coríntios aceitar essa proibição. Alguns dizem hoje: ‘Há problemas envolvidos no falar em línguas; vamos evitá-las, portanto’. Mas não foi essa a solução de Paulo para si, nem para a Igreja. Até mesmo os limites que Paulo impõe não tinham a intenção de impedir as línguas. Tratava-se, apenas, de dar mais oportunidade, para maior edificação a outros dons” (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed.Riode Janeiro: CPAD, 2012, p.242).

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SINOPSE DO TÓPICO (1)

O propósito do dom de profecia é edificar, exortar e consolar a Igreja (1 Co 14.3).

II – VARIEDADE DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)

1. O que é o dom de variedades de línguas?

De acordo com o teólogo pentecostal Tho- mas Hoover, o dom de línguas é “a habilidade de falar uma língua que o próprio falante não entende, para fins de louvor, oração ou transmissão de uma mensagem divina”. Segundo Stanley Horton, “alguns ensinam que, por estarem alistados em último lugar, estes dons são os de menor importância”. Ele acrescenta que tal “conclusão é insustentável”, pois as “cinco listas de dons encontradas no Novo Testamento colocam os dons em ordens diferentes”. O dom de variedades de línguas é tão importante para a igreja quanto os demais apresentados em 1 Coríntios 12.

Comentário

Difere das línguas como evidência do batismo com o Espírito Santo. Não é um dom dado a todos os que quiserem. Assim como os outros dons, é dado “a cada um” como o Espírito quer (cf. 1 Co 12.11,30). Também não é uma capacidade aprendida humanamente. Diz Carlson: “Falar em línguas é expressar-se com palavras que nunca aprendemos, mas que nos são comunicadas diretamente pelo Espírito Santo. Não se manifesta através de palavras pensadas de antemão ou vocalizadas pela pessoa que fala”… “As línguas constituem um milagre vocal e não um milagre mental. A mente se faz espectadora, e os ouvidos a atendem…”.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 63.

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A Natureza dos Dons

Definições

Não é de modo algum difícil definir o dom de línguas; contudo, por causa do debate em torno deste assunto, a sustentação para a definição aqui dada será avaliada em alguns detalhes.

O dom de línguas foi a capacidade sobrenatural de falar em um idioma humano estrangeiro que não era previamente conhecido ou estudado pelo locutor. Note que o dom de línguas não é a capacidade de balbuciar – o que não requer capacidade sobrenatural. Mas nisto é onde precisamente o debate começa.

Virtualmente todos os teólogos liberais, por causa de sua negação da possibilidade do sobrenatural e da revelação direta, ensinam que o dom de línguas era meramente uma expressão extática. Embora eles não questionem a possibilidade do sobrenatural, todos os Carismáticos e muitos não-carismáticos ensinam virtualmente a mesma coisa. Muitos deles creem que embora as línguas de Atos fossem deveras idiomas estrangeiros, as línguas de 1 Coríntios eram diferentes – eram expressões extáticas, balbuciações, que continham uma revelação de Deus compreensível para o próprio Deus (para uso privado, devocional) e para o intérprete (para uso público). Contudo, este não é o caso; e que estas línguas eram idiomas estrangeiros é evidente a partir das seguintes considerações.

1. A palavra Grega traduzida por “línguas” nas Escrituras ( glossa ) normalmente se refere à língua como um órgão físico ou como um idioma humano. Este é precisamente seu uso hoje – falamos com nossas línguas em nossa língua nativa. A palavra pode ser usada com referência ao falar extático, mas tal uso é completamente estranho ao Novo Testamento. A menos que haja uma boa razão (evidência) para entender o termo como se referindo ao balbuciar, é injustiça assumi-lo como tal, especialmente à luz do fato de que seu significado por toda parte no Novo Testamento é sempre o contrário.

2. Em Atos 2 as línguas, claramente, eram idiomas humanos conhecidos (isto é, conhecido para alguns que ouviam). As “outras línguas” (heterais glossais) do verso 4 são explicadas como sendo os idiomas dos Partos, Medos, Elamitas, Mesopotâmicos, etc., nos versos 9-11. No verso 6 aqueles que ouviam os  discípulos pregar, lhes ouviam em sua “própria língua”. O termo grego para “língua” neste verso (e no verso 8) é dialektos, de onde vem a palavra portuguesa “dialeto”; ela pode significar somente idioma, nunca balbucio. Além do mais, é claro que em Atos 2 as línguas eram designadas para ser o método de comunicação efetiva para aqueles que estavam visitando Jerusalém para a festa de Pentecoste. Em outras palavras, as línguas de Pentecoste quebraram a barreira da linguagem; elas não estabeleceram uma barreira de linguagem. Esta regra tira qualquer possibilidade de balbucio.

3. Semelhantemente, o dom era claramente de idiomas em Atos 10 também, porque em Atos 11:15-17 Pedro o identifica como o mesmo fenômeno que ocorreu em Atos 2. Parecerá óbvio, então, presumir o mesmo para as línguas de Atos 10 também.

4. O dom de línguas em 1 Coríntios nunca é declarado ser algo diferente daquele de Atos. Entendê-las como sendo algo diferente, requereria alguma explicação.

Além do mais, os relatos de Atos foram escritos por Lucas, que era um companheiro de Paulo; é inconcebível que ele falasse de outra espécie de línguas sem explicação.

5. Em 1 Coríntios 14:14 Paulo fala que alguém que fala em uma língua edifica a si mesmo. É evidente, então, que ele entendia o que estava dizendo, porque a edificação seria impossível aparte do entendimento (o que Paulo prossegue estabelecendo nos versos seguintes). Incidentalmente, é evidente também a partir disto que o verdadeiro dom de línguas não era uma experiência puramente emocional, mas uma na qual a mente estava ativa. A implicação de Paulo era que alguém falava numa língua, entendia o que ele estava falando, e assim era edificado. Seu ponto nos versos seguintes é que o que não pode ser entendido, não pode edificar. O dom de línguas é frequentemente caracterizado, hoje, como se ele fosse um transe santo de alguma espécie, falando coisas desconhecidas até mesmo para o próprio locutor! Isto está claramente excluído pela implicação de Paulo aqui. A concepção é que o locutor, em completo controle de suas faculdades mentais, sabe o que ele quer falar e é capaz, sobrenaturalmente, de dizer isso em outro idioma. Como todos os outros dons, as línguas eram exercitadas inteligentemente.

6. 1 Coríntios 14:10-11 claramente demanda o mesmo. Paulo estava falando de línguas “no mundo” e isto demanda sons distintos, idiomas conhecidos.

7. Em 1 Coríntios 14:18 Paulo declara que ele falava em línguas mais do que qualquer um deles. Ele segue com uma declaração afirmando que esta nunca foi sua prática na Igreja (verso 19). A única coisa que poderia se fazer necessário para Paulo falar em línguas mais do que eles, então, seria sua necessidade delas nas suas jornadas missionárias. Novamente, isto aponta para idioma, não para balbucio; porque o balbucio teria sido sem sentido na sua obra de missões estrangeiras; o idioma, por outro lado, teria sido o mais útil possível.

8. Em 1 Coríntios 14:21 Paulo associa seu dom de línguas com a profecia de Isaías sobre Israel ouvindo o idioma Assírio. Entender o dom como balbucio, destrói seu ponto de referência totalmente.

9. Em 1 Coríntios 14:22 Paulo diz que as línguas eram “um sinal”. Elas eram tão espetaculares que despertavam atenção. Somente um idioma humano pode ser eficaz como um sinal. O falar extático era bem conhecido muito antes do século XI a.C., especialmente como uma parte das religiões misteriosas Gregas; ele serviria somente para associar os Cristãos de Corinto com seu passado pagão. O que fazia o dom de línguas Cristão diferente e significante era o fato que aqueles assim dotados, eram capazes de falar em idiomas não aprendidos previamente; mero balbucio, falar extático, não teria sentido algum e assim não poderia servir como um sinal.

10. As palavras gregas hermeneuo e diermeneuo traduzidas por “interpretar” e “interpretação” em 1 Coríntios 14, normalmente significa “traduzir” de um idioma para outro. É como a palavra é frequentemente usada hoje: quando um homem de um idioma fala para uma audiência de outro, ele fala através de um “intérprete”.

Este é seu significado comum através de todo o Novo Testamento e da Septuaginta (a tradução grega do Velho Testamento; por exemplo, Gênesis 42:23; Esdra 4:7; João 1:42; Atos 9:36). “Tradução”, então, aponta para idioma, não para balbucio.

11. Jesus especificamente proíbe o falar extático em oração: “ E, orando, não useis de vãs repetições, como fazem os gentios” (Mateus 6:7). O termo grego traduzido por “vãs repetições” não tem nada a ver com um pedido de oração repetente (embora Jesus use a palavra aqui para se referir também à descuidada repetição de orações), mas antes significa “balbuciar” ou “falar balbucios”. Jesus, aqui, expressamente proíbe o balbucio. É inconcebível que Ele proibisse algo que era em si mesmo um dom espiritual. A única alternativa é que as línguas eram realmente idiomas. Deus nunca intencionou que os homens falassem ou orassem em uma “linguagem” que até mesmo eles não poderiam entender. Tal coisa teria sido sem propósito algum.

LÍNGUAS ESTRANHAS ENTRE OS CRENTES [AUTORES DIVERSOS]

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

LÍNGUAS COMO SINAL

    Vale notar que as línguas estranhas têm duas funções na Bíblia. Primeira: elas são apresentadas como sinal, ou evidência de que alguém foi batizado com o Espírito Santo. Isso é o que vemos em pelo menos três das cinco ocasiões históricas do derramamento do Espírito Santo nos dias do Novo Testamento.

    As línguas estranhas neste aspecto manifestam-se uma única vez, isto é, no momento em que o crente recebe o batismo com o Espírito Santo. Se a partir daí o crente continua falando em línguas, essas línguas já passam para a segunda esfera, que é dom de línguas propriamente dito, o qual se pode manifestar de duas maneiras: línguas congregacionais (interpretáveis); e línguas devocionais (não-interpretáveis).

   Aqueles que combatem a doutrina bíblica do batismo com o Espírito Santo intrigam-se com a ênfase que damos quanto à necessidade de se falar línguas estranhas como evidência da recepção desse batismo, achando ser possível dar-se outra prova em detrimento desta para afirmar que o crente foi batizado com o Espírito Santo. Contudo, o que na prática tenho observado é que aqueles que dizem ter sido batizados com o Espírito mas que não falaram línguas, não estão tão seguros de que o foram quanto aqueles que falaram novas línguas,

O QUE É DOM DE LÍNGUAS?

   O dom de línguas é o meio sobrenatural através do qual o Espírito Santo leva o crente a falar uma ou mais línguas nunca antes estudada, portanto, estranhas àquele que a fala. Este dom nada tem a ver com a habilidade natural de se falar diferentes idiomas. Falar em línguas pela unção do Espírito Santo é “glossolalia” e não “poliglotismo”. O dom de línguas está na esfera do sobrenatural.

   Muitos estudiosos desse assunto, com frequência, citam casos de missionários que, após longos anos tentando aprender a língua do povo ou da tribo com que trabalham, de momento começam a falar aquela língua com uma fluência invejável, dispensando a ajuda de intérprete. E confundem, assim, esse fenômeno com o dom de línguas, quando o que aconteceu na verdade foi a manifestação do dom de milagres ou maravilhas.

   Quando Paulo escreveu aos Coríntios:

    “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos” (1 Co 14.18), não estava com isso dizendo que falava mais idiomas estrangeiros do que os crentes da igreja em Corinto. Se assim fosse o que Paulo estaria fazendo era demonstrar pura vaidade. Ele fazia alusão à glossolalia, ou seja, à habilidade sobrenatural de falar em línguas nunca antes estudadas.

Raimundo F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora CPAD.

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2. Qual é a finalidade do dom de variedade de línguas?

O primeiro propósito é a edificação da vida espiritual do crente (1 Co 14.4). As línguas, ao contrário da profecia, não edificam ou exortam a igreja. Elas são para a devoção espiritual do crente que recebe este dom. À medida que o servo de Deus fala em línguas estranhas vai sendo também edificado, pois o Espírito Santo o toca e renova diretamente (1 Co 14.2).

Comentário

Com base na Palavra de Deus, podemos dizer que o dom de variedade de línguas tem finalidades múltiplas:

1) Edificação da igreja

Como vimos, os dons não são dados para promoção pessoal de quem os possui. Todas as manifestações espirituais, concedidas pelo Espírito Santo, são para a edificação no seio da igreja cristã. Paulo diz que todos os dons devem contribuir para a edificação da igreja: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co 14.26). Essa exortação tem caráter atualizadíssimo para os dias presentes.

Desse modo, uma finalidade fundamental do dom de variedade de línguas é “transmitir à Igreja uma mensagem em línguas, e, por isso, precisa de interpretação para que aquela seja edificada. Essa interpretação é feita pelo dom de interpretação de línguas”.8 Trata-se de um milagre, pois quem fala as línguas bem como quem as interpreta não as conhece. “Trata-se de uma língua verdadeira, seja de homens ou de anjos (cf. 1 Co 13.1), conforme o Espírito Santo concede que se fale (cf. At 2.4)”.

2) Edificação pessoal

A variedade de línguas pode ser útil para a edificação pessoal. Paulo ensina sobre isso de maneira bem clara: “O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja” (1 Co 14.4). No caso de o crente falar línguas, para sua edificação pessoal, não há necessidade de interpretação. “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14.28). Ê um dom valioso para a edificação pessoal. O crente, cheio do Espírito Santo e edificado por Deus, pode ser usado nas reuniões para a edificação da igreja, através do dom de interpretação de línguas.

Daí a necessidade da busca pelo dom de interpretação: “Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles, para a edificação da igreja. Pelo que, o que fala língua estranha, ore para que a possa interpretar” (1 Co 14.12,13). Dessa forma, fica bem claro que o dom de variedade de línguas pode servir para a edificação da igreja, desde que haja interpretação sobrenatural, concedida pelo Espírito Santo.

3) Glorificação a Deus

O livro de Atos dos Apóstolos registra o episódio da ida de Paulo à casa do centurião Cornélio, por revelação do Espírito Santo (cf. At 10.3-8; 18-20). Os judeus tradicionais que se encontravam ali ficaram maravilhados, pois ouviam as pessoas falando línguas estranhas em adoração a Deus.

Na descida do Espírito Santo, no Dia de Pentecostes, as pessoas de diversas nações, ali presentes, ouviam os apóstolos, após o batismo com o Espírito Santo, “falar das grandezas de Deus” (At 2.11). Nada mais natural, essa finalidade, pois Jesus disse que enviaria o Espírito Santo com a missão de anunciar a Cristo, e glorificar ao Senhor: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.14). Se um dom não glorifica a Cristo, em sua manifestação, não deve ser considerado proveniente do Espírito Santo.

