8 LIÇÃO 2 TRI 22 SENDO VERDADEIROS

 

8 LIÇÃO 2 TRI 22 SENDO VERDADEIROS

8 LIÇÃO 2 TRI 22 SENDO VERDADEIROS

 

TEXTO ÁUREO

 

“Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano” (SI 32.2)

 

 

VERDADE PRÁTICA

 

Jesus chamou de hipócritas as pessoas que praticam boas ações, não por compaixão ou outros bons motivos, mas para obter glória diante dos homens.

 

LEITURA DIÁRIA

 

Segunda – 1 Pe 2.1-3 Abandonem a hipocrisia

 

Terça – Ef 4.25 Falai a verdade

 

Quarta – Pv 26.23-28 Os lábios amistosos podem ocultar um coração mal

 

Quinta – 1 Jo 1.6 Quem anda nas trevas não pratica a verdade

 

Sexta – Mt 23.27-28 Jesus condena a hipocrisia

 

Sábado – Tg 3.13-18 A sabedoria do alto não tem hipocrisia

 

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

 

Mateus 6.1-4

 

1 – Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.

 

2 – Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.

 

3 – Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,

 

4 – para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

 

 

Hinos Sugeridos: 324, 432, 438 da Harpa Cristã

 

 

PLANO DE AULA

 

 

1- INTRODUÇÃO

O que está por trás dos nossos atos? Qual é a verdadeira motivação do nosso coração? Essas são as perguntas que a presente lição busca responder. O coração do seguidor de Jesus tem de estar sempre com a verdade. A nossa motivação tem de ser sempre a melhor, nobre e sincera no Reino de Deus. Essa consciência do Reino protege-nos da hipocrisia.

 

2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição:

I) Contrastar o ato de dar esmola com a hipocrisia;

II) Colaborar no auxílio ao próximo sem alarde;

III) Concluir que Deus contempla o bem que realizamos.

B) Motivação: Sempre é importante sondar o coração para ter consciência de sua verdadeira motivação. Pergunte: Por que emprego energia em determinado objeto? É preciso procurar saber a razão de fazer o que estamos fazendo.

C) Sugestão de Método: Inicie a aula perguntando o que é hipocrisia. Ouça os alunos com atenção. Deixe que expressem suas opiniões livremente por cerca de cinco minutos. Em seguida, explique a palavra hipocrisia de acordo com o tópico da lição, enfatizando o contexto que Jesus apresenta no Sermão do Monte. A ideia é que a exposição do tema unifique bem a s informações e os alunos tenham um entendimento satisfatório do assunto.

 

3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: Você pode sugerir uma campanha de ajuda assistencial a partir da assimilação do conteúdo estudado. Iniciar um projeto desses com plena consciência a respeito do que o Sermão do Monte ensina sobre o assunto, sem dúvida, é uma excelente oportunidade de aplicar o ensino assimilado.

 

4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas. Na edição 89, p.40 você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final dos tópicos, você encontrará dois auxílios que darão suporte na preparação de sua aula

1) O texto localizado ao final do primeiro tópico aprofunda a reflexão a respeito do perigo da hipocrisia;

2) O texto localizado ao final do segundo tópico traz uma reflexão a respeito de praticar a justiça diante dos homens.

 

 

INTRODUÇÃO COMENTÁRIO

 

O ensinamento de Jesus no Sermão do Monte tem o objetivo de fazer com que sejam os seguidores de Cristo comprometidos com os valores do Reino de Deus. Uma consequência de quem vive esses valores é buscar ser aprovado por Deus, e não aplaudido pelos homens, além de vigiar contra a hipocrisia (Lc 12.1). Nesta lição, veremos que Deus condena a hipocrisia de pessoas que praticam boas ações, não por compaixão ou outros bons motivos, mas para obter glória diante dos homens.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Estudaremos agora uma nova seção que se inicia com o capítulo 6, no qual é destacada a vida religiosamente piedosa de um verdadeiro servo de Deus. Nas ilustrações que foram feitas por Cristo, como a primeira seção de Mateus 5.3-12, Ele falou de como o cristão em essência deveria ser. Logo em seguida, na segunda seção, é dito do seu papel e caráter perante o mundo (Mt 5.13-16). Na terceira ilustração feita pelo divino Mestre, é dito como os seus discípulos devem se relacionar com a Lei, sem qualquer pretensão legalista como faziam os escribas e os fariseus, mas tendo uma justiça superior.

Um cristão que vive as beatitudes não tem como ser um hipócrita na vida religiosa, porquanto é plenamente consciente de que desenvolve sua comunhão com o Deus onisciente e todo poderoso, que requer de cada um de nós um proceder em obediência e santidade, tanto para com Ele como perante esse mundo pecaminoso. Nessa prática de um viver sincero na vida religiosa, Tiago esclarece muito bem o que o Pai celestial espera de nós: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1.27, ARA).

Há duas coisas importantes a serem consideradas nesse versículo. A primeira é em relação ao substantivo feminino religião, que do grego é threskeía, adoração religiosa, externo, aquilo que consiste de cerimônias, disciplina religiosa, religião. A segunda está relacionada ao adjetivo puro, katharós, limpo. Só se pode desenvolver atitudes religiosamente aceitáveis diante de Deus quando o coração for realmente puro. Douglas J. Moo,18 falando das palavras de Tiago, escreve:

Precisamos ter em mente que Tiago está tentando aqui resumir tudo o que envolve a verdadeira adoração a Deus. Segundo Calvino, “ele não dá uma de†nição geral da religião, mas nos lembra de que a religião sem as coisas que ele menciona é nada”. O ritual religioso, se praticado com um coração reverente e num espírito de adoração, não é errado — e a Palavra de Deus não pode ser “praticada” se primeiro não for “ouvida”.

Há muitos que nas práticas religiosas manifestam externamente as mais belas canções, sermões, palavras, adoração, porém, como Jesus disse, fazem tudo isso apenas de lábios, aparência, pois o coração não é verdadeiramente do Senhor (Mt 15.8), de modo que tudo não passa de uma mera exibição, show, pura hipocrisia, querem adorar a Deus como a mulher samaritana, escondendo seus pecados e sem conserto da vida (Jo 4.16-18). Em Mateus 6.1-4 aprenderemos com Jesus como deve ser nossa vida religiosa para com Deus.

O capítulo 8 apresenta duas verdades dominantes ensinadas por Jesus Cristo: a primeira, a nossa vida de comunhão com Deus, como devemos desenvolver nossas atitudes de adoração com verdade e sinceridade; a segunda, as necessidades cotidianas de quem vive neste mundo, como, por exemplo, vestimentas, alimentação, amparo, abrigo, como usá-las sem ser dominado por elas (1Co 7.34).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 142-144.

 

 

Depois de mostrar Jesus como o verdadeiro intérprete da lei, Mateus passa a mostrar o ensino de Jesus sobre a verdadeira espiritualidade.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 211.

 

 

A nova lei, dada por Cristo, que é o novo Legislador·, naturalmente inclui interpretações diferentes das dos rabinos, que escreveram e comentaram sobre a antiga lei.

