5 Lição 4 tri 20 O Lamento de Jó

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4 Lição 4 tri 20 O Drama de Jó

Texto Áureo

“Porque antes do meu pão vem no meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.” (Jó 3.24)

Verdade Prática

O sofrimento pode nos levar a situação de extrema angústia, mas nãodevemos perder a esperança no agir de Deus.

OBJETIVO GERAL

Explicar que Jó era humano e como tal tinha todo o direito de extravasarseus sentimentos, não sendo recriminado por Deus por isso.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingirem cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

Esclarecer que a angústia de Jó fez com que ele desejasse a morte como um escape;

Aclarar o desejo de Jó em ser como um abortivo;

Pontuar que Jó representa os que, em situação desesperadora, no veem nenhuma luz no fim do túnel.

LEITURA DIÁRIA

Segunda- Jó 3.1-4 Jó lamenta pelo dia de seu nascimento

Terça- Jó 3.5-7 Jó prefere que o dia de seu nascimento seja marcado pelas “densas trevas”

Quarta- Jó 3.8-10 Que a luz no resplandecesse e ele não olhasse para o sofrimento

Quinta- Jó 3.11-15 Jó lamenta por não ter morrido no dia do seu nascimento

Sexta- Jó 3.16-22 Jó deseja ser como um “aborto oculto” e não ver a luz

Sábado -Jó 3.23-26 O que já temia lhe sobreveio, o que ele receava lhe aconteceu

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LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Jó 3.1-26

1- Depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia.

2- E Jó, falando, disse:

3- Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!

4- Converta-se aquele dia em trevas;

5- Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; e, ali, repousam os cansados. negros vapores do dia o espantem!

6- A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!

7- Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!

8- Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto.

9- Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha: e não veja as pestanas dos olhos da alva!

10- Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira.

11- Por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei?

12- Por que me receberam os joelhos E por que os peitos, para que mamasse?

13- Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e, então, haveria repouso para mim

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14- com os reis e conselheiros da terra que para si edificaram casas nos lugares assolados,

15- ou com os príncipes que tinham ouro, que enchiam as suas casas de prata

16- Ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz!

17- Ali, os maus cessam de perturbar e, ali, repousam os cansados.

18- Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator.

19- Ali, está o pequeno e o grande, e O servo fica livre de seu senhor.

20- Por que se dá luz ao miserável e vida aos amargurados de ânimo,

21- que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos;

22- que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura?

23- Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?

24- Porque antes do meu pão vem O meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.

25- Porque 0 que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu.

26- Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação

INTERAGINDO COM O PROFESSOR

A lição desta semana esclarece que Jó desejou intensamente a morte. Ao desejá-la, o patriarca tem como objetivo dar fim ao ciclo de sofrimento que Satanás lhe impôs. Constataremos nesta lição que, apesar de ele desejar morre não buscou o suicídio. Nesse aspecto, a vida de Jó nos passa uma mensagem muito importante, mostrando-nos que, mesmo diante do mais terrível sofrimento, o patriarca não ousou entrar numa “jurisdição” que pertence somente a Deus.

Ele, indiretamente, nos transmite a importante mensagem de que o único que pode decidir acerca do início e do fim da vida é o Deus Altíssimo.

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INTRODUÇÃO

Na lição anterior vimos de perto o drama vivido por Jó. Uma série de calamidades se abateu sobre ele de forma catastrófica. Do estado de riqueza e prosperidade, Jó passou a viver na adversidade; seus amigos foram para consolá-lo, mas ficaram sem palavras ao contemplarem seu debilitado estado de saúde. Entretanto, depois de sete dias, ele rompeu o silêncio com um lamento que veio do fundo da alma.

Nesse lamento Jó mirou o dia de seu nascimento e, através de três perguntas, desabafou tudo o que sentia naquele momento: Por que nasci? Por que não nasci morto? Por que ainda continuo vivendo? Nesta lição veremos a reação humana diante do sofrimento. Perceberemos que não há qualquer indício de que Satanás tivesse alcançado êxito diante de Jó. Na perspectiva do patriarca, se Deus era a causa de sua vida, deveria também ser a causa de sua morte, pois se dEle vinha o bem, também deveria vir o mal.

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PONTO CENTRAL

O lamento de Jó revela toda Sua dor como ser humano.

I – PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NASCI? (3.1-10)

1. “Por que nasci?”.

A dor de Jó era profunda e somente a poesia podia expressar toda a carga emocional vivida por ele. Nesse poema, os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci? Esse questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr20.14-18). Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante da dor.

2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento

Neste momento de dor, Jó no amaldiçoou a Deus, como Satanás previra; em vez disso, amaldiçoou o dia de seu nascimento. No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção. Para o homem de Uz, esse dia teria de ser apagado da memória. Não é assim que muitas vezes nos sentimos? Um dia em que tudo foi mal e temos desejo de nunca mais lembrá-lo.

3. Que em vez da ordem viesse o caos.

Mencionamos o desejo de Jó para que o dia de seu nascimento não tivesse entrado no calendário e, que dessa forma, tanto esse dia como essa noite jamais tivessem existido. No lugar da luz que raiou por ocasião do nascimento dele, e que revelou todo seu sofrimento, o patriarca desejou que as trevas dominassem (vv. 4-7). E por que? Porque em vez da paz veio a dor; em vez da ordem, o caos. Desse dor; em vez da ordem, o caos. Desse raciocínio, Jó menciona a imagem do Leviatã. Este famoso e assombroso animal marinho simboliza o caos.

O homem de Uz recorre a essa imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo. A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso. Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33).

SÍNTESE DO TÓPICO I

O primeiro lamento de Jó revela seu desejo de esquecer o dia em que nasceu.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Para introduzir esta lição apresenta os três pontos que formam seu eixo estrutural, ou seja, os três lamentos de Jó:

(1) Por que nasci?

(2) Por quenão nasci morto?

(3) Por que continuo vivo?

Mostre a classe que essas três perguntas representam toda a angústia que se abateu sobre a alma de Jó por meio dos eventos que marcaram sua tragédia familiar, econômica e pessoal. Tais perguntas podem sinalizar o grau de estresse do patriarca, bem como do ser humano, diante de um grande caos. Os lamentos de Jó são a expressão da dor humana diante do sofrimento.

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II– SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO NASCIMORTO? (3.11-19)

1. Descansando em paz.

Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar. A partir desse versículo, Jó passa reclamar por não ter nascido morto. Para ele nascer morto teria sido melhor do que existir naquelas condições (v.11-13). Era a melhor maneira de não passar por toda aquela tribulação. Essas palavras de Jó revelam uma coisa: Ele queria descanso de todo o seu sofrimento. Oque Jó pedia era uma possibilidade real, pois muitos fetos nascem mortos(vv. 16). Para ele a morte era uma forma de descansar em paz (vv. 13-15).

2. Livre de tribulações.

O dilema de Jó aumenta à medida que o seu sofrimento ganha intensidade. Ele continua com seu argumento da “não-existência” (vv. 16-19). Ele está convencido de que se não tivesse setor nado um “ser”, nada disso estaria acontecendo. Ele desejava ter sido como um “natimorto”, um feto que nunca viu a luz (v.16).

A palavra hebraica nephel, usada no versículo 16 como “natimorto”, possui o sentido de “um aborto espontâneo” e é traduzido dessa forma em Eclesiastes 6.3 e Salmo 58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz uma apologia ao aborto, mas usa-o no sentido metafórico de “descanso do sofrimento”. No lugar de ter sido abortado, ele nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocínio é claro: Para os que morreram cessara, mas angústias e tribulações da vida presente.

3. Uma realidade para o cristão.

O Novo Testamento nos ensina que enquanto estivermos neste mundo estaremos sujeitos à dor, ao luto, ao sofrimento (Fp 4 .11,12). Mas, ao mesmo tempo, temos uma promessa consoladora de Jesus ( Jo 16.33 , cf. Fp 4.13).

SÍNTESE DO TÓPICO II

O segundo lamento de Jó revela o desejo de ter sido abortado.

SUBSÍDIO BÍBLICO-PEDAGÓGICO

“Por não haver a possibilidade de voltar atrás no tempo e cancelar os acontecimentos que levaram ao seu nascimento, Jó volta-se para a fase seguinte do seu lamento: Por que não morri eu desde a madre? (11). Muitos bebês nascem mortos; por que ele não teve a sorte de um deles? Os joelhos da parteira e os peitos (12) da sua mãe deveriam ter falhado em preservar a criança recém-nascida.