4) Comunicação sobrenatural da parte de Deus

Gordon Chown relata o caso, ocorrido em 1906, de uma jovem suíça, da área de fala alemã, chamada Maria Gerber, que foi para os Estados Unidos, para estudar num Instituto Bíblico. Seu irmão foi esperá-la, no porto, e, de imediato convidou-a para ir orar por um amigo doente. Ela se recusou de pronto, dizendo que não faria nada no país, antes de aprender a falar inglês. O irmão deixou-a em casa, e foi fazer a visita sozinho. Mas o Espírito de Deus inquietou a jovem Maria, fazendo-a sentir que não consultara a vontade de Deus.

Ela de imediato, saiu pelas ruas, com o endereço que fora dado pelo irmão, e, sem saber uma palavra em inglês, perguntava aos guardas como chegar lá. Foi muito difícil, mas conseguiu chegar à casa do doente, onde seu irmão já estava. E começou a orar em alemão pelo enfermo para que Jesus o curasse. Porém, o sobrenatural aconteceu. Ela foi tomada pelo Espírito Santo, e começou a orar em inglês perfeito, e o doente foi curado de imediato. Não só isso, mas Maria recebeu o dom de variedade de línguas, e passou a falar inglês fluentemente, realizando seus estudos sem dificuldades, e orando pelos que precisavam de sua ajuda.

Dizer que esse dom foi apenas para a época dos apóstolos é sem dúvida um preconceito contra o próprio poder ilimitado do Espírito Santo.

5) Sinal para os descrentes

Praticamente, todo o capítulo 14 da primeira carta de Paulo aos coríntios se refere ao uso dos dons, nas reuniões da igreja local. Ali, ele orienta quanto à ordem e aos cuidados no uso dos dons. Com relação ao dom de línguas, ou variedade de línguas, ele diz que o falar línguas, na congregação, deve ser acompanhado da interpretação de línguas para que a igreja possa ser edificada (1 Co 14.13-17). As línguas servem para edificação da igreja, desde que sejam interpretadas para toda a congregação. E também servem de “sinal” para os não crentes, da mesma forma, se houver interpretação profética.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 64-66.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

O Novo Testamento é claro em seu ensino que os dons espirituais são para o propósito de edificar a igreja. As línguas não têm este efeito: quando elas eram traduzidas, elas tinham a função equivalente à da profecia. Que as línguas eram então edificantes para a igreja (quando propriamente usadas) não pode ser questionado. Contudo, no caso das línguas, a edificação era somente secundária; elas tinham um propósito maior.

Após exortar os crentes de Corinto para terem um pensamento mais maduro sobre o dom, Paulo cita Isaías 28:11-12 para estabelecer o propósito das línguas: “Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os incrédulos, mas para os crentes” (1 Coríntios 14:21-22). Este é o propósito declarado e pretendido das línguas: elas são para um sinal, um sinal para os incrédulos.

Este é, então, o porque as línguas têm tão pequeno propósito na igreja: elas são para um sinal para os incrédulos. Seu propósito primário não era ministrar aos crentes, mas aos incrédulos – para despertar sua atenção ao evangelho e confirmar a credibilidade do Cristianismo em geral. Este é precisamente o propósito satisfeito com a ocorrência inicial do dom de línguas (Pentecoste, Atos 2).

Nem Paulo necessariamente implica nestes versos (1 Coríntios 14:21-22) que as línguas são para um sinal de julgamento ou um sinal para os Judeus somente, como é frequentemente ensinado. Ele meramente cita Isaías para traçar um princípio a partir dele, a saber, que as línguas servem como um sinal para os incrédulos. Jesus disse aos Judeus que eles não teriam outro sinal, exceto aquele da ressurreição (Mateus 16:4); e o próprio apóstolo Paulo já tinha dito aos Coríntios que os Judeus pediam, mas não recebiam um sinal (1 Coríntios 1:22-23).

Se este sinal era para os Judeus somente, Paulo certamente teria declarado isto amplamente na igreja Gentílica em Corinto; antes, ele meramente diz que as línguas eram sinal para os incrédulos, quer Judeu, quer Gentio. Isto é tudo que é requerido a partir desta declaração. As línguas eram um sinal para os incrédulos confirmando o evangelho e a nova mensagem Cristã.

Se o finalzinho de Marcos é genuíno ou mesmo historicamente correto, Jesus também declarou ser este o propósito das línguas; línguas são “sinais” (Marcos 16:17).

Embora este seja o declarado e assim, primário, propósito do dom de línguas, eles também serviam outro propósito: eles demonstravam o recebimento do Espírito Santo e a unidade no Corpo de Cristo. Agora, tenha cuidado! Isto não é dizer que as línguas são evidência de um Batismo do Espírito subsequente à salvação. Mas no livro de Atos, as línguas serviam para demonstrar o recebimento do Espírito, isto é, a salvação. Pela natureza disto, então, aqueles que falavam em línguas davam evidência de sua unidade no corpo de Cristo. Isto é precisamente o que aconteceu em Atos 2. Foi o dom de línguas dado para a casa de Cornélio que convenceu Pedro que os Gentios também tinham recebido o Espírito e assim se tornado parte da igreja também (Atos 11:15-58, se referindo aos eventos de Atos 10:44-48). O mesmo foi demonstrado em Atos 19 com os discípulos de João o Batista e também em Atos 8 com os Samaritanos, se realmente as línguas ocorreram ali. Crentes de todos os tipos – Judeus, Samaritanos e Gentios – receberam o mesmo dom e por isto deram evidência de sua unidade no mesmo corpo, o Corpo de Cristo.

LÍNGUAS ESTRANHAS ENTRE OS CRENTES [AUTORES DIVERSOS]

I Cor 14.2. Paulo se refere àqueles que falam em línguas, sem intérprete, o que, evidentemente, era uma prática comum na igreja de Corinto (ver os versículos vinte e sete e vinte e oito deste capítulo); porque falar em línguas, como interpretação, equivale à profecia. Nesse caso, aquele que fala em línguas não é inferior àquele que profetiza (ver o quinto versículo deste capítulo).

«…ninguém o entende…» Assim sendo, no que diz respeito à edificação, quem fala em línguas é nulo, fazendo-o sem propósito, se pensarmos na edificação alheia. Quem fala em línguas edifica somente a si mesmo. Mas isso quem fala em línguas pode fazê-lo privadamente, não desperdiçando o tempo do culto de adoração; e essa norma Paulo recomenda no vigésimo oitavo versículo deste capítulo.

Este versículo não prova que não são usados «idiomas estrangeiros» quando alguém faia em línguas, idiomas antigos ou modernos, de homens ou de anjos; e isso porque o falar em línguas ocorre no nível da alma e se eleva para Deus, em uma espécie de comunicação espiritual com o ser divino. O fato que as línguas podem ser «interpretadas» (ver os versículos quinto e vigésimo sétimo), mostra-nos que elas devem ser, em sua maior parte, idiomas «coerentes» de alguma espécie. É algo inteiramente fora do alvo pensar em interpretação de «sons incoerentes», como se tudo se resumisse numa descarga de emoção. Tal descarga certamente não teria qualquer interpretação lógica.

«…fala mistérios…»Aquele que fala em línguas diz «…mistérios…», mas isso não apenas no sentido que é deixado sem interpretação. O que Paulo queria dizer é que aquele que fala em línguas diz revelações profundas, emite profundas verdades espirituais, interpretações de verdades espirituais conhecidas, mas de alguma natureza incomum. Nas Escrituras, um «mistério» é ordinariamente uma verdade divina qualquer, antes oculta, mas agora revelada. Os mistérios paulinos em nada se assemelhavam aos mistérios dos cultos gregos, que só eram desvendados para alguns poucos iniciados nessas religiões misteriosas. Antes, para Paulo eram «segredos abertos», verdades divinas acerca de questões importantes, para que todos pudessem compreendê-las. (Quanto a notas expositivas completas sobre os «mistérios», ver o trecho de Efé. 3:9, onde há uma definição do que Paulo entendia por essa palavra. Quanto a comentários sobre todos os «mistérios do N.T.», alistados e discutidos de maneira abreviada, ver Mat. 13:10).

Isso não significa que os mistérios proferidos no dom de línguas sejam sempre alguma doutrina ou revelação extraordinárias. Mas significa que então é dito algo de significativo, doutrinária ou eticamente falando. Essa é uma das dificuldades que se encontram no moderno movimento evangélico da «glossolalia», porquanto, em muitas oportunidades, aquilo que é dito nessas línguas (se quisermos acreditar nos que algumas vezes têm compreendido tais línguas) pertence a um baixo nível mental; e é extremamente difícil crermos que o Espírito Santo tenha algo a ver com manifestações de tão baixo nível. Parece lógico supormos que aquilo que é sobrenaturalmente conferido deve transcender à capacidade mental comum, pelo menos à capacidade daquele que fala. No entanto, muitas vezes, aquilo que é apresentado como se fosse proveniente do Espírito de Deus, é inferior ao que se diz sem qualquer inspiração. Em tais casos, podemos suspeitar que tais línguas se originam em fontes psíquicas, dentro da própria personalidade do indivíduo, e não devido a um contato divino.

Seja como for, um «mistério» não terá proveito algum enquanto não for «revelado». Esse é o ponto que Paulo desejava frisar. Deve haver, portanto, um intérprete; de outro modo, as línguas não devem ser faladas na igreja.

(Ver os versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo). Antes, deve ser dada ênfase ao dom de profecia, porquanto esse dom envolve a «compreensão», e o resultado disso é a edificação, a exortação, o consolo e o ensino, bem como o desenvolvimento espiritual.

«…em espírito…» também poderia ser traduzido por «em Espírito». A ausência do artigo, no original grego, favorece a ideia que está em foco o «espírito humano». O que Paulo queria dizer é que o falar em línguas parte da alma, originando-se no nível da intuição. No entanto, bons intérpretes existem que veem aqui uma alusão ao Espírito Santo, a despeito da ausência do artigo definido no original grego, porquanto isso concorda melhor com o contexto dos capítulos doze e catorze, acerca dos «dons espirituais». No original grego, a letra «e» inicial, da palavra «espírito», não era escrita em letras maiúsculas, nem mesmo quando estava em vista o Espírito Santo, pelo que nada se pode decidir com base de letras maiúsculas ou minúsculas. O mais provável é que o Espírito Santo está em foco, o qual se utiliza do espírito humano, para fazer suas comunicações. Sendo esse o caso, conforme se mencionou acima, poder-se-ia esperar «algo de extraordinário» como o tema de tal comunicação. É altamente improvável que meras banalidades sejam transmitidas através do dom de línguas, ou coisas que não estejam acima da capacidade mental normal de quem fala, se porventura o Espírito Santo realmente é o inspirador das línguas.

Contudo, é possível que essas palavras, «em espírito»’, talvez indiquem a ideia da transmissão de algum segredo antes oculto, em contraste da ideia da compreensão «com o entendimento».

A opinião que o Espírito Santo é que está em foco nas palavras «em espírito», e não apenas o «espírito humano», é defendida com base nas seguintes razões:

1. Esse é o uso prevalente do termo «espírito», nos escritos de Paulo.

2. Isso concorda melhor com o contexto geral, concernente aos dons do Espírito Santo, os quais são dados e regulados por ele.

3. Em vista da palavra «espírito» ser usada formando contraste com o «entendimento», o que subentende alguma qualidade transcendental. Outros estudiosos, entretanto, defendendo a ideia que aqui está realmente em foco o espírito humano, apresentam os seguintes argumentos:

1. Sem o artigo definido, no original grego, é mais natural pensarmos que está em vista o «espírito humano». Pelo menos assim essa palavra é mais naturalmente compreendida, quando desacompanhada de qualificativos ou descrições. (Ver o artigo definido, usado antes da palavra «espírito», nos trechos de Rom. 1:9; 8:9; 15:1 e I Cor. 6:11).

2. O uso «no espírito humano» concorda com o contexto, porquanto todos os dons espirituais são exercidos no nível da alma humana.

Pode-se perceber, todavia, que nenhum dos argumentos, pró ou contra, são conclusivos. Permanece de pé a dúvida se está aqui em foco o «Espírito Santo» ou o «espírito humano». Mas não há que duvidar que o «espírito humano» é usado pelo «Espírito Santo» e é uma realidade que transparece no uso de todos os dons espirituais, sendo esse, mui provavelmente, o sentido das palavras que ora focalizamos. O emprego geral do termo, portanto, parece ser capaz de definir a questão, sem necessidade de qualquer comparação com outras passagens, com bases gramaticais.

A palavra «mistérios» é compreendida, por vários excelentes intérpretes, como algo que meramente significa «segredos fechados», coisas não reveladas, em contraste com o uso neotestamentário ordinário desse vocábulo; ou talvez signifique meramente «coisas não reveladas», sem qualquer indício acerca da estatura de tais coisas, querendo frisar Paulo tão-somente que permaneciam sem revelação, quando as línguas são proferidas e não há quem as interprete. No entanto, parece preferível aqui a ideia mais elevada sobre os «mistérios»; em outras palavras, estariam em destaque algo significativo, algo que ultrapassa ao comum, conforme se poderia esperar de uma manifestação especial do Espírito Santo, e não apenas algo que permanece «oculto».

I Cor 14.4. Nem mesmo o dom de línguas, desacompanhado de interpretação, deixa de ter seu devido propósito. As línguas podem servir de meio de edificação própria, no nível da alma, ainda que a mente não entenda o que é dito. As línguas são um meio de entrarmos em contato com o divino, ainda que o conhecimento não se beneficie. As experiências místicas, até mesmo aquelas da mais elevada ordem, geralmente são inefáveis, isto é, sua natureza e seus resultados não podem ser bem expressos verbalmente. Não obstante, tais experiências produzem um efeito «purificador», um efeito elevador, um efeito até mesmo transformador.

É óbvio que isso beneficia a pessoa envolvida; contudo, trata-se de um benefício de natureza egoísta, a despeito de ser aprovado e desejado pela vontade divina. Por essa mesma razão é que o apóstolo dos gentios jamais proibiu que se falassem em línguas (ver o trigésimo nono versículo deste capítulo), ainda que tivesse recomendado que as línguas, sem interpretação, não fossem usadas na adoração pública (ver os versículos vigésimo sétimo e vigésimo oitavo deste capítulo). As línguas particulares seriam altamente benéficas para cada crente, porquanto nada há de errado com a alma que se comunica com Deus, ainda que o intelecto não tire proveito. No entanto, os crentes de Corinto apreciavam o caráter teatral das línguas, e lhe davam preferência acima da profecia, conforme este capítulo inteiro deixa subentendido. Esse foi o «abuso» que Paulo procurou corrigir.

O dom profético, em contraste com as línguas, é uma manifestação de natureza altruísta; portanto, está mais conforme ao grande princípio do amor cristão (altruísmo puro), segundo Paulo havia demonstrado no décimo terceiro capítulo desta epístola. Esse exaltado princípio do amor cristão é que deve governar todas as atividades da igreja cristã; portanto, em uma comunidade cristã bem orientada pelo Senhor, o dom profético terá proeminência sobre as línguas. A profecia é tão mais importante que o dom de línguas como a edificação da congregação inteira é mais importante que a edificação de uma única pessoa.

