7 LIÇÃO 2 TRI 22 NÃO RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS

 

7 LIÇÃO 2 TRI 22 NÃO RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS

7 LIÇÃO 2 TRI 22 NÃO RETRIBUA PELOS PADRÕES HUMANOS

 

 

TEXTO ÁUREO

 

“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lv 19.18)

 

 

VERDADE PRÁTICA

 

O cristão não deve guardar rancor e nem buscar vingança. Antes, deve vencer o mal com o bem. Dessa forma, ele demonstra que verdadeiramente teve o seu caráter transformado por Cristo.

 

LEITURA DIÁRIA

 

Segunda – Rm 12.19-21 Vença o mal com o bem

 

Terça – Pv 20.22 Espere a vitória pelo Senhor

 

Quarta – Is 35.3-4 O Senhor virá com vingança

 

Quinta – Dt 32.35 A vingança pertence ao Senhor

 

Sexta – Jr 15.15 Orando pelo auxílio de Deus

 

Sábado – Rm 2.6-8 Deus retribuirá a cada um

 

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

Mateus 5.38-48

 

38 – Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente.

 

39 – Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;

 

40 – e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa;

 

41 – e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.

 

42 – Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

 

43 – Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo.

 

44 – Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem,

 

45 – para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.

 

46 – Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

 

47 – E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?

 

48 – Sede vós, pois, perfeitos, com o é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.

 

 

Hinos Sugeridos: 324, 432, 438 da Harpa Cristã

 

 

PLANO DE AULA

 

1- INTRODUÇÃO

Quando se recebe uma ofensa, a reação natural é devolvê-la com outra. Entretanto, o Senhor Jesus nos convida a agir de uma maneira mais elevada, pondo em prática a instrução divina de acordo com o Sermão do Monte. Nesse sentido, retribuir o mal com o bem é uma ação que vem do Céu. O crente cheio do Espírito Santo é capaz de viver esse ensino do Sermão proferido pelo nosso Senhor.

 

2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição:

I) Avaliar que a vingança não é de natureza do Reino;

II) Validar que o amor é a expressão natural do Reino”;

III) Valorizar a busca pela perfeição na perspectiva do Reino de Deus. B) Motivação: Retribuir o mal com o bem é transcender o senso comum de que temos que pagar a ofensa na mesma moeda. Fazer o bem é o melhor antídoto para deter o mal: “ Não te deixes vencer o mal, mas vence o mal com o bem ” (Rm 12.21).

C) Sugestão de Método: A perfeição cristã está fundamentada na prática do amor, com o bem formula o terceiro tópico. Por isso, enfatiza ao longo da exposição em classe as expressões: “oferecer a outra face”; “caminhar duas milhas”; “não desviar de quem pede emprestado”; “amar o inimigo”; “saudar quem não é irmão”. Todas essas expressões estão no cerne do desenvolvimento da perfeição cristã (Mt 5.48).

 

3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: A presente lição deve levar o aluno a conscientizar-se a respeito da incoerência da vingança com a prática cristã. “Pagar na mesma moeda” nada tem a ver com o estilo de vida cristão. Por isso, o seguidor de Jesus é estimulado a desenvolver o fruto do Espírito na vida cristã.

 

4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas. Na edição 89, p.39, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final dos tópicos, você encontrará dois auxílios que darão suporte na preparação de sua aula

1) O texto “Amar os Inimigos”, localizado após o segundo tópico, amplia o ensinamento a respeito do amor aos inimigos;

2) O texto “ Sobre a Perfeição ”, localizado ao final do terceiro tópico, traz uma reflexão a respeito da perfeição cristã, com o que o texto do Sermão do Monte nos estimula a buscar esse ideal bíblico.

 

 

INTRODUÇÃO COMENTÁRIO

 

Quando as pessoas nos ofendem, muitas vezes a nossa primeira reação é desejar a vingança. Mas Jesus, ao contrário, disse que devemos fazer o bem àqueles que nos ofendem! Ao invés de nos vingar, devemos amar e perdoar. Isso não é uma coisa natural, é sobrenatural. Somente Deus pode nos dar forças para que amemos com o Ele ama.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Estaremos agora adentrando a quinta ilustração dita por Cristo Jesus, conforme leitura de Mateus 5.38-42. Vamos analisar essa seção de Mateus, primeiramente, para descobrir o porquê de constar na Lei mosaica e de ser reforçada por Cristo Jesus.

Antes de prosseguirmos com nossa análise textual, de imediato podemos dizer que cumprir o que Jesus ensina só é possível pela nova natureza implantada pelo seu Santo Espírito, dependendo constantemente dEle. Se assim não for, jamais conseguiremos evidenciar amor para com as pessoas perversas e inimigas. Nas páginas anteriores, expusemos que o pecado nos tornou seres de natureza maléfica, de modo que quando sofremos uma ofensa, um ataque de qualquer pessoa, logo estamos prontos para reagir com todo o ímpeto, não somente isso, queremos um revide maior para tal erro cometido.

Para seguirmos a recomendação de Cristo: “Não resistas ao perverso”, que do grego é o ponerós, uma pessoa de natureza ou condição má, só mesmo se for uma nova criatura (2Co 5.17), caso contrário, logo que for ofendido por alguém buscará vingança, o que pode envolver tanto perdas no campo físico como até mesmo a própria vida. Na essência de uma natureza não transformada aloja-se a ira carnal, que busca de imediato reagir sem medir as consequências, uma vez que deseja a retaliação custe o que custar.

O apóstolo Paulo nos aconselha a irar, mas não pecar (Ef 4.26).

Com tais palavras ele esclarece que o cristão que vive em Cristo não procede mais como um pagão, o qual age segundo seu propósito e entendimento, escurecido pelas trevas do pecado sem qualquer ligação com Deus (Ef 2.12; Cl 1.21), por isso se entrega a um estilo de vida sem compromisso, sem perdão e sem amor, pois vive na devassidão (Cl 3.5).

É possível, para o cristão, ter um padrão elevado como consta em Mateus 5.38-42 porque nosso coração e nossa mente estão dominados pelos verdadeiros ensinos de Jesus Cristo. Aquele que aprende dEle torna-se manso e humilde (Mt 11.28,29), de modo que no seu coração não há espaço para que o homem velho com suas concupiscência e atos pecaminosos de ódio e vingança reine; pelo contrário, pela presença do novo homem somos impulsionados a ter disposição de amor, justiça, santidade, verdade e bom tratamento para com o próximo.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 123-124.

 

 

Jesus intensifica novamente a força da antiga lei, transcende-a e cumpre o seu âmago. O princípio de olho por olho e dente por dente era comum no antigo Oriente Próximo e tinha o desígnio de manter feudos de sangue sob controle (Êx 21.24,25; Lv 24.20; Dt 19-21). Jesus exige que seus seguidores não reclamem seus direitos, que “não resistam ao mal”. Ele não está nos instruindo a ficarmos sentados passivamente enquanto o mal triunfa, ou a sermos cúmplices implícitos de violência física quando podemos mantê-la sob controle. O sentido de Jesus levantar-se em favor do bem e atacar o mal torna impossível tal ideia. Considerando o contexto que se segue, parece que Ele está chamando os discípulos para rejeitarem seus direitos legítimos de propriedade e reparação de queixas. “Mal”, neste contexto, não é tanto o Diabo ou o oposto do bem ideal, mas é aquele que quer desapossar injustamente o discípulo de sua dignidade ou propriedade.

Os exemplos que se seguem são exatamente isso, exemplos cie como vivenciar o princípio. Mas qual é o princípio? Não é que os discípulos de Jesus devem ser intimidados à vontade ou que eles não são muito importantes. A resposta acha- se nas bem-aventuranças cruciais, onde temos a chave para destrancar o significado do restante do Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. Os mansos, os pobres de espírito, entendem que têm total confiança em Deus para o sustento próprio, e não nos recursos efêmeros e ilusórios das instituições do mundo. Santo Basílio, quando ameaçado por Modesto, o ajudante de toda confiança do imperador, com o confisco de sua propriedade, replicou: “Como podes ameaçar um homem que está morto para o mundo? Com exceção de minhas roupas e alguns livros, não tenho mais nada. Quanto à morte, ela me impulsiona para onde desejo estar” (Gregório, Panegeric ofBasil[Panegírico de Basílio]).

A maior questão não é “os meus direitos” mas os assuntos do Reino de Deus. A pessoa pode estar legalmente correta numa ação judicial e acabar totalmente emaranhada no materialismo. “Algo tão bom nos aconteceu que não há nada comparativamente que possa sertão ruim” (rev. RobertJ. Stamps) Os discípulos podem se prender ligeiramente aos bens deste mundo porque eles sabem que Deus os sustentará. Deus é a sua fonte e fundação; tudo o mais é areia movediça.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pag.47-48.

 

 

As duas antíteses finais levam-nos ao ponto mais alto do Sermão do Monte, pelo qual ele tem sido mais admirado e, ao mesmo tempo, objeto da maior indignação. Trata-se da atitude de amor total que Cristo manda que demonstremos ao perverso (v. 39) e aos nossos inimigos (v. 44). Em nenhum outro ponto o Sermão é mais desafiador do que neste. Em nenhum outro ponto a nitidez da contracultura cristã é mais óbvia. Em lugar nenhum nossa necessidade do poder do Espírito Santo (cujo primeiro fruto é o amor) é mais constrangedora.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 48.

 

 

Palavra-Chave: RETRIBUIÇÃO

 

 

I – A VINGANÇA NÃO É NATUREZA DO REINO

 

 

1- A Lei de Talião.