Porém, há também genuínos novos discernimentos quanto à «conduta ideal», com base em novas e diferentes crenças. Não podemos reduzir Jesus a mero reformador do judaísmo. Nem podemos fazer o evangelho de Mateus ser aviltado à posição de «documento judaico». Pois foi escrito quando o cristianismo já tinha cinquenta anos, e visava a ser um manual de instrução cristã, para enfrentar às necessidades diárias e estabelecer um novo jogo de padrões de conduta, mais elevados. Portanto, na secção que temos à frente, Jesus aborda a questão—da conduta—e eleva o cristianismo acima da prática dos líderes religiosos de seus dias. Apesar de haver pouco na secção diante de nós que seja realmente estranho ao que havia de melhor no judaísmo, o gênio de Jesus consistiu em penetrar no coração da espiritualidade, deixando de lado a massa de dogmas que os rabinos haviam acumulado por cima dos ensinamentos espirituais. Cristo queria que os homens compartilhassem de sua preocupação pela consciência de um Deus vivo que operava neles. Talvez ele quisesse reformar as instituições judaicas e salvá-los das ostentações farisaicas. Seja como for, sua igreja deveria ser livrada dessas coisas, ao aceitar a sua nova lei.

Contra a ostentação (6:1). Os que creem em Cristo devem evitar a conduta tola do farisaísmo, que se interessava na autoglorificação, e não na espiritualidade genuína.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 318.

 

 

Tendo Cristo, no capítulo anterior, preparado os seus discípulos contra as doutrinas e opiniões corruptas dos escribas e fariseus, especialmente em suas exposições da lei (que foram chamadas de fermento, cap. 16.12), vem neste capítulo adverti-los contra as práticas corruptas deles – os dois pecados que, embora em sua doutrina eles não justificassem, em sua conduta, no entanto, eram notoriamente culpados. Eles chegavam a recomendá-los aos seus admiradores: estes eram a hipocrisia e o materialismo, pecados contra os quais, de todos os outros, os doutores de religião mais precisavam se guardar, como pecados que mais facilmente envolvem aqueles que fogem das contaminações mais gritantes que estão no mundo através da concupiscência, e que são, portanto, altamente perigosos. Somos aqui advertidos: 1. Contra a hipocrisia. Não devemos s e r como os hipócritas, nem fazer o que os hipócritas fazem.

Ao dar esmolas (w. 1-4). 2. Ao orar (w. 5-8). Somos ensinados aqui pelo que orar, e como orar (w. 9-13); e perdoar na oração (w. 14,15). 3. Ao jejuar (w. 16-18). II. Contra o materialismo: 1. Em nossas escolhas, este é o pecado que destrói os hipócritas (w. 19-24). 2. Em nossos cuidados e preocupações, este é o pecado que perturba muitos bons cristãos (w. 25-34).

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 61.

 

 

Palavra-Chave: VERDADE

 

 

I – O ATO DE DAR ESMOLAS E A HIPOCRISIA

 

 

1- Definição de hipócrita.

 

No grego, a palavra para “hipócrita” significa “alguém que interpreta um papel”, um personagem em uma obra teatral. O uso desta palavra no Evangelho de Mateus caracteriza o hipócrita como uma pessoa cujos atos pretendem impressionar os observadores (6.1-3,16-18); cujo foco está nos enfeites, e não nas questões centrais da fé; e cuja conversa espiritual esconde motivos corruptos. Em Mateus 6, o hipócrita está em contraste com a pessoa de fé, cujo relacionamento com Deus é “secreto”. O grande desejo do hipócrita é sempre o de aparecer exteriormente, mas o problema é que o lado interno, sua verdadeira natureza, não é revelado. Ninguém sabe o que há no íntimo do ser humano; somente Cristo, que conhece a natureza humana (Jo 2.25). O cristão que deseja vencer a hipocrisia tem de ter seu coração preenchido pelo amor de Cristo. Com esse amor real no coração, não há como o cristão praticar uma coisa é interiormente ser de outra forma (Mt 5.48).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Começaremos definindo o termo citado: característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação. Ato de fingir o que a gente não é, ou não sente, ou não crê; falsidade (Mc 12.15). Do grego é hupókrisis, atuação de um artista de teatro, dissimulação, hipocrisia.

Importante atentar para a palavra hipocrisia no Novo Testamento. É bem possível que ela tenha sido influenciada linguisticamente pelo hebraico, ḥānēp, falar poluído, ímpio. No grego ático aparece o hypokrisis, que quer dizer uma resposta de um ator, aquele que desempenha um papel no palco. No Antigo Testamento, tem-se muito a ocorrência em Jó e denotava, pelas suas diversas formas paralelas, aquelas pessoas que se esqueciam de Deus (Jó 8.13) e perversos (Jó 20.5; 27.8). A Septuaginta fala de ḥānēp com diversos sentidos, em especial de iniquidade e pecado (Is 9.17; Jó 8.13; 17.8), e no livro de Jó encontra-se a palavra hypokritēs (Jó 34.30; 36.13), tratando de ímpio e impiedade.

O hypokritēs usado por Cristo aparece nos Evangelhos Sinóticos e tem um peso veterotestamentário no sentido de ímpio (Mt 22.18; 23.13-29; 24.51). Em Lucas, o sentido é de infiel (Lc 12.46), em Marcos se tem mesmo hipocrisia (Mc 12.15), e já em Mateus 22.18 e Lucas 20.23 é ainda dado o sentido da palavra como malícia e astúcia.

Quando Jesus fala dos escribas como hipócritas, não estava querendo apenas dizer que eles desenvolviam um papel de atores no aspecto religioso, mas, sim, o quanto em essência eles eram ímpios, profanos.

O discípulo de Cristo não pode viver como um hipócrita ou desenvolver um papel de um ator. Paulo condena essa atuação e ensina que esse tipo de procedimento não acarreta nenhuma vantagem (Gl 2.13). Antes, o cristão deve viver de modo verdadeiro, puro, genuíno e sem qualquer prejuízo (Rm 12.9; 1Tm 1.5; Tg 3.17).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 144-145.

 

 

A palavra “hipocrisia” origina-se do antigo teatro. O hipócrita era um ator. Quando os atores desempenham um papel, fingem ser alguém que não são.

Warren Wiersbe corrobora essa ideia, ressaltando que hipócrita é um ator que usa máscara, alguém que usa a religião deliberadamente para esconder seus pecados e promover o benefício próprio.

  1. C. Sproul assegura que o cristão só é hipócrita se disser que não peca. Hipocrisia é quando fingimos ser algo que não somos, ou quando tentamos fazer os outros acreditarem que não praticamos algo que, na verdade, praticamos.

Tasker, citando as palavras de Levertoff, registra: “Embora os discípulos devam ser vistos praticando boas obras, eles não devem fazer boas obras com o objetivo de serem vistos”.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 212.