Se a morte tivesse sido o seu destino logo no início, então suas maiores esperanças teriam sido alcançadas havia muito tempo- então, haveria repouso para mim (13). Entre os versículos 14 e 19 há observações acercado fato de que todos os homens são iguais diante da morte.

Os reis (14), os ricos (15), os maus 17) cessam de perturbar, e, ali, repousam os cansados. Moffat interpreta o pensamento dos lugares assolados (14) como ‘reis L.J que constroem pirâmides para si mesmos’. Os presos não são mais incomodados por aqueles que os oprimiam (18) e mesmo os escravos estão livres de seu senhor (19). Em seu desespero, Jó pode apenas esperar pelo alívio que a morte poderia lhe trazer”(CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF Earl C. (et al. Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014,p.34).

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III – TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE CONTINUO VIVO? (3.20-26)

1. Vale a pena viver?

Nessa terceira seção do capítulo três Jó faz uma quarta pergunta (3.20): “Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?”. As outras perguntas estão em 3.1; 3.12; 3.16. A palavra hebraica amel, traduzida aqui como “miserável”, é usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções. Em outras palavras, para Jó a vida havia se tornado intolerável.

2. Sem o favor de Deus?

Jó novamente volta a indagar: “Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?” ( Jó3.23). A pergunta busca o significado do sentido de todo aquele processo. Ela busca compreender o porquê de Deus permitir o sofrimento. Aqui há um paralelo com Provérbios 4.18, onde é dito que “o caminho do justo é como a luz da aurora que brilha mais e mais até ser dia perfeito”.

Na literatura sapiencial, a palavra hebraica traduzida como “caminho” é derek e se refere ao caminho da sabedoria de Deus, que conduz a vida. Para o patriarca esse fato havia se tornado um paradoxo, pois ele não sabia por que Deus escolheu para ele o caminho do sofrimento.

3. Um caminho de sabedoria e maturidade.

Muitas vezes sentimo-nosiguais a Jó, desorientados, passando por uma via dolorosa do sofrimento. E como ele, não imaginamos nem compreendemos que Deus está agindo. É preciso, porém, olhar para o alto onde Cristo vive (Cl 3.1-4). Nele, podemos manter o equilíbrio e confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento

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SÍNTESE DO TÓPICO III

O terceiro lamento de Jó revela a desistência da vida por causa do sofrimento.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Jô veio à luz; ele foi trazido à Vida (20); Jó estava perdido e Deus o encobriu (23). Tudo isso ocorre contra sua vontade ou, pelo menos, sem que ele tenha alguma oportunidade de escolha. Em sua miséria ele espera a morte. A morte seria como tesouros Ocultos a serem procurados ou algo de que ele poderia se alegrar sobremaneira (21-22). Mas mesmo isso é negado a Jó. Moftat interpreta a primeira parte do versículo 23: ‘Por que Deus dá à luz à um homem que está no fim de suas forças?

A miséria de Jó se tornou tão desmedida que seus gemidos (expressão de agonia) se derramam como água (24) em uma corrente vasta e ininterrupta. A Sua vida tornou-se tão difícil que tudo que ele precisa fazer é temer por mais agonia, e isso, de fato, acontece (25). O sofrimento de Jó não tinha fim. Ele não teve qualquer oportunidade para experimentar descanso, sossego e repouso. Velo sobre mim a perturbação (26) pode ser traduzido apropriadamente como: ‘A perturbação vem continuamente’ ”(CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014,p.34).

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CONCLUSÃO

Nesta lição vimos o dilema de Jó. Desconhecendo a razão das adversidades que se abateram sobre ele, o patriarca não negou a Deus nem o amaldiçoou. Todavia, ele expôs toda a sua humanidade, de forma que o leitor que apenas o contempla sem, contudo, participar de seu drama, tem dificuldade de entender seu lamento, principalmente, quando ele se dirige a Deus. E o lamento de um corpo ferido e de uma alma, que mesmo amando a Deus, se derrama angustiada.

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PARA REFLETIR

A Respeito de “O Lamento de Jó”, responda:

1- Os dez primeiros versículos do capítulo três dizem a respeito de que?

R: Os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci?

2- O que Jó amaldiçoou? E por quê?

R: No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção.

3- Qual foi a observação dos intérpretes sobre o discurso de Jó a partir do versículo onze?

R: Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar.

4- Em que sentido a palavra “miserável” é usada?

R: É usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções.

5- Qual é o significado da palavra “caminho”?

R: Refere-se ao caminho da sabedoria de Deus que conduz a vida.

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INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO

Por causa de seus supremos sofrimentos, Jó caiu no abismo de uma quase total desesperança. Ele proferiu uma maldição, mas não contra Deus, conforme Satanás disse que ele faria (ver Jó 1.11 e 2.5). Ele desejou jamais ter nascido (vss. 2-10 deste capitulo) ou, então, que tivesse morrido por ocasião de seu nascimento (vss. 11-19). Visto que essas bênçãos não lhe tinham sido conferidas, ele desejava morrer em breve (vss. 20-26). Mas ele falou com sua voz miserável sem chegar a ponto nenhum. Ele ignorou tanto Deus como o ser humano, ao proferir o seu “ai”. Em consonância com o costume e a prática dos semitas, Jó não pensou em suicidar-se, embora o suicídio não fosse desconhecido entre eles.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1872.

A jornalista evangélica Andréia Di Mare perguntou-me, quando eu finalizava este livro, quanto tempo durara a provação de Jó. Confesso que, até aquele momento, não havia atinado ainda sobre o assunto. Reparei então que, se lermos atentamente a história do patriarca, haveremos de constatar que a tribulação do paciente servo de Deus pode haver se estendido por quase um ano. Levemos em conta alguns fatores.

Desde que as calamidades começaram a se abater sobre Jó, até à chegada de seus amigos, temos pelo menos três semanas.

Pois Elifaz, Bildade e Zofar tiveram de se deslocar de longínquas regiões até à terra de Uz. Aqui chegando, quedaram-se emudecidos por sete dias; faltavam-lhes palavras para consolar alguém que não podia ser consolado.

Finda aquela semana, pôs-se Jó a falar. Suas primeiras alocuções foram de amarga maldição contra o dia de seu nascimento.

Se o Diabo esperava fosse o patriarca dirigir suas invectivas contra Deus, enganara-se. Em momento algum, portou-se Jó de maneira blasfema e irreverente em relação ao Senhor Deus.

A pergunta da irmã Di Mare é uma resposta mui oportuna; revela que o perseverante varão, antes de endereçar todos aqueles reptos contra o seu natalício, suportara pelo menos um mês de resignada dor. Embora não saibamos exatamente quantos dias durou a sua prova, de uma coisa temos certeza: foi mais do que podia suportar um ser meramente humano.

ANDRADE. Claudionor Corrêa de,. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 123-124.

Para que viver?

Para que ter de enfrentar a luta contra o destino que o aguarda? A sua tragédia é infinita, o seu sofrimento físico e moral não tem limites. Portanto, para que viver? Nem mesmo a vida de outrora, cheia de cuidados com a religião dos filhos, por quem oferecia sacrifícios, na suposição de terem pecado contra Deus, em seus excessos de comida e bebida, seria a coisa mais desejável; muito menos a de agora, quando sem filhos, sem a mulher, que o repudiara, sem amigos, sozinho com as suas chagas, os seus pesadelos são um espectro para o mundo que o conhecia.

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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I – PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NASCI? (3.1-10)

1. “Por que nasci?”.

Se ao menos o dia do nascimento de Jó, ou a noite em que ele fora concebido, nunca tivessem ocorrido, então Jó teria escapado ao caos da existência e aos resultados temíveis de uma vida inútil. O livro não expõe a possibilidade de uma alma preexistente ter nascido em um corpo diferente. O discurso de Jó só indica que, sem aquele nascimento, que acabou produzindo tanto sofrimento, ele nunca teria existido e, portanto, não estaria sofrendo.

Como é óbvio, Jó desejava a não-existência, e não uma nova chance de uma vida nova, sem complicações, por meio da reencarnação.

Jó amaldiçoou o seu nascimento, a sua vida, e não Deus, conforme Satanás afirmou que ele o faria (ver Jó 1.11 e 2.5).