 

A Lei de Talião, olho por olho, dente por dente (Mt 5.38), pode ser definida como o castigo dado ao culpado, fazendo-o sofrer o mesmo mal ou dano que causou à vítima (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21). Esse era o princípio da justiça visto na Lei de Moisés. É preciso compreender a natureza dessa ordem do Senhor, que não intencionava acirrar os homens a retribuir a agressão de qualquer maneira, e sim colocar um certo limite, não deixando que o vingador fizesse uma execução maior que o crime. Na verdade, essa lei procurava ajustar o castigo ao crime. A lei do Talião se tratava de uma norma para os tribunais civis, que no seu propósito desejava que em particular a pessoa jamais praticasse a vingança.

Não há nessa lei qualquer incentivo à vingança pessoal, pelo contrário, quando uma pessoa sofresse algum dano, era com um que ela desejasse que a justiça fosse feita e que os tribunais administrassem a devida punição (Lv 24.14; Dt 19.15-21). Os fariseus fizeram uma má interpretação desta lei, usando-a com o propósito de justificar a vingança a retribuição pessoal, descaracterizando-a do seu real objetivo, isso porque em momento algum a Lei de Moisés defendia a busca pela vingança, mas eles a citavam buscando destruir o seu significado real (Mt 15.3,6). A Bíblia proíbe terminantemente a vingança pessoal (Lv 19.18; Pv 20.22; 24.29).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

O texto bíblico de Mateus 5.38-42, que comumente é chamado de lei de talião, na verdade, trata-se da lei da vingança. A exposição que será feita por Cristo novamente irá contrastar com seus opositores, mostrando o espírito real da Lei de Moisés: “Olho por olho, dente por dente” (Mt 5.38), cuja base é o texto de Êxodo 21.24. Em Levítico 24.17-21, vemos detalhadamente a lei da vingança, a qual dizia: quem matar, seja morto; quem matar um animal, substitua-o por outro; quem desfigurar o próximo, seja desfigurado.

Interessante observar que a prática dessa lei era desenvolvida não somente pelos judeus, mas também por outros povos, como os romanos e os gregos, com exceção da cidade de Atenas, que, no caso de alguém levar um homem a perder um de seus olhos, então teria que pagar com os seus dois olhos.

Compreendemos que havia um motivo especial da parte de Deus para a aplicação da lei de talião¸ que era controlar os excessos provocados pela ira para se buscar vingança. Isso era muito relevante porque não somente evitava os excessos, mas não deixava que a pessoa agisse descontroladamente, pois desse modo provocava uma desordem no meio da sociedade. Essa lei viria como uma forma de limitar os abusos por parte do homem, assim, podemos notar o quanto Deus é maravilhoso, bondoso e deseja o bem da humanidade.

Ele não quer que vivamos sem ordem e sem equilíbrio nem dominados por um espírito de vingança descontrolada, por uma tirania cruel, mas que vivamos seguindo preceitos, normas, as quais visam gerar equilíbrio, igualdade e equidade.

Se essa lei tinha como objetivo limitar os excessos, inclusive a aplicação do castigo seria equivalente à ofensa, aplicou-se a mesma no caso de adultério, divórcio e juramento. A importância dessa Lei mosaica é que ela como princípio de justiça teria que ser legal e ordeira, jamais exigindo além da conta, adotando uma correlação justa entre o crime e o castigo que seria imposto, e o que se buscava com a sua aplicação era que o erro fosse punido e a justiça prevalecesse.

Quem deveria aplicar essa lei não eram as pessoas individualmente, mas, sim, os juízes de Israel; a eles caberia o julgamento para evitar a vingança excessiva e manter tudo dentro dos limites, em especial, a boa ordem. Esses homens não somente eram os guardadores da Lei, mas cumpridores dela. Eles deveriam analisar se de fato ela estava sendo cumprida na íntegra. É maravilhoso quando os poderes legais agem dentro das normas buscando fazer justiça de modo correto, julgando sem imparcialidade; isso gera confiança e um senso de bem estar entre a sociedade É bem possível que no ensino de Cristo, já combatendo os escribas e os fariseus, seu destaque envolvesse também a vingança particular, isto é, de indivíduos, o que era algo fora da Lei, pois, quando lemos Levítico 19.18, vemos que era errado procurar fazer justiça com as próprias mãos. Nas explicações de Cristo sobre esse assunto não havia apenas a Lei, mas uma junção dela com a misericórdia. Isso pode ser constatado pelo fato de sua política do Reino de Deus levar em consideração algo mais nobre, elevado. Como estudamos anteriormente, Jesus não quebrou a Lei, mas foi superior em muitos ensinos do que os propostos pelos antigos.

Havia dois grandes erros na interpretação dos escribas e dos fariseus feita nesse particular no tocante à Lei. Em primeiro lugar, eles levavam essa vingança para o lado pessoal, esquecendo-se de que cabia aos juízes tal responsabilidade. A outra questão é que eles só pensavam na execução, o que revelava um espírito legalista, sem qualquer ato de misericórdia para com o próximo. Jesus interpreta de modo bem diferente e diz que seus seguidores não devem nunca agir dominados pelo sentimento de ódio, vingança, pelo contrário, eles devem manifestar atitudes que revelem um espírito cheio de amor, generosidade e compassividade para com quem precisa.

Só podemos entender perfeitamente a interpretação de Cristo quando chegamos em Mateus 5.39 (ARA): “Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso[…]”. Os que agora vivem em Cristo Jesus e que adotaram a política do seu Reino possuem um novo espírito (Mt 5.8), de modo que não ficam presos à letra da Lei (2Co 3.6), mas irão manifestar novas atitudes: não resistir aos perversos.

Os perversos são homens que vivem ainda na velha natureza e que são instigados por Satanás a praticarem o mal. Eles manifestam atitudes violentas, sem amor, ao contrário do cristão, cuja vida já foi mudada por Cristo, e, por isso, não reage com o espírito vingativo. Obviamente, o cristão poderá defender-se deles.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 125-128.

 

 

A LEI ANTIGA

Mateus 5:38-42

Há poucas passagens no Novo Testamento que contenham com tanta pureza a essência da ética cristã como esta que examinamos agora. Nestas se expressa linhas a ética característica da vida cristã, e o comportamento que deveria distinguir ao cristão de outros homens.

Jesus começa citando a lei mais antiga que tenha existido – olho por olho e dente por dente. Esta lei se conhece com o nome latino Lex Talionis, e poderia descrever-lhe como lei da reciprocidade direta. Aparece no Código do Hamurabi, o código de leis mais antigo que se conhece – data dos anos 2285 a 2242 a.C., data do reinado daquele soberano em Babilônia. O código do Hamurabi estabelece uma distinção muito curiosa entre o nobre e o plebeu. “Se alguém provocou a perda de um olho a um nobre, pagará com seu próprio olho. Se tiver arruinado uma das extremidades de um nobre, pagará com uma de suas próprias extremidades. Se ocasionar a perda de um olho ou de um membro a um homem pobre, pagará uma mina de prata… Se alguém ocasionar a perda de um dente a um igual, deverá pagar com um de seus dentes, se ocasionar a perda de um dente a um homem pobre, pagará um terço de uma mina de prata.” O princípio é claro e aparentemente singelo: Se alguém machucou a outro de algum modo, ele mesmo deverá sofrer idêntica ofensa.

Essa lei se transformou em parte da ética do Antigo Testamento. Encontramo-la explicitamente pelo menos três vezes, ou seja: ” Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe” (Êxodo 21:23-25); “Se alguém causar defeito em seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará” (Levítico 24:19, 20); “Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Deuteronômio 19:21). Com freqüência se citam estas leis como as mais sangrentas, selvagens e impiedosas disposições do Antigo Testamento; mas antes de começarmos a criticar o Antigo Testamento devemos fazer algumas observações.

(1) A Lex Talionis, ou lei da retribuição direta, longe de ser uma disposição selvagem e sanguinária é o princípio da misericórdia. Seu propósito original foi em realidade, a limitação da vingança. A “vingança” e a inimizade de sangue era uma das características da sociedade tribal daqueles tempos. Se um membro de uma tribo matava a um membro de outra tribo, a obrigação de todos os varões membros da segunda tribo era vingar-se em toupeiras os membros varões da primeira, e a vingança procurada não era senão a morte. A lei de talião limita deliberadamente os alcances da vingança. Estabelece que somente deverá ser castigado o responsável pela ferida e que seu castigo não deve ser maior que a ferida que ele infligiu ao outro ofendido. Vista de uma perspectiva histórica esta lei não é selvagem, mas sim uma lei misericordiosa.

(2) Além disso, esta lei nunca deu ao indivíduo, como pessoa particular, o direito de cobrar as ofensas recebidas; sempre se tratava de uma lei, que era aplicada por um juiz mediante um processo legal de caráter público (veja-se Êxodo 19:18). Esta lei nunca teve como propósito dar ao indivíduo, como pessoa particular, o direito de vingar-se pessoalmente. Sempre se tratou de uma norma destinada a guiar um juiz na avaliação da pena que devia aplicar por qualquer ato violento ou injusto.

(3) Mais ainda, esta lei, ao menos em qualquer sociedade semi-civilizada, nunca foi aplicada de modo literal. Os juristas judeus afirmavam, com boa razão, que sua aplicação literal podia ser o contrário da justiça, já que podia significar privar a alguém de um olho são por um olho doente, ou de um dente intacto por um dente cariado. E ligo se estipularam equivalentes monetários das distintas feridas possíveis. O tratado Baba Kamma, por exemplo, um livro de leis judias, estabelece meticulosamente como se deve avaliar uma ofensa. Se alguém feriu a outro, é culpado por cinco motivos – pela ferida em si, pela dor sofrida, pelo custo da cura, pela perda de tempo, pela indignidade sofrida. No que respeita à ferida em si, o ferido se considerava como um escravo que se apresentava à venda no mercado. Estabelecia-se o preço que se pagou por ele antes e depois da ferida. O culpado devia pagar a diferença entre os dois preços hipotéticos já que era responsável pela perda de valor do prejudicado. No que respeita à dor, estabelecia-se quanto dinheiro custaria fazer alguém aceitar sofrer a mesma dor e o culpado devia pagar essa soma. No que respeita a cura o ofensor devia pagar todos os gastos da necessária atenção médica até a completa cura da ferida. No que respeita à perda de tempo, o culpado devia compensar a seu vítima pelos salários que teria cobrado por seu trabalho durante o tempo que não tinha podido trabalhar, assim como uma indenização no caso que a ferida o impedisse de voltar a trabalhar na mesma tarefa que fazia ou tinha antes e precisou aceitar um emprego pior remunerado. Quanto à indignidade sofrida, o ofensor devia pagar uma soma em desagravo pela humilhação que o demandante teria sofrido como conseqüência da ferida. Na prática, o tipo de retribuição que estabelece a Lex Talionis se aproxima muito às disposições legais modernas.