 

 

«Hipócritas». Vem do verbo grego que significava replicar». O substantivo era usado para indicar «aquele que replica», e, no uso e desenvolvimento dessa palavra, veio a assumir o significado de «ator», partindo da ideia que os atores replicam uns para os outros. Finalmente, o termo passou a significar «ator» em coisas sérias, até adquirir o sentido moderno, «hipócrita». Essa palavra é usada por vinte vezes no N.T. (todas as vezes nos evangelhos sinópticos), e sempre com mau sentido. Lucas usou a forma verbal por uma vez (Luc. 20:20), com o sentido de·fingir. As autoridades profanavam a prática religiosa, transformando-a em peça de teatro, chegando ao cúmulo de atrair as multidões, que aplaudiam o espetáculo. A sua recompensa era o aplauso da audiência.

[..] Jesus se dirigia contra os hipócritas: O sentido dessa palavra, «hipócrita», no grego clássico, cra «ator». O vocábulo aramaico correspondente significa «profano». Um rabino do século II D.C. teve o seguinte ácido comentário: «Existem dez porções de hipocrisia no mundo, e nove delas estão em Jerusalém».

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 319.

 

 

2- A justiça pessoal.

 

Por intermédio da “justiça pessoal”, os discípulos de Jesus deveriam viver diferentemente dos fariseus, os quais projetavam, em suas práticas religiosas, mostrar ao público sua “grande” espiritualidade. Foi nesse particular que Jesus disse: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mt 6.1). Os discípulos de Cristo, que vivem seus ensinos, são conscientes de que nenhum ato de justiça pode ser praticado com a intenção de glorificação pessoal. Tudo o que fizermos deve ser para a glória de Deus (1Co 10.31; Cl 3.17; 1Pe 4.11). Tomemos todo o cuidado, pois a tentação de exibir a justiça pessoal poderá surgir em nossos atos piedosos de oração, jejum e oferta.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Quem passa a viver a nova vida em Cristo terá uma conduta com atitudes diferentes. Não somente isso, terá discernimento preciso e puro, sem buscar glorificação pessoal. Precisamos entender que o evangelho não pode ser mensurado a um tipo de manual do judaísmo. Tratava-se dos ensinos de Cristo em um padrão mais elevado para exemplificar como o cristão deve proceder. Jesus vai entrar no terreno do coração daquele que o segue e gerar uma verdadeira espiritualidade, levar cada pessoa a ter consciência do Deus que estava agindo em sua vida, livrar dos dogmas dos escribas e injetar um novo desejo para viver com o Pai.

Vamos começar esse tópico atentando para Mateus 6.1, que na versão bíblica Almeida Revista e Atualizada (ARA) diz: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens […]”, enquanto na versão Almeida Revista e Corrigida (ARC) está escrito: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens […]”. No texto original está assim:

Προσέχετε [δὲ] τὴν δικαιοσύνην ὑμῶν μὴ ποιεῖν ἔμπροσθεν τῶν ἀνθρώπων (guardai-vos de fazer a vossa justiça diante dos homens). Observe que na versão bíblica Almeida Revista e Atualizada encontramos o termo justiça, ao passo que na versão Almeida Revista e Corrigida consta esmolas. O preferível nesse casso é a palavra justiça, que consta nos mais antigos manuscritos, pois o uso do termo esmolas vem de uma substituição bem tardia. São oportunas aqui as palavras de Tasker, que falando sobre essa problemática argumenta:

Esmolas foi uma substituição tardia, mas natural da expressão, em parte porque o seu uso tornava a sentença próxima do versículo 2, em parte porque os judeus consideravam o dar esmolas uma parte tão essencial da “retidão” que as expressões tinham se tornado quase sinônimas. “Dar esmolas”, expressão usada no versículo 2, era uma obra que conferia méritos para a salvação.

Entendemos pela citação acima que a palavra justiça era usada em certo sentido como esmola, porém, o que consta no grego é justiça, mas, segundo alguns especialistas na área do estudo do grego, diz-se que a palavra siríaca foi traduzida por justiça. Todavia, nosso foco aqui é compreender o que Jesus queria falar quando fez menção sobre a expressão “vossa justiça”.

Nosso Senhor não estava combatendo a prática de boas obras, porque já havia ensinado que os seus verdadeiros discípulos deveriam brilhar por meio de suas boas ações (Mt 5.16), o que só é possível quando os motivos são verdadeiros, sinceros e puros no intuito de que Deus seja glorificado. A justiça pessoal que Jesus combate aqui é aquela que busca os louvores humanos, quando se faz algo para receber os aplausos.

Quando alguém faz alguma coisa firmado no egoísmo carnal, poderá receber os louvores dos homens, porém, de Deus, nada receberá. Jesus ensina aos seus discípulos e futuros seguidores que aquilo que realmente caracteriza os servos do seu Reino é a humildade (Mt 5.3), não há nenhum desejo seu de ostentação, glorificação pessoal, não quer em momento algum fazer teatro com a fé, porquanto está ciente de que tudo que faz é pela graça de Deus, não por sua justiça própria (1Co 15.10).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 145-147.

 

 

O perigo da ostentação espiritual (6.1)

Jesus já havia ensinado que aqueles que são perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados (5.10), e que a justiça dos súditos do reino precisa exceder em muito a dos escribas e fariseus (5.20). Agora, Jesus alerta acerca do perigo de uma justiça que se autopromove e busca os holofotes do reconhecimento (6.1). A espiritualidade ostentatória é apresentada com o fim de ganhar o reconhecimento dos homens, e nisso consiste toda a sua recompensa. Destacamos no versículo em pauta três fatos, comentados a seguir.

Em primeiro lugar, a prática da justiça (6.1). Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens… A justiça deve ser praticada, mas não como uma propaganda para o auto engrandecimento.

Quem deve receber a glória pela justiça praticada é Deus, e não o homem. Exercer justiça diante dos homens é uma consumada hipocrisia.

Em segundo lugar, a motivação da justiça (6.1) ….com o fim de serdes vistos por eles… Uma espiritualidade que busca ser vista pelos homens com o propósito de ganhar a aprovação dos homens, em vez de revestir-se de humildade com o fim de agradar a Deus, é soberba e está na contramão da verdadeira espiritualidade.

Em terceiro lugar, a recompensa da justiça (6.1). …doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai celeste.

Deus não requer apenas ação certa, mas, sobretudo, motivação certa. Aqueles que ostentam justiça para ganhar aplausos dos homens não receberão nenhum galardão da parte de Deus.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 211-213.

 

 

«Esmola». Aparece nas traduções AC e KJ, e vem dos mss mais recentes, como EKLMSUZ Delta Fam Pi; mas justiça é o termo original, proveniente dos mss mais antigos, como Aleph BD, a maior parte das versões latinas e Si(s). Quase todas as traduções modernas seguem estes últimos mss.