Acerca do benefício do dom de línguas, comenta Findlay (in loc.): «A impressão causada sobre aquele que fala em línguas, por sua ejaculação verbal, visto tudo suceder em um arrebatamento, e sem concepção clara (ver o décimo segundo versículo e ss.), deve ser vaga; mas isso confirma poderosamente a sua fé, porquanto deixa um senso permanente de possessão do Espírito de Deus (comparar com II Cor. 12:1-10). Nossos mais profundos sentimentos entram na mente abaixo da superfície do consciente».

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 215-217.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

A Profecia é Entendida (14.2-3). Paulo tem a intenção de exaltar a profecia, mas procura fazê-lo apontando antes as limitações dos “sons estranhos” (TEV).

1) Ninguém entende o homem que fala em línguas (14.2). Uma razão pela qual falar em línguas é inferior a profetizar diz respeito ao fato de que as línguas não são compreendidas pelos outros. Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus. A palavra estranha está em itálico em algumas versões, sugerindo que ela não pertence ao texto original. Entretanto, os tradutores da versão KJV em inglês captaram corretamente o significado das palavras de Paulo; portanto seu uso não distorce o significado da sentença. A frase porque ninguém o entende sugere que o dom discutido aqui não é o mesmo que o falar em outras línguas que ocorreu no dia de Pentecostes (At 2.4). O homem que pratica esse dom não está falando aos homens, mas está envolvido em uma expressão pessoal de louvor a Deus.

Em espírito significa provavelmente o espírito da própria pessoa, tomado de exaltação e de emoção. Nessas condições, a pessoa fala de mistérios que nem ela, nem qualquer outra pessoa entendem, exceto alguém que possa interpretar. Como aquilo que é dito por meio do falar em línguas é desconhecido dos homens, esta expressão também é inferior à profecia.

A profecia é compreendida pelos homens (14.3). Em contraste com a natureza desconhecida das expressões proferidas em êxtase, a profecia serve ao propósito de edificar, exortar e consolar. A palavra edificar (oikodomen) significa “construir como um processo, uma edificação”. Paulo emprega essa palavra no sentido de edificar o caráter cristão. Exortar significa “avisar, encorajar”.78 Consolar é a clássica tradução de paramythia, que no grego clássico significa “qualquer pronunciamento feito com o propósito de persuadir, estimular, despertar, acalmar ou consolar”.79 Dessa forma, a profecia é um inspirado pronunciamento que todos os homens entendem; ela serve para edificar o caráter cristão, encorajar, fortalecer, confortar ou consolar.

A profecia edifica a igreja (14.4-6). Como a profecia é entendida pelos homens, ela edifica a igreja (4). Falar em línguas desconhecidas serve apenas para fortalecer o indivíduo. Entretanto, Paulo não proíbe completamente esta prática: Quero que todos vós faleis línguas estranhas (5). O verbo quero, ou desejo (thelo), “não expressa uma ordem, mas uma concessão sob a forma de um desejo improvável de ser realizado (cf. 7.7)”. Quanto a essa declaração, Bruce escreve: “E provável que Paulo receasse ter ido muito longe ao rejeitar as línguas. Portanto, ele deixa claro que não está proibindo as línguas, mas insistindo na superioridade da profecia”. Como era difícil fazer a distinção entre um dom válido de falar em línguas, ou a legítima expressão de um desejo de êxtase espiritual, e uma inválida expressão de alegria pessoal, Paulo preferiu não proibir o falar em línguas. Entretanto ele indica, de forma rápida e distinta, que o dom de profecia é superior: …mas muito mais que profetizeis.

O critério de avaliação de qualquer dom é o seu valor para a igreja. Mesmo quando Paulo faz a concessão do falar em línguas, ele imediatamente insiste que seu valor é menor que a profecia, a não ser que elas sejam interpretadas para que a igreja receba edificação (5). As palavras a não ser que também interprete “não se referem à particular interpretação de uma mensagem transmitida em línguas, mas ao dom permanente da interpretação… Paulo tem em vista uma pessoa que recebeu dois dons, o de falar em línguas e o de ter a sua interpretação”. Dessa forma, o apóstolo indica que qualquer glossolalia deveria ser interpretada para fortalecer a congregação.

Quando Paulo faz alusão à sua futura visita a Corinto, ele novamente faz da edificação da igreja o critério pelo qual se estabelece o valor dos dons do Espírito: Que vos aproveitaria, se vos não falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina? (6)

Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 349-350.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

I Cor 14.2,3 Inicialmente Paulo apresenta os dois dons com sua diferença essencial um em relação ao outro: “Pois quem fala em línguas não fala a pessoas, mas a Deus; porque ninguém o ouve, e em espírito ele fala mistérios. Quem fala profeticamente fala a pessoas edificação, exortação e consolo” [tradução do autor]. Não descreve nem o falar em línguas nem o falar profético em si. Nem há necessidade para isso. Os coríntios conhecem ambos de sobra. A nossa situação é outra.

Ainda que o ―falar em línguas‖ aconteça novamente em círculos mais amplos e não apenas em ―seitas‖, irrompendo também em ―igrejas‖, ele não obstante é algo desconhecido da maioria dos leitores atuais da primeira carta aos Coríntios. Para nós a expressão ―língua‖ causa dificuldades. Com toda a certeza não está sendo mencionado o órgão do corpo. Todos nós precisamos dele para falar, também das coisas mais comuns. A palavra glossa também pode significar ―idioma‖. É assim que Lucas a usa na História de Pentecostes em At 2.11: ―Ouvimo-los falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus!‖ Será que também em Corinto se trata de falar num idioma estrangeiro? Porém já no dia de Pentecostes foi preciso que se agregasse ao falar o ―milagre do ouvir‖, a ―tradução‖ por meio do Espírito Santo, para que o falar em línguas pelos discípulos fosse entendido como dialeto da terra natal. Porque para aqueles que permaneceram em atitude de rejeição tiveram a impressão de ouvir ―bêbados‖. A situação em Corinto deve ter sido ainda mais dramática. Nessa questão o v. 23 se reveste de importância: estranhos que entram numa igreja com pessoas que falam em línguas, não apenas os considerariam como embriagados, mas como loucos. Nós, porém, não consideraríamos ninguém bêbado ou demente por repentinamente falar turco ou japonês, nem mesmo se não compreendêssemos nenhuma palavra desses idiomas. Contudo, a palavra grega glossa, que nosso idioma acolheu no estrangeirismo ―glosa‖, também pode designar justamente a expressão ininteligível. Talvez seja por isso que o falar enigmático indecifrável seja uma ―glossolalia‖, um ―falar com línguas‖. Por outro lado, é possível que simplesmente tenha sido registrado o fato que também Paulo destaca de forma especial, de que aqui não é mais a razão que comanda a fala, mas a ―língua‖ da pessoa está entregue a si mesma e movida por um poder estranho. Aqui não é a cabeça ou coração da pessoa, mas somente sua ―língua‖ que se torna órgão do Espírito.

De qualquer forma está claro que se trata de um falar completamente ininteligível. “Ninguém o ouve” no sentido de que ninguém entende. Quem fala em línguas pode estar proferindo a mais bela oração de gratidão, mas ninguém consegue dizer amém para ela, por não saber o que disse aquele que falou em línguas (v. 16). Nos v. 7-9 Paulo chega a compará-lo com uma música e um sinal de trombeta sem distinção clara dos tons, que permanecem incompreensíveis e ineficazes. Nos v. 10s ele explicita a mesma situação com base num idioma estrangeiro, cujo significado desconhecemos. Além disso, o trecho todo deixa transparecer que no falar em línguas não se trata de comunicação com pessoas, mas de um falar voltado para Deus, de oração em suas múltiplas formas. “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus.” Na sequência, nos v. 14-17, Paulo também mencionará expressamente a oração, o louvor, o bendizer, o agradecer, que são todos formas da oração. Por isso deveríamos falar mais precisamente do ―orar em línguas‖ em lugar do ―falar em línguas‖. Dessa maneira seriam evitados muita confusão e muitos equívocos.

I Cor 14.4,5 Agora Paulo pode salientar claramente a diferença, decisiva para ele, entre ―falar em línguas‖ e ―falar profético‖. “O que fala em línguas a si mesmo se edifica, mas o que fala profeticamente edifica a igreja” [tradução do autor]. O termo ―edificação‖ não possui a conotação de ―edificante‖, mas é entendido de maneira bem real como aquele ―construir‖ de que falava 1Co 3. Não se trata de sentimentos, sobre os quais um falar ininteligível em línguas até pudesse causar uma forte impressão. Trata-se de fomentar, fortalecer e purificar a vida real da igreja. Disso resulta a formulação: “Maior, porém, é o que fala profeticamente do que o que fala em línguas.” Com essa afirmação se coaduna a declaração de desejo do apóstolo à igreja: “Eu quisera que vós todos falásseis em línguas, muito mais, porém, que falásseis profeticamente.” Também o falar em línguas não deixa de ser uma boa dádiva do Espírito Santo, que Paulo deseja a toda a igreja. Declara expressamente à parcela reticente da igreja que não deve tolher o falar em línguas (v. 39). Essa é a parte grandiosa em toda essa passagem, e paradigmática para nós, que Paulo não usa nenhum tom ―polêmico‖, que ele não faz qualquer tentativa de depreciar de algum modo o falar em línguas, a fim de atingir seus adversários em Corinto, que usavam o falar em línguas também contra a pessoa dele, com menções negativas. Paulo persiste em sua maravilhosa objetividade. Contudo, sem dúvida é muito mais importante o dom do ―falar profético‖. Somente uma exceção é possível, pela qual também aquele que fala em línguas recebe o mesmo valor na igreja: “Salvo se interpretar, para que a igreja receba edificação.” Novamente torna-se explícito o ponto de vista decisivo: a edificação da igreja.

Werner de Boor. Comentário EsperançaCartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

3. Atualidade do dom.

É preciso deixar claro que a variedade de línguas não é um fenômeno exclusivo do período apostólico. O Senhor continua abençoando os crentes com este dom e cremos que assim o fará até a sua vinda. No Dia de Pentecostes, todos os crentes reunidos no cenáculo foram batizados com o Espírito Santo e falaram noutras línguas pelo Espírito (At 1.4,5; 2.1-4). É um dom tão útil à vida pessoal do crente em nossos dias quanto o foi nos dias da igreja primitiva.

Comentário

EQUÍVOCO QUANTO AO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO E O DOM DE LÍNGUAS

Intérpretes da linha “sensacionista” entendem que, assim como o batismo com o Espírito Santo, com sinais de línguas estranhas, foi apenas para o período apostólico, os dons espirituais também perderam sua necessidade e valor para os dias presentes. Jean Jacques Dubois” afirma que a crença no batismo com o Espírito Santo, como “uma segunda bênção”, distinta da salvação, é “confusão doutrinária” e “obra do Diabo”. Para ele, a confusão se dá pelo desconhecimento das expressões “batizados no Espírito Santo” e “cheios do Espírito Santo”.

Esse autor diz que “nenhum versículo da Escritura exorta o cristão a ser ‘batizado com o Espírito’, o que seria um contrassenso!”. Ele incorre no erro de muitos intérpretes da Bíblia que fazem eisegese, ao invés de exegese. No primeiro caso, procura-se adaptar o texto bíblico ao que se quer a partir de ideias preconcebidas e cristalizadas como doutrina. No segundo, o que é correto, procura-se extrair do texto bíblico o que de fato o escritor queria dizer ao escrevê-lo. Isso se faz através da Hermenêutica cristã, que nos ajuda a interpretar a Bíblia de modo correto. O autor cessassionista diz que nenhuma exortação existe para que se busque o batismo com o Espírito Santo.

Mas o que Jesus disse aos discípulos? Que eles seriam batizados com o Espírito Santo (At 1.4,5). E acrescentou, respondendo a uma pergunta dos discípulos sobre a restauração de Israel: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).

O referido autor não dá o menor valor aos escritos do livro de Atos dos Apóstolos. Ele critica os pentecostais dizendo: “E impressionante ver que a argumentação dos escritores pentecostais se apoia em grande parte no livro de Atos e em modalidades de experiências de indivíduos ou de grupos de indivíduos’. Para ele, o fundamento dos escritores pentecostais “é tirado de um livro que contém mais história que um ensino” (grifo nosso). Esquece o autor crítico que esses “indivíduos” e “grupos de indivíduos”, que são exemplos claros de batismo com o Espírito Santo, com línguas estranhas, não são “indivíduos” quaisquer. Seus exemplos, da experiência pentecostal, são fundamento para a doutrina do batismo com o Espírito Santo.

A partir dessa visão limitada e distorcida sobre o batismo com o Espírito Santo, Dubois rechaça a atualidade dos dons espirituais. Para ele, a igreja do século XX e do século atual não precisam mais das manifestações do Espírito Santo, através dos nove dons de 1 Coríntios 12. Ele passa de largo na questão dos dons espirituais. Em todas as páginas de seu livro, apenas se refere aos dons, e assim mesmo, enfatizando os aspectos negativos, ocorridos na igreja dos coríntios, onde havia “desordem e divisão”. Ele considera os dons como “experiências especiais” apenas para os apóstolos, visto que esses não tiveram sucessores, pois viveram num “tempo de transição”. Mas não fundamenta sua interpretação crítica em qualquer dos versículos do Novo Testamento.

Segue os ensinos dos teólogos sensacionistas, que ignoram o valor e a atualidade dos espirituais.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 66-68.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

QUAL A UTILIDADE DO DOM DE LÍNGUAS?

    Grande é a utilidade do dom de línguas quando exercitado humildemente e com orientação do Espírito Santo. À luz de 1 Coríntios 14, o exercício do dom de línguas é útil para:

    a. falar mistérios com Deus. quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” (v. 2);

    b. edificação individual. “O que fala em outra língua a si mesmo se edifica…” (v.4);

    c. orar bem. “Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato…” (v. 14);

    d. complemento do culto. “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina; este traz revelação, aquele outro língua, e ainda outro interpretação”, v.26.

    Falar de mistérios com Deus é um grande privilégio. Aquele que fala em línguas estranhas tem consciência de que está orando a Deus, louvando-o ou rogando algo a Ele, não obstante desconheça o significado daquilo que ora. Fala de acordo com o momento, e com uma força a jorrar dentro de si mesmo assim, terá consciência de que é ele quem fala, e tem controle para começar ou terminar à hora que quiser. A pessoa fica perfeitamente calma e em pleno uso de suas faculdades mentais, consciente o que está fazendo e do que está acontecendo em torno dela. Frequentemente está absorvida por uma conversa racional, e normal, imediatamente antes e depois de falar em línguas.

    Não há nenhum pecado em o crente buscar edificação espiritual ou individual através de uma identificação mais íntima com Deus. John F. Mac-Arthur diz no seu livro “Os Carismáticos” que o falar em línguas é um individualismo condenado por Paulo e que o individualismo deve ser evitado pelo cristão. Essa assertiva não tem apoio nas Escrituras. Veja, por exemplo: se o falar em línguas mostra individualismo, e se o individualismo não edifica ninguém, como iria Paulo dizer que “o que fala em outras línguas a si mesmo se edifica”? 1 Co 14.4.

    Há uma grande incoerência entre a afirmação de John F. MacArthur e o pensamento de Paulo, que está mais claro no versículo 39 de 1 Coríntios 14: ‘‘…não proibais falar línguas”. Se a edificação pessoal fosse individualismo e egoísmo, Paulo jamais teria escrito a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo…” 1 Tm 4.16. Noutro lugar escreveu Judas: “Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé…”, Jd 20.