(4) E, o mais importante de tudo, deve lembrar-se que a Lex Talionis não é, de maneira alguma, toda a ética do Antigo Testamento, De modo que no Antigo Testamento encontramos resplendores da mais autêntica misericórdia: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19:18); “Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber” (Provérbios 25:21); “Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta” (Lamentações 3:30). Também no Antigo Testamento abunda a misericórdia.

Assim, pois, a lei antiga se apoia no princípio da retribuição direta. É verdade que esta lei era uma lei misericordiosa; é verdade que devia ser aplicada pelo juiz e não ficava entregue ao arbítrio do indivíduo como particular; é verdade que nunca foi aplicado de modo literal; é verdade que ao mesmo tempo ia acompanhada por expressões de uma autêntica misericórdia. Mas Jesus eliminou os próprios fundamentos daquela lei, porque a vingança, por mais controlada e restringida que seja, não tem lugar na vida cristã.

BARCLAY. William. Comentário Bíblico. MATEUS. pag. 175-178.

 

 

Qual era a permissão do Antigo Testamento, em caso de ofensa. Aqui a expressão é somente: “Ouvistes o que foi dito”; não, como antes, a respeito dos mandamentos do decálogo, aquilo que foi dito pelos antigos, ou para eles. Era um mandamento que todos deveriam, em caso de necessidade, exigir esta satisfação; mas eles podiam, legitimamente, insistir nela, se quisessem. “Olho por olho e dente por dente”. Encontramos este conceito em Êxodo 21.24; Levítico 24.20; Deuteronômio 19.21; em todas estas passagens, está indicado que isto é algo que deve ser feito pelo magistrado, que não traz debalde a espada, porque é ministro de Deus e vingador para castigar aquele que faz o mal (Rm 13.4). Os juízes da nação judaica eram orientados sobre qual punição infligir em caso de mutilação; por um lado, ela era um terror para aqueles que fizessem o mal, e, por outro, uma restrição àqueles que sofressem o mal, para que eles não pudessem insistir em uma punição mais severa do que fosse adequado: não deve se r uma vida por um olho, nem um membro por um dente, mas deve-se observar a proporção; e fica implícito (Nm 35.31) que a perda, neste caso, pode ser redimida com dinheiro, pois quando fica determinado que nenhum resgate pode se r aceito pela vida de um assassino, se supõe que para as mutilações era permitida uma satisfação pecuniária.

Mas alguns dos professores judeus, que não eram os homens mais piedosos do mundo, insistiam que era necessário que tal vingança fosse exigida, até mesmo pelas próprias pessoas, e que não havia lugar para remissão, nem a aceitação de qualquer compensação. Mesmo agora estando sob o governo dos magistrados romanos, em que, consequentemente, a lei judicial estava a critério desses dominadores – eles ainda eram zelosos por tudo o que parecesse difícil e severo.

Este poder que temos é uma orientação aos magistrados, para usarem a espada da justiça de acordo com as leis boas e saudáveis da terra, para o terro r dos mal feitores e a vindicação dos oprimidos. O juiz descrito no Evangelho de Lucas não temia a Deus nem respeitava homem algum, e não promoveria a vingança da pobre viúva contra o adversário dela (Lc 18.2,3). Ela está em vigor como uma regra para os legisladores, para que ajam coerente e sabiamente para distribuírem punições pelos crimes, para limitarem os roubos e a violência, e para fornecerem proteção à inocência.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 57-58.

 

 

2- O cristão e a vingança.

 

Não pode haver no coração de um salvo por Cristo qualquer sentimento de vingança nem que seja para com o pior inimigo, pois ele está consciente de que a vingança de tudo pertence a Deus (Rm 12.19). De acordo com o Comentário Devocional da Bíblia, O princípio de ‘olho por olho no Antigo Testamento estabelecia limites da retribuição que uma pessoa podia exigir. Se alguém lhe ofendesse lhe custasse a visão de um olho, você não poderia, por exemplo, tirar-lhe a vida de maneira justificável. Tudo que você poderia reivindicar seria tirar-lhe a visão de um olho. Agora Jesus ensina a que não governemos nossas relações com os outros segundo o “olho por olho”, de maneira nenhuma! Em vez de tentar se vingar dos outros que o prejudicaram, faça o bem a eles!

A passagem tem aplicação direta ao desafio de Jesus a respeito de valores e atitudes, e descreve a “justiça excelente” e abundante que se espera de nós, no Reino de Jesus Cristo. Nós não exigimos retribuição. Nós fazemos o bem até mesmo àqueles que nos prejudicam. A pessoa que aprende a amar até mesmo os seus inimigos é uma pessoa que viveu o suficiente no Reino de Cristo e uma pessoa que conheceu o seu toque transformador. O salvo em Cristo prega e vive o amor, não o ódio, e tem consciência plena de que Deus tem reservado um dia em que há de julgar todos os pecados da humanidade, tomando vingança de tudo (At 17.31; At 10.42; Rm 2.16; 14.10). Assim compreendemos que a vingança pertence ao Senhor, não a nós (Hb 10.30; Dt 32.35,36; Rm 12.19).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Para o homem que vive na esteira natural, na carnalidade, conforme consta em Gálatas 5.19-21, suas obras sempre serão perversas. Quando sofre qualquer ofensa, procura logo agir com vingança, e, não somente isso, ele quer que a pessoa que lhe causou algum dano sofra muito mais. Os que fazem parte do Reino de Cristo não manifestam tais sentimentos nem atitudes, pois são dominados pela humildade e pureza de coração (Mt 5.3,8). Além disso, aprenderam com o Senhor Jesus a proceder de modo misericordioso com o seu próximo. Quando sofrem algum tipo de mal, não agem com vingança, porque sabem que ela pertence a Deus (Rm 12.19), por isso, estão prontos para sofrer com paciência.

Esse comportamento só é possível para quem vive a política do Reino e tem no seu ser as beatitudes. Partindo dessa visão, tem-se a chave para entender e poder cumprir as ordens de Cristo, como bem ensina. Os bem-aventurados são pobres de espíritos, choram seus pecados, são mansos, querem justiça, são misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, sofrem perseguições. Os que vivem essas verdades espirituais não adulteram, não traem, não mentem, não se vingam, em razão disso vivem o verdadeiro nível de espiritualidade.

Não se pode exigir essas qualidades de um homem não transformado. Afinal, elas não são aprendidas, não vêm por meditação mental, nem podem ser exigidas por um poder estatal; elas são o resultado de uma nova vida que Cristo concede pelo novo nascimento (Jo 3.3,5). Como nem toda pessoa nasceu de novo, é preciso a força da lei para se manter a ordem e evitar os excessos neste mundo onde prevalece a mentira, o roubo e o homicídio.

Algo que a sociedade moderna esquece, que os educadores não falam, mas que os salvos em Cristo sabem muito bem, é que a natureza carnal é maléfica e sem freio, e ela está em nosso ser. Por isso diz o salmista: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5, ARA).

Apesar do avanço tecnológico, educacional, científico, por que ainda as pessoas se matam, se odeiam, são racistas e desprezam umas as outras? Por que se precisa de leis para que os homens não cometam crimes contra as mulheres? Na verdade, porque em cada ser humano há a natureza pecaminosa, assim, como não são transformadas ou não nasceram de novo, precisam da severidade da lei para que os males não se alastrem cada vez mais (1Tm 1.8,9).

Precisamos entender que fora da lei do Espírito Santo de Deus não há outra que possa transformar os homens pecaminosos, isso só vem por meio do poder do evangelho.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 130-132.

 

 

Jesus, aqui no sermão do monte, elimina a antiga lei da vingança limitada, que permitia a retaliação, para introduzir a reação transcendental diante das injustiças sofridas. Jesus destaca três coisas vitais da vida: honra, vontade e bens inalienáveis. Mesmo que as pessoas nos desonrem, ferindo nosso rosto; mesmo que as pessoas nos constranjam a andar, ferindo nossa vontade; mesmo que as pessoas tomem de nós a roupa do corpo, bem inalienável, devemos reagir de maneira transcendente. O cristão não paga o mal com o mal, mas o mal com o bem. Não domina apenas suas ações, mas também suas reações.

Estou de acordo com as palavras de A. T. Robertson:

“Jesus queria dizer que a vingança pessoal é tirada de nossas mãos. O Senhor também condena as guerras agressivas ou as ofensivas que as nações fazem entre si, mas não necessariamente a guerra defensiva ou a defesa contra o roubo e assassinato. O pacifismo profissional pode ser mera covardia”.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 206.

 

 

não devemos vingar-nos das pessoas que nos fazem mal. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (12.19).

A vingança é uma atribuição exclusiva de Deus. Vingar é tentar assumir o comando que só pertence a Deus. E usurpar o lugar de Deus. E ter síndrome de Deus. A retribuição é obra de Deus. Ele sabe o que fazer, quando fazer e na medida certa de fazer. Tentar administrar a vingança com nossas mãos é atentar não apenas contra as pessoas, mas contra o próprio Deus.