Justiça. A palavra siríaca (idioma falado por Jesus) aqui traduzida por «justiça·, também era empregada de forma mais estrita com o sentido de·esmola, e é possível que essa mesma palavra tenha sido usada nestes ensinos (vss. 1 e 2), mas o grego tem justiça e·esmola como palavras diferentes. Jesus se refere aqui à justiça prática, legítima, que era abusada, entretanto. Antes expôs os ensinamentos ou doutrinas errôneas do sistema judaico; agora, mostra as suas práticas errôneas. A justiça prática e externa da religião ensinada pelas autoridades judaicas apresentava-se principalmente de três modos: através de esmolas, orações e jejuns. Jesus fala contra a ostentação em seus ensinos sobre a santidade diária. As autoridades judaicas queriam ser vistas pelos homens e a trair sua atenção para si mesmas, mas não se interessavam realmente pelo caráter espiritual da religião revelada. Infelizmente, todas essas exibições de ostentação daqueles, homens continuam vivas na igreja atual.

COMO FIM de serdes vistos por eles. Fara eles a religião não era motivo para glorificar a Deus, e não tinha por objetivo dar bom exemplo aos outros; porém se destacava por profundo egoísmo. Uma vez obtido esse alvo, o indivíduo já conseguiu seu objetivo, a recompensa que buscava—a glorificação por parte dos homens. Mas tal indivíduo não pode esperar o galardão de Deus. Jesus apresenta o espírito de ostentação como principal caráter do farisaísmo. Mostra que o reino de Deus, que desejava estabelecer, não favorece esse tipo de religião. A religião teatral não tem lugar no reino do Messias. Esse reino confere o galardão do Pai celeste, em contraste com o galardão que aqueles homens buscavam. Julgavam-se grandes à vista de Deus porque pareciam grandes à vista dos homens. Jesus mostra o erro dessa atitude. O ato religioso não tem valor quando praticado com objetivo errado.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 319.

 

 

3- As três práticas da ética cristã.

 

O apóstolo Tiago falou que a religião verdadeira tem como marca o serviço ao próximo, que também é um culto a Deus (Tg 1.27). Jesus deixa claro que nesse serviço cristão não podem faltar a oferta, a oração e o jejum. Porém, no seu ensino, o propósito desses serviços piedosos não poderia ser deturpado, como fizeram os escribas e fariseus. Interessante observar que as três práticas da ética do serviço cristão envolvem nossos bens (oferta), nosso espírito (oração) e o nosso corpo (jejum), e são direcionadas a Deus, ao próximo e a nós mesmos. A oração, o jejum e a oferta são atos piedosos que, quando praticados com sinceridade e verdade, têm o reconhecimento do Senhor. Por outro lado, Jesus nos ensina que a religião sensacionalista e espetacular do dissimulado religioso perverte a piedade, afinal, sua intenção é somente enganar e buscar os aplausos humanos. Tal procedimento jamais é adotado por um seguidor de Jesus, pois sabe que a prática de atos justos é somente com a finalidade de glorificar a Deus.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Os que fazem parte do Reino de Deus não vivem somente de palavras, mas sua fé se caracteriza também por meio de práticas piedosas, nesse sentido, com bom posicionamento, Tiago diz que é preciso que a fé seja seguida de obras; sem isso ela é morta (Tg 2.26).

Ele ainda acrescenta que a verdadeira religião tem que desenvolver seu viver em santidade, mas também em caridade (Tg 1.27). Sabemos da importância da doutrina para os aspectos da fé, mas não podemos perder de vista as práticas de atos piedosos, o que dão prova de um cristianismo comprometido com as verdades bíblicas.

Jesus diz que quando algum de seus servos desse esmolas não deveria proceder como os hipócritas, os quais agiram como atores, postura que profanava as práticas religiosas, porque as praticavam por meio de uma demonstração teatral no propósito de atrair as multidões com seus espetáculos farisaicos.

Os seguidores de Jesus são chamados a dar esmolas, a orar e jejuar, mas nunca deveriam ter um espírito de ostentação, não deveriam tocar trombeta (Mt 6.2). Há diversas opiniões que orbitam em torno da palavra trombeta: alguns acreditam que se tratava de uma prática dos fariseus que logo ao darem esmolas tocavam trombetas para chamar atenção dos pobres; outros dizem que os pobres tocavam trombetas para chamar atenção de quem passava pelas ruas; e àqueles que afirmam que era o som do dinheiro que caía quando posto no cofre das esmolas doadas nas sinagogas. Apesar de todas essas interpretações, é bem provável que tal expressão fosse um provérbio que apontava para a ostentação.

É necessário levar em consideração que Jesus não está dizendo que não se pode dar esmolas nas ruas, praças, nos templos e sinagogas, a justiça pode ser desenvolvida em qualquer lugar, não havia nenhum erro em um judeu fazer essas práticas piedosas. O grande problema é que eles faziam isso procurando os lugares mais movimentados para se exibirem de maneira egoísta querendo aprovação dos homens.

Queridos irmãos, como servos de Jesus Cristo, devemos ter em mente que Deus não somente está nos contemplando constantemente, Ele sabe também o que se passa em cada coração; ademais, é preciso saber que sua atenção não é atraída por atos exteriores, mas Ele se volta para aquele que tem um coração contrito, que o ama de verdade, que procura andar segundo a sua Palavra, que busca agradá-lo em tudo, esses irão receber a recompensa do Pai.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 147-149.

 

 

Toda esta ostentação reflete um total desprezo pela verdade de que Deus não vê as coisas como o homem as vê. Um homem pode ver somente os sinais exteriores que outros lhe comunicam.

Deus enxerga o recesso do coração, não necessitando de nenhuma mostra exterior para que sua atenção seja atraída (v.4,6,18). Em contraste direto com esta exibição, os filhos do reino devem preparar-se para fazer doações anônimas (v. 3), para orar em lugares onde estejam isolados dos semelhantes, a sós com Deus, e para mostrar o mesmo semblante alegre no tempo de jejum, como no tempo de um festival (17). Para todos estes a recompensa está por vir, a recompensa do Pai celestial prometida aos que o amam e querem agradá-lo, quer recebam ou não a aprovação dos homens.

  1. V. G. Tasker, Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pag. 57.

 

 

Os três exemplos de justiça “religiosa” apresentados por Jesus — as esmolas, a oração e o jejum — aparecem de alguma forma em todas as religiões. Destacam-se, por exemplo, no Alcorão. Certamente esperava-se de todos os judeus que dessem esmolas aos pobres, que orassem e jejuassem; e todos os judeus devotos O faziam. Evidentemente, Jesus esperava que os seus discípulos fizessem o mesmo, já que ele não começou cada parágrafo dizendo: “Se vocês derem esmolas, se orarem, se jejuarem, então façam assim…”, mas “Quando” vocês o fizerem… (vs.2,5,16). Ele tomou como certo que assim os seus discípulos agiriam. Mais ainda, este trio de obrigações religiosas expressa, num certo grau, nossa obrigação para com Deus, para com os outros e para com nós mesmos, pois dar esmolas é procurar servir ao nosso próximo, especialmente ao necessitado. Orar é buscar a face de Deus e reconhecer a nossa dependência dele. E jejuar (isto é, abster-se de alimentos por razões espirituais) é, pelo menos em parte, um modo de autonegação e autodisciplina. Jesus não levantou a questão se os seus discípulos iam se ocupar destas coisas mas, presumindo que o fariam, ensina-lhes por que e como fazê-lo.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 59.