    Uma igreja sólida ergue-se com o respaldo da edificação individual de cada um de seus membros.

    Falar a Deus em outras línguas é orar com o espírito e no espírito; fazer assim é orar bem. Através das línguas estranhas, o crente fala e o Espírito Santo comunica a ele a alegria (ou a angústia) que lhe vai no coração, o que, de outro modo, ao crente não seria revelado. Isto é o que ensina Paulo em Romanos 8.26:

    “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis”.

    Através das línguas estranhas, podemos elevar a Deus o mais puro louvor que as nossas tribulações e tentações impedem que façamos em nossa própria língua.

4. QUEM NÃO FALOU EM OUTRAS LÍNGUAS?

    Robert G. Gromacki, no seu livro “Movimento Moderno de Línguas”, escreve:

    “Tem havido, e ainda há, muitos homens piedosos que não falaram línguas: Calvino, Knox, Wesley, Carey, Judson, Moody, Spurgeon, Torrey, Sundey e Billy Graham (…) Certamente eles têm manifestado mais santidade e têm testemunhado mais efetivamente em prol de Cristo do que muitos que pretendem ter falado línguas”.

    Este argumento de Gromacki baseia-se em homens, antes que nas Escrituras. O fato de não se ler que esses homens falaram em línguas estranhas, implica deveras em que eles não as tenham falado? Pode-se usar o silêncio deles sobre o assunto para formar uma doutrina de negação daquilo que a Bíblia ensina com clareza meridiana? E se eles não falaram línguas, isto invalidará a promessa divina? – De maneira nenhuma!

   Se o fato de alguns cristãos nobres não terem falado em línguas anula a promessa de Deus, ou §e o dom de línguas é inautêntico só porque os pentecostais “pretensamente” dizem ter falado em línguas, dar-se-ia o caso que a autenticidade ou a inautenticidade de qualquer dom divino pode ser evidenciada pela aceitação ou pela rejeição parcial ou total desses dons. Partindo dessa premissa, atrevo-me a mostrar um número muito maior de crentes célebres que falaram e falam outras línguas do que aquele que os antipentecostais apontam como não tendo falado línguas.

   Vem o caso de fazer aqui a indagação de Paulo, feita em 1 Coríntios 3.5: “Quem é Apoio? e quem é Paulo?…”. Quem foi Calvino, Knox, Wesley, Ca-rey, Judson, Moody, Spurgeon, Torrey, Sundey? e quem é Billy Graham senão “servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um ”. Deve-se porventura evocar a vida piedosa de qualquer um desses homens de Deus com o propósito de se anular algum dom do Espírito Santo, mesmo que seja o de língua? – Evidentemente não.

5. QUAL O COMPORTAMENTO MAIS SENSATO QUANTO AO DOM DE LÍNGUAS?

   Evidentemente, o melhor comportamento quanto ao dom de línguas é o que foi demonstrado pelo apóstolo Paulo, ainda no capítulo 14 de 1 Coríntios:

   a) – “Eu quero que todos vós faleis línguas estranhas”, v.5.

    b) – “…pelo que, o que fala línguas estranhas, ore para que possa interpretar”, v. 13.

    c) – “Não proibais falar línguas”, v.39.

    À igreja de Corinto não faltava dom algum (1 Co 1.7), o que faltava era o ensino quanto ao uso desses dons, haja vista o abuso que se fazia deles, principalmente do dom de línguas. Diante dessa necessidade, que fez Paulo? a) Disse que todos os crentes na igreja poderiam falar em línguas, desde que o fizessem de forma ordeira e dirigida, b) Orientou no sentido de que aqueles que falavam línguas orassem para que recebessem do Espírito Santo a capacidade de interpretá-las, a fim de que a igreja fosse edificada. Paulo poderia ter escrito: “Pelo que, o que fala línguas estranhas e não pode interpretar [deixe de falar]”, mas não foi assim que fez. O objetivo da observação do apóstolo, visava a dimensionar o uso correto desse dom, c) Exortou então aqueles que, por não possuírem sabedoria, queriam proibir o dom de línguas, a que dessem livre curso a esse dom.

    Não há dons imperfeitos ou desnecessários, o que há é imperfeição ou omissão quanto ao uso dos dons por parte de alguns crentes.

    Se alguém tem um dos membros afetado por uma enfermidade, o que deve fazer para extirpar a enfermidade desse membro? – Cortar o membro doente? Não, de modo nenhum! O que deve é tratar do membro enfermo até que este possa voltar a exercer a sua função insubstituível, para o bem de todo o corpo.

    Billy Graham é de opinião que existe um dom de línguas real, em contraste com uma imitação, e que muitos dos que receberam esse dom foram transformados espiritualmente – alguns por pouco tempo e outros permanentemente.

6. NORMAS QUANTO AO USO DO DOM DE LÍNGUAS

    Quanto ao exercício do dom de línguas, o apóstolo Paulo não só ratifica a liberdade que o crente tem de exercitar o dom, mas também estabelece um princípio normativo para esse exercício, principalmente no culto público, onde pessoas não-crentes tenham acesso.

    Segundo Paulo, aquele que possui o dom de línguas deve observar o seguinte:

    a) – “Pelo que, o que fala em outra língua, ore para que a possa interpretar”, 1 Co 14.13.

    Paulo diz que se alguém fala em línguas e as interpreta está contribuindo para a edificação da igreja, como também o faz aquele que profetiza. Assim, aquele que fala em outra língua deve ter o cuidado de não fazer do culto público um espetáculo de glossolalia, a não ser que possa interpretar a língua que fala.

    b) – “No caso de alguém falar em outra língua, que não seja mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. Mas não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus”, 1 Co 14.27,28.

    O culto público nunca deve ser transformado num festival de línguas estranhas; tampouco a mensagem evangelística ou de doutrina deve ser interrompida pelo falar em língua estranha. Pergunta o apóstolo Paulo:

     “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura, que estais loucos?” 1 Co 14.13.

     No caso de manifestar-se o dom de línguas em culto público, que somente dois, ou quando muito três, falem em línguas; não os dois ou os três de uma só vez, mas um após o outro, e com a condição de haver quem interprete; do contrário, que “fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus”, ou seja, que não perturbe a boa ordem do culto atraindo para si as atenções dos presentes, em detrimento da pregação e do louvor.

“FAÇA-SE TUDO DECENTEMENTE E COM ORDEM”, 1 Co 14.40

     Os pentecostais, em geral, são tachados de barulhentos, emocionais e, às vezes, de desordeiros. Para aqueles que se lhes opõem, “faça-se tudo decentemente e com ordem” é o versículo preferido. Para esses (os antipentecostais) “decência e ordem” é o mesmo que silêncio. Um cemitério, por exemplo, retrata muito bem a decência e ordem que eles gostariam de ver entre os pentecostais. Os que habitam os cemitérios não perturbam ninguém, eles têm perfeita ordem; mas eu conheço milhares de pessoas que preferem mil vezes a “desordem” dos vivos à decência e ordem dos mortos. Vem ao caso lembrar as palavras do Dr. John Alexander Mackay, presidente emérito do Seminário Princeton: “Se eu tivesse de fazer uma escolha entre a vida inculta dos pentecostais e a morte estática das igrejas mais antigas, pessoalmente, preferiria essa vida inculta”. Noutra oportunidade disse ainda o Dr. Mackay: “Alguma coisa está errada quando a emoção se toma legítima em tudo, exceto na religião”.

    Um certo pregador disse:

    “Hoje em dia, vai-se ao futebol para torcer; ao cinema para chorar, e à igreja para gelar”. E, prosseguindo, disse como testar a realidade da emoção em qualquer experiência espiritual, usando esta regra: “Não me importa seus pulos e gritos em meio à emoção, desde que, passando aquele momento, você tenha vida equilibrada”.

    O medo dos “erros” dos pentecostais, manifestos por excesso de emoção, tem impedido que muitos crentes sinceros gozem um Cristianismo vivo e dotado do genuíno frescor espiritual. Eles são pessoas incapazes de acertar, porque são dominados pelo medo de errar, pelo que jamais farão coisa alguma. Conheço muitos crentes que estão acuados entre o profundamente humano e aquilo que podem experimentar pela operação do Espírito Santo, só porque os seus líderes os ensinaram a pensar e a agir assim. Lembra-me a história do pescador que, ao apanhar um peixe, o media, e se o pescado medisse mais de 25 centímetros de comprimento, ele o devolvia à água. Naquele instante aproximou-se um turista que, curioso com o que via, perguntou porque o pescador agia assim, ao que ele respondeu: “É que minha frigideira só tem vinte e cinco centímetros de diâmetro, e não adianta levar para casa um peixe maior do que a medida que ela comporta”. Infelizmente, muitos crentes são como esse pescador: incapazes de buscar e reter consigo uma experiência que vá além dos limites estabelecidos pelos seus teólogos e líderes.

   João Wesley, o grande avivalista inglês, acerca dos gritos, convulsões, danças, visões e coisas testemunhadas nos seus dias, disse:

    “O perigo consiste em dar-lhes um pouco de valor, em condená-las abertamente, em imaginar que não provenham da parte de Deus; e isso serve de obstáculo ao trabalho do Espírito, pois a verdade é que:

    “a. Deus tem convencido, forte e subitamente, a muitos de que são pecadores perdidos, e as consequências naturais disso têm sido clamores súbitos e violentas convulsões corporais;

    “b. para fortalecer e encorajar os que creem, e para tomar a sua obra mais evidente, o Senhor favoreceu a alguns deles com sonhos divinos, e a outros com êxtases e visões;

    “c. em algumas dessas instâncias, após algum tempo, a natureza humana mescla-se com a graça;

    “d. o próprio Satanás imita essa parte da obra de Deus, a fím de lançar no descrédito toda a obra; no entanto, não é mais sábio desistir dessa porção do que desistir do todo. A princípio, sem dúvida alguma, tudo se originava inteiramente em Deus. E, parcialmente, continua assim, até os nossos próprios dias; e Ele nos capacitará a discernir até que ponto, em cada caso, a situação é pura, bem como onde se mescla com coisas estranhas e se degenera. A sombra não é motivo para desprezarmos a substância, nem o diamante falso para recusarmos o autêntico”.

    Outro depoimento digno de observação quanto a esse assunto, é do Dr. T.B.Barratt, de Oslo, Noruega:

    “Os sinais sobrenaturais, os dons do Espírito, as demonstrações do corpo, tudo é uma parte apenas desse Movimento Pentecostal, mas a grande influência morai desse avivamento, o poderoso ímpeto espiritual que ele nos traz é de monta muito maior”.

    Os antipentecostais, preocupados em denunciar as exceções, pisoteiam as regras. Ao tentarem expurgar os pentecostais do seio da Igreja, estão denunciando a esterilidade de suas próprias igrejas. Isso lembra o que disse o teólogo suíço, Karl Barth:

   “Ao jogarem fora a água em que banharam a criança, jogaram também a criança. Ao tentarem tomar o cristianismo plausível para os céticos, o que conseguiram foi tomá-lo destituído de sentido”.

    O capítulo 6 de 2 Samuel relata a volta da arca do Senhor à cidade de Jerusalém. A alegria de Davi pelo evento era tal, que “saltava com todas as suas forças diante do Senhor”.

    Mas “sucedeu que, entrando a arca dó Senhor na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo o rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração”.

    No final da festa, “embriagado” pela alegria do Senhor, Davi volta para casa, e Mical, sua mulher, sai-lhe ao encontro e lhe censura o comportamento, dizendo:

    “Quanto honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre qualquer vadio. “Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado. E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos seus olhos; e das servas, de quem me falaste, delas serei honrado”, vv.20-22.

    Para Mical, indiferente ao significado da volta da arca do Senhor à cidade de Jerusalém, era fácil, através da janela do palácio real, fazer mau juízo de Davi, que, feliz, em meio ao povo, dançava de alegria na presença do Senhor. Para Mical importava a “etiqueta”, como para os antipentecostais importa hoje a “decência e ordem” cemiterial.

    Na cristandade de hoje acontece o mesmo: ser Pentecostal é para muitos um agravo ao pudor evangélico. Alguém pode escrever ou dizer porque não é pentecostal, e o seu testemunho é como um grande serviço prestado a Deus; mas, se alguém escreve porque é pentecostal, isso parece uma idiotice: é como Davi tentando convencer a Mical porque dançava nas ruas de Jerusalém no meio da plebe.

    O último versículo do capítulo 6 de 2 Samuel diz:

    “E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até ao dia da sua morte”.

    O contexto deste versículo mostra que a esterilidade de Mical era devida à censura feita por ela ao rei Davi. Esta, sem dúvida, tem sido a inevitável sentença sob a qual têm estado grande parte das denominações cujos líderes têm feito do antipentecostalismo o seu apostolado.

    Apesar disso, o número de pentecostais continua crescendo, e sabe-se que há hoje em todo o mundo nada menos de cinquenta milhões de crentes que têm experimentado a promessa pentecostal do batismo com o Espírito Santo, acompanhada do falar em outras línguas.

   O crescimento das igrejas pentecostais tem sido considerado um verdadeiro fenômeno pelos estudiosos de assuntos eclesiásticos. O escritor não-pentecostal, Peter Wagner, no seu livro “Cuidado! Aí vêm os Pentecostais”, quanto ao comportamento das igrejas não-pentecostais diante do acelerado crescimento das igrejas pentecostais, escreveu: “…as igrejas não-pentecostais ainda têm um problema: seus dirigentes reconhecem (e é óbvio) que as igrejas pentecostais estão crescendo muito mais rapidamente do que as das outras denominações. Eles mesmos fazem a pergunta: ‘Por quê’ E se tornam mais frustrados quando colocam o que está acontecendo em termos teológicos, e levantam a possibilidade de que, por alguma razão, o Espírito Santo seja capaz de trabalhar o milagre da regeneração mais frequentemente nas igrejas pentecostais do que em suas próprias. Em vez disso, eles deveriam pensar: ‘O que nós podemos fazer para limpar a erva daninha das nossas igrejas, de modo que o Espírito Santo possa trabalhar?’”

A HISTORICIDADE DO DOM DE LÍNGUAS

   A história mostra que a experiência pentecostal de falar línguas estranhas constitui-se num círculo ininterrupto desde o dia de Pentecoste até os nossos dias, e continuará até que Cristo volte.

   Agostinho escreveu no IV século:

   “Ê de esperar-se que os novos convertidos falem em novas línguas”.

   Irineu, discípulo de Justino discípulo do apóstolo João, escreveu:

    “Temos em nossas igrejas irmãos que possuem dons proféticos e, pelo Espírito Santo, falam toda classe de idiomas”.

    João Crisóstomo, no V século escreveu:

    “Qualquer pessoa que fosse batizada nos dias apostólicos, imediatamente falava em línguas”.

    Tertuliano inseriu nos seus escritos manifestação dos dons do Espírito Santo, entre os quais o dom de línguas, no meio dos montanistas, movimento ao qual ele pertencia.