A Bíblia fala de José. Ele foi odiado e vendido por seus irmãos. José os perdoou e demonstrou isso de forma dupla: primeiro, dando-lhes o melhor da terra; segundo, dando a seu filho primogênito o nome de Manassés, cujo significado é “Deus me fez esquecer”. José ergueu um monumento vivo ao perdão.

LOPES. Hernandes Dias. Romanos O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 416.

 

 

SINOPSE I

O Cristão não revida o mal de acordo com a lei de Talião. Ele não se deixa dominar pela Vingança

 

 

II – O AMOR É A EXPRESSÃO NATURAL DO REINO

 

 

Para falar da lei do amor desenvolvida por aqueles que fazem parte do seu Reino, Jesus fez uso de quatro ilustrações que estão presentes na vida cotidiana para mostrar como se deve resistir ao mal. Vejamos:

 

1- Virar a outra face.

 

A primeira vai mostrar um insulto recebido por alguém que foi ferido na face. Quando somos esbofeteados, ou quando alguém atinge nossa honra, a primeira reação é agir com as mesmas armas do ofensor, e, às vezes, até mesmo de maneira mais intensa. No entanto, tal atitude não resolve nada, pelo contrário, complica ainda mais a situação. Jesus esclarece que é impossível um cristão, que faz parte do seu Reino e tem o coração cheio de amor, tenha em seu ser atitudes de ódio, desamor e vingança. Quem tem amor, tem perdão, brandura e tolerância. Para muitos, a vingança é sinal de coragem, atitude de quem é forte, porém, pelos ensinos de Jesus, a vingança é atitude de quem é fraco. Todavia, aquele que vira a outra face, esse sim é forte, desarmando o seu ofensor com o seu heroísmo, em especial pela posição de perdoar.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

O salvo em Cristo é consciente de que as pessoas do mundo têm atitudes totalmente diferentes das suas, pois vivem plenamente dominados pelo pecado, são cegos, de modo que o cristão não pode responder semelhantemente a eles. As pessoas do mundo sempre irão priorizar seus interesses; por esse motivo, são a favor da vingança, querem proteger seus interesses pessoais, pois são dominados pelo eu.

O cristão não vive mais no eu; sua mente e coração são dominados pelo evangelho, suas propriedades são as do Reino (Mt 6.33), por isso, às vezes, perdem os seus direitos por causa de Cristo. Vamos começar com o versículo 39 (ARA) que diz: “a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. Não é nada fácil receber uma bofetada e virar a outra face, mas é preciso que entendamos o que realmente Jesus quis dizer com esse ensino. Literalmente, uma bofetada na face queria dizer sofrer um golpe dado por uma pessoa no rosto de outra. Esse ato era visto como grande ofensa. Pela lei judaica, o ato de se ferir ou bater no rosto de alguém logo seria punido com uma multa e castigo. No texto em questão, Jesus estava dizendo que era preciso oferecer a outra face e não procurar os meios legais disponíveis naquele tempo para buscar justiça. Jesus não era um mestre teórico; o que ensinava e pregava Ele praticava. Quando atingiram sua face, sofreu calado (Mt 26.67; Is 50.6; 1Pe 2.23).

O ensino de Jesus, além de não ser tão fácil aos olhos humanos, não soava muito bem aos ouvidos dos judeus. Isso porque, no ambiente que viviam, queriam libertar-se do poder dos romanos, e colocavam Jesus na posição de não ser o Messias, pois quem dispusesse sua face jamais iria opor-se ao poder de Roma. Na verdade, o que os judeus queriam era alguém que se revoltasse contra os seus inimigos, aqueles a quem odiavam. Jesus queria que cada discípulo seu não fizesse nenhuma exigência de direitos, que prontamente desistisse de contendas, brigas, e procurasse ser justo e misericordioso.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 133-134.

 

 

O preceito do Novo Testamento é: quanto ao próprio reclamante, a sua obrigação é perdoar a ofensa que lhe foi feita e não mais insistir na punição, não mais do que for necessário para o bem comum. E este preceito está de acordo com a mansidão de Cristo e a suavidade do seu jugo.

Cristo aqui nos ensina duas coisas:

  1. Não devemos se r vingativos (v. 39). “Eu, porém, vos digo que não resistais ao m al”; à pessoa m á que lhe ofende. Aqui se proíbe, de maneira expressa e geral, a resistência a qualquer mal dirigido a nós, como se proíbe resistir à autoridade (Rm 13.2), e ainda assim isto não revoga a lei de autopreservação, e o cuidado que devemos ter com as nossas famílias. Nós devemos evitar o mal, e podemos resistir a ele, até onde isto seja necessário para a nossa própria segurança, mas não devemos pagar o mal com o mal, não devemos guardar ressentimento, nem nos vingar, nem tentar nos igualar àqueles que nos trataram de maneira injusta, mas devemos ser melhores do que eles, perdoando-os (Pv 20.22; 24.29; 25.21,22; Rm 12.7). A lei da retaliação deve s e r coerente com a lei do amor: se alguém nos ofendeu, a recompensa não está nas nossas mãos, mas sim nas mãos de Deus, a cuja ira devemos dar lugar; e algumas vezes nas mãos dos seus vice-regentes, onde isto seja necessário para a preservação da paz pública. Mas isto não justificará que firamos o nosso irmão, dizendo que foi ele quem começou, pois é o segundo golpe que cria a briga; e quando formos ofendidos, temos uma oportunidade não de justificar que o ofendemos, mas de nos mostrar verdadeiros discípulos de Cristo, perdoando o ofensor.

O nosso Salvador especifica três coisas para mostra r que os cristãos devem ceder, pacientemente, àqueles que lhes trazem dificuldades, em lugar de disputar, e estas incluem outras.

(1) Um tapa no rosto – que é uma ofensa a mim, no meu corpo. “ Se qualquer te bater na face direita”, o que não somente é um ferimento, mas também uma ofensa e uma indignidade (2 C o 11.20). Se um homem, com ira ou desprezo, lhe atacar desta maneira, “oferece-lhe também a outra”, isto é, em outras palavras, “em lugar de vingar aquela ofensa, p repare-se para outra e suporte-a pacientemente; não dê ao homem rude o que ele traz; não o desafie, nem entre em alguma ação contra ele. Se for necessário, para a paz pública, que ele seja limitado no seu comportamento; deixe isto para o magistrado.

Mas quanto à sua parte, será, normalmente, mais prudente deixar que isto passe, não tomando maior conhecimento do fato. Se não há ossos quebrados, nenhum grande mal foi produzido, perdoe e esqueça; e se os tolos orgulhosos pensarem o pior de você, e zombarem de você por causa disto, todos os homens sábios irão lhe valorizar e honrar por isto, como um seguidor do bendito Jesus, que, embora fosse o Juiz de Israel, não feriu aqueles que o feriram no queixo” (Mq 5.1). Embora isto talvez possa, com pessoas pobres de espírito, nos expor a alguma afronta semelhante em alguma ocasião, isto será, na verdade, oferecer a outra face; ainda assim não devemos deixar que isto nos perturbe, mas confiar em Deus e na sua providência para nos proteger no caminho do nosso dever. Talvez perdoar uma ofensa possa evitar outra, quando a vingança não faria nada além de atrair outra; alguns serão vencidos pela submissão, aqueles que, pela resistência, seriam apenas os mais exasperados (Pv 25.22). No entanto, a nossa recompensa está nas mãos de Cristo, que irá nos recompensar com a glória eterna pela vergonha que suportarmos pacientemente; e embora ela não seja atribuída diretamente, ela será tranquilamente suportada pelo bem da consciência, e de acordo com o exemplo de Cristo, será somada ao que se sofre por Cristo.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 58.

 

 

Não resistais ao perverso, isso significa: Discípulos de Jesus nunca buscam para si próprios a vingança. Para eles vale que é melhor sofrer do que cometer injustiça. Ao mal respondem com o bem.

Segue-se a palavra da bofetada. Todo judeu no tempo de Jesus sabia o que significava bater na face direita de alguém, a saber, era o injurioso golpe com o lado exterior da mão, desferido com a mão direita contra a face direita do outro. De acordo com o código civil judaico, punia-se a pessoa que feria desse modo a honra de outra, com 400 sus (cerca de 160 dólares).

Quando Jesus fala em seu modo figurado: Vocês discípulos devem sempre aceitar pacientemente a bofetada e estar preparados para suportar a segunda, está querendo expressar duas coisas:

Como meus discípulos, vocês devem ver por detrás desse ultraje a mão de Deus que os está educando. Tudo serve a vocês para o melhor;

Como meus seguidores, vocês não devem tomar a vileza do outro como padrão da conduta de vocês. No seu modo de proceder, vocês não devem deixar-se governar pela maldade do outro. Não devem tornar-se escravos dos outros. Escravo de seus caprichos e atos maldosos, que retribuem com injustiça ainda maior, e ofensa ainda mais grave. Contudo, vocês, discípulos, devem ser interiormente livres em seu comportamento diante do próximo, bem independentes da atitude dele. Não é o falar e agir do outro que deve determinar vocês, mas unicamente a palavra de Deus. Vocês, discípulos, são grandes demais para que o agir dos outros pudesse afetá-los em alguma coisa. O discípulo de Jesus não precisa perguntar pela opinião caluniosa de um ateu, que não deixa de ser falso e de fôlego curto como o próprio descrente! O braço de Deus é mais longo. Ele sabe de cada palavra que causou zombaria e dor. É melhor sofrer injustiça do que pessoalmente cometer a menor injustiça em pensamentos, palavras e ações (fuja do pecado como de uma serpente!).

Assim é que precisamos entender a palavra da bofetada. Todos os versículos seguintes até o final do capítulo sublinham o que dissemos sobre a retaliação do amor e confirmam o que já afirmamos sobre o amor ágape. Pois o amor ágape é o amor que ama aquele que não é digno nem merece o amor, que por sua conduta e ações perdeu o direito ao amor, que distribuiu uma bofetada após a outra ao seguidor de Cristo. Amar uma pessoas dessas, incessantemente, é isso que dizem as instruções do Salvador.