Pereça o dia em que nasci. Jó ampliou a maldição, dando detalhes e conferindo volume à sua queixa e às suas lamentações. As notas que ofereço no vs. 1 deste capitulo também se aplicam aqui. O dia e a noite personificados, por assim dizer, são entidades com uma espécie de existência autônoma. O dia e a noite, pois, tinham trazido a Jó sua miséria, e ele desejou que, de alguma maneira, eles fossem obliterados em sua existência, para que ele próprio pudesse descansar no nada.

Uma Curiosidade.

Notemos que Jó não olhou estrada abaixo para a imoralidade. No período patriarcal, pode ter havido essa ideia, entre os hebreus, mas não há nenhuma expressão dessa noção no Pentateuco. A ideia só entrou no pensamento dos hebreus nos Salmos e Profetas, sem grande esclarecimento. No período intermediário entre o Antigo e o Novo Testamento foi mais desenvolvida, e ainda mais no Novo Testamento. É verdade que em Jó 19.26 essa esperança é levantada, possivelmente mediada através da ressurreição, e não através de uma alma imortal que sobrevive à morte biológica do corpo. Alguns veem a reencarnação nessa referência, mas isso é discutível. Seja como for, é notável que a lamentação de Jó, que vemos aqui e nos capítulos seguintes, não tente aliviar o problema do sofrimento humano com uma visão da existência futura, além do sepulcro, onde o sofrimento pudesse ser anulado. Isso, entretanto, está em harmonia com a teologia geral do período patriarcal.

A Noite Personificada Fala.

Ela anunciou o conceito de um filho que teria sido a alegria de sua mãe. Mas o futuro era tão negro e miserável, que nenhum regozijo foi encorajado. John GUI curiosamente comenta aqui que nem mesmo as próprias mulheres sabem em que noite exata elas conceberam e, certamente, os homens não o sabem. Mas a Noite sabia. A noite em que Jó foi concebido foi uma noite miserável, que ele desejava fosse anulada. Alguns estudiosos interpretam a Noite como personificação de Satanás e colocam nela o pecado original, mas isso é apenas fantasia.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1872-1874.

A lamentação de Jó está ao lado de outros salmos bíblicos de aflição, inclusive Jeremias 20.14-18 e Lamentações 3.1-18; e todos concentram-se naquele desamparo horroroso de Jesus (Mt 27.46) como sendo os clamores legítimos da humanidade perdida, procurando adiar seu Deus perdido. Não pode, portanto, haver nenhuma intenção de desaprovar aquilo que Jó diz.

A crítica da forma também nos ajuda a compreender o propósito convencional deste tipo de fala. Embora tome a forma lúgubre de uma maldição, detalhada e exagerada, visa lastimar a desgraça humana e assim evocar a compaixão humana e divina.41 A poesia capta os gritos desenfreados. Ás exclamações são tensas e a gramática é difícil, quase ao ponto da incoerência. Estes aspectos, que se apresentam como dificuldades para o purista, provavelmente conservem os efeitos deliberados do autor, e não devem ser considerados uma falha de deteriorização posterior do texto.

Francis I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 98-99.

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2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento

Amaldiçoou o seu dia natalício. Jó amaldiçoou o seu ‘dia natalício”. Sentimo-nos muito tristes quanto aos infantes que morrem e diante de pais que perdem suas crianças; mas Jó viu que, em seu caso, essa condição teria sido uma grande bênção. O dia e a noite, de acordo com as crenças antigas (ver Sal. 19.3), eram dotados de uma espécie de existência autônoma.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1874.

Até este momento, comportara-se Jó de maneira irrepreensível.

Diante de todas aquelas tormentas, tivera ele a necessária humildade e ousadia de lançar-se em terra, e adorar a Deus. O autor sagrado adianta que, em tudo isso, não pecara ele contra o Senhor (Jó 1.22).

Mas, agora, já desfigurado pela doença e já em tudo uma pavorosa ruína, põe-se a amaldiçoar o seu dia natalício. E ele o faz diante de seus três amigos: Elifaz, Bildade e Zofar.

I. Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento. Atentemos ao que narra o autor sagrado: “Depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia” (Jó 3.1). O verbo amaldiçoar usado, nesta passagem, é mui significativo em hebraico: qâlal denota as seguintes ações: tratar com menosprezo, desprezar.

Com a palavra, o patriarca Jó:

“Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz! Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem!

A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!” (Jó 3.3-6). Sim, ele amaldiçoa enfaticamente o dia de seu nascimento. Em momento algum, porém, desfere qualquer palavra contra o Senhor, conforme salienta F. B. Meyer: “Jó abre a boca com uma maldição. Mas ela não era contra Deus, como Satã esperava.

A palavra hebraica é diferente da que ele emprega (Jó 2.9). Ele não amaldiçoa Deus, mas o dia do seu nascimento, e pede que sua existência despojada e sofredora possa terminar o mais depressa possível. As palavras de Jó são muito proveitosas para todos aqueles cujo caminho é oculto. A alegria da vida se foi? Todavia seus deveres permanecem. Continuemos nestes e o caminho nos levará de volta à luz”.

Na noite em que Jó nasceu, houve não somente luz, como música: “Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!” (Jó 3.7).

Entretanto, almeja agora não somente apagar aquela luz que lhe iluminou o nascedouro, como sufocar a melodia que lhe embalou os primeiros instantes na terra.

Sofocleto chegou a considerar o seu aniversário como aquele pesado tributo a que era obrigado a pagar para continuar existindo. Em contrapartida, Moisés, diante da brevidade da vida humana; ante os sofrimentos que nos cercam; defronte de todos os enfados e canseiras que nos rodeiam; e já em frente ao inexorável da existência, uma só coisa pediu ao Senhor: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (SI 90.12). Que estou eu sugerindo?

Não era sábio o coração de Jó? Então, por que amaldiçoa o dia de seu natalício?

Seria razoável todo aquele amargor? Responderia ele que sim, como Jonas o fez diante da aboboreira ressequida (Jn 4.9). N o auge do crisol, todas as coisas nos parecem razoáveis e lógicas. Mas, passada a tormenta, percebemos quão ilógicos nos portamos (Jó 42.3). E em nossa ilogicidade que mostra Deus toda a beleza de sua razão.

ANDRADE. Claudionor Corrêa de,. Jó O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Proposito. Serie Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 124-126.

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3. Que em vez da ordem viesse o caos.

Converta-se aquele dia em trevas. Jó volta a lamentar o seu nascimento. O dia é luz, e luz é esperança. Mas o primeiro dia de Jó foi de trevas miseráveis e repleto de presságios ruins. Deus não levou em conta o dia do nascimento de Jó. A luz não incidiu sobre aquele dia. Antes, foi um dia melancólico, de negligência e tristeza, por causa do tipo de vida que finalmente haveria para Jó. Premonições de desespero anulavam qualquer alegria que pudesse estar envolvida no nascimento de um filho. Deus se tornara um estranho para aquele pequeno, que fora esquecido pelo Ser divino e pelos seres humanos.

Deus… não tenha cuidado dele. ‘Literalmente, requerer, perguntara respeito e, assim, manifestar cuidado a respeito” (Ellicott, in loc.).

Empregando o linguajar popular, podemos dizer que o versículo significa: “Deus não poderia importar-se menos”. No ato de criação, Deus disse: “Haja luz’, e houve luz. Mas o dia de Jó não teve luz nem esperança. Seu nascimento foi uma espécie de anticriação. A providência do sorriso de Deus não abençoara aquele dia.

… Cópula, nascimento, morte Esses são os fatos…

(Thomas Stearns Eliot)

Esses são os fatos brutais de uma vida sem Deus e sem esperança. As palavras de Eliot indicam que não há significado nenhum nesta vida. Jó caiu nessa armadilha, no meio de sua miséria. Para ele não havia fatos remidores.

Reclamem-no as trevas e a sombra da morte.

O dia precário de Jó deveria ser engolido por trevas melancólicas, varrido por nuvens escuras e aterrorizado pela negridão. Supostamente, o dia é iluminado, mas o de Jó era escuro.

“A palavra aqui usada para enegrecimento é a única ocorrência do vocábulo em todo o Antigo Testamento. Está em vista a negridão que acompanha um eclipse, um tornado ou uma pesada tempestade” (Roy B. Zuck, in loc.). O dia do nascimento de Jó foi um dia de pesada tempestade. A luz não pôde atravessar as espessas trevas. O nascimento de Jó, por assim dizer, foi um equivoco, uma piada cósmica. Ele foi vitima de uma mentira cósmica. Entrou na vida já trazendo aquela incurável que causaria sua morte e, assim, teve uma peregrinação triste e sem sentido para lugar nenhum. O dia do nascimento de Jó foi aterrorizado pelas trevas pretematurais, por aquele blecaute inoportuno e inesperado. Sua vida fora obscurecida desde o começo.