    O decano Farrar, em seu livro “Das Trevas à Aurora”, refere-se aos cristãos perseguidos em Roma, cantando hinos e falando em línguas desconhecidas.

    Na História da Igreja Alemã, lemos o seguinte:

    “O Dr. Martinho Lutero foi um profeta, evangelista, falador em línguas e intérprete, tudo em uma só pessoa, dotado de todos os dons do Espírito”.

    Na História da Igreja Cristã, escrita por Filipe Schaff, edição de 1882, ele escreve que o fenômeno de falar em línguas tem reaparecido de quando em quando nos avivamentos dos Camisards e dos Cevennes, na França e entre os primitivos Quakers e Metodistas, seguidores de Lasare da Suécia em 1841-1843, e entre os irlandeses em 1859, e finalmente, até os nossos dias.

    Na história dos avivamentos de Finney, Wesley, Moody e outros, houve demonstração do poder do Espírito Santo no dom de falar línguas com prostrações físicas e estremecimento debaixo do poder de Deus. Charles G. Finney assegura em sua autobiografia que o Senhor se manifestou aos seus discípulos nesta geração, assim como fez nos tempos apostólicos.

 James Gilchrist Lawson, em seu livro “Profundas Experiências de Cristãos Famosos”, escreve: “Em algumas ocasiões o poder de Deus se manifestava em tal grau nas reuniões de Finney, que quase todos os presentes caíam de joelhos em oração, ou melhor, oravam com lamentos e queixumes inenarráveis pelo derramamento do Espírito de Deus”.

    O Rev. R. Boyd, batista, amigo íntimo de Dwight L. Moody, relata no seu livro “Provas e Triunfos da Fé”, edição de 1875:

    “Quando cheguei ao Vitória Hall, Londres, encontrei a assembléia ardendo. Os jovens estavam falando em línguas e profetizando. Qual seria a explicação de tão estranho acontecimento? Somente que Moody os estava dirigindo naquela tarde”.

    Stanley Frodsham, em seu livro ’’Estes Sinais Seguirão”, dá detalhes do poderoso derramamento do Espírito Santo em 1906, em Los Àngeles, Califórnia:

    “Centenas de leigos e ministros, todos por igual, de todo os Estados Unidos – metodistas, episcopais, batistas, presbiterianos, e os denominados seguidores da doutrina da Santidade – de diferentes nacionalidades, foram batizados com o Espírito Santo e falavam em outras línguas, seguindo-se os sinais”.

    No seu livro “Demonstração do Espírito Santo”, H.H. Ness escreveu:

    “Quando o fogo pentecostal brotou com ímpeto entre os cristãos das igrejas da Aliança Missionária Cristã nos estados de Ohio, Pensilvânia, Nova Iorque e outros estados do Noroeste dos Estados Unidos, faz alguns anos, em muitos deles houve demonstração do poder do Espírito Santo, o que foi visto, sentido e ouvido. Resultaram notáveis milagres de cura divina – recuperação de saúde de cegos, surdos, mancos e outros afligidos – pela oração da fé. Mais ainda, não houve ali somente prostrações e línguas desconhecidas, mas houve também surpreendentes casos em que pessoas foram levantadas do solo pelo poder de Deus”.

    Nestes últimos anos tem-se tomado comum ler em jornais, revistas e livros, a respeito da experiência de falar línguas estranhas entre evangélicos de denominações até então invulneráveis à ação sobrenatural do Espírito Santo.

    O jornal episcopal “The Living Church” há alguns anos, trouxe o seguinte sobre o fenômeno de falar línguas estranhas:

    “O falar em línguas não é mais um fenômeno de alguma seita estranha do outro lado da rua. Está em nosso meio, e vem sendo praticado pelo clero e pelos leigos, homens de nomeada e boa reputação na igreja. Sua introdução generalizada se chocaria contra nosso senso estético e contra algumas de nossas mais entrincheiradas ideias preconcebidas. Mas sabemos que somos membros de uma igreja que de toda sorte precisa de um choque – se Deus tem escolhido este tempo para dinamitar o que o bispo Sterling, de Montana, designou de ‘respeitabilidade episcopal’, não conhecemos explosivo de efeito mais terrivelmente eficaz”.

    No “The Episcopalian” de 15/05/1968, disse o Rev. Samuel M. Shoemaker:

    “Sem importar o que significa o antigo-novo fenômeno do ‘falar línguas’, o mais admirável é que se declara, não apenas no seio dos grupos pentecostais, mas também entre os episcopais, os luteranos e os presbiterianos. Eu mesmo não passei por essa experiência, mas tenho visto pessoas que a têm recebido, e isso as tem abençoado e dado um poder que não possuíam antes. Não pretendo entender esse fenômeno, mas estou razoavelmente certo de que indica a presença do Espírito Santo, assim como a fumaça que sai de uma chaminé indica a presença de fogo por baixo. E sei com certeza que isso significa que Deus quer entrar na igreja antiquada e autocentralizada como geralmente ocorre, para que lhe outorgue uma modalidade de poder que a torne radiante, excitante e altruísta. Deveríamos procurar compreender e ser reverentes para com esse fenômeno, ao invés de desprezá-lo ou zombar dele”.

CESSOU O DOM DE LÍNGUAS?

    No seu livro “Os Carismáticos”, John F. MacArthur escreve o seguinte:

   “Primeiro Coríntios 13.8 declara claramente que ‘as línguas cessarão’. Quanto a esse ‘cessar’, o verbo grego não se encontra na voz passiva, mas na voz reflexiva, que sempre enfatiza o sujeito que faz a ação. O que essa frase no versículo 8 está dizendo é que ‘as línguas cessarão por si mesmas’.

    “Se as línguas cessarão por si, a questão é quando? Depois de diversos anos de estudo, em que li todos os lados da questão e discuti com carismáticos como também com pessoas não-carismáticas, estou convencido, sem dúvida alguma, de que as línguas cessaram na era apostólica, e que, quando cessaram, foi uma coisa permanente”.

    É evidente que este raciocínio do antipentecostal John F. MacArthur é falho e não honra as Escrituras, nem se harmoniza com a historicidade da glossolalia que se tem tomado um círculo ininterrupto desde o dia de Pentecoste até os nossos dias. O dom de línguas é um dom atualíssimo.

    Para melhor compreensão do assunto, é importante citar não só o versículo 8 de 1 Coríntios 13, mas também os versículos 9 e 10:

    “A caridade nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciências desaparecerá; porque em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”.

    MacArthur assegura que as línguas cessaram na era apostólica, porém, como os demais antipentecostais, é de opinião de que “profecia” e “ciência” são dons ainda operantes na igreja de hoje. É simplesmente inconcebível que as línguas tenham cessado, e “profecia” e “ciência” que estão sujeitas ao mesmo espaço de vigência, ainda continuem.

    A alusão de Paulo às línguas, profecia e ciência, é feita em termos de comparação com a caridade. É evidente que há circunstância em que o próprio amor chega a faltar, mas isto não é regra, mas uma exceção.

    John F. MacArthur tem dificuldade em fixar com exatidão bíblica, quando o dom de línguas cessaria. À maioria dos antipentecostais, cujas obras tenho consultado, são de opinião de que 1 Coríntios 13.10 – “…mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado” – significa que quando fosse encerrado o cânon divino (segundo eles) o que Paulo se refere como “o que é perfeito”, então o que é perfeito em parte (segundo eles, referente ao dom de línguas e aos demais dons), será aniquilado.

    Se as Escrituras não dizem o que dizem os seus escritos, como dirão aquilo que dizem os anti-pentecostais? Ao escrever sobre uma aparente transitoriedade do dom de línguas, o apóstolo Paulo se referia simplesmente às limitações às quais estamos sujeitos até que aquele que é perfeito (Jesus Cristo) apareça na plenitude da sua glória, quando então seremos semelhantes a Ele: Jó 19.25-27; SI 17.15; 1 Jo 3.2.

    “De igual modo, agora só podemos ver e compreender um pouquinho a respeito de Deus, como se estivéssemos observando seu reflexo num espelho muito ruim; mas o dia chegará quando o veremos integralmente, face a face. Tudo quanto sei agora é obscuro e confuso, mas depois verei tudo com clareza, tão claramente como Deus está vendo agora mesmo o interior do meu coração”, 1 Co 13.12 (O Novo Testamento Vivo).

MAIS EVIDÊNCIAS DA ATUALIDADE DO DOM DE LÍNGUAS

    Sabe-se que, hoje, nada menos de cinquenta milhões de cristãos, espalhados por todas as partes do mundo, em diferentes denominações, falam em línguas. São crianças, jovens, e adultos que gozam do glorioso privilégio de adorar a Deus em novas línguas. Sabe-se que até irmãos mudos-surdos têm sido tomado pelo Espírito Santo e inspirados a falar em línguas como acontece a qualquer pessoa normal. Mesmo igrejas até há pouco invulneráveis à operação do Espírito Santo, têm levantado a sua voz, num vibrante testemunho quanto à atualidade dos dons do Espírito Santo.

    Sob o patrocínio do Rev. Sílvio Ribeiro Ladeira, pastor da Igreja Presbiteriana Independente de Cara-picuíba, São Paulo, foi publicado recentemente o livro “O Movimento Carismático e a Teologia Reformada”, de autoria do Dr. J. Rodman Williams, que traz a opinião de ilustres teólogos e de famosas igrejas quanto à atualidade do dom de línguas.

    A. A. Hoekema, teólogo reformado conservador, escreve:

    “… não podemos certamente limitar o Espírito Santo, sugerindo que seria impossível para Ele conceder o dom de línguas hoje.”

    A “Dutch Reformed Church” da Holanda, em sua carta pastoral de 1960, sobre a Igreja e os Grupos Pentecostais, diz:

    “Achamos presunçoso afirmar que o falar em línguas foi algo somente para o início do Cristianismo. A evidência bíblica em Atos e 1 Coríntios 12 a 14 é demasiado explícita para isso. O fato de falar em línguas ter também um significado em nossos dias, não pode ser, portanto, posto de lado.”

Raimundo F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora CPAD.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Atos 1.4. A arte de esperar. Os discípulos tinham de esperar a promessa em Jerusalém. Há várias maneiras de esperar. O servo infiel o faz com a esperança de que o senhor vai demorar. Existe um tipo de espera que significa acomodar-se, sem fazer esforços físicos ou mentais. A verdadeira espera inclui:

4.1. Expectativa. Aguardar com tanta boa vontade que a mente fique sempre mais cheia de esperanças. É como o servo aguardando o mestre, a esposa ao marido, a mãe aguardando a volta do filho. Esperar como o comerciante aguardando a vinda do seu navio carregado de mercadorias, o marinheiro procurando ver a terra, o rei desejando notícias da batalha. São casos em que a mente se firma num só objetivo e dificilmente pode prestar atenção a outra coisa.

4.2. Oração. A espera exige quietude e paciência. Muitos de nós, porém, nos deixamos levar pelo espírito inquieto dos nossos dias. Quando Daniel orava, Gabriel veio rapidamente (Dn 9.21). Hoje em dia teria de se apressar muito para ainda nos pegar de joelhos!

4.3. Consagração. Devemos descobrir em qual direção Deus está guiando as coisas. E remover do caminho tudo quanto há em nós que possa impedir sua obra.

Atos 1.5. A arte de testemunhar. “E ser-me-eis testemunhas…” Ruskin disse certa vez: “A coisa mais grandiosa que a alma humana pode fazer neste mundo é ver algo, e contar aos outros o que viu, de forma singela e clara”. De acordo com este pensamento, certamente a coisa mais grandiosa da vida é perceber a beleza de Jesus e falar aos outros sobre Ele. Um estudo do livro de Atos mostra que o testemunhar é a forma mais antiga de pregação. Os apóstolos contavam tudo quanto sabiam acerca de Jesus, e os convertidos contavam o que Jesus fizera por eles. A testemunha no foro é submetida ao interrogatório. E nós, como testemunhas do Senhor, somos submetidos a semelhantes interrogatórios por parte do mundo. As pessoas, depois de ouvirem nosso testemunho, prestam atenção em nossa conduta para então, mentalmente, calcular o relacionamento entre o que falamos e vivemos.

Pearlman. Myer. Atos: e a Igreja se Fez Missões. Editora CPAD. pag.14-15.

Atos 1.4 Nesse ponto a descrição do dia da ascensão se torna mais pormenorizada do que no evangelho. Jesus celebra mais uma vez a comunhão de mesa com seus discípulos. A comunhão de mesa era um acontecimento característico do convívio de Jesus com os seus. Por essa razão, o Ressuscitado escolheu justamente a comunhão da ceia para manifestar a seus discípulos tanto a realidade plena de sua pessoa, como também seus laços restaurados com os discípulos, antes destruídos por causa do fracasso deles (cf. Mc 16.14; Lc 24.30ss; 24.41ss; Jo 21.12ss). Por isso, as alegres refeições da igreja, com o “partir do pão” (At 2.46s), a respeito das quais seremos informados em breve, representavam a lembrança da antiga comunhão à mesa existente durante toda a atuação de Jesus, mas eram igualmente um memorial daquela última ceia antes do sofrimento e da morte, e daquela maravilhosa refeição matinal após a ressurreição. No “diálogo à mesa” da refeição antes da ascensão os apóstolos recebem a ordem expressa de permanecer em Jerusalém. Para os homens da Galiléia (v. 11) o retorno para a terra natal após a despedida definitiva de Jesus era muito plausível, ainda mais que lá também haviam encontrado o Ressuscitado (Mt 28; Jo 21). O que ainda os seguraria em Jerusalém? Jesus explicou: o próximo grande evento da história da salvação, a efusão do Espírito, acontecerá na capital de Israel. Com ele terá início também a vocação dos discípulos para testemunhas. A narrativa transita para a fala direta, um recurso literário que Lucas emprega diversas vezes (At 17.3; 25.5; 22.22).

Atos 1.5 Na época em que Lucas escreveu, outros grupos que também ansiavam pela “soberania de Deus”, mas que haviam obtido seu impulso do movimento de João Batista e que se contentavam com o batismo deste, exerciam certa influência: em At 18.24-26; 19.1-6 nos depararemos expressamente com esses grupos (cf. p. … [338]). Por isso Lucas considera necessário fazer referência, na própria palavra do Senhor, ao fato de que sem dúvida João tivera importância com o batismo de arrependimento, mas que agora, na prometida efusão do Espírito Santo por parte de Deus, se criaria uma situação completamente nova. A presença do Espírito de Deus eleva a igreja de Jesus acima de tudo o que existira até então na História. Jesus lembra aos discípulos a “promessa do Pai”, que Ele mesmo havia lhes dito. Lucas deve ter tido em mente palavras de Jesus como por exemplo Lc 11.13; 12.12, mas tampouco deve ter esquecido da palavra do próprio Batista, que Jesus acolhe quase literalmente neste versículo. Somente uma diferença é digna de nota. Enquanto o Batista dizia: “Aquele que vem depois de mim (ou seja, Jesus) vos batizará com o Espírito”, aqui Jesus desaparece completamente por trás do Pai e formula: “Sereis batizados com o Espírito Santo”. A maneira judaica de falar a respeito de Deus com extrema reverência não citava o nome de Deus, mas usava a voz passiva.