 

 

SINOPSE I

Os atos de ofertar, jejuar e orar têm na prática da descrição a boa recomendação de Jesus Cristo

 

 

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

Sua admoestação aqui é contra dar aos pobres pelos motivos errados. A razão que Jesus apresenta para fazer caridade sem ser visto, é que generosidade e ostentosa não resulta em recompensa “do vosso Pai, que está nos céus”. Jesus chama ‘hipócritas’ (hypocrites) os que dão pelos motivos errados. Este é um linguajar forte para descrever atividades dos seus inimigos, ainda que anteriormente Ele tivesse advertido contra tais epítetos indiscriminados (Mt 5.22). Atividades auto ilusórias atraem acentuada crítica de Jesus, e Ele acha necessário chamar atenção das pessoas para o perigo” (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro : CPAD, 2003, pp.59,60).

 

 

II – AUXILIANDO O PRÓXIMO SEM ALARDE

 

 

1- Qual é a motivação do teu coração?

 

A prática da generosidade para com alguém é bíblica e há tempos estava presente na Lei de Deus (Lv 23.10,11; 19.10; Dt 15.711; Jr 22.16; Am 2.6,7; Dn 4.27), com o também nos ensinos de Jesus (Lc 6.36,38; Lc 21.1-4; Jo 13.29; Gl 6.2). O verbo hebraico para generosidade é gamai, que significa “resolver completamente, recompensar, repartir, fazer algo para alguém, agir generosamente”. Teologicamente, a generosidade expressa gratidão por algum benefício recebido. É preciso, porém, entender que, às vezes, aparentemente uma pessoa pode demonstrar um ato de generosidade com motivos errados, pois a mão pode dar uma oferta, um presente, mas a motivação oculta do coração pode ser outra. O crente deve buscar ser sincero na sua contribuição, fazendo isso na íntima satisfação de sua mente e no Espírito de Cristo, pois Ele sabe a motivação do seu coração quando estende as mãos para dar (Mt 9.4; 12.25; 22.18; Jo 16.19).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Servir aos pobres sempre foi uma ordem divina, o que mostra uma preocupação com essas pessoas, observe que eles também estavam inclusos nos ensinamentos de Cristo. Lendo Deuteronômio 15.10,11, entendemos que a lei judaica ordenava dar auxílio aos pobres, assim, os novos seguidores de Cristo precisariam atender essas pessoas necessitadas.

A grande questão não é dar esmolas aos pobres, mas saber o que o seu coração está pensando. Quando se pratica esse tipo de ação, como já foi dito, Jesus foi incisivo e disse que não se pode ser hipócrita nesses atos, procurando fazer algo apenas para ficar em evidência, não é assim que procede alguém que tem o coração transformado por Cristo, seu motivo na prática de boas obras não é a ostentação, pois nele está a verdade, não mais a hipocrisia.

Um coração que está verdadeiramente em Cristo é cheio de sua justiça, por isso não desenvolve as práticas de uma vida piedosa erroneamente, buscando exercer sua justiça perante os homens. Note que Jesus primeiramente fala da justiça, só depois, no versículo 2, é que trata sobre a esmola, que do grego é o substantivo feminino eleemosúne, misericórdia, piedade, o benefício em si mesmo, doação ao pobre, esmola. Para que nossas práticas piedosas da vida cristã não se tornem instrumentos para exibição pessoal, é preciso que sejamos impactados pela justiça de Cristo, é ela que dominará a nossa vida de comunhão com Deus e também o que tange aos três aspectos da vida piedosa: esmola, oração e jejum.

Podemos dizer que o versículo primeiro do capítulo seis de Mateus vai ser o fio condutor do que irá se desenvolver no mesmo: não exercer a justiça própria diante dos homens, mas a justiça que irá sobressair é mais digna, está acima daquela que era proposta pelos escribas e fariseus (Mt 5.20), essa justiça mais sublime é a de Cristo implantada em nossos corações, ela é o princípio geral que dirigirá nossa vida e atos religiosos. Quem vive na justiça de Cristo jamais usará as esmolas, oração e jejum para exibição, mas terá uma qualidade de vida da qual o mundo louvará a Deus, mostrando equilíbrio e firmeza, pois, se não for assim, poderá caminhar em dois extremos: o primeiro é o da autoglorificação, o segundo é o da ausência, do medo, agindo como monges, fugindo de tudo. Quando há consciência da justiça de Cristo no coração as coisas alcançam um equilíbrio total.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 149-150.

 

 

[..] a misericórdia é uma expressão legítima da espiritualidade cristã (6.2). A esmola era um dos quesitos mais importantes da espiritualidade judaica. Robert Mounce diz que dar dinheiro aos pobres era um dos mais sagrados deveres no judaísmo.5 O socorro aos necessitados é uma expressão da verdadeira fé. Quem ama a Deus, prova isso amando ao próximo. Quem foi alvo da misericórdia divina, é instrumento da misericórdia ao próximo. O homem não é salvo pelas obras de caridade, mas evidencia sua salvação por meio delas. A salvação não é pelas boas obras, mas para as boas obras. A graça é a causa da salvação, a fé é o instrumento, e as boas obras, o resultado.

[..] a misericórdia é uma prática esperada do cristão (6.2). Jesus não diz “se deres esmola”, mas “quando deres esmola”. Com isso, afirma que se espera que o cristão dê esmola. Um coração regenerado prova sua transformação em atos de misericórdia. O cristão tem o coração aberto, o bolso aberto, as mãos abertas e a casa aberta.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 213.

 

 

Para o judeu a esmola era o mais sagrado de todos os deveres religiosos. Até onde era considerada uma obrigação de primeiríssima importância pode deduzir-se do uso que faziam do termo esmola tzedakah – para denotar também um conceito tão fundamental como justiça. Dar esmola e ser justo eram uma e a mesma coisa. Dar esmola era ganhar méritos ante Deus, e podia inclusive significar a expiação e o perdão pelos pecados cometidos no passado. “Melhor é dar esmola que acumular tesouros, pois a esmola livra da morte e poda de tudo pecado” (Tobias 12:8).

“A piedade com o Pai não será lançado ao esquecimento. E em vez do castigo pelos pecados terá prosperidade. No dia da tribulação, o Senhor se lembrará de ti, e como se derrete o gelo em dia quente, assim se derreterão os teus pecados.” (Eclesiástico 3:15c-17. Nácar-Colunga).

Havia um dito rabínico que dizia: “Maior é aquele que dá esmolas que aquele que oferece todos os sacrifícios.” A esmola era primeira na lista das boas obras.