Aquela noite! dela se apoderem densas trevas.

A miséria de Jó era tão profunda que ele desejava que as negras trevas anulassem tudo, toda a vida e toda a existência. Essa anulação tinha de começar pela noite em que ele fora concebido. Ele anelava, de alguma maneira, voltar àquele ponto do tempo. Se, de algum modo, a noite de sua concepção pudesse ser obliterada, então a fonte de sua tristeza seria engolida pelo nada, que era a grande esperança de Jó, inútil naturalmente, mas uma ânsia retrospectiva. Ele não queria que a noite de sua concepção fosse um tempo marcado no calendário. Ele não queria que aquela noite tivesse ocorrido em um dia especifico do ano. Se aquele dia se transformasse em nada, então ele seria reduzido a nada, e esse era o seu desejo mais intenso.

Pessimismo.

A definição básica do pessimismo é que a própria existência é um mal. Assim sendo, o pior pecado do homem seria o fato de ele ter nascido. Schopenhauer, o mais eloquente advogado do pessimismo como um sistema filosófico, acreditava que a melhor coisa que poderia acontecer seria Deus fazer com que todas as coisas cessassem de existir. Então haveria a paz do nada. A insana vontade de viver está na base de toda a miséria humana.

A vida é nossa inimiga; a morte é nossa amiga, se ela pudesse indicar total obliteração. Infelizmente, Schopenhauer acreditava na reencarnação, mecanismo insano mediante o qual se dá continuidade à vida. Jó caiu num pessimismo do tipo do de Schopenhauer.

Entristeço-me por ter de dizer aos caros leitores que a Igreja Ocidental tem uma teologia de extremo pessimismo acerca do destino humano (excetuando alguns poucos salvos). De fato, esse pessimismo ultrapassa qualquer coisa que o livro de Jó contém. Não obstante, Deus surpreenderá os pessimistas provendo coisas maravilhosas por meio da missão de Cristo, que finalmente beneficiará todos os homens. Ver no Dicionário o artigo Mistério da Vontade de Deus.

Seja estéril aquela noite.

Ainda personificando a Noite, Jó esperava que, de alguma maneira, a noite de sua concepção ficasse estéril (literalmente, no hebraico, ficasse “pedregosa’). A concepção de um filho costuma levar a um nascimento jubiloso. Jó preferiria a esterilidade, para que não houvesse um dia que seria de profunda tristeza, em vez de alegria. “Jó imprecou males sobre o dia em que ele nasceu, e agora (vs. 7) sobre a noite em que ele fora concebido” (John Gill, in loc.).

Ele queria que a noite em que fora concebido se tomasse tão estéril como a pederneira. Cf. Isa. 49.21. “Os orientais, emocionais como são, gritavam quando um menino nascia. Mas Jó disse: ‘dela sejam banidos os sons de júbilo’, ou seja, naquela noite na qual uma concepção prometeu que nasceria um filho”. Viver é sofrer, e há grande futilidade em toda a vida. A bondade é quando não há fagulha de vida para começar uma existência humana. O pessimismo era a teologia de Jó, no momento.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1874.

Aquela noite chamada seja de trevas, porque não cerrou a madre que acolheu um novo ser. Espessa escuridão paire sobre ela; e, os que costumam cantar de noite, se calem. Como o dia em que nasceu, não seja anotada entre outras noites. Seja amaldiçoada por aqueles que amaldiçoam o dia (v. 8). Refere-se Jó aos feiticeiros, assim chamados, para excomungar dias aziagos; os encantadores, que tinham por atividade anatematizar dias maus ou fazer, desses dias bons. Naquela noite não haverá música alegre, pois, as estrelas não brilharão no espaço; um sentimento trevoso, espantoso, deve engolfar aquela má noite, pois podia ter evitado que eu visse a luz.

Amaldiçoem-na os encantadores, os que chamam o monstro marinho (leviatã, no original), animal desconhecido ou figurado, talvez O dragão mitológico.

Há homens que encantam as serpentes e outros animais; os que supostamente têm poderes sobrenaturais; que amaldiçoem essa noite maldita. Para aquela noite não haja crepúsculo matutino, e aquela manhã, que espera pelo dia, não venha, e uma eterna noite paire sobre ela. Noite terrível! Que os olhos da alva não se abram, as pestanas fiquem para sempre cerradas.

É uma linda figura, pois que o abrir das pestanas é o abrir dos olhos, e o fechar delas é o fechar dos mesmos. Seja assim a alva, que não abra as suas pestanas, pois tinha poder para evitar que um homem fosse concebido, e não o fez. A figura é clara, porém nem a noite nem o dia podem fazer vir ou evitar que venha ao mundo um novo ser.

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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II– SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO NASCIMORTO? (3.11-19)

1. Descansando em paz.

Por que não morri eu na madre? Tendo havido a concepção, Jó deveria nascer. Diante do fato terrível, ele desejou ter nascido morto. Nesse caso, poderia ter “expirado” antes que o sofrimento começasse. A morte hipnotizara Jó. Ele começou a olhar para a morte com mórbida alegria. Ele se juntou à companhia daqueles filósofos pessimistas do Egito e da Babilônia, que viam a morte como um estado de tranquilidade, sono e nada (vs. 13). O pensamento dos hebreus, em contraste, encarava a morte como um mal a ser evitado. Um severo sofrimento tirara de Jó a ideia, conforme se diz em uma expressão idiomática moderna.

Por que não expirei ao sair dela? Note que a versão portuguesa concorda aqui com a Revised Standard Version e não faz o versículo dar a entender uma alma imaterial e imortal que deixa o corpo por ocasião da morte biológica. Nascer vivo e sair em segurança do ventre materno, para a vida, era visto como um ato especial da providência divina (Sal. 22.9). Jó desejou que aquela pequena demonstração da providência divina não tivesse operado em favor dele. Ver no Dicionário o artigo chamado Providência. Ver na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia o verbete intitulado Infantes, Morte e Salvação dos.

Por que houve regaço que me acolhesse? Uma vez nascido, o bebê, de acordo com os costumes orientais, era primeiramente posto nos joelhos da mãe, de maneira que um pouco de descanso era desfrutado. Então o bebê era levado aos seios matemos. Havia também o costume patriarcal de colocar o bebê recém- nascido nos joelhos de um antepassado paterno, simbolizando que a criança pertencia à sua descendência e estava abençoado com a companhia de seu antepassado e de seus contemporâneos (ver Gên. 50.23). Talvez seja isso o que esteja em vista no presente versículo.

Jó desejava não ter descansado nos joelhos de sua mãe nem ter sido recebido em sua família por meio da bênção patriarcal. Preferia ter sido um natimorto, ou ter morrido antes de ser colocado sobre os joelhos de alguém. Entrementes, desejava nunca ter tomado leite de sua mãe, pois assim poderia ter morrido de fome, uma grande vantagem que não lhe teria permitido chegar àqueles dias de sofrimento. Em seu desespero, ele chegou a ver a vida como indigna de ser vivida. Jó foi tratado com grande cuidado, mas preferia ter caído morto no chão. Ver também Gên. 30.3 e Isa. 66.12.

Jarchi informa-nos que uma parteira, tendo completado o parto, tomava temporariamente a criança em seu regaço, dando-lhe descanso e consolo. Ela lavava o corpinho do recém-nascido com água e sal e o enrolava nos paninhos apropriados. Os gregos e romanos também tinham um costume semelhante ao da bênção paterna dos hebreus. O pai recebia a criança e, pondo-a sobre os joelhos, tomava assim conhecido que aquele bebê era “seu filho”, agora recebido em sua família. A deusa Levana é retratada como se estivesse ordenando o gesto de amor e preocupação (Kipping, Antiq. fíoman. 1.1. cap. I, sec. 10).