Os reunidos – provavelmente bem mais do que os onze apóstolos no sentido restrito – respondem com uma pergunta que nós talvez consideremos insensata e equivocada:

Atos 2.1 Os apóstolos, juntamente com um grande grupo de discípulos de Jesus, entre os quais havia também mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos de sangue (At 1.14), esperavam em oração pelo cumprimento das grandes promessas de Deus e, simultaneamente, pelo começo de seu serviço de testemunhas. Agora chegava esse cumprimento. Por essa razão Lucas inicia sua narrativa: “E ao começar a cumprir-se…” Esse cumprimento acontece por livre majestade unicamente do próprio Deus, no dia determinado por Ele. Os discípulos não ficam cada vez mais cheios do Espírito aos poucos, em silêncio. Muito menos tentam chegar à posse do Espírito através de quaisquer métodos religiosos. Sabem fazer uma coisa somente: esperar com fé pela ação do próprio Deus.

Essa ação acontece num dia festivo judeu, “ao começar a cumprir-se o dia de Pentecostes”. Podemos traduzir assim: “No início do dia de Pentecostes, todos estavam reunidos.” O grande evento ocorre logo na manhã da festa. Quando Pedro começa seu discurso são apenas 9 horas da manhã. A ordem do “ano eclesiástico” na antiga aliança previa três grandes festas: o passa, a festa da sega e a festa “quando recolheres do campo o fruto do teu trabalho” no final do ano (cf. Gn 23.14-17). Em Lv 23.15-22 a festa da sega passa a ser regulamentada com mais detalhes. Deve ser celebrada no 50º dia depois do passa. Em grego, o “quinquagésimo” (dia) chama-se “pentekosté”; dele derivou-se mais tarde nosso termo “Pentecostes”. Em época posterior, Israel também não queria mais celebrar Pentecostes e a festa dos tabernáculos apenas como festas da natureza e da colheita. Sem dúvida continuava a receber com gratidão da mão de Deus também as dádivas naturais dos campos, pomares e vinhedos. Porém sabia que Deus havia ido a seu encontro em sua história de outras formas gloriosas e divinas. Por consequência, considerou os “tabernáculos” uma recordação da peregrinação pelo deserto, com suas tendas e com o maravilhoso auxílio e provisão até entrarem na terra prometida, e relacionou a festa de Pentecostes com a legislação no monte Sinai.

É verdade que a comprovação dessa ligação existe somente na literatura pós-apostólica. Porém, não é possível que a memória do evento do Sinai no dia de Pentecostes já tenha estado viva antes entre o povo ? Seja como for, chama a atenção a profunda correlação que o acontecimento narrado por Lucas nesse dia de Pentecostes possui com a revelação de Deus no Sinai. Lá e cá ocorre a presença do Deus vivo para criar sua “igreja”, um povo santo, um reino de sacerdotes. Lá e cá acontecem tempestade e fogo como sinais visíveis da presença do Senhor. De acordo com a tradição judaica, os 70 povos do mundo teriam captado a proclamação divina no Sinai em sua respectiva língua, assim como agora pessoas de todo o mundo ouvem a exaltação dos grandes feitos de Deus em sua língua pátria. No entanto: agora acontece a nova aliança, profetizada por Jeremias (Jr 31.31-34) – não mais o serviço de Moisés, da “letra”, da condenação e da morte, mas o serviço do Espírito, da justiça e da vida (cf. 2Co 3.4-9). Somente agora se forma de fato o “sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Como no “passa”, também no “Pentecostes” vemos lado a lado o Deus que não age arbitrariamente, mas numa sequência planejada, ligada à sua ação anterior, que é acolhida e levada à perfeição, e o Deus que também não se deixa encerrar na bitola de revelações antigas, que cria coisas inéditas, por meio das quais mostra a glória plena daquilo que Ele já tinha em mente nas manifestações anteriores.

Assim o “passar poupando” (é que significa o termo “passa”) de Deus diante do “sangue do Cordeiro” (Êx 12.13), de magnitude universal e validade eterna, se “cumpre” na morte e no sangue do Filho de Deus na cruz; e assim se “cumpre” agora em “Pentecostes”, ao ser derramado o Espírito de Deus em escala universal e realidade máxima, aquilo que Deus de fato havia previsto no Sinai quando vocacionou a Israel.

Atos 2.2 O que sucede em seguida não é apenas “acontecimento interior”. Afinal, não se trata de “espírito” no sentido da “intelectualidade” humana. Temos de nos libertar do idealismo grego que nos alienou. Trata-se do poder e da vida do Deus vivo. A esse Deus e Criador, porém, o mundo “exterior” pertence da mesma forma como o “interior”. Quando ele se aproxima, sua presença viva também se torna sempre audível e visível. Precisamente nisso, pois, também a história de Pentecostes revela que não se trata de processos dentro da psique que poderíamos explicar de uma ou outra maneira, mas sim da intervenção de Deus. “De repente, veio do céu um som, como de um vento poderoso que descia.” No grego, “pnoé” = vento, “pneuma” = Espírito são (como também no termo hebraico “ruach”) derivados da mesma raiz. P. ex., ao dialogar com Nicodemos, Jesus também tomou o misterioso sopro do vento como ilustração do sopro do Espírito. Obviamente é apenas uma “figura”. Notemos que Lucas diz expressamente: Soava “como” de um vento poderoso. O zumbido veio “do céu”, naturalmente não da atmosfera terrena, mas oriundo de Deus. Contudo penetra totalmente no mundo terreno e enche uma casa. Deus não está limitado a templos e lugares consagrados! Para a sua presença, ele seleciona um mísero arbusto espinhento no deserto, e agora uma casa secular, comum, em Jerusalém.

Atos 2.3 Na sequência o Espírito também se torna “visível”. “E apareceram-lhes línguas separando-se, como de fogo.” João Batista já havia falado do batismo “com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Desde sempre o “fogo” foi, como a “luz” e a “tempestade”, um sinal da essência e da atuação divinas. Tanto aqui como na descrição da ascensão, Lucas, sóbrio e contido diante da singularidade dos acontecimentos divinos, sabe muito bem que pode aduzir somente comparações precárias. Podem ser vistas línguas “como” de fogo. Por essa razão seu relato também não representa uma contradição com a visão de João, que vê o Espírito descer “como uma pomba”.

Quem jamais experimentou pessoalmente o Espírito Santo não sabe que Ele é “fogo”, aquecedor, purificador, consumidor, que incendeia o coração, que Ele é “tempestade” que impele com força irresistível, e que Ele apesar disso sempre aquele Espírito silencioso que se distingue completamente de toda agitação humana e de todo alvoroço demoníaco. As línguas são descritas como “separando-se”. Talvez deveríamos traduzir diretamente: “distribuindo-se”. Não está sendo referida a imagem de labaredas repartidas, mas o compartilhamento pessoal do fogo do Espírito a cada indivíduo do grande grupo. Por isso Lucas continua no singular, apesar da recém-mencionada pluralidade de línguas: “… e ele pousou sobre cada um deles.” Nessa formulação aparentemente desajeitada expressa-se certeiramente que é o mesmo Espírito Santo indivisível que, não obstante, agora é concedido pessoalmente a cada um.

Atos 2.4 “E todos ficaram cheios do Espírito Santo.” O Espírito é como um mar de fogo que desce do alto, que com suas “línguas” alcança todos os reunidos. Recebem o Espírito não apenas os apóstolos, os “ministros”. Também os demais discípulos são presenteados com ele, inclusive as mulheres. Sim, desde o início vigora na igreja de Jesus que “não há… nem homem nem mulher” (Gl 3.28). É por essa razão que em seu discurso Pedro olha para a palavra de Joel, que cita expressamente as “servas” e “filhas”, ao lado dos “filhos” e “servos”, como destinatárias do Espírito e de seus efeitos.

O que, porém, o Espírito efetua? Somente cumprimento interior e alegria nos próprios agraciados? Isso seria uma contradição à linha básica de toda a revelação da Escritura. Jamais os poderosos feitos de Deus estão presentes apenas para nossa felicidade pessoal! Eles sempre preparam pessoas para Deus, para a honra de Deus e para a cooperação na história salvadora de Deus entre os seres humanos. Assim, pois, experimentam-no também os discípulos. “E passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que proferissem.” O Espírito Santo concede “proferir”. O termo grego usado refere-se a um falar inflamado ou entusiasmado. Os discípulos não estão “pregando”! Lucas expôs com muita clareza que a “pregação” propriamente dita, com suas exposições tranquilas (ainda que poderosas para compungir o coração!), haveria de ser somente tarefa de Pedro.

Como, afinal, 120 pessoas seriam capazes de “fazer pregações” ao mesmo tempo? Quem poderia prestar atenção neles? Igualmente é digno de nota que pessoas contrariadas entre a multidão podiam ter a impressão acerca dos discípulos de que: “Estão cheios de vinho novo.” Isso deixa claro que não podia tratar-se de “pregações em diversos idiomas ou dialetos”. Pois nesse caso, como cada ouvinte teria conseguido chegar perto justamente daquele discípulo que falava sua língua materna? E a pregação em diversos idiomas tampouco gera a impressão da “embriaguez”. Não, esse “falar com outras línguas” deve ter sido o primeiro “falar em línguas” do cristianismo. Diante desse fenômeno, o observador de fora podia dar de ombros e dizer: “doidos!” (1Co 14.23) ou, como aqui, “bêbados!”. Afinal, também possui redobrada importância que mais tarde Pedro faz um paralelo expresso entre o “falar em línguas” dos gentios presenteados com o Espírito e o evento de Pentecostes: At 11.15, 15.8 relacionado com At 10.44-46.

O “falar em línguas”, porém, não era “pregação,” mas adoração, louvor, exaltação, gratidão (At 10.46; 1Co 14.14-17). Em consonância, os discípulos estão enaltecendo aqui, ao orar em línguas, os grandes feitos de Deus. Isso podia ser feito simultaneamente, no grande grupo. Com razão, a partir de amargas experiências, alimentamos desconfiança contra todos os fenômenos “entusiastas”. Contudo, isso não deve nos impedir de ver que em Atos dos Apóstolos o “falar em línguas” é considerado como sinal especial da eficácia do Espírito e que também o próprio Paulo falava muito em línguas (1Co 14.18). Sem nenhuma dúvida, Lucas se posiciona da mesma forma como Paulo em 1Co 14.5 na valoração do Espírito. Não é a jubilosa oração em línguas do grupo de discípulos que cria o movimento de arrependimento que leva à constituição da primeira igreja, mas o anúncio de Pedro (o “profetizar”). Apesar disso, o que aconteceu nessa manhã de Pentecostes continua sendo algo grandioso. Na verdade, os discípulos já sabiam antes de Deus e criam nele. Igualmente eram capazes de orar com uma seriedade e persistência que nos envergonha até mesmo antes do Pentecostes.

Agora, porém, a realidade e glória de Deus estão diante deles no Espírito Santo, de maneira tão extraordinária que eles esquecem completamente de si mesmos e de tudo em torno de si, podendo tão somente adorar e exaltar a Deus. O que veem diante de si, pelo Espírito, acerca da sabedoria, da santidade, do amor e da misericórdia de Deus excede todo pensar e falar humanos. Todas as palavras do linguajar comum fracassam diante disso. Somente “em outras línguas” ainda se pode adorar a “grandiosidade” (possível tradução para “grandes feitos” de Deus) da essência, dos pensamentos e dos feitos de Deus.

Werner de Boor. Comentário Esperança Atos. Editora Evangélica Esperança.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Atos 1.4. Estando com eles (4) é uma única palavra em grego (synalizomenos). Cadbury e Lake adotam uma leitura alternativa, encontrada em Eusébio, synaulizomenos, que quer dizer “passar a noite com, hospedar-se com”. Esta é evidentemente a base da tradução “estando com eles”. Provavelmente, a melhor tradução é aquela encontrada na margem das versões mais atuais em inglês: “comendo com eles”. Esta opinião é compartilhada por C. S. C. Williams em sua tradução “compartilhando refeições com eles”.

Determinou, em grego, não é a mesma palavra encontrada no versículo 2 (ver os comentários sobre este texto). Abbott-Smith indica que a palavra usada na passagem anterior “aponta mais para o conteúdo do mandamento”, ao passo que o termo encontrado aqui é usado “especialmente para as ordens transmitidas por um comandante militar”. Os discípulos ainda não estavam adequadamente capacitados para a sua principal ofensiva contra o inimigo. Assim, o seu General ordenou que eles esperassem (lit., “esperar nas redondezas”) até serem autorizados pelo Espírito Santo a executarem a sua tarefa.

O mandamento de que não se ausentassem de Jerusalém sugere que os discípulos estavam planejando retornar ao seu território natal na Galiléia. Os governantes judeus de Jerusalém tinham causado a morte do seu Mestre, e naturalmente esperava-se que perseguissem os seus seguidores. Além disso, os anjos no sepulcro vazio tinham avisado, por meio das mulheres, que os discípulos deveriam encontrar o seu Senhor ressuscitado na Galiléia (Mt 28.7; Mc 16.7). Jesus os tinha encontrado ali (cf. Mt 28.16-20; Jo 21.1-14). Portanto, parece completamente lógico que os discípulos retornassem para lá.Mas o Mestre tinha outros planos para eles. Ele ordenou que esperassem em Jerusalém pela promessa do Pai, i.e., a promessa feita pelo Pai (cf. Is 44.2-5; Ez 39.28-29; J1 2.28-29). Esta é uma promessa que de mim ouvistes (cf. Lc 24.49; Jo 14.16, 26; 15.26). Rackham observa que “a repentina mudança do estilo direto para o indireto (a expressão disse ele não consta no texto grego) é característico do estilo dramático de Lucas”.

Atos 1.5. A afirmação do versículo 5 é intimamente correspondente às palavras de João Batista encontradas em Mateus 3.11; Marcos 1.8 e Lucas 3.16. Da mesma maneira que Jesus repetira o principal texto da pregação de João (cf. Mt 3.2; 4.17), agora Ele também ecoava a antiga declaração de João Batista. Esta forte ênfase no batismo no Espírito Santo como maior e mais essencial do que o batismo nas águas antecipa o impulso central do livro de Atos. Qualquer cristianismo que negligencie o batismo pelo Espírito é incompleto e pré-pentecostal. Na verdade, ainda não se iguala à pregação de João Batista. Sem esse batismo, não teria existido o livro de Atos, e na verdade nem a Igreja de Cristo hoje. Sem o batismo no Espírito Santo como uma experiência pessoal, não existe uma capacitação adequada para uma vida vitoriosa e um serviço eficaz.

A última frase do versículo 5 é, literalmente: “não depois destes muitos dias”. Williams comenta: “A ordem curiosa das palavras… pode ser do aramaico (Torrey e Burney) ou possivelmente um latinismo (Blass). Ela provavelmente significa “não muitos dias depois de hoje”.