Era natural e inevitável, pois, quem queria ser bom devia concentrar-se em dar esmolas. O ensino mais elevado dos rabinos era exatamente igual ao de Jesus. Eles também proibiam a esmola ostentosa. “Quem dá esmola em segredo”, diziam, “é maior que Moisés.” A esmola capaz de salvar da morte é “aquela em que o beneficiado não sabe de quem provém, nem o ofertante a quem a dá”. Havia um rabino que quando desejava dar esmolas atirava dinheiro a suas costas, para não saber quem a recolheria. “É melhor não dar nada”, diziam, “que fazê-lo obrigando o necessitado a reconhecer a seu benfeitor, pondo-o deste modo em uma situação vergonhosa.” Havia um belo costume, relacionado com o templo, onde uma de suas salas se chamava a Sala dos Silenciosos. Os que desejavam expiar algum pecado entravam nessa sala e deixavam dinheiro; com essas contribuições se ajudava aos jovens de famílias nobres que tinham empobrecido.

Mas, como ocorre com tantas outras coisas, a prática não satisfazia plenamente as exigências do preceito. Com muita frequência o ofertante dava esmola de tal maneira que todos pudessem dar-se conta, e se preocupavam mais da glória que receberiam que dá ajuda a oferecer.

J. Wetstein narra um costume oriental de longa data: “No Oriente a água é tão escassa que às vezes se precisa comprar. Quando alguém queria fazer uma boa obra e trazer bênção para sua família, ia até o vendedor de água e lhe dizia: “Dá de beber aos sedentos.” O vendedor de água enchia uma bota com água e de pé no meio do mercado gritava: “Os sedentos, venham, bebam a oferenda.” O ofertante o acompanhava, e de pé junto ao vendedor de água, quando alguém vinha beber lhe dizia: “Agradece-me, eu sou quem te dá de beber.”

Esta é precisamente a atitude que Jesus condena. Diz que os hipócritas agem deste modo. Em grego a palavra hipócrita significa “ator”. As pessoas que procedem deste modo estão representando o papel do homem generoso só para sua glória pessoal.

BARCLAY. William. Comentário Bíblico. Mateus. pag. 202-204.

 

 

2- O que buscamos quando auxiliamos o próximo?

 

O discípulo de Cristo não busca se promover quando se dispõe a ser generoso para com o próximo, não tem interesse em chamar a atenção de ninguém. Todavia, a sua beneficência e generosidade são atos piedosos praticados como partes essenciais da religião pura para com Deus, que é cuidar dos órfãos e das viúvas (Tg 1.27; Mt 25.36; 1 Tm 5.2), tomando Cristo com o exemplo maior, o qual andou por todas as partes fazendo o bem (At 10.38). Agir dessa maneira é sinal de que realmente o Evangelho de Cristo tem influência em sua vida. Jesus adverte a respeito de qualquer um que aja em busca de receber os louvores dos outros, ou transforme atos piedosos em atos profanos. Quem age dessa maneira, sempre será visto por Jesus como um hipócrita. Nossa religiosidade nunca deve ser para orgulho pessoal e desprezo dos outros, pois, procedendo dessa maneira, estaremos no mesmo nível que os fariseus. Nosso Senhor deixou claro que nossa justiça deve ultrapassar a deles; caso não seja assim, não teremos parte no seu Reino (Mt 5.20).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

No auxílio ao próximo, por ser consciente do ensino de Cristo, devemos atentar para o verbo no tempo presente voz ativa modo imperativo que aparece no texto, que diz: guardai-vos, que do grego é prosécho, levar a trazer para perto, mudar a mente para, tentar ser solícito, assistir a si mesmo, isto é, dar atenção a si mesmo, esse é o remédio certo para não procedermos no propósito de exibirmos nossa justiça pessoal. Em nosso viver diário, em tudo o que fazemos, temos que decidir ou em agradar a nós mesmos, chamando atenção dos outros para aquilo que fazemos, ou procurar fazer tudo para a glória de Deus, o cristão verdadeiro, procura a última, porque sabe que tudo que faz deve ser para glória do Senhor.

No momento em que o crente se propõe a ajudar o seu próximo, a primeira coisa que leva em consideração é o seu relacionamento com Deus. Paulo diz que tudo quanto fizermos, seja por palavras, seja por obras, deve ser em nome do Senhor (Cl 3.17; 1Co 10.31; 1Pe 4.11).

Ao dar prioridade a Deus naquilo que faz para com alguém, o cristão nunca agirá de modo contrário, querendo fama, popularidade, nome, reconhecimento por parte dos homens. Para viver sem qualquer intenção de exibição, da glorificação do eu, o que é preciso é só olhar para o exemplo de Cristo (Mt 11.29), e em tudo nos deu exemplo (Jo 13.15), pois em seu viver sempre procurou agradar ao Pai e fazer a sua vontade.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 151.

 

 

[..] a misericórdia não pode ser ostentatória (6.2). A prática da misericórdia não pode ser ostentatória.

Não é suficiente fazer a coisa certa: dar esmolas; é preciso também fazer com a motivação certa. Dar esmolas e depois tocar trombeta, chamando atenção para si, é uma espiritualidade farisaica, e não cristã.

[..] a misericórdia ostentatória só tem recompensa dos homens, e não de Deus (6.2). O hipócrita é a pessoa que desempenha um papel no palco como se outra pessoa fosse. Concordo com Robert Mounce quando ele escreve: “É mais fácil alguém fazer de conta que é reto, do que ser reto de verdade”. A recompensa do hipócrita, que faz propaganda de seus próprios feitos, é receber o aplauso dos homens e nada mais. A palavra grega apecho era um termo técnico comercial usado com frequência no sentido de pagamento completo, com o valor total recebido.

Robertson, nessa mesma linha de pensamento, aponta que a palavra traz a ideia de “recibo”. O que Jesus, portanto, está dizendo é que eles já receberam o recibo de quitação plena e rasa de toda a recompensa que tinham de receber.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 213-214.

 

 

Os versos seguintes são exemplos dados para mostrar que atos piedosos são deturpados se praticados com o objetivo de “ serem vistos pelos homens”. Jesus declara que as três expressões de piedade judaica, dar esmolas, orar e jejuar (mencionadas aqui na ordem de importância que lhes era atribuida) também eram características dos filhos do Reino de Deus — mas somente quando eram praticadas sem nenhuma ostentação e sem nenhum desejo de receber louvores dos homens. Como bem diz Levertoff, “ embora os discípulos devam ser vistos praticando boas obras, eles não devem fazer boas obras com o objetivo de serem vistos”. Era uma característica do tipo hipócrita de fariseu atrair atenção para si quando ia entregar suas dádivas (v. 2).

V. G. Tasker, Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pag. 57.

 

 

3- A maneira de ofertar segundo Jesus.