Porque já agora repousaria tranquilo. Morrer por ocasião do nascimento teria sido muito melhor do que uma vida na morte. Permanente sono e paz teriam resultado da morte do infante Jó, muito melhor do que a morte viva do Jó adulto. Como é claro, Jó não antecipava a continuação da vida através de uma alma imortal. Tal crença só surgiu na fé hebraica no tempo dos Salmos e Profetas e, mesmo assim, ainda não claramente definida. Delineamentos de doutrinas como o céu e a terra teriam de esperar pelos livros apócrifos e pseudepígrafos e, finalmente, pelo Novo Testamento. A teologia, como qualquer outro campo do conhecimento, cresce e se desenvolve. De muitas maneiras, a teologia dos hebreus era deficiente. Se assim não fosse, não haveria necessidade das revelações do Novo Testamento.

Nas Escrituras, a morte, tal como em certa expressão idiomática moderna, é chamada de sono (ver Sal. 13.3). Isso não subentende, nos primeiros livros da Bíblia, que somente o corpo dorme, e a alma vai para Deus, conforme dizem alguns intérpretes cristãos ao comentar sobre o presente versículo. Antes, em consonância com a teologia deficiente da época. Jó via a morte como sono etemo (não-existência) do ser que antes existira.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1875.

Por que não morri na madre ou ao nascer? (v. 11). Tudo que há de mais carinhoso, como um regaço que recebe um novo ser, está para sempre amaldiçoado; por que houve um regaço que me acolhesse? (v. 12). Tudo que há na vida de mais contentamento, que é a chegada de um novo ser para alegrar um lar e aumentar uma família, está agora denegrido. Para Jó, tal coisa é um símbolo de dor, de aflição, pois a morte é o seu maior desejo, porquanto assim estaria tranqüilo e sossegado. Sim, isso é o mais desejável para este sofredor; todavia, quanto mais a quer, mais ela foge dele. E por que os seios, para que eu mamasse (v. 12).

Não há quadro mais expressivo do que o de uma boa mãe acalentando ao seio o seu rebento. É a coisa mais linda e mais sugestiva, porque dá a idéia de uma nova vida em flor. Para Jó, porém, tudo isso é abominável, é símbolo de desgraça. O seu sofrimento engolfa tudo que há de mais lindo e de mais especioso na vida. Se houvesse morrido ao nascer estaria em paz, descansaria com os grandes da terra, que dormem no pó, conselheiros que edificaram para si mausoléus, príncipes que nadavam em ouro (vv. 14,15).

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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2. Livre de tribulações.

Ou, como aborto oculto, eu não existiria. Bendito Aborto. Certos infantes nunca veem a luz do nascimento. O útero os expulsa, mortos. Essa era outra condição que teria aliviado Jó dos sofrimentos que ele experimentou como adulto.

O infante (um feto já bem desenvolvido) nasceu morto, arrancado abruptamente da árvore da vida. O corpinho minúsculo foi sepultado. Os pais sacudiram a cabeça e perguntaram: “Por quê?’. Seja como for, a criança nada sofreu. Haveria uma alma já em companhia do corpo que se foi para algum mundo espiritual? Alguns teólogos respondem com um “sim” e outros com um “não”.

Alguns eruditos dizem-nos que a alma não chega a combinar-se com corpo que ela sabe não ser viável, isto é, que não viverá. Nesse caso, o corpo infante, abortado, nunca foi habitado por uma alma. Jó, entretanto, não aceitava esse tipo de teologia. De fato, ele estava interessado unicamente na doce morte que punha fim a todas as coisas, incluindo os sofrimentos.

Que dizer sobre a morte dos infantes e a questão da salvação? Ver no Dicionário o artigo intitulado Infantes, Morte e Salvação dos, que apresenta as várias teologias que acompanham o fenômeno.

Minha vida terminou tão cedo Que não sei Por que começou.

(epitáfio achado no túmulo de um infante, no oeste dos Estados Unidos)

Houve um costume mediante o qual os infantes abortados eram sepultados em poços ou cavernas, mas é provável que a maioria deles tenha recebido sepultamentos normais. Cf. Eclesiastes 6.3-5, que emite sentimentos similares aos de Jó.

Morte, Bendito Nada para Todos (3.17-19)

Os vss. 17-19 falam da igualdade de todos no esquecimento. A morte traz o nada total, e esse nada é igual para todos quantos viveram, sem importar se foram fortes ou fracos, ricos ou pobres, reis ou aldeões, criminosos ou justos, opressores ou oprimidos, grandes ou pequenos, escravos ou mestres. Todos os mortos tornam-se uma massa inexistente, um doce nada. Esses obtiveram a paz final. Não há como Jó pudesse ter contemplado qualquer tipo de vida de uma alma imaterial, combinada com algum julgamento pelo mal e alguma bênção para os justos. Ele não estava dizendo: “A morte torna iguais todas as almas que habitam em um mesmo lugar”. Ele estava dizendo: “A morte produz a não-existên- cia para todos, e isso é bom”.

Compare o leitor os sentimentos expressos por Horácio (Odar. lib. 1. Od. iv. vs. 13).

A morte é o estado

Onde compartilham de uma honra igual,

Aqueles que foram sepultados ou não;

Onde Agamenom não sabe mais Que ele desprezou íris;

Onde o belo Aquiles e Tersites jazem Igualmente nus, pobres e secos.

Os gregos pensavam que era uma calamidade para o corpo morto permanecer insepulto, porquanto isso (alegadamente) impedia a viagem da alma para o mundo dos espíritos. Mas Horácio não viu vantagem em ser sepultado ou ficar insepulto. Outrossim, a sua honra era, de fato, uma desonra. Seu mundo dos espíritos era um lugar lúgubre.

A sorte bate à porta de todo homem, de maneira imparcial. Bate à porta do palácio e à entrada da cabana do campo. A sorte de Jó, pois, não tomou nenhuma alma para alguma outra existência, mas apenas deixou corpos, sepultos e insepultos. Que diferença fazia se aqueles corpos haviam sido antes grandes homens ou homens comuns? Que diferença fazia que alguns tivessem construído pirâmides, e outros cabanas sem janelas?

A morte devora tanto os cordeiros como as ovelhas.

A morte é a grande niveladora.

(Provérbio de século XVII)

0 Clamor (3.20-26)

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1878.

Jó está pensando no Sheol, onde grandes e pequenos, bons e maus dormem o sono eterno da vida.

Supõe que lá haja descanso. É uma espécie de Nirvana budista, onde não há consciência nem sensação alguma. Uma aniquilação de tudo que foi e que poderia ser. Jó conjetura o que seja a morte, para onde vão grandes e pequenos, ricos e pobres, juntando-se todos num mesmo lugar. Lá, pensava ele, haveria paz. Entretanto, quanto mais pensa na morte, tanto mais ela foge dele. Parece que se sente até relativamente feliz, em estar junto com os grandes da terra, mas em paz, onde as paixões da vida não existem, as competições acabaram e os ruídos cessaram. Tudo é silêncio e sossego.

O feitor lá não existe, nem o verdugo; o escravo está livre do seu senhor, e a tarefa da senzala já terminou. O Sheol é um mundo negativo, mesmo na teologia judaica, onde todos aguardam o dia da sua recompensa. É um mundo parado. O silêncio é eterno, a monotonia é completa. É a negação da vida ativa, da luta pelo melhor.

Para Jó, no entanto, era isso que convinha, que o convidava, que o seduzia. Fugir da vida, desta vida de dores, de sofrimentos, de injustiças, eis a sua suprema aspiração. Entretanto a morte estava muito longe; agarrados a ele estavam só as suas feridas, os seus tumores, os pesadelos e sobressaltos. Este era o seu viver presente e era-lhe abominável. A morte, sim, era doce, suave, mbora longe; isso o devorava, pois não cândida e acalentadora, e tinha idéia do fim da sua situação, se demoraria ou se seria em breve; e, uma vida assim é, sem dúvida, mil vezes mais insuportável do que a pior das mortes. Ai estaria toda a solução da vida de Jó. Não havia outra alternativa.

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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3. Uma realidade para o cristão.

Ele os consola com uma promessa de paz em si mesmo, em virtude da sua vitória sobre o mundo, sejam quais forem as dificuldades com que eles se depararem (v. 33): ‘“Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz’. E, se não a tiverdes comigo, não a tereis nunca, de maneira nenhuma, pois no mundo tereis tribulações.