Atos 2. 1-4. a. Pentecostes (2.1-4). Este é o acontecimento mais importante do livro de Atos. Sem ele, o livro nunca teria sido escrito. Foi este grandioso ato de Deus de derramar o Espírito Santo sobre os primeiros crentes que precipitou todos os atos dos homens autorizados pelo Espírito, sobre os quais podemos ler na história do início da igreja cristã. Winn sugere que o livro de Atos poderia ser chamado de “o livro mais emocionante que já foi escrito”.1

Cumprindo-se o dia de Pentecostes2 literalmente significa “quando o dia de Pentecostes estava sendo completado”. Isto pode se referir ao final das sete semanas que precederam o Pentecostes.3 Mas como a palavra dia está no singular, e uma vez que o dia dos judeus começava no pôr-do-sol, pode-se assumir melhor que a frase indica que, naquela manhã, “o dia de Pentecostes estava se cumprindo”.4 Robertson diz: “Lucas pode querer dizer que o dia de Pentecostes ainda não estava terminado; ainda estava em curso”.5

Mas o verdadeiro significado da frase é provavelmente mais teológico do que cronológico. Lenski escreve: “Lucas está pensando na promessa do Senhor e de como agora se aproxima o seu cumprimento. A chegada deste dia conclui a medida do tempo que o Senhor contemplava quando Ele fez a promessa”. O retrocesso é anterior a isto — até às profecias do Antigo Testamento sobre o derramamento do Espírito Santo, como a referência de Joel 2.28. Todas estas promessas se cumpririam em Jerusalém, em 30 d.C.

Pentecostes é a palavra grega que significa “cinquenta”. Este nome para a festa é encontrado pela primeira vez nos escritos apócrifos do período intertestamentário, em Tobias 2.1 e em 2 Macabeus 12.32. A designação do Antigo Testamento é Festa das Semanas (Ex 34.22; Dt 16.10), assim chamada porque a festa era celebrada sete semanas depois da Festa das Primícias, que marcava o começo da colheita de cevada (Lv 23.9-16).

Todo homem judeu adulto deveria comparecer a três festas anuais — a Festa dos Pães Asmos (relacionada com a Páscoa), a das Semanas e a dos Tabernáculos (Dt 16.16). Os judeus da Palestina vinham em grande número a Jerusalém para a Páscoa, que comemorava o início da sua vida nacional e também assinalava o início do seu ano religioso. Mas os judeus da dispersão tinham a sua maior celebração no Pentecostes. Isto se devia ao fato de que a viagem pelo Mediterrâneo era muito mais segura em maio ou junho (Pentecostes) do que em março ou abril (Páscoa).7 Encontramos um exemplo disto no caso de Paulo. Na sua última viagem a Jerusalém, ele não teve tempo para visitar Efeso, porque “apressava-se… para estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia de Pentecostes” (At 20.16). Em uma ocasião anterior, ele tinha escrito aos coríntios: “Ficarei, porém, em Éfeso até ao Pentecostes” (1 Co 16.8). Estas são as três únicas passagens do Novo Testamento onde aparece a palavra Pentecostes.

Existe uma tradição entre os judeus de que a Festa das Semanas comemorava a entrega da Lei no Sinai. Não se sabe ao certo se esta era a opinião na época de Jesus. Purves observa que não há menção disto no Antigo Testamento, nem em Filo nem em Josefo, e conclui: “Provavelmente foi depois da queda de Jerusalém que se iniciou esta tradição”.8 Dosker é ainda mais específico quando escreve: “Ela originou-se com o grande rabino judeu Maimonides [século XII] e foi copiada pelos escritores cristãos”.9 Mas Foakes- Jackson declara: “Não podemos deixar de recordar a cena da entrega da Lei no monte Sinai, quando Israel se tornou uma comunidade estritamente religiosa, e há razão para supor que o Pentecostes já era a festa comemorativa da entrega da lei”.10 O Pentecostes era o cumprimento de Jeremias 31.33 — “porei a minha lei no seu interior e a escreverei no seu coração”. Aqui há uma completa submissão à vontade de Deus. E simultaneamente a base e o fruto da completa santificação do crente.

Na nova edição revisada da obra de Hasting, em um volume, o Dictionary of the Bible, afirma-se que tanto os fariseus quanto os saduceus consideravam o Pentecostes como “a festa que concluía a Páscoa”.11 Este fato tem nuanças teológicas. A crucificação de Cristo, quando Ele se ofereceu como um sacrifício pelo pecado do homem, e a ressurreição, que validou o seu sacrifício como aceito divinamente, seriam incompletas sem o derramamento do Espírito. De certa maneira, a sexta-feira santa e o domingo de Páscoa não seriam senão um prelúdio para o dia de Pentecostes. A crucificação, a ressurreição e a ascensão, juntas, formam o êxodo12 de Jesus da terra de volta para o céu, que era a preparação necessária para o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. Jesus disse: “… vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei” (Jo 16.7). Quando Maria encontrou pela primeira vez o Cristo ressuscitado, ela abraçou os seus tornozelos, em um abraço que não queria deixá-lo ir (cf. Mt 28.9). Mas Jesus gentilmente a advertiu: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” (Jo 20.17), i.e., “não se agarre a mim” na carne, que é limitada em tempo e espaço, mas deixe-me ir, para que você possa receber-me no Espírito. Sem dúvida, Maria Madalena era uma das “mulheres” (1.14) que estavam esperando no cenáculo. Quando o Espírito Santo encheu o seu coração no dia de Pentecostes, ela teve a presença do seu Senhor ressuscitado consigo durante todo o tempo e em todos os lugares.

No dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.

O melhor texto grego diz: “juntos em um lugar” — homou ao invés de homothymadon. Daí, a força total da última expressão, reunidos, não deve ser ressaltada aqui. No entanto, tanto a palavra homou (juntos) quanto o contexto sugerem um espírito de unidade. Uma das traduções recentes afirma: “Eles estavam todos harmoniosamente em um lugar” (Berk).

A primeira; parte do versículo 2 diz literalmente: “e, de repente, veio do céu um som (grego echos), como de um vento veemente e impetuoso”, i.e., como o rugido reverberante de um tornado. Ele encheu toda a casa. Alguns estudiosos sugeriram que o derramamento do Espírito sobre os discípulos pode ter ocorrido no Templo.13 Mas Lenski provavelmente está correto quando diz: “Se Lucas tivesse em mente uma sala no Templo, ele certamente teria escrito hierori”.

Este som, como o rugido do vento, serviu como um alerta para todos os que estavam reunidos. Se alguém tinha estado sonolento, agora estaria completamente desperto. Assim, todos eles viram as línguas repartidas, como que de fogo (3). O texto grego diz: “línguas como que de fogo distribuindo-se” (ou “sendo distribuídas”).16 Hackett descreve a cena corretamente quando diz: “A aparição semelhante ao fogo apresentou-se primeiramente em um corpo único, e então repentinamente repartiu-se em todas as direções, para que uma porção pousasse sobre cada um dos presentes”.16

A importância desses dois símbolos — o vento e o fogo — é demasiado óbvia para ser perdida. Knowling diz: “O fogo, como o vento, era símbolo da presença divina (Ex 3.2) e do Espírito que purifica e santifica (Ez 1.13, Ml 3.2,3)”.17 Blaiklock escreve: “O vento (2) e o fogo (3) eram uma simbologia aceita da operação poderosa e purificadora do Espírito de Deus”.18 Isto é, quando o Espírito Santo enche o coração do crente, Ele confere tanto o poder quanto a pureza. Ninguém pode ter uma coisa sem ter a outra. Receber o Espírito Santo na sua totalidade é sentir ambas as coisas, simultaneamente.

Qual era o propósito da combinação sobrenatural do som e da visão, do vento e do fogo? E muito instrutiva a comparação com o que teve lugar no monte Sinai, em relação à entrega da Lei. Lemos que “Houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte… E todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subia como fumaça de um forno, e todo o monte tremia grandemente” (Ex 19.16-18). Uma nova época passava a existir; nascia uma nova era. Era importante que os israelitas percebessem a suprema importância do momento. Eles deveriam estar fortemente conscientes da autoridade divina da Lei que lhes estava sendo entregue.

Assim foi com o Pentecostes. A revelação do Espírito Santo iniciava-se. Os discípulos deveriam estar alertas e ativos para o que estava acontecendo. Os símbolos do vento e do fogo nos ajudariam a entender o significado daquilo que acontecia.

Mas estas coisas, juntamente com o falar em outras línguas, não eram senão acompanhamentos do Pentecostes; eram acessórios temporários. O tema central era que todos foram cheios do Espírito Santo (4). Este foi o grande milagre, que de longe superou os demais.

O fato de que o derramamento do Espírito Santo purificou os corações dos discípulos é indicado claramente pelas palavras de Paulo no Concílio de Jerusalém. Falando das pessoas na casa de Cornélio (cap. 10), ele declarou: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé” (At 15.8-9). Essas duas coisas — encher com o Espírito Santo e purificar o coração — estão assim equiparadas (ou, pelo menos, foi afirmado que são simultâneas).

Qual é o significado da afirmação de que os discípulos cheios do Espírito Santo começaram a falar em outras línguas? (4). Os versículos seguintes parecem indicar claramente que os discípulos falavam em linguagens articuladas e compreensíveis. O propósito disso parece ter sido a evangelização mais eficaz da multidão de judeus e prosélitos, muitos dos quais compreenderiam melhor a mensagem do evangelho na sua própria língua (8) do que no grego ou no aramaico normalmente falado.

Os primeiros quatro versículos poderiam se esquematizados assim: Pentecostes — (1) O lugar; (2) O som; (3) A visão; (4) A importância.

Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 206-207; 214-217.

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AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO II

Subsídio Teológico

“Natureza Encarnacional dos Dons

Os crentes desempenham um papel vital no ministério dos dons. Romanos 12.1-3 nos diz para apresentarmos nosso corpo e mente como adoração espiritual e que testemos e aprovemos o que for a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Semelhantemente, 1 Coríntios 12.1-3 nos adverte a não perdermos o controle do corpo e a não sermos enganados pela falsa doutrina, mas deixar Jesus ser Senhor. E Efésios 4.1-3 nos recomenda um viver digno da vocação divina, tomar a atitude correta e manter a unidade do Espírito.

Nosso corpo é o templo do Espírito Santo e, portanto, deve estar envolvido na adoração. Muitas religiões pagãs ensinam um dualismo entre o corpo e o espírito. Para elas, o corpo é mau, uma prisão, ao passo que o espírito é bom e precisa ser liberto. Essa opinião era comum no pensamento grego.

Paulo conclama os coríntios a não se deixarem influenciar pelo passado pagão. Antes, perdiam o controle; como consequência, podiam dizer qualquer coisa e alegar que provinha do Espírito de Deus. O contexto bíblico dos dons não indica nenhuma perda de controle. Pelo contrário, à medida que o Espírito opera através de nós, temos mais controle do que nunca. Entregamos nosso corpo e mente a Deus como instrumentos a seu serviço” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.469).

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SINOPSE DO TÓPICO (2)

O dom de línguas é tão importante para a igreja quanto os demais apresentados em 1 Coríntios 12.

III – INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)

1. Definição do dom.

Thomas Hoover ensina que a interpretação das línguas é “a habilidade de interpretar, no próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas”. Na igreja de Corinto havia certa desordem no culto com relação aos dons espirituais, por isso, Paulo os advertiu dizendo: “E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso por dois ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14.27,28).

Comentário

Já vimos que o dom de línguas propicia mensagens de edificação para quem o possui e que, para a edificação da igreja, necessita de interpretação. E isso é possível, através do dom de interpretação de línguas. Essa concomitância, entre os dois dons não havia no Antigo Testamento.

1. O QUE É O DOM DE INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS

O pastor Antônio Gilberto ensina que “É um dom de manifestação de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de “tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”.13 O dom de línguas prescinde do dom de interpretação de línguas, para que seja útil para a edificação da igreja. Paulo deu precioso ensino à igreja de Corinto sobre o uso dos dons. Ao que parece, o dom de línguas era muito usado, mas sem o necessário equilíbrio espiritual e emocional.

Esse dom deve andar lado a lado com o dom de línguas, no seio da igreja cristã. São “dons geminados”. Gordon Chown diz que “A interpretação é tão milagrosa quanto a própria Língua — e isto quer dizer que quem possui o Dom de Línguas não vai procurar decifrá-la com a mente, mas sim, pede e recebe a Interpretação da mesma fonte divina de onde surgiu a Língua”.14 Isso não quer dizer que o dom de interpretação de línguas é outro tipo de dom de profecia.

A profecia é autossuficiente em sua ação para quem a ouve. O dom de interpretação de línguas depende da mensagem em línguas, para que tenha eficácia.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 68.

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Interpretação das línguas

    O dom de interpretação de línguas é o único cuja existência ou função depende de outro dom – a variedade de línguas. Consequentemente, não havendo o dom de variedade de línguas, não pode haver a interpretação de línguas.

    “Interpretação” aqui não é a mesma coisa que tradução. A interpretação geralmente alonga-se mais que a simples tradução.

    Vale a pena ressaltar a importância de nos precavermos dum ensino aritmético quanto aos três dons de inspiração, muito comum nos nossos dias, a ensinar que línguas + interpretação é = a profecia. É evidente que são muitos os riscos a que está sujeito este ensino.

    Partindo do ensino de Paulo de que “…quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus…” (1 Co 1.4.2), “…mas o que profetiza fala aos homens” (1 Co 14.3), temos de aceitar que é Deus quem fala através do profeta à congregação. Assim o ensino de que línguas + interpretação é = a profecia não se harmoniza com o ensino de Paulo, pelas seguintes razões:

    a) – Quem fala em outra língua, fala a Deus. A direção da fala é vertical, homem – Deus: sempre no sentido de baixo para cima e nunca de cima para baixo.

    b) – Ainda que não seja uma tradução palavra por palavra, a interpretação tem de se manter fiel à língua estranha falada, tanto no seu conteúdo quanto na sua direção, pois é de se esperar que a interpretação continue sendo o homem falando com Deus.

    c) – Partindo do princípio de que profecia é Deus falando a alguém (Deus – homem), de cima para baixo e nunca de baixo para cima, há grande diferença de direção entre o dom de profecia e o de línguas e a interpretação de línguas.

    Este ensino, sincero sem dúvida, mas que não se apoia nas Escrituras, deve ter surgido devido ao fato de haver muitos elementos comuns entre o dom de interpretação de línguas e o dom de profecia. Por haver peculiaridades comuns a ambos esses dons, não implica em que eles sejam absolutamente iguais quanto à sua maneira de manifestação.

    O dom de interpretação de línguas revela o poder, a riqueza, a soberania e a sabedoria de Deus. Por certo que este dom não implica em que haja algum tipo de conhecimento do idioma por parte do intérprete.

    A interpretação de línguas é em si mesma um dom tão miraculoso quanto o é o próprio dom de variedade de línguas.

Raimundo F. de Oliveira. A Doutrina Pentecostal Hoje. Editora CPAD.

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I Cor 14. 27. Línguas privadamente faladas não são incluídas nestas instruções paulinas. Um crente pode falar em línguas consigo mesmo quanto tempo quiser, quando ele sentir a necessidade de tal louvor de sua alma a Deus. Na igreja, entretanto, mesmo quando se encontra presente o intérprete, Paulo limitava tal exercício a duas pessoas, ou quando muito, a três. Mas essa regra não parece tão severa quando verificamos, no vigésimo nono versículo, que ele estabelece o mesmo regulamento para os profetas.