Isto não levanta a pergunta: Será que esse procedimento não abre as portas para qualquer injustiça, sim, não se cria e fomenta a injustiça dessa maneira, para que se alastre mais e mais? Por isso, a palavra da bofetada não seria uma palavra irracional, uma afirmação que passa bem ao largo da realidade?

É preciso refletir sobre essa questão. A resposta é dada pelo exemplo do próprio Jesus. Continuando na figura da bofetada, deve ficar claro que os golpes desonrosos não fazem triunfar a injustiça e a maldade, mas que existe alguém que julga corretamente, sim, que pode converter injustiça em bênção, que pode tornar bom aquilo que as pessoas queriam fazer por mal. É isso o que a sabedoria divina produz.

Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

 

 

2- Arrastar para o tribunal.

 

Nesse tópico a questão é judicial, quando alguém ameaça uma pessoa que está lhe devendo busca tirar dela uma peça importante do seu vestuário para pagar uma dívida contraída que não foi paga. Jesus ensina ao que está sofrendo as ações por parte do litigante, que ele não deveria responder com ressentimento, mas deveria deixar que ele ficasse com a túnica, a qual era por demais importante, pois servia como cama (Êx 22.26,27; Dt 24.12,13; Am 2.8). É sempre melhor fazer concessões do que persistir em uma batalha judicial ou em competições que levaram a diversos desagrados.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Para agir da forma como Jesus ensinou no versículo 40 (ARA), que diz: “e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa”, só mesmo quem já nasceu de novo e não vive dominado pelo eu, e que em seu coração tem o amor de Deus. Por vezes, uma pessoa tem muita compreensão das Escrituras Sagradas, mas não consegue pôr em prática esse ensino. Isso ocorre porque é preciso ter uma mente transformada, receber a mente de Cristo Jesus (Rm 12.2; 1Co 2.16) e colocar o amor em prática.

Pelo versículo exposto acima, Jesus estava falando de um processo da Lei. Estudiosos sugerem que, ao fazer uso dessa expressão, o Mestre estivesse ligando com Êxodo 22.6. Nos tempos antigos, quando um credor fazia suas cobranças, poderia levar a roupa inteira do devedor como forma de fiança, o que seria a túnica. Contudo, caso se apropriasse da capa, que era a parte externa, antes do pôr do sol teria que ser entregue, pois dela se apropriava o devedor para se proteger contra o frio.

O que Jesus ensina nesse primeiro versículo é que, caso uma pessoa levantasse um processo contra outra, era melhor que aquele que sofresse tal processo desse o que a pessoa que demandou contra ela estivesse pedindo. Não somente isso, mas até alguma coisa mais valiosa que tivesse. Essa ação só faz quem tem o amor de Deus no coração, pois deseja logo que a situação seja resolvida, e nem quer viver com um sentimento de vingança, de egoísmo e de maldade dentro do seu coração, pois já é uma nova criatura em Cristo Jesus.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 134-135.

 

 

A perda de uma vestimenta – que é um m al causado a mim, nos meus bens (v. 40). “O que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta”. Este é um caso difícil.

Observe, é comum que os processos legais sejam usados para o caso de ofensas graves. Embora os juízes sejam justos e sérios, ainda assim é possível que os homens maus, que não têm consciência de juramentos e falsificações, retirem, pelo curso da lei, a vestimenta dos ombros de um homem. Não te maravilhes de semelhante caso (E c 5.8), mas, neste caso, em lugar de procurar a lei como uma forma de vingança, em lugar de exibir uma contra-acusação, ou de resistir ao máximo, na defesa daquilo que é o seu direito indiscutível, deixe-o levar também a capa. Se a questão for pequena, algo que possamos perder sem um dano considerável às nossas famílias, é bom sujeitarmo-nos a isto, pelo bem da paz. Em outras palavras: “Não lhe custará tanto comprar outra vestimenta, quanto irá lhe custar o curso da lei para recuperá-la; portanto, a menos que você possa obtê-la novamente, por meios justos, é melhor deixar que ele a leve”.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 58.

 

 

O fundo histórico dos v. 40-42 é o seguinte: a palavra da túnica e da capa leva para dentro do processo de julgamento civil do povo judeu.

Na prática dos fariseus, um credor tinha o direito de exigir do devedor um penhor, por exemplo sua túnica ou capa. Quando não o recebia por bem, podia exigi-lo por meio de um processo. Contudo, segundo Dt 24.10-13, deveria ceder a roupa ao dono de acordo com as necessidades para o uso de dia ou de noite. Em contraposição e essas posições jurídicas mesquinhas, os credores e devedores, se forem discípulos de Jesus, devem estar dispostos tanto a desistir do penhor como a entregá-lo. Pois o importante não é a demanda jurídica, e sim a prática do amor e da misericórdia.

Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

 

 

3- Obrigar a fazer algo.

 

Mateus 5.41 trata de uma convocação feita por uma autoridade, que força alguém ao serviço. Um exemplo bíblico é o de Simão Cirineu, que foi obrigado a carregar a cruz de Jesus (Mt 27.32). O que é mais forte, por força da hierarquia, pode obrigar sem respeitar a vontade alheia. Assim, quando alguém anda a primeira milha, geralmente o faz como obrigação. Entretanto, para caminhar voluntariamente a segunda, só o faz quem tem um novo espírito, uma nova vida aos ensinos divinos gravados em seu coração. Tudo na vida é uma nova jornada porque se faz com Cristo; dessa maneira a caminhada será gloriosa e abençoada, quer seja a jornada do casamento, quer seja a do trabalho ou a de qualquer outra (Mt 28.20).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A segunda lição que expressa um viver diferente e cheio de amor como ensinou Cristo Jesus vem no versículo 41 (ARA): “Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”. Era costume no tempo de Jesus, ou seja, quando os romanos dominavam, que ao enviarem algum emissário de um lugar para o outro, quando alguém do local fosse ao seu encontro, carregasse suas bagagens até chegar ao local determinado. Diz-se que os habitantes daquele lugar teriam que disponibilizar seus animais e carruagens para o tal estranho.

Desenvolver tal missão não era fácil, envolvia tempo e dinheiro.

Com esse ensino, Jesus queria dizer aos seus discípulos que eles deveriam estar prontos em toda e qualquer situação para servir aos outros, quer a situação fosse agradável, quer não, mesmo que não envolvesse lucro, e sim perda. Para eles, tudo deveria ser feito com alegria e amor, e não somente isso, eles deveriam fazer mais do que aquilo que as pessoas estivessem pedindo. Isso pode ser compreendido perfeitamente por meio da palavra milha, medida romana de distância, igual a quase 1,5 km (1.479 m), equivale a 8 estádios, ou melhor, mil passos, isto é, 1478 metros.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 135-136.

 

 

Caminhar uma milha forçadamente – que é uma ofensa a mim, na minha liberdade (v. 41). “Se qualquer te obrigar a caminhar uma milha”, isto é, se alguém lhe obrigar a fazer alguma tarefa para ele ou a servi-lo, não reclame, mas “vai com ele duas”, em lugar de brigar com ele. Não diga: “Eu faria isto, se não fosse obrigado a isto, mas detesto ser forçado”; em vez disto, diga: “Eu o farei, pois de outra maneira haverá uma briga”, e é melhor servirmos a ele do que servirmos aos nossos próprios desejos de orgulho e vingança. Alguns interpretam desta maneira: os judeus ensinavam que os discípulos dos sábios e os estudantes da lei não deviam se r pressionados pelos oficiais do rei, como os outros podiam ser, a viajar a serviço público; Cristo não ensinará os seus discípulos a insistir neste privilégio, mas os fará concordar, em lugar de ofender o governo. O resumo de tudo isto é que os cristãos não devem se r litigiosos; devem submeter-se às pequenas ofensas e não prestar atenção a elas; e se a ofensa for tal que exige que procuremos reparação, que seja com uma boa finalidade, e sem pensamento de vingança. Embora não devamos motivar e provocar as ofensas, nós devemos enfrentá-las alegremente no caminho do dever, e aproveitá-las ao máximo. Se alguém disser que a carne e o sangue não podem tolerar uma ofensa assim, faça com que esta pessoa se lembre de que a carne e o sangue não herdarão o Reino de Deus.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 58-59.

 

 

A próxima metáfora do Senhor, sobre a segunda milha, refere-se ao costume judaico de acompanhar um viajante. Do perigo de se viajar sozinho desenvolveu-se a obrigação do acompanhamento. Quando este não era feito e acontecia uma fatalidade, era responsável a comunidade local em cuja área ela acontecera. O fariseu defendia a posição: Acompanho somente meu colega. Ao homem comum, que está abaixo do meu nível, ao “pecador”, esse eu não acompanho. O discípulo de Jesus, por sua vez, deve comportar-se diferente: ele “deve estar disposto a prestar qualquer escolta”, sim, a andar uma segunda milha além da milha obrigatória.

Novamente encontramos o princípio de não demandar na justiça, mas ir ao encontro, antecipar-se de modo cordial e prestativo.

Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

 

 

4- Fazer alguma coisa por alguém.

 

Jesus mostra que o cristão que realmente tem amor no coração, quando se depara com alguém que está sofrendo por algum tipo de necessidade, que está em apuros, pedindo auxílio, jamais agirá com indiferença, antes atenderá ao solicitante sem qualquer murmuração ou má vontade. Com uma atitude generosa, emprestará sem querer algo de volta. Esse procedimento só acontece para quem realmente tem o amor de Jesus no coração, por isso manifesta atos de bondade (Dt 15.8,10; Pv 19.17; Lc 6.30,35).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

A terceira colocação vem do versículo 42 (ARA), que diz: “Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. Não é fácil dar, mas Jesus diz que seus servos deveriam atender àqueles que pedissem. É bom levar em consideração que aqui o princípio exposto por Cristo é geral, e quem age dessa forma não está resistindo aos perversos.