Vós não deveis esperar por mais ninguém, mas deveis alegrar-vos, pois Eu venci o mundo”. Observe:

1. O objetivo que o Senhor Jesus Cristo tinha ao pregar este sermão de despedida aos seus discípulos: que nele, eles pudessem ter paz. Com isto, Ele não pretendia dar-lhes uma visão completa daquela doutrina da qual, em pouco tempo, eles se tornariam mestres, pelo derramamento do Espírito, mas somente fazê-los perceber, neste momento, que seu afastamento deles tinha, realmente, as melhores intenções. Ou podemos interpretar de maneira mais genérica: Cristo tinha dito tudo isto a eles, para que, quando se alegrassem nele, pudessem sentir a melhor alegria em si mesmos.

Observe: (1) É a vontade de Cristo que todos os seus discípulos tenham paz interior, quaisquer que sejam os problemas externos. (2) A paz em Cristo é a única paz verdadeira, e somente nele os crentes a têm, pois Ele mesmo é nossa paz, Mateus 5.5. Por intermédio dele, nós temos paz com Deus, e, da mesma forma, nele, nós temos paz no nosso espírito. (3) Este é o objetivo da Palavra de Cristo, que nele possamos ter paz. A paz é o fruto dos lábios, e especialmente dos lábios santos do Senhor Jesus, Isaías 57.19.

2. A acolhida que eles provavelmente encontrariam no mundo: “Vocês não terão uma paz exterior, nunca esperem tê-la”. Embora fossem enviados para proclamar a paz na terra, e a boa vontade para com os homens, eles deveriam esperar problemas na terra, e má vontade por parte dos homens. Observe que a sorte dos discípulos de Cristo era ter tribulações neste mundo, maiores ou menores.

Os homens os perseguem por serem tão bons, e Deus os corrige por não serem melhores. Os homens desejam eliminá-los da terra, e Deus deseja, pelos sofrimentos, torná-los adequados para o céu. E desta maneira, entre ambos, eles terão tribulações.

3. O incentivo que Cristo lhes dá com referência a isto: “Mas tende bom ânimo”, tharseite. “Não somente se sintam consolados, mas tenham coragem. Tenham bom ânimo, e tudo ficará bem”. Observe que, em meio às tribulações deste mundo, é o dever e o interesse dos discípulos de Cristo ter bom ânimo, para que possam conservar seu deleite em Deus, independentemente daquilo que os estiver pressionando.

E sua esperança em Deus também deverá ser mantida, independentemente daquilo que os estiver ameaçando. Eles, sem dúvida, estarão contristados, de acordo com o estado de espírito da ocasião, e ainda assim estarão sempre alegres, sempre de bom ânimo (2 Co 6.10), mesmo em meio às tribulações, Romanos 5.3.

4. A base para tal incentivo: “Eu venci o mundo”. A vitória de Cristo é um triunfo ciistão. Cristo venceu o príncipe deste mundo, desarmou-o, e expulsou-o. E ainda esmaga Satanás debaixo dos nossos pés (Rm 16.20). Ele venceu os filhos  este mundo, pela conversão de muitos à fé e à obediência do seu Evangelho, tornando-os filhos do seu reino.

Quando Ele envia seus discípulos para pregar o Evangelho a todo o mundo, “Tende bom ânimo”, diz Ele, “‘Eu venci o mundo’, e assim como Eu venci, vós também vencereis.

Embora tenhais tribulações no mundo, ainda assim ganhareis seu espaço e cativareis o mundo”, Apocalipse 6.2. Ele venceu os maldosos do mundo, pois muitas vezes o Senhor silenciou seus inimigos, pela vergonha. “E tenham bom ânimo, pois o Espírito os capacitará para que possam fazer a mesma coisa”. Ele venceu as coisas malignas do mundo, sujeitando-se a elas. Ele suportou a cruz, desprezando-a, e se sujeitou a uma grande vergonha.

O Senhor também venceu as coisas boas deste mundo, estando completamente morto para elas. Seus olhos não viram beleza nas suas honras, nem encantos nos seus prazeres. Nunca houve no mundo um vencedor como Cristo, e nós devemos nos sentir encorajados por isto: (1) Pelo fato de Cristo ter vencido o mundo antes de nós, podemos considerar o mundo como um inimigo derrotado, que muitas vezes foi frustrado.

Na verdade: (2) O Senhor o venceu por nós, sendo o capitão da nossa salvação. Nós temos interesse na sua vitória.’ Pela sua cruz, o mundo foi crucificado para nós, o que indica que o mundo foi completamente derrotado e transferido para nossa possessão. Tudo pertence ao Senhor, até o mundo.

Tendo Cristo vencido o mundo, os crentes nada têm a fazer, senão buscar sua vitória e dividir os despojos. E isto nós fazemos pela fé, 1 João 5.4. Nós somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 1011.

Em uma nota final de encorajamento, Jesus prometeu aos discípulos paz por meio da união com Ele – pois Ele venceu o mundo ao ressuscitar dos mortos. O mundo, o sistema de Satanás que é contrário a Deus, irá causar aos crentes muitas aflições.

Mas Jesus derrotou o sistema de Satanás, obteve a vitória e venceu o mundo. Antes da sua própria aflição, Jesus já podia falar de uma missão cumprida. Isto acrescenta impacto à sua vitória sobre Satanás, uma vez que Ele não só a obteve, mas também a predisse! Os discípulos poderiam alegrar-se continuamente com a vitória porque estavam no time vencedor.

Jesus resumiu tudo o que lhes tinha dito esta noite, unindo temas de 14.27-29,16.1-4e 16.9-11. Com estas palavras Ele disse aos discípulos que tivessem coragem. Apesar das lutas inevitáveis que teriam, eles não estariam sós. Assim como o Pai de Jesus não o deixou sozinho, Jesus também não nos abandona nas nossas lutas. Se nos lembrarmos de que a vitória definitiva já foi obtida, podemos reivindicar a paz de Cristo nos tempos mais conturbados. Jesus quer que tenhamos paz.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 585.

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III – TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUECONTINUO VIVO? (3.20-26)

1. Vale a pena viver?

Por que se concede vida ao miserável…? Seria um desserviço a Deus dar vida a um corpo que, ao chegar ao estágio adulto, experimentasse miséria e dor? Qual o propósito servido pelo sofrimento humano? Jó lutou com o problema do mal, quanto à exposição dos principais problemas do livro de Jó. Por que os inocentes sofrem? Compreendemos a lei do carma, isto é, a lei moral da colheita segundo a semeadura.

Mas tal lei não resolve o porquê do sofrimento. Algumas vezes os homens sofrem sem causa (aparente). Jó 2.3 diz que Jó “sofreu sem causa”, ou seja, “sem razão alguma”. Pode o caos atacar a um homem justo’, enquanto Deus se põe de lado e não presta atenção a coisa alguma? Jó debateu-se com os mistérios da providência divina. Sua mente estava perplexa diante de enigmas. Por muitas vezes, em seu solilóquio (capítulo 3), Jó perguntou “Por quê?’. Ver os vs. 11,12,16,23 e cf. Jó 7.20 e 13.24.

Para Jó, era incongruente que a vida tivesse sido usada somente para fomentar o sofrimento. Portanto, ele perguntava “por quê?’.

Jó estava laborando definitivamente sob a ilusão de que a vida humana é algo que acontece uma única vez, e a morte extingue essa vida, que antes um homem tivera. Se ele pudesse ver uma vida de sofrimentos como somente um capitulo na história contínua da alma, então poderia ter posto essa vida sob melhor perspectiva. A Igreja Ortodoxa Oriental acredita na preexistência e na pós- existência da alma, e crê que a associação com o corpo seja uma vicissitude da alma. A Igreja Ocidental, por sua vez, acredita na sobrevivência da alma após a morte biológica. As religiões orientais acreditam na imortalidade e na reencarnação.

Todas essas respostas são melhores do que a teologia deficiente de Jó. A visão patriarcal de Jó sobre o homem não era capaz de tratar com o problema do sofrimento. A visão patriarcal fornecia ao homem apenas uma única existência física. A teologia posterior dos hebreus remediou isso até certo ponto. Nosso conhecimento sobre a alma continua a crescer. Sabemos mais agora sobre a natureza espiritual do homem do que sabíamos no começo do período neotestamentário. A teologia é uma ciência em contínuo crescimento e, conforme ela cresce, o quadro se torna mais otimista, e não pessimista.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1878.