 

No ato de ofertar, devemos ter todo o cuidado necessário para não buscar louvores ou não louvarmos a nós mesmos. Quando ofertamos, não devemos “tocar trombetas”. É claro que a referência que Jesus fez a esse toque foi metafórica, que quer dizer tornar público. Quanto à forma correta de se ofertar, Jesus disse que isso deve ser feito de duas maneiras: primeiro, sem alarde público; segundo, essa doação deve ser voluntária e discreta.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

“Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens…” (Mt 6.3). Observe que o versículo começa com o uso do pronome pessoal da segunda pessoa do singular “tu”, é muito enfático o uso aqui desse pronome, ele é indicativo, o que esclarece que o novo discípulo de Cristo nunca deve proceder como os hipócritas, que buscavam a glória humana.

Cristo ensina como deve ser a maneira certa de se dar uma esmola para ajudar alguém, Ele leva em consideração não a aprovação dos homens, mas prioriza o motivo, a verdadeira intenção que impulsiona para essa prática maravilhosa.

A expressão “ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita” (Mt 6.3, ARA), nada tem a ver como pensam alguns, que no ato de dar tal pessoa fica contando o dinheiro mudando de uma mão para outra com ostentação. Também não se deve pensar que essa expressão seja o ato de alguém que dá com uma mão e de imediato tenta recuperar o que deu com a outra. Por fim, não se deve pensar que a mão direita é o símbolo da piedade, e que a esquerda é símbolo de algo errado.

Falando desse assunto escreve William Hendriksen: Simbolicamente falando, pois, para que a mão esquerda não saiba o que a direita está fazendo é preciso que haja completa ausência de conhecimento, uma extrema ignorância. E já que as mãos são parte da pessoa, a expressão provavelmente se referia ao fato de que, tanto quanto possível, uma pessoa deve conservar sua contribuição voluntária em segredo, não só em relação aos outros, mas mesmo em relação a si própria; ou seja, deve ignorá-lo, em vez de dizer em seu coração: “Que bom sujeito que eu sou!”.

Em resumo, a expressão de Mateus 6.3 é simplesmente um provérbio hiperbólico, querendo retratar o modo oculto de uma pessoa realizar alguma coisa, ou seja, ao dar esmola para alguém, tal pessoa não deve em momento algum orgulhar-se ou pensar que é boa em si mesma, nem deve buscar o reconhecimento por parte de outros por se achar alguém melhor, o correto é ficar no anonimato, levando em consideração que Deus está atento para aquilo que nos move para uma determinada atitude.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 152-153.

 

 

[..] a misericórdia precisa vir de mãos dadas com a discrição (6.3). O cristão não dá ao pobre para ser visto nem para ser exaltado pelos homens, mas dá para que o necessitado seja suprido e Deus seja glorificado.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 214.

 

 

Tendo proibido a seus discípulos de contribuírem para os necessitados na maneira ostentosa dos fariseus, Jesus lhes diz, agora, qual a forma cristã, que é uma maneira secreta. Ele a expressa através de outra negativa: Tu, porém, ao dares esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita; para que a tua esmola fique em secreto. A mão direita é normalmente a mão da atividade. Assim, Jesus presume que vamos usá-la ao dar a nossa esmola. Então, ele acrescenta que a nossa mão esquerda não deve ficar olhando. Não é difícil captar o significado. Não só não devemos contar a outras pessoas sobre a nossa contribuição cristã mas, num certo sentido, não devemos sequer contar a nós mesmos. Não devemos ser autoconscientes da nossa esmola, pois essa atitude rapidamente deteriora-se em justiça própria. Tão sutil é a injustiça do coração que é possível tomarmos passos deliberados para manter nossa esmola em segredo, e simultaneamente ficarmos pensando nisso com um espírito de autogratificação. Seria difícil exagerar a perversidade disso, pois a esmola é uma atividade real que envolve gente real com necessidades reais. Seu propósito é aliviar o desespero dos necessitados. A palavra grega para o ato de dar esmolas, como já vimos, indica que é uma obra de misericórdia. Pois é possível transformar um ato de misericórdia em um ato de vaidade, de modo que a nossa motivação principal não seja o benefício da pessoa que recebe a oferta, mas o nosso próprio. O altruísmo foi desalojado por um egoísmo deformado.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 61.

 

 

 

SINOPSE II

O Sermão do Monte nos estimula a estar plenamente conscientes a respeito da motivação do coração no ato de ajudar o próximo.

 

 

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

“John Wesley, que era um cuidadoso estudante do texto grego e surpreendentemente ciente da importância da crítica textual, traduziu a primeira parte deste versículo [Mt 6.1] como se segue: ‘Atentem para não praticarem a vossa justiça perante os homens, para serem vistos por ele’. Traduções mais recentes apresentam: ‘Tenham cuidado para não fazerem as suas boas obras publicamente para serem notados pelo povo’ (Berkeley); ‘Cuidado ao fazerem as suas boas ações à vista dos homens, para atraírem seus olhares’ (Weymouth); ‘Tenham cuidado para não fazerem uma exibição de sua religião diante dos homens’ NEB); ‘Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros’ (NTLH). A tradução mais simples é: ‘Não ostentam a sua piedade’. Jesus não disse que não deveríamos deixar que alguém visse as nossas boas obras. Ele já havia admoestado os seus discípulos: ‘Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que veja mas vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus* (5.16). É como motivo que Ele está lidando aqui. A frase significativa é: para serdes vistos por eles. Devemos buscar a glória de Deus, não a nossa própria ” (CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Vol.6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.63).

 

 

III – DEUS CONTEMPLA O BEM QUE REALIZAMOS

 

 

1- O Deus que tudo vê.

 

Um dos atributos divinos é a onisciência. Deus é descrito nas páginas das Sagradas Escrituras como aquEle que tudo vê. Para Ele não existe surpresa nem o desconhecido (Gn 14). Nada pode escapar da onisciência divina (Gn 16,13; SI 139; Mt 10.30; Hb 4.13; Jo 21.17). Seria triste demais para nós servimos a um Deus que não tem o controle das coisas nem sabe o que vai acontecer. O que nos dá segurança é que até aquilo que vamos pedir Ele já sabe (Mt 6.8).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Teologicamente, Deus é descrito nas páginas da Bíblia Sagrada como um ser perfeito, luz (Jo 1.7), Ele tanto conhece a si mesmo como todas as demais coisas. Esse conhecimento divino aparece em muitas passagens bíblicas: (1Sm 2.3; Jó 12.13, Sl 94.9; Is 29.15; 40.27,28). Não se pode jamais comparar o conhecimento de Deus com o do homem, o conhecimento de Deus é arquétipo, conhece o universo antes mesmo de sua existência, ao passo que o homem o conhece da forma que lhe é apresentado, do lado de fora, é parcial.

O conhecimento de Deus é absoluto, inato, imediato, sucessivo, completo, pleno e não necessita de um processo de raciocínio.

Além do conhecimento de Deus ser perfeito, também é abrangente, é denominado de onisciência, o que envolve compreensão absoluta. Deus tem o conhecimento interno de si, e, como conhece tudo que emana dEle, isto é, as coisas, não há problema para Ele com relação ao passado, presente e futuro. Deus conhece as coisas em sua essência, nada está oculto, Ele penetra, perscruta onde o homem nunca pode chegar, por mais que estude. O homem enxerga e conhece apenas o lado externo, Deus, por outro lado, conhece o coração de cada ser humano (1Sm 16.7; 2Cr 28.9,17; Jr 17.10), observa todas as ações e a conduta dos homens (Dt 2.7; Jó 23.10; Sl 1.6). É por esse motivo que o conhecimento de Deus é perfeito (Jó 37.16).