Devemos atender às necessidades dos outros porque Deus nos concede coisas sem que de fato mereçamos. Seu exemplo de bondade é singular, pois mais adiante podemos ler que Ele faz nascer o sol e concede a chuva para justos e injustos (Mt 5.45). Isso faz porque em sua natureza Ele é bom (Sl 34.8). Tiago diz que dEle vem toda boa dádiva (Tg 1.17). Podemos ver a superioridade do ensino de Cristo quanto à lei antiga, pois ela dizia que entre os judeus não se poderia emprestar com juros, mas pelo ensino de Jesus todos são iguais, têm os mesmos direitos, não podem ser tratados de modo diferente.

Enfim, nosso Senhor queria dizer que quem é verdadeiramente seu discípulo tem um coração banhado pela generosidade, pelo amor.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 136-137.

 

 

Devemos ser caridosos e beneficentes (v. 42). Não devemos apenas não ferir o nosso próximo, mas devemos procurar lhe fazer todo o bem que pudermos.

(1) Devemos estar dispostos a dar: “Dá a quem te pedir”.

Em outras palavras, se você tem a capacidade, encare o pedido do pobre como uma oportunidade para cumprir o dever de dar esmolas. Quando alguém que realmente precisa de caridade se apresenta, devemos dar ao primeiro pedido: dar uma porção a sete, e também a oito; ainda assim, a questão da nossa caridade deve se r orientada com juízo (SI 112.5), para que não demos aos ociosos e indignos o que deveria se r dado aos que têm necessidade e o merecem. O que Deus nos diz é que devemos estar prontos para dizer aos nossos irmãos pobres: “Pedi, e dar-se-vos-á”.

(2) Devemos e star prontos para emprestar.

Às vezes, isto é uma caridade tão grande quanto dar; pois não apenas alivia a necessidade atual, mas obriga ao que toma emprestado à providência, ao empenho e à honestidade. Portanto, “não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” algo para viver ou para negociar; não se afaste daqueles que você sabe que têm um pedido a lhe fazer, nem invente desculpas para livrar-se deles. Seja acessível àqueles que vem tomar emprestado.

Embora alguém possa estar envergonhado e não ter a confiança necessária para tornar o seu caso conhecido e pedir o favor, se você conhecer a sua necessidade, como também o seu desejo, ofereça-lhe a gentileza.

Exorabor antequam rogor; honestis precibus occuram – Eu serei persuadido antes que me peçam; eu irei prever o pedido que se aproxima. Sêneca, De Vita Beata.

E conveniente que nos antecipemos nos atos de caridade, pois antes de pedirmos Deus nos ouve, e nos concede as bênçãos da sua bondade.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 59.

 

 

A última figura, do pedir, quer expressar que os discípulos de Jesus, na ampla área de amizade e solicitude entre vizinhos, emprestam com prazer e não devem jamais fazer uma distinção entre merecedores e pessoas indignas.

Chegamos ao final desse trecho que nos ilustra de modo penetrante a grande palavra da retaliação do amor. Somente ela, que não tem nada a ver com a retaliação do eu ou da lei, constitui a diretriz para a nossa vida no seguimento de Jesus. Ela não tem validade na vida dos estados e povos, porque, conforme dizíamos no início, faltam ao não-discípulo todas as premissas para ela. Também essas palavras do Senhor, ao serem cumpridas, devem fazer brilhar o novo reinado de Deus na comunidade de Jesus – e então também para fora dela – até que ele venha.

Os apóstolos entenderam as exigências de Jesus (cf. Rm 12.17,21; 1Ts 5.15; 1Co 13.7; 1Pe 2.18-23; depois 3.9 etc.).

Constantemente é preciso vencer o mal com o bem. O gelo não derrete com tempestade e geada, mas sim com calmaria e calor do sol. Ódio e desejo de vingança, egoísmo e ira, a língua maldosa e o coração endurecido são dissolvidos pelo amor, pela retaliação do amor, pelo amor ágape.

Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

 

 

SINOPSE II

O que procede do coração e permeia pensamento do homem determinarão seu comportamento

 

 

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

“Amar os Inimigos (5.43-48). […] Para o mandamento bíblico, Amarás o teu próximo (43; Lv 19.18), [Jesus] Ele inseriu um acréscimo feito pelos mestres judeus, e aborrecerás o teu inimigo. Esta segunda parte não é encontrada em nenhuma passagem nas Escrituras Sagradas. Henry expôs bem a sua opinião: ‘Deus disse: Amarás o teu próximo; e por próximo eles entenderam somente aqueles de seu próprio país, nação e religião…; deste mandamento… eles quiseram inferir o que Deus nunca disse: Odiarás o teu inimigo”. 39 Jesus se opôs a este falso ensino através do incisivo mandamento: Amai a vossos inimigos (44). É natural amar os amigos; amar os inimigos é sobrenatural. Mas aqueles que assim o fazem demonstram que são filhos do Pai que está nos céus (45)” (CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol.6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.61).

 

 

III – BUSCANDO A PERFEIÇÃO DE CRISTO

 

 

1- Uma justiça mais elevada.

 

A exigência de Mateus 5.43-48 revela uma justiça muito elevada, incompatível com a natureza humana caída. O Senhor Jesus disse que devemos fazer o bem àqueles que nos fazem mal! Nosso desejo não deve ser o de manter ou de vingar a dívida, mas o de amar e perdoar. É um ensinamento divino, celestial. O Sermão do Monte é taxativo: Em vez de planejar vingar-se, ore por aqueles que o magoam.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Para entendermos o que é uma justiça mais elevada, conforme ensinou Jesus, simplesmente devemos atentar para Mateus 5.44 (ARA), que diz: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Os que vivem a justiça de Cristo passam a ter um padrão de vida mais elevado, especialmente no relacionamento para com os outros. Nesse caso, o amor será a base de tudo, ele será o teste de caráter, o bem que se deseja para si mesmo, também se deseja para o outro.

Quando estamos no eu carnal, tudo o que fazemos é pensando em nós mesmos, em nossos familiares, em nossos amigos mais próximos, em nossa saúde, em nosso dinheiro, em nosso futuro, nada além disso. Porém, desde o momento em que somos constrangidos pelo amor de Cristo (2Co 5.14), transferimos esse amor não apenas para os nossos amigos mais íntimos, mas também para o nosso inimigo. O amor de Deus que está em nossos corações não exclui ninguém, não é segregacionista, mas procura acolher, agregar a todos, inclusive aquele que é nosso inimigo.

É forte e impossível aos olhos humanos cumprir o que Jesus disse: “Amai os vossos inimigos…”, pois com essas palavras Ele queria dizer que devemos desejar o bem para os nossos inimigos assim como desejamos o bem para nós mesmos. Devemos cuidar deles assim como cuidamos de nossas próprias vidas. Todo ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). O pecado inverteu tudo, porém, quando essa imagem espiritual é restaurada por Cristo em nós, então o que parece impossível, amar um inimigo, agora sim é possível, pois passamos a ver nosso amigo ou inimigo como a nós mesmos (Rm 8.29).

Deus é a base por meio da qual o amor do cristão para com o inimigo se torna possível. Tudo começa com o Pai e depois se manifesta no Filho. O maior exemplo que o Pai deu a toda a humanidade foi seu amor pelos pecadores (Jo 3.16; Rm 5.8). Esse amor divino não exclui ninguém, e Jesus viveu esse amor (Rm 5.5-10).

Ciente dessas verdades, a ordem de Cristo de amar o inimigo torna-se mais fácil, porque foi assim que Deus e seu Filho nos amaram, ou seja, quando éramos inimigos.

Para fecharmos esses pontos, ainda há duas atitudes que são ditas por Cristo que vejo como difíceis de serem cumpridas pelo prisma humano: orar pelos que nos perseguem e abençoar os que nos amaldiçoam. É bem possível que essa perseguição seja no campo religioso. Mesmo assim, ainda que alguns sejam perseguidos por causa dessas diferenças religiosas, jamais podem ser tratados com menosprezo, ódio, e sim com amor. Foi assim que procedeu Estêvão (At 7.59,60) e sem dúvida aprendeu com o exemplo de Cristo Jesus (Lc 23.34).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 137-139.

 

 

Veja como isso é esclarecido pelo mandamento de Jesus, que nos ensina uma outra lição: “Eu, porém, vos digo”. Eu, que vim para ser o grande Pacificador, o general Reconciliador, que vos amou quando éreis estranhos e inimigos, E u digo: “Amai a vossos inimigos” (v. 44). Ainda que os homens sejam sempre maus e se comportem sempre de modo desprezível para conosco, ainda assim isto não nos desobriga da grande dívida de amor que temos com os nossos semelhantes, amor por nossos parentes. Não podemos evitar nos achar inclinados a desejar o mal, ou, de qualquer modo, ser muito indiferentes para desejar o bem àqueles que nos odeiam e são violentos conosco; mas o que está no fundo de todo procedimento odioso é uma raiz de amargura, que deve ser extirpada, e o vestígio da natureza corrupta que a graça deve derrotar. O maior dever dos cristãos é amar a seus inimigos, não podemos te r complacência com aquele que é abertamente perverso e profano, nem ter confiança naquele que sabemos que é mentiroso, nem amar a todos da mesma maneira, mas devemos levar em consideração a natureza humana, e, até certo ponto, respeitar todos os homens. Devemos atentar, com alegria, naquilo que, nos nossos inimigos, é agradável e louvável: a sinceridade, o bom humor, o conhecimento, e a virtude moral, a bondade com os outros, a profissão da religião etc., e amar estas qualidades, embora sejam nossos inimigos.

Devemos te r compaixão e boa vontade com eles.