A morte, para o cristão, é um fato natural e até a mensageira de Deus, que bem-vindo, quando encarada como vem buscar o servo cansado das agruras desta vida. Foi assim para São Francisco de Assis, que a chamava de “morte, doce, morte”. Para Jó seria a fuga do desespero; a luz, que a morte era para ele o fim tenebroso de tudo. lega aos servos de Deus, Então a sua queixa: Por que se concede luz ao Miserável e vida aos anmrgurados de coração (vv. 20,21).

A luz, bênção mui desejável aqui e além, era para Jó o sofredor, o contrário. As trevas lhe eram supremo desejo. Os que esperam a morte, e ela não vem, são infelizes, pois a vida não interessa aos desesperados. Esta linguagem não implicava numa acusação a Deusp porquanto, Jó manteve integralmente a sua devoção ao Criador; está, fala no vazio. Cremos que, no íntimo de sua alma, restava a esperança em Deus, e isso mostrou noutros discursos, se bem que aqui coloque frente a frente a sua situação de indescritível desespero.

É assim que se deve entender a linguagem um tanto arrogante de Jó. Uma queixa, quando muito, pois Deus foi quem lhe mandou esta prova. Um homem como Jó cava pela morte mais do que por tesouros escondidos. Seu sonho predileto: morrer, descansar. Um túmulo era a coisa mais desejável; isso que horroriza a tantos era mina para ele (v. 21).

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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2. Sem o favor de Deus?

Por que se concede luz ao homem…? Luz, neste versículo, significa vida através do nascimento. Ser trazido à iuz é ser trazido à vida física. Confiamos em que Deus nos cerque, isto é, ponha uma barreira de proteção ao nosso derredor, mantendo fora o mal e os sofrimentos. No caso de Jó, pelo contrário, ele foi cercado por sofrimentos, cortado de toda a ajuda externa e mantido prisioneiro em sua casa de dores. Jó estava perplexo diante da ação reversa de Deus. Quando deveria ter sido protegido, foi perseguido por males de toda a espécie. A muralha que Deus construíra, a fim de manter a miséria de fora, mostrou ser o portão pelo qual a dor entrou. Neste versículo, Jó, pela primeira vez, atribuiu suas calamidades diretamente a Deus.

A teologia dos hebreus era fraca quanto a causas secundárias para quem Deus fora feito Única Causa e, portanto, até a origem do mal. Mas a vontade de Deus era considerada suprema, e ninguém podia falar contra isso. Esse é o tipo de teologia que encontramos em Rom. 9, o que significa que essa forma de teologia sobreviveu no tempo do Novo Testamento. Uma teologia mais iluminada, tanto dentro quanto fora do Novo Testamento, reconhece o livre-arbítrio humano como a existência de causas secundárias que explicam o mal. A teologia hebraica primitiva criou um Deus voluntarista, cuja vontade é suprema e age contra a moralidade, conforme os homens a entendem. Ver Jó 1.11, quanto aos vários problemas do livro criados pelas diversas formas de teologia primitiva.

Ver Jó 1.10, quanto ao uso que Satanás fez da palavra “sebe’ (cerca) para indicar os cuidados protetores de Deus. Algo na ordem da criação havia saído errado. As aves entoavam um cântico contrário. O sol estava muito quente. A natureza pisava sobre Jó. Temores deixavam sua mente perplexa. Quem se responsabilizaria por todas essas crises, por toda essa dor?

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1879.

O sofrimento faz perder a noção das coisas e leva o sofredor a inverter os valores da vida. A morte, para uns, é o fim de tudo; para Jó era o começo, era o descanso. A luz que alegra os olhos a, por cuja causa tudo vive e existe, e sem e dá vida à naturez ela tudo morre era para ele um contrassenso, porque não sabia para onde estava caminhando. Comentou uni certo escritor: “A luz sem liberdade é uma pobre dádiva.” A luz, para um encarcerado a penas perpétuas, é uma concessão mesquinha; ainda assim, todos os condenados a querem, pois é melhor que a morte, que ninguém deseja.

Só os loucos preferem morrer, a viver. É o último ato que um pobre mortal pode praticar a morte. Acredita-se que os suicidas são criaturas que perderam a esperança da vida. A morte para os tais é uma felicidade, porque termina tudo, pensam. Esta era a situação de Jó. Por que se concede luz àquele cujo caminho é escuro, oculto, àquele a quem Deus (Elohim) cercou por todos os lados? (v. 23).

Para os tais, parece, não havendo salda para a vida, a morte é mesmo o melhor. Neste ponto Jó estaria com a razão. Essa filosofia é discutível numa pessoa que ainda conserva o senso das coisas, ainda não enlouqueceu; todavia, a dor também enlouquece. Só o amor a Deus e a segurança da Sua presença podem dar, ao aflito, o consolo e a coragem para desejar viver. Temos visto pessoas sofrendo fisicamente as maiores agonias, mas lucidamente louvando a Deus; no entanto, há sofrimento moral que perturba tanto os sentidos, que oblitera a razão, e tudo se altera em tal pessoa (compare o verso 23 com o Sal. 118:5). Por que, em vez do meu pdo, me vêm gemidos (v. 24).

Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

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3. Um caminho de sabedoria e maturidade.

3.1 As palavras gregas na frase “já ressuscitastes” expressam certeza. Uma vez mortos em seus pecados, estes crentes foram ressuscitados, assim como Cristo foi ressuscitado pelo poder de Deus. Eles tinham recebido de Deus uma nova vida, através do poder do Espírito Santo.

Eles não precisavam lutar e trabalhar para alcançar esta vida, como os falsos mestres estavam tentando lhes dizer; eles já tinham a nova vida! O que restava era colocar em prática as suas implicações na vida cotidiana. Por terem sido ressuscitados, tinham uma clara responsabilidade para com Cristo, que os havia ressuscitado.

Primeiro, eles deveriam buscar as coisas que são de cima. A palavra grega para “buscar” significa procurar algo com o desejo de possuí-lo.

Os outros mestres religiosos também enfatizavam as “coisas celestiais”, mas Paulo estava recorrendo à realidade mais elevada de todas, o Cristo exaltado. Os crentes devem tirar o seu principal enfia que do mundo e volta-lo para Cristo, que está assentado à destra de Deus, no lugar de honra e poder O trono de Cristo à destra de Deus revela o seu poder, autoridade e posição tanto de Juiz como de Advogado. Os crentes colossenses já tinham experimentado esta exaltação; eles precisavam se dedicar a viver a vida na terra como cidadãos do céu.

3.2 “Pensar nas coisas que são de cima” significava concentrar-se no eterno em vez do temporal, deixando que os seus pensamentos habitassem o reino de Cristo. Eles deveriam se concentrar no Senhor Jesus. Os pensamentos podem influenciar as ações, de modo que, se os crentes colocassem os seus pensamentos nas coisas de cima, e não nas que são da terra, suas ações agradariam a Deus. As coisas na terra referem-se aos rituais legalistas, aos métodos falsos usados para se alcançar a santidade, e até aos princípios básicos do mundo que são descritos no capítulo 2.

Mas, como eles poderiam ter os seus pensamentos repletos com as coisas do céu? Paulo havia explicado isto em uma outra carta: “Tudo o que é verdadeiro,… honesto,… justo,… puro,… amável,… de boa fama,… se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8; veja também Cl 3.12).

Eles não deveriam viver como céticos em algum reino místico e visionário; antes, Paulo estava dizendo que, ao buscarem as coisas que são de cima, a vida deles nesta terra seria agradável a Deus, e eles ajudariam a realizar a obra de Cristo.

3.3,4 O tempo verbal grego aoristo, na frase “porque já estais mortos”, denota que morremos quando Cristo morreu. Isto aconteceu em um ponto da história. Na morte de Cristo, todos os crentes morreram (2.20).

Então, como uma semente enterrada na terra, a verdadeira vida do crente está escondida do mundo, assim como a glória de Cristo está escondida, para ser revelada apenas quando Ele voltar (3.3,4). A vida espiritual dos crentes é uma vida interior escondida que está em união com Cristo, que os trouxe para que estejam com Ele em Deus.

Um dia, quando Cristo se manifestar em sua glória, os crentes também se manifestarão com ele em glória. A vida divina de Cristo será plenamente revelada e nos glorificará (revelará o nosso verdadeiro potencial como filhos de Deus). Os cristãos aguardam ansiosamente o novo céu e a nova terra que Deus prometeu, e esperam a nova ordem de Deus, que libertará o mundo do pecado, das enfermidades, e do mal.