Portanto, Paulo não subestimava as «línguas interpretadas»; antes, situava-as em pé de igualdade com a profecia, pelo menos no que concerne ao número de pessoas envolvidas em cada reunião. A passagem de 1 Cor. 14:5 parece indicar um total pé de igualdade entre a profecia e as línguas interpretadas, porque, nesse caso, a «edificação» é dada através das línguas.

No entanto, o vigésimo segundo versículo deste capítulo parece indicar que Paulo favorecia a profecia acima das línguas interpretadas. Devemos meditar que Paulo, ao assim instruir aos crentes, não «apagava ao Espírito» (ver I Tes. 5:18-20), conforme alguns o têm acusado; porque há limite às instruções que alguém pode absorver numa única reunião.

Outrossim, precisamos reconhecer que há limite para o «período de atenção» de qualquer indivíduo, embora alguns possam estender por mais tempo esse período. Um culto exageradamente longo pode resultar em dano. Não seremos ouvidos por muito falar.

A necessidade de intérprete também elimina qualquer possibilidade de dois ou três falarem em línguas ao mesmo tempo, porquanto isso criaria total confusão, visto que, nesse caso, um mínimo de quatro pessoas estaria participando do culto, ao mesmo tempo. O dom de interpretação de línguas mui provavelmente é mais raro que o do falar em línguas, e bastaria essa raridade para limitar a atividade das línguas; sem a interpretação, em uma igreja que estivesse obedecendo às instruções de Paulo à risca, não se ouviriam línguas. Somente nas ocasiões em que intérpretes «bem conhecidos», «experientes» e «comprovados» estivessem presentes é que seriam exercidas as línguas. E, nessas ocasiões, dois ou três poderiam usar o dom de línguas.

O fato de que as línguas podem e devem ser assim limitadas, mostra-nos que esse dom também é controlado pela inteligência, sobre quando deve ser exercido; pois, do contrário, Paulo não teria podido estabelecer qualquer regra, e nem alguém seria capaz de antecipar como o Espírito de Deus pode mover homens a falarem «involuntariamente».

«…sucessivamente…» Paulo proíbe o falar em línguas em massa, todos ao mesmo tempo, mas apenas uma pessoa de cada vez. Cada qual teria sua oportunidade; e isso é uma outra evidência que as línguas são controladas pela inteligência, pelo menos usualmente; caso contrário, como poderia um homem, que estivesse prestes a irromper em línguas, refrear-se de modo a não interferir na manifestação de outrem?

I Cor 14. 28. Não há que duvidar que essa era a instrução mais difícil de ser obedecida que Paulo apresentou aos coríntios; seja como for, porém, certamente foi difícil eles abafarem suas atitudes de vangloria, no uso desse dom, a fim de obedecerem às injunções apostólicas, em qualquer aspecto dessas instruções. A menos que esteja presente um intérprete, as línguas não devem ser usadas na igreja. Isso não impediria o largo uso desse dom, em casa; pois, nesse caso, a alma do crente pode ser edificada, e Deus pode ser glorificado, mesmo que a mente nada aproveite em seu entendimento. Mas, visto que a «edificação» é a razão mesma pela qual os dons espirituais existem na igreja, as línguas devem ser limitadas a fim de atender a essa exigência; e só poderão fazê-lo quando acompanhadas de interpretação.

No original grego, a gramática é um pouco obscura aqui, parecendo dar a entender que o intérprete deve manter-se calado; mas devemos compreender aqui a existência de um sujeito oculto, na frase. Assim sendo, o que se entende da frase grega é que, não havendo intérprete, «…aquele que fala em línguas deve…» permanecer calado.

«…falando consigo mesmo…» No original grego, encontramos aqui uma expressão enfática. O crente fala apenas para «si mesmo», comungando com o Senhor em seu coração, como que em êxtase, sem a necessidade da presença de um intérprete. Mas essa «comunhão» não deve ocorrer nos cultos públicos, como se um indivíduo, arrebatado em êxtase, se separasse do resto da congregação para ter o seu culto particular. Antes, tal exercício deve ser feito somente em casa. Embora outra coisa possa ser compreendida, essa é a única forma de instrução que faz sentido. Os cultos públicos visam a edificação da congregação inteira, e com essa finalidade é que devem ser efetuados. Essa mesma forma de falar em línguas, em voz alta, para o próprio indivíduo, faz parte inerente do significado do próprio verbo, que significa «falar audivelmente», ou, pelo menos, esse é o seu sentido quase exclusivo. No dizer de Findlay (in loc.): «A instrução de falar no coração, sem ruído, seria contrária ao sentido do verbo ‘lalein’ (falar), e, de fato, contrário à natureza de uma ‘língua’».

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 4. pag. 227-228.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

a) A regra da edificação (14.26). A primeira diretriz de Paulo era: Faça-se tudo para a edificação. Quando os coríntios se reuniam para adorar a Deus, cada parte do culto deveria contribuir para a edificação da igreja. O Salmo (hino), a doutrina (ensinamento cristão), a língua (alguma expressão em uma linguagem que não era geralmente conhecida), a revelação, a interpretação da língua – tudo deveria ter o propósito de fortalecer a igreja.

b) Somente dois ou três deveriam ter permissão de falar (14.27a). Paulo coloca um limite no número de pessoas que teriam permissão para falar em línguas estranhas em qualquer reunião pública. Faça-se isso por dois ou, quando muito, três. Tal restrição eliminaria a confusão e a frustração que poderiam ocorrer se a maior parte do culto fosse dedicada a tais atividades.

c) Devem falar um de cada vez (14.276). Além do limite do número de pessoas que podiam falar em línguas, estas deveriam falar uma de cada vez. Esta restrição iria eliminar a confusão gerada por várias pessoas falando ao mesmo tempo em um culto público.

d) Deve haver um intérprete (14.27c-28a). A terceira regra de Paulo era: E haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja. Tudo aquilo que é dito em línguas estranhas deveria ser acompanhado por uma interpretação. De acordo com Morris, esta restrição “nos mostra que não devemos pensar que as línguas’ eram o resultado de um irresistível impulso do Espírito Santo que levava os homens a fazer um discurso em êxtase e desorganizado. Se eles preferissem, poderiam manter silêncio, e isso é o que Paulo os instruiu a fazer em certas ocasiões”.

Donald S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 353.

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I Cor 14.27,28 Em vista disso Paulo intervém estabelecendo a ordem. De imediato destaca novamente o ponto de vista que não é determinado por um princípio de ordem como tal, mas pelo amor. “Seja tudo feito para edificação.” Que a igreja seja edificada, essa é a única coisa que importa, a esse objetivo é que tudo precisa servir e levar. Na sequência Paulo fornece instruções diversas para esse fim, começando com os que “falam em língua”. Ao que parece, eles eram em maior número e haviam ocupado o espaço principal em Corinto, orando também ao mesmo tempo. Paulo não os exclui do culto da igreja quando existirem ―intérpretes‖, um ―tradutor‖. Contudo também nesse caso devem ser no máximo “dois ou quando muito três”, e devem orar um após o outro. Se não houver intérprete “fique calado na reunião (o que fala em línguas)”. Então o silêncio oculto de sua vida de oração deve ser o lugar em que ele “fala consigo mesmo e com Deus” e ―a si mesmo se edifica‖ (v. 4).

Werner de Boor. Comentário EsperançaCartas aos I Corinto. Editora Evangélica Esperança.

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2. Há diferença entre dom de interpretação e o de profecia?

Embora haja semelhança são dons distintos. O dom de interpretação de línguas necessita de outra pessoa, também capacitada pelo Espírito Santo, para que interprete a mensagem e a igreja seja edificada. Do contrário, os crentes ficarão sem entender nada. Já no caso da profecia não existe a necessidade de um intérprete. Estêvam Ângelo de Souza definiu bem essa questão quando disse que “não haverá interpretação se não houver quem fale em línguas estranhas, ao passo que a profecia não depende de outro dom”.

Comentário

Como é óbvio o que o nome diz, a finalidade principal é a interpretação da mensagem, transmitida à igreja, através do dom de línguas. No culto pentecostal, deve haver sabedoria e humildade no uso dos dons. Não é comum haver quem tenha os nove tipos de dons. Normalmente, o Espírito distribui “a cada um como quer”. Quanto mais dons houver numa igreja local, maior será sua edificação espiritual. A Palavra de Deus é a fonte primária e mais importante para a edificação do crente. Mas, como vimos, os demais dons também contribuem para a edificação da igreja.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag.69.

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INTERPRETAR, INTÉRPRETE O substantivo

“intérprete” (gr. diermeneutes, a pessoa que explica totalmente ou interpreta) é usado no NT apenas em 1 Coríntios 14.27,28. O verbo dessa raiz ocorre em 1 Coríntios 12.30; 14.5,13,27. No cap. 14, Paulo instrui que o falar em línguas em uma assembleia da igreja deve ocorrer de uma maneira ordeira, mas somente quando houver um “intérprete” presente, pois somente então isso será edificante. Aquele que fala em línguas deve orar para que ele mesmo possa interpretar (v.13). Um dos propósitos do dom de línguas era que um inconverso pudesse ouvir a mensagem em seu próprio idioma, como aconteceu com aqueles que estavam presentes no Pentecostes (At 2.8), e depois ouvi-la interpretada por um outro que não conhecesse aquela língua. Isto seria, portanto, um milagre duplo, contudo um milagre que correspondesse especificamente ao ouvinte. Veja Línguas, Dom de; Dons Espirituais. O termo gr. hermeneuo e seu composto me-thermeneuomai podem ser entendidos como interpretar traduzindo de um idioma para outro (por exemplo, Mt 1.23; Jo 1.38,41, 42). Na época de Esdras, os decretos reais eram traduzidos (meturgam, Ed 4.7), e as traduções aramaicas com exposições das Escrituras Hebraicas tornaram-se conhecidas como os Targuns ou Targumim. Em 2 Pedro 1.20, a palavra para “interpretação” é epilusis, libertar ou revelar. Interpretar as Escrituras não é uma questão relacionada à opinião própria ou particular de uma pessoa.

No AT, José atuou como um intérprete (do heb. pathar) de vários sonhos (Gn 40-41). Daniel convenceu Nabucodonosor de sua habilidade, dada por Deus, de fornecer a interpretação (aram. p’shar) ou a explicação do sonho do rei, primeiramente dizendo ao rei o que este viu no sonho (Dn 2.5-45). Posteriormente, Daniel revelou a interpretação do sonho de Nabucodonosor da grande árvore que havia sido derrubada (4.8-27), e da escritura na parede do palácio de Belsazar (5.12-28). A palavra pesher, “interpretação” (Ec 8.1), tornou-se o termo padrão para as explicações, ou comentários, dos livros canónicos do AT pelos membros da comunidade de Qumrã. Veja Rolos do Mar Morto. R. A. K.

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 979.

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SINOPSE DO TÓPICO (3)

O dom de interpretação de línguas é imprescindível para que todos sejam edificados.

CONCLUSÃO

Ainda que haja muitas pessoas em diversas igrejas que não aceitem a atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais — os chamados “sensacionistas” — Deus continua abençoando os crentes com suas dádivas. Portanto, não podemos desprezar o dom de profecia, o de falar em línguas estranhas e o de interpretá-las. Porém, façamos tudo conforme a Bíblia: com sabedoria, decência e ordem (1 Co 14.39,40). Agindo dessa forma, Deus usará os seus filhos para que sejam portadores das manifestações gloriosas dos céus.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

BEVERE, John. Assim Diz o Senhor? Como saber quando Deus está falando através de outra pessoa, l. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.

HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

A Respeito de Dons de Elocução, Responda:

1. Quais são os propósitos da profecia?

R: Exortar, consolar e edificar.

2. Quais são as três fontes de onde podem proceder as profecias?

R: Deus, o homem ou o Diabo.

3. Segundo o teólogo Thomas Hoover, o que é o dom de línguas?

R: “É a habilidade de falar uma língua que o próprio falante não entende, para fins de louvor, oração ou transmissão de uma mensagem divina”.

4. Qual é a finalidade principal do dom de variedade de línguas?

R: É a edificação da vida espiritual do crente.

5. Defina, de acordo com a lição, o dom de interpretação de línguas.

R: “É a habilidade de interpretar no próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas”.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 58, p.38.

Estudaremos nesta lição os dos dons de elocução. Neste grupo estão relacionados o dom de profecia, variedade de línguas e a interpretação de línguas (1Co 12.10).

O dom de profecia – Em 1 Coríntios 14, Paulo fala à igreja a respeito do dom de profecia. O apóstolo incentiva os crentes a profetizarem (1Co 12.1). Por quê? Seria este dom superior aos outros? Não. Paulo estava preocupado com a edificação do Corpo de Cristo, pois o dom de profecia tem como propósitos a edificação, a exortação e consolo da igreja (1Co 14.3). Como podemos definir este dom? Segundo o Comentário Bíblico Beacon, profecia “é aquele dom especial que exorta e capacita certas pessoas a transmitir a revelações de Deus à sua igreja”. Para uma definição mais abrangente, vejamos o que Whendon nos diz: “Uma inspirada pregação; predizendo o futuro, expondo misteriosas verdades, ou pesquisando os segredos do coração e do caráter dos homens”. Ao conceder o dom da profecia, Deus não faz distinção entre homem e mulher. Ana, filha de Famuel, era uma profetisa que aguardava a vinda de Cristo (Lc 2.36). Felipe, o evangelista, tinha quatro filhas que profetizavam (At 21.9).

Variedade de línguas (1Co 12.10) – O dom de variedade de línguas é diferente das línguas estranhas como evidência do Batismo com o Espírito Santo. Segundo a Bíblia, as línguas estranhas são um sinal para os não crentes (1 Co 14.22). Quem possui este dom deve orar pedindo que o Senhor também conceda o dom de interpretação. O que profetiza edifica o outro, mas o que fala línguas estranhas edifica a si mesmo. Parece que na igreja de Corinto havia uma desordem no culto quanto aos dons de línguas. Paulo exorta os crentes dizendo que eles estavam “falando ao ar” (1 Co 14.9), ou seja, não havia proveito algum, já que ninguém era edificado. As línguas estranhas continuam sendo um sinal divino para a igreja atual e não deve ser desprezado, todavia quem já possui este dom deve buscar interpretar as línguas.

Interpretação de línguas – É uma habilidade sobrenatural, concedida pelo Espírito Santo, que torna o crente capaz de interpretar, na sua própria língua, aquilo que foi dito pelo crente em línguas estranhas. Paulo advertiu os irmãos de Corinto quanto ao uso deste dom (1Co 14.27,28). Se não há interprete a vontade de Deus não é revelada e a igreja não é edificada, exortada ou consolada. O dom de interpretação complementa o dom de profecia. Os dons de poder são para os crentes atuais. Segundo John Sttot, “os dons são atuais, contemporâneos, úteis e necessários”.

5 Lição 2 Tri 21 Dons de Elocução

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

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1° E deu dons aos homens 

2° O propósito dos dons espirituais 

3° Dons de revelação 

4° Dons de poder 

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