Aqui aprendemos:

Que devemos falar bem deles. “Bendizei os que vos maldizem”. Quando falamos com eles, devemos responder aos seus insultos com palavras amistosas e cordiais, e não retribuir os insultos com insultos. Quando não estivermos na presença de tais pessoas, devemos elogiar o que nelas é elogiável e, quando já tivermos dito tudo que há de bom nelas, não devemos nos precipitar a dizer mais nada (veja 1 Pedro 3.9). Aqueles cuja língua é a lei da bondade podem oferecer boas palavras para aqueles que lhes oferecem palavras ruins.

Que devemos fazer o bem a eles: “ Fazei bem aos que vos odeiam”, e isto será uma prova de amor melhor do que as boas palavras. Esteja disposto a dar a todos a verdadeira bondade que você pode dar, e alegre-se pela oportunidade de fazê-lo, a seus corpos, bens, nomes, famílias; e principalmente a suas almas. Isto foi dito a respeito do arcebispo Cranmer, que a maneira de torná-lo um amigo era dar-lhe um tratamento cruel; ele serviu àqueles que o afrontaram.

  1. Devemos orar por eles: “Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”. Observe que: (1) Não é nenhuma novidade que a maioria dos santos foi odiada, amaldiçoada e tratada com desrespeito pelas pessoas más; o próprio Cristo foi tratado assim. (2) Que quando, a qualquer momento, nos encontramos em tal situação, temos a oportunidade de mostrar nossa concordância, não só como preceito, como também com o exemplo de Cristo, orando por aqueles que nos insultam. Se, de outra maneira, não podemos testemunhar o nosso amor por eles, desta maneira, porém, poderemos fazê-lo sem ostentação e de tal forma que certamente não nos arriscaríamos a fingir. Devemos pedir a Deus que os perdoe, para que nunca passem pelo pior, por qualquer coisa que tenham feito contra nós, e que Ele os faça ficar em paz conosco; e esta é uma forma de alcançarmos esta paz.

Plutarco, em seu apotegma lacônico, fala isto de Aristarco; quando alguém elogia as palavras de Cleômenes, que, respondendo o que um bom rei deveria fazer, disse: Tous men philous euergetein, tous de echthrous kakos poiein – Tomar o bem para os seus amigos, e o mal para os seus inimigos, disse ele: Como é melhor tous men philous euergetein, tous de echthrous philous poiein fazer o bem para os nossos amigos, e tornar os nossos inimigos amigos. Isto é um monte de brasas sobre as suas cabeças.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 59-60.

 

 

Eu, porém, vos digo.

ORIGINALMENTE, a palavra traduzida aqui como amai, significava «acolher, entreter, agradar, contentar», e é na LXX que vemos seu variegado uso. Porém, no N.T. com frequência o termo denota o amor de Deus ao homem e o amor do homem a Deus (ver I João 3-5), bem como a benevolência que busca o bem-estar material c espiritual do próximo (ver I Cor. 13). Vê-se claramente, portanto, que o conceito de amor foi altamente elevado no uso do N.T. O amor é o verdadeiro teste do caráter de um homem. Uma das— principais lições—que devemos aprender, na jornada desta vida, é como amar aos outros.

Pode-se ver o que significa o amor, se considerarmos a atitude que cada qual tem para consigo mesmo. Quase todos fazem tudo quanto está ao seu alcance, procurando seu próprio benefício. Temos o cuidado de prover todas as nossas necessidades físicas, nossa educação e os cuidados médicos quando adoecemos, etc. Amar a um amigo ou a um inimigo, por conseguinte, equivale a transferir para eles o cuidado que cada qual tem por si mesmo. Amar a nossos semelhantes como amamos a nós mesmos seria a perfeita transferência desses cuidados que exercemos por nós. É muito raro que alguém faça assim, mesmo de vez em quando, mas essa é a grande lição que nos compete aprender, aquela que é exigida pela ética cristã. Quando, finalmente, estivermos transformados segundo a imagem de Cristo, então amaremos desse modo, porque foi assim que ele nos amou.

Amai os vossos inimigos. Poderíamos compreender estas palavras se elas fossem «Não detestai os vossos inimigos*; mas a ideia de amarmos os nossos inimigos é p o r demais elevada. Jesus não permite o ódio cm quem quer que seja. O ódio em si, não é humano. Esse é o mais sublime conceito moral jamais dado à humanidade (Adam Clarke). Ninguém, exceto Jesus, poderia ter proferido tais palavras com convicção. A base desse mandamento é que Deus ama ao mundo inteiro, de modo geral, sem acepção de Pessoas (João 3:16), é que Cristo agiu do mesmo modo (Rom. 5:6-10). Paulo escreveu: «Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem» (Rom. 12:21).

Jesus m ostra, neste passo, que—a lei do amor—é a lei mais importante (Luc. 10:27), e que o amor a Deus implica em amor aos homens. Mais do que isso, significa que essa extensão do amor a Deus (extensão essa que abrange todos os homens) ocupa o segundo lugar, na ordem da importância, entre todos os mandamentos. Nesta passagem Jesus mostra que esse amor, quando compreendido corretamente, se aplica até aos inimigos porque, de conformidade com a atitude de Deus, eles também são próximos, sim, e mais do que isso, são irmãos.

«ORAI pelos que vos perseguem». Provavelmente a ideia central é a de perseguição religiosa. O ódio mais persistente e profundo é aquele citado pelas diferenças religiosas. Mas até os que perseguem por causa da diferença da religião também devem ser objeto de nosso amor e de nossas orações. Provavelmente essas são as pessoas mais difíceis de ser amadas.

Parece que poucos, além de Jesus, têm sido capazes de cumprir esse conceito moral. Certos comentaristas declaram que esse conceito—«Amai os vossos inimigos·— não se encontra em nenhum outro livro de nenhum outro povo, considerado inspirado por Deus ou pelos deuses. Talvez a ideia mais a aproximada dessa atitude, entre os antigos, foi a atitude manifestada por Sócrates, conforme foi registrado por Platão.

Abençoai os que vos amaldiçoam, fazei o bem aos que vos odeiam.

Essas palavras se acham nas traduções KJ AC FM e nos mss DEKLMSU Delta Fam Pi. Não são encontradas nos mss Aleph B Fam l S(i) Sah e nem nas traduções ASV RSV PH WM WY NE BR GD AA IB. A adição é posterior e parece ser complementação do que o versículo ensina antes; porém, provavelmente foi tomada de empréstimo da passagem paralela de Luc. 6:27,28, inserida por algum escriba no texto de Mateus.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 317.

 

 

2- O amor mais perfeito.

 

O verbo amar, que aparece em Mateus 5.43, é agapáo, é o amor que sabe receber com alegria, acolher, amar ternamente; é o amor que está satisfeito, estar contente sobre ou com as coisas; esse amor só está no crente porque foi derramado por Deus no seu coração (Rm 5.5). Enquanto a adição feita pelos mestres judeus desviava da real lei do amor, Jesus falou do amor ágape, o qual é inteligente, compreende as dificuldades e se esforça para libertar o inimigo do seu ódio. Esse amor pode ser visto na grandiosa atitude de Deus para com todos os pecadores (Jo 3.16).

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Pela leitura que se faz de Mateus 5.43, tem-se a última ilustração de Cristo. É bem provável que, ao fazer essa citação, o Mestre divino estivesse fazendo alusão ao texto de Levítico 19.18, que para os judeus o compreensivo era amar aqueles que eram seus iguais, a sua gente. O odiarás foi um acréscimo feito pelas autoridades religiosas de Israel.

Os judeus amavam os seus irmãos e não buscavam ter muito contato com os gentios, os quais poderiam ser vistos como inimigos. Na verdade, quem seria o próximo para os judeus eram os seus irmãos, gente de sua própria família. Basta uma leitura tanto no Antigo como no Novo Testamento para que se comprove a forma que outras pessoas eram tratadas pelos judeus, com total desprezo.

No aspecto geral, a lei judaica nunca incentivou o desprezo para com uma pessoa, que se manifestasse ódio para com alguém, mas o amor era a regra necessária em tudo. O verbo grego agapáo fala de se tratar as pessoas com respeito, recebê-las com alegria, acolhê-las com amor terno, sem qualquer diferença, quer sejam de outras nações, quer sejam inimigos pessoais, quer sejam religiosos. Esse tipo de amor só é possível quando vem de Deus para o nosso coração.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 139.

 

 

Veja aqui como este mandamento foi corrompido pelas observações dos mestres judeus (v. 43). Deus disse: “Amarás o teu próximo”; e por próximo eles entenderam somente aqueles do seu próprio país, nação e religião; e somente aqueles que quisessem considerar como seus amigos. Mas isto ainda não foi o pior; pois a partir deste mandamento, “amarás o teu próximo”, eles se dispuseram a pressupor o que Deus nunca pretendeu.

E com: “Aborrecerás o teu inimigo”, eles consideravam quem quisessem como sendo seus inimigos, consequentemente tornando vazio o grande mandamento de Deus por suas tradições, ainda que houvesse mandamentos que expressassem o contrário, como em Êxodo 23.4-5; Deuteronômio 23.7: “Não abominarás um edomita… nem um egípcio”, embora estas nações tivessem sido inimigas de Israel como qualquer outra. É verdade que Deus mandou-os destruir as sete nações devotadas de Canaã e não fazer aliança com eles; mas haviam razões particulares para isso: abrir caminho para Israel e também para que não servissem como um laço para Israel. Mas foi muito perverso, a partir disso, concluir que eles deveriam odiai* a todos os seus inimigos, mesmo que a filosofia moral do pagão permitisse isso. A lei de Cícero é: Nemini nocere nisi prius lacessitum injuriae – Não prejudique ninguém, a menos que você tenha sido anteriormente prejudicado.

De Ojfic. Veja como os sentimentos corruptos condescendentes procuram obter uma aprovação a partir das palavras de Deus, e buscam uma ocasião – através dos mandamentos – para se justificar.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 59.