Enquanto isso, eles entram com Cristo no mundo, onde curam os corpos e almas das pessoas e combatem os efeitos do pecado. Cristo nos dá poder para que vivamos para Ele agora, e também nos dá esperança para o futuro — Ele voltará. No restante deste capítulo, Paulo explica como os cristãos devem agir agora, para que estejam preparados para a volta de Cristo.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 415-416.

Evidenciamos a verdadeira conversão quando desejamos as coisas do céu mais do que as da terra (3.1 -4) A verdadeira conversão pode ser percebida: pela nossa identificação com Cristo e pela nossa aspiração por Cristo. Vamos considerar esses dois pontos.

Em primeiro lugar, os convertidos se identificam com Cristo (3.1-4). O apóstolo Paulo menciona os seguintes aspectos da nossa identificação com Cristo.

a. Nós morremos com Cristo (3.3a). Cristo não apenas morreu por nós (substituição), mas nós também morremos com Ele (identificação).333 Estávamos mais pertos de Cristo do que os dois malfeitores que foram crucificados com Ele. Estávamos na cruz do centro. Na cruz Cristo não apenas pagou a nossa dívida com Sua morte, mas também quebrou o poder do pecado em nossa vida. O apóstolo pergunta: “Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm 6.2).

Russell Shedd está correto quando diz que a morte inevitavelmente desliga o morto’ dos interesses deste mundo. De igual forma, na morte com Cristo deve haver uma mudança de 180 graus na ambição do convertido.

b. Nós vivemos em Cristo (3.4a). Cristo é a nossa vida.

Paulo disse aos filipenses: “Para mim o viver é Cristo (Fp 1.21). Aos gálatas, Paulo afirmou: “Não sou eu mais quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (G1 2.20). A vida eterna é Cristo. “Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (ljo 5.12).

A essência da vida eterna é conhecer a Cristo (Jo 17.3).

William Barclay conta que algumas vezes dizemos de alguém: “A música é sua vida. O esporte é sua vida. Fulano vive para trabalhar”. Os tais encontram a vida e tudo o que ela significa na música, nos esportes e no trabalho. Para o cristão, porém, Cristo é a vida. Jesus Cristo domina seu pensamento e preenche sua alma.

c. Nós ressuscitamos com Cristo (3.1a). A expressão grega ei oun synegerthete fala de uma ação completada. Ela pode ser traduzida como segue: “Tendo em vista que vocês ressuscitaram”. Os cristãos possuem dentro de si mesmos a vida da ressurreição. Portanto, devem experimentar o poder da ressurreição de Cristo em um grau cada vez mais alto.

O apóstolo Paulo escreve: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (3.1). A condicional “se” deste primeiro versículo não é uma expressão de dúvida. Todos os que recebem a Cristo estão identificados com Ele na Sua morte, sepultamento, ressurreição e ascensão.

Warren Wiersbe diz que o sentido mais exato desse termo seria “uma vez que”. Nossa posição exaltada em Cristo não é algo hipotético, tampouco um alvo que devemos esforçar-nos para alcançar. E um fato consumado.

E possível estar vivo e ainda viver na sepultura. Em 1986, visitei o Egito e fiquei surpreso ao ver famílias morando dentro do cemitério, na cidade do Cairo. Durante a Segunda Guerra Mundial, vários refugiados judeus esconderam-se em um cemitério; sabe-se até de um bebê que nasceu em um dos túmulos.339 Porém, quando cremos em Cristo, Ele nos tira da sepultura e nos transporta para os lugares celestiais, onde está assentado à destra de Deus.

d. Nós estamos escondidos com Cristo (3.3b). Nós não mais pertencemos ao mundo, mas a Cristo. As fontes da vida nas quais nos alegramos vêm somente Dele.

Russell Shedd está coberto de razão quando declara não haver razão alguma para procurar outras fontes nem meios para o suprimento da vida cristã, como encorajavam os hereges gnósticos. Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (2.3).

William Barclay diz que os falsos mestres achavam que os seus livros guardavam e escondiam a sabedoria. Esses livros, chamados de apokrifoi, eram livros escondidos de todos, exceto daqueles que eram iniciados na leitura. Esses apokrifoi — livros escondidos — continham para o gnóstico os tesouros da sabedoria. Agora, a palavra que Paulo usa para dizer que estamos escondidos com Cristo em Deus é parte do verbo apokrytein, de onde procede o adjetivo apokrytos. Sem dúvida que uma palavra sugere a outra.

E como se Paulo dissesse: “Para vós outros os tesouros da sabedoria estão escondidos em vossos livros secretos; para nós outros, porém, Cristo é o tesouro da sabedoria e nós estamos escondidos Nele”. Estar escondido com Cristo significa que Nele nós temos segurança e satisfação.

A nossa esfera de vida não é mais terrena. Nascemos do alto. Buscamos as coisas do alto. Estamos assentados com Cristo nas regiões celestes. Nossa Pátria está no céu. Aspiramos às coisas do céu. Isso não significa irresponsabilidade com as coisas da terra, mas significa que os nossos motivos e a nossa força vêm do céu, e não da terra.

e. Nós estamos glorificados com Cristo (3.4b). Cristo agora está assentado à direita de Deus Pai no céu, mas um dia Ele virá em glória para nos levar para o lar (lTs 4.1318).

Quando Ele se manifestar, nós, que estamos escondidos com Ele, também seremos manifestados em glória (ljo 3.2). É óbvio que Cristo e nós não somos da mesma essência, como o são o Pai e o Filho. Nada obstante, a vida de Cristo é a fonte e modelo de nossa vida. Na mente e nos decretos de Deus nós já estamos glorificados (Rm 8.30).

Seguindo o modo de falar hebraico, esse é o tempo passado profético. Essa glória simplesmente ainda não foi revelada. Ela ainda está por vir. Geoffrey Wilson, citando F. F. Bruce, diz que “a santificação é a conformidade progressiva à imagem de Cristo aqui e agora; a glória é a conformidade perfeita à imagem de Cristo lá e então. Santificação é glória começada; glória é santificação completada”. O fim do nosso caminho não é o sepulcro coberto de lágrimas, mas o hino triunfal da gloriosa ressurreição. A nossa jornada não terminará com o corpo surrado pela doença, enrugado pelo peso dos anos, coberto de pó na sepultura, mas receberemos um corpo de glória, semelhante ao de Cristo (Fp 3.21).

Nosso choro cessará, nossas lágrimas serão estancadas. Não haverá mais luto, nem pranto, nem dor (Ap 21.4).

Em segundo lugar, os convertidos têm aspiração por Cristo (3.1,2). Essa aspiração por Cristo é descrita pelo apóstolo Paulo de duas maneiras.

a. Os convertidos buscam mais as glórias de Cristo do que as glórias deste mundo (3.1). O verbo grego zeteite, que Paulo usa para “buscar”, está no presente e isso demanda uma aãvidade contínua e habitual. Essa palavra tem também o sentido de “investigar”. Na mesma linha de pensamento,

William Hendriksen diz que o verbo “buscar” implica uma busca perseverante. Este buscar é mais do que um buscar para encontrar; é um buscar para possuir.

Uma pessoa convertida busca em primeiro lugar o reino de Deus e a Sua justiça. Busca prioritariamente as coisas do céu. Aspira mais pelo Reino dos céus do que por riquezas na terra. Um indivíduo convertido tem saudade do céu.

Seus olhos estão postos naquela cidade cujo arquiteto e fundador é Deus. O céu é o seu lar, sua recompensa, seu prazer, sua origem e seu destino.

b. Os convertidos pensam mais nas coisas do céu do que nas coisas da terra (3.2).

Ralph Martin diz que o verbo phronein, “pensar” significa muito mais do que um exercício mental, e tem pouco a ver com o estado emocional da pessoa. Sua esfera é mais aquela da motivação na medida em que o motivo determina uma linha de ação e a conduta do indivíduo. As coisas do alto deviam inspirar e controlar a vida dos cristãos. Os nossos pés devem estar sobre a terra, mas a nossa mente deve estar no céu. Hoje vivemos a inversão desses valores. Os cristãos querem um paraíso neste mundo e ajuntar tesouros na terra. Estão agarrados às coisas da terra, por isso não aspiram às coisas do céu.

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

5 Lição 4 tri 20 O Lamento de Jó

1° Lição – O Livro de Jó

2° Lição – Quem Era Jó

3° Lição – Jó e a Realidade de Satanás

3 Lição 4 tri 20 Jó e a realidade de Satanás

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