Um exemplo claro da onisciência divina está no Salmo 139 e faremos um destaque para os versículos 1 a 6. O salmista demonstra que por meio de um relacionamento que tem com Deus, o qual sabe de todas as coisas ([…] tu me sondaste e me conheces), inclusive de pormenores de sua vida, passa a falar que o conhecimento de Deus é sem limites e perfeito. Além disso, Deus não sabe apenas alguns detalhes da vida do salmista, pelo contrário, Ele sabe de todas as coisas, como também conhece os propósitos e intenções dos corações dos homens, então, o salmista deixa claro que o conhecimento de Deus está acima da capacidade humana (2Rs 19.27; Mt 9.4; Jo 2.25).

O salmista procura deixar claro que o conhecimento de Deus não é do tipo compreensivo, receptivo, que apreende tudo da mesma maneira, antes, é pessoal e ativo. O conhecimento divino discerne, peneira e sabe tudo sobre o ser humano.

Em Gênesis 16.13 (ARA) é dito: “Tu és Deus que vê”, assim, Ele conhece todos os nossos pensamentos e intenções do coração, o melhor é viver segundo o seu querer para não sermos condenados (Lc 16.15). O cristão que toma conhecimento da onisciência de Deus desenvolve um relacionamento com Ele em toda santidade e verdade em tudo, pois sabe que sempre está debaixo do seu olhar, de modo que para Deus não vale a hipocrisia; afinal, um dia iremos prestar contas de tudo perante Ele (Hb 4.13).

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 153-155.

 

 

Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. Ele mesmo o fará, direta- mente. Ele não delegará esta ação a outra pessoa. Se você der em secreto, sua recompensa será pública. Se você der publicamente, não espere aclamação. O aspecto mais maravilhoso da caridade é que é impossível dar mais do que o Senhor.

Sproul., RC. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017. Editora Cultura Cristã. pag. 112.

 

 

No tocante à gramática, o texto grego pode ser também traduzido: “… e o teu Pai, aquele que te vê, te recompensará em secreto.” Objeções a essa construção: a. Depois da introdução, que se refere aos hipócritas que tudo fazem para que os homens admirem suas boas obras e onde Jesus admoesta seus ouvintes no sentido de que essas obras não devem ser publicadas, e, sim, que devem ser mantidas em secreto até onde for possível, esperaríamos uma declaração com relação ao efeito de que as obras que não são anunciadas publicamente, contudo serão vistas e recompensadas pelo “teu Pai que vê em secreto”. A introdução abrupta do Pai como “Aquele que te vê”, sem modificativo, faria pouco sentido aqui; b. A Escritura por toda parte proclamam que todas as palavras, todas as ações, etc., dos homens, inclusive o que acontece em secreto, se farão públicas (Ec 12.14; Mt 5.3-12; 10.26,27; Mc 4.22; Lc 8.17; 12.2,3; Rm 2.16; 1Co3.13; 14.25; Ap 20.12,13). A ideia de que os atos de bondade para com os pobres, feitos em secreto, permanecerão para sempre em secreto, e que ainda a recompensa será conferida em secreto, se choca com esse ensino bíblico.

HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. 1 Ed 2001. Editora Cultura Cristã. pag. 451.

 

 

2- O Deus que recompensa.

 

O nosso Deus contempla tudo, em especial o bem que fazemos. O escritor da Carta aos Hebreus diz que nosso Deus “não é injusto para se esquecer da nossa obra e do trabalho da caridade que foi mostrado para com o seu nome” (Hb 6.10; Mt 10.42; Jo 13.20). Já quando os homens aplaudem qualquer ação feita por outros homens, eles não conhecem a causa, o motivo que os impeliu a tal ação, pois veem somente aquilo que lhes foi manifestado exteriormente. O Senhor, pelo contrário, vê o que está no coração (1Sm 17), não necessitando de qualquer amostra exterior para chamar a sua atenção (Mt 6.4,6,18).

Quando um crente procura fazer algo apenas para que outras pessoas vejam, está desprezando os ensinos verdadeiros de Cristo, que especificamente afirmou que nada deve ser feito para receber aplausos dos homens. A demais, ainda age como se Deus não estivesse atento a tudo o que ele faz. Os verdadeiros servos do Senhor são conscientes de que quem recompensa é Deus, por isso praticam suas obras no anonimato, em secreto, por amor ao Pai e por sempre quererem agradá-lo em tudo. O salvo em Cristo deve lembrar de que Deus irá recompensar cada um segundo de seu procedimento. Portanto, é sempre bom fazer o bem (Pv 3.27; Rm 2.7), lembrando de que aquele que sabe fazer o bem e não o faz, está pecando (Tg 4.17).

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Vimos que Deus é onisciente, tudo sabe e tudo vê, nada limita sua visão, de maneira que se alguém der uma esmola a uma pessoa em uma estrada isolada, Ele vê, caso dê em uma estrada bem movimentada de pessoas, Ele vê, se for para uma pessoa desconhecida, Ele vê. Tudo isso nos ensina que ainda que aos olhos humanos qualquer bondade feita a alguém não seja vista por outros, o Pai que está no céu contempla toda a piedade.

Aquele que exerce a justiça própria perante os homens, desenvolvendo o papel de um ator serão louvados com os aplausos humanos, mas aquele que ajuda o seu próximo com sinceridade, amor e verdade será galardoado com amor pelo bondoso Deus, como bem diz o escrito aos Hebreus: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos” (Hb 6.10, ARA).

Podemos dizer que a recompensa ou galardão é algo totalmente espiritual, aquele que vive de acordo com a vontade de Deus, agradando-o em tudo, recebe a vida espiritual (Sl 1.1-3), sendo como árvore junto de águas, ele dará frutos na estação própria, tudo isso aponta para uma qualidade de vida saudável no aspecto espiritual, essa realidade tem início nesta vida e se concretizará no futuro (1Jo 3.2). Jesus tinha consciência de um galardão, por isso suportou a cruz (Hb 12.2). Moisés deixou toda a glória do Egito e preferiu sofrer com o povo de Deus no deserto porque tinha consciência de algo melhor (Hb 11.26). Jesus ensinou aos seus seguidores que aqueles que são limpos de mãos e puros de coração verão a Deus (Mt 5.8), diante de tudo isso a certeza da recompensa é certa.

O cristão que tem qualidade de vida espiritual é vitalizado pela força divina a produzir o melhor na prática das obras, isto é, ouro, prata, pedras preciosas, ao contrário daquele que não tem qualidade de vida, as obras que produzirá são fracas, a saber, madeira, feno e palha (1Co 3.12). Quem deseja um dia ver a Deus irá produzir o melhor para a sua glória, além disso, é