 

 

«..Amarás…odiarás…» Aqui Jesus apresenta a sexta e última ilustração sobre o verdadeiro sentido espiritual da lei, em contraste com a interpretação errônea dos intérpretes judeus: a lei do amor. O mandamento que diz. Amarás o teu próximo, vem de Lev. 19:18, e, porque ali há alusão específica aos «filhos do teu povo» (Israel), as autoridades religiosas haviam acrescentado a outra metade: «Odiarás o teu inimigo. A lei, de modo geral, proibia aos judeus que se odiassem uns aos outros, sendo provável que o – inimigo – fosse sinônimo de gentio. Maimonides mostra a atitude da população em geral, com as seguintes palavras: «Se um judeu vir um gentio cair no mar, não deve ajudá-lo de modo algum; porque está escrito: Não te levantarás contra o sangue do teu próximo, mas esse (gentio) não é teu próximo. Há muitas citações horríveis, desse tipo, na literatura dos judeus. No V.T. vemos muitas vezes esse princípio na atitude dos judeus em relação às outras nações, e assim foi que certos romanos acusaram os judeus de detestar a raça humana (odium generis mundi).

Provavelmente Jesus fez aplicação geral com essas suas palavras, porquanto quem pode garantir que um judeu jamais odiou a outro? Assim sendo, a aplicação das palavras do texto atinge os gentios (pessoas de outras raças), os inimigos pessoais e os inimigos religiosos.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 317.

 

 

3- Perfeitos como o Pai.

 

Parece inatingível o que Jesus elucidou: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está no céu” (Mt 5.48). Será que temos realmente a perfeição plena e divina? Pelos versículos 45 e 46 podemos notar que é possível ser perfeito como o Pai. Pela expressão sede perfeitos, o que se entende é que Jesus a limitou dentro do próprio contexto em relação ao amor: o amor de Deus é completo, Ele não exclui nenhum grupo, todos são objetos do seu amor. O cristão jamais pode amar uns e aborrecer outros, pois se evidenciar bondade apenas para os seus amigos, nada mudará, e procederá como os publicanos. Desprezados, esses cobradores de impostos eram considerados como estando em uma posição do mais baixo nível de iniquidade.

Assim como Deus ama a todos, o cristão também deve amar, ou seja, tomar como medida a perfeição padrão e absoluta de Deus, na qual se baseia para viver o amor nessa vida em relação ao seu próximo (1Jo 2.5; 4.12). Buscar a perfeição, conforme ensina as Escrituras, é buscar uma vida mais parecida com a de Jesus Cristo, em que a natureza humana é mortificada, nosso interior é fortalecido e, assim, podemos viver sem as amarras da prisão das obras da carne. Em Cristo, podem dizer “sim” para o fruto do Espírito, que inicia com o “amor”, e “não ” para as obras da carne. No poder do Espírito Santo, podemos atravessar a barreira da carne.

 

 

COMENTÁRIO

 

 

Vamos começar esse último ponto com uma interrogação: é possível sermos perfeitos como Deus é? De imediato queremos dizer que não, mas na vida cristã o alvo colimado é esse: ser como Jesus é. Isso é bem compreensível quando Paulo diz que o crente transformado tem a imagem de Cristo, e o apóstolo João falou que nós o veremos e seremos semelhantes a Ele (1Jo 3.2). O adjetivo perfeito, como aparece no versículo, no grego é téleios, quer dizer, levado a seu fim, finalizado, que não carece de nada necessário para estar completo, integridade e virtude humana consumadas, adulto, maduro, maior idade.

Essa perfeição é um processo também presente na salvação, o que envolve tanto o amor como a santidade. É claro que não iremos alcançá-la plenamente nesta vida, mas prosseguimos para o alvo, sabendo que brevemente a perfeição absoluta se concretizará como o dia perfeito (Pv 4.18). Por isso Paulo nos aconselha a prosseguir (Fp 3.12,13). Vemos que até João era consciente de que a perfeição absoluta não se conseguiria nesta vida, mas na futura (1Jo 1.8), porém, todo cristão conhecedor da Palavra e que tem o Espírito em sua vida é consciente de que brevemente participará da perfeição divina, ser com Jesus é, em tempos bem breves (2Co 3.18; 1Pe 1.4; Cl 2.10).

Assim, meus irmãos, se quisermos trilhar na perfeição de Cristo para futuramente desfrutarmos da perfeição absoluta, precisamos viver e caminhar no amor de Cristo Jesus, imitando-o em tudo, porque é um mandamento dEle (Jo 15.12), e quem vive esse amor nunca expressa atitudes odiosas, palavras grosseiras, desprezo para com alguém, jamais pratica o mal nem mesmo para o pior inimigo (Rm 13.10). A perfeição absoluta é unicamente de Deus, como bem disse Jesus (Mt 19.17). Inclusive, para muitos gregos ela era uma característica dos deuses, mas pelas Escrituras Sagradas o cristão poderá participar da perfeição quando viver neste mundo segundo o querer de Deus (Gn 6.9; Jó 1.1;Tg 1.4), logo será segundo a imagem de Cristo Jesus.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 139-140.

 

 

“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus”. O que pode ser interpretado: 1. De maneira geral, incluindo todas as coisas nas quais devemos ser seguidores de Deus como filhos amados. Observe que é dever dos cristãos desejar, aspirar e perseverar em direção da perfeição na graça e na santidade (Fp 3.12-14). E devemos estudar este assunto para que possamos estar de acordo com o exemplo de nosso Pai Celestial (1 Pe 1.15-16). Ou: 2. Neste caso p articular, mencionado anteriormente, “ fazei o bem aos que vos odeiam” (veja Lc 6.36). A perfeição de Deus é mostrada à medida que Ele perdoa as ofensas, recebe os estranhos, e faz o bem aos iníquos e ingratos. A nossa responsabilidade consiste em procurarmos ser perfeitos, assim como E le é perfeito. Nós, que devemos tanto, que devemos tudo o que somos à generosidade divina, devemos imitá-la tão bem quanto pudermos.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 60-61.

 

 

Perfeitos é, aqui, uma tradução enganosa de teleios e é a grande responsável pela errônea doutrina do “ perfeccionismo”. O homem nunca poderá ser perfeito como Deus o é; e o próprio Jesus assim o ensinou muito bem ao dizer que quando tiverem feito tudo o que for possível, ainda serão servos inúteis, por terem feito apenas o seu dever (Lucas 17.10). Torrey parece certo ao supor que a palavra aramaica usada por Jesus ao falar teria tido um sentido ativo e que a significação aqui seria “ inclusivos (em vossa boa vontade) tal como vosso Pai vos inclui a todos”. Portanto, sede vós perfeitos, escreve ele, “ é sem sentido aqui, além de não ter base alguma no contexto. Nada aqui conduz à ideia de perfeição — para não dizer nada do conceito de igualar a perfeição de Deus! Neste parágrafo os discípulos são ensinados a mostrar gentileza para com todos os homens, tal como o Pai celestial, que não faz exceção”.

V. G. Tasker, Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pag. 56.

 

 

SINOPSE III

A justiça cristã é uma virtude elevada por meio da prática do amor

 

 

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

Sobre a Perfeição

“Deus graciosamente concede, a todos aqueles que buscam, um amor perfeito por Ele e por sua vontade. Depois disso, o cristão busca uma manifestação ainda mais perfeita desse amor em sua vida e conduta. Por serem os finitos, essa perfeita manifestação nunca será completamente alcançada neste mundo, mas cada seguidor consagrado de Cristo deve, constantemente, se esforçar para alcançá-la (cf. Fp 3.12-14). O contexto imediato dos versículos 17-47 é importante, mas isso não é tudo. A perfeição aqui deve ser explicada em termos de um contexto maior – todo o capítulo cinco. O comentário de John Wesley sobre este versículo é: “ Referindo-se a toda esta santidade que é descrita nos versículos anteriores, que o nosso Senhor no início do capítulo recomenda como felicidade, e, na conclusão dele, como perfeição” 41 Estes seis últimos parágrafos do capítulo sugerem seis “Características da Perfeição Cristã ”. Elas são:

1) pacifismo (21-26);

2) pureza (27-30);

3) harmonia (31-32);

4) honestidade (33-37);

5) bondade (38-42);

6) amor (4 3 -4 8)” (CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol.6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.62).

 

 

CONCLUSÃO

 

Aprendemos com essa passagem bíblica que Jesus nos chama para viver nesse mundo como seus discípulos em um novo estilo de vida, como também novos recursos espirituais para vencer qualquer inimigo pessoal. A base firme para tudo isso é o amor, pois somente através dele é que se pode expulsar o ódio e qualquer ação belicosa. Os que vivem esse amor na vida prática estão se assemelhando ao verdadeiro caráter de Deus.

 

 

REVISANDO O CONTEÚDO

 

1- Do que se tratava a Lei de Talião?

A Lei do Talião se tratava de uma norma para os tribunais civis, que no seu propósito desejava que em particular a pessoa jamais praticasse a vingança.

 

2- Cite um versículo em que a Bíblia proíbe a vingança pessoal. Romanos 12.19.

3- A quem pertence a vingança?

Cite um versículo para embasar a sua resposta. A vingança pertence ao Senhor (Rm 12.9).

 

4- De acordo com a lição, quantas ilustrações foram usadas por Jesus para ilustrar o amor?

Quatro ilustrações: Virar outra face, arrastar para o tribunal, obrigar a fazer algo e fazer alguma coisa por alguém.

 

5- O cristão jamais pode amar uns e aborrecer outros.

Por quê? O cristão jamais pode amar uns e aborrecer outros, pois se evidenciar bondade apenas para os seus amigos, nada mudará, e procederá como os publicanos.

 

 

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

 

Acesse mais:  Lições Bíblicas do 1° Trimestre 2022 

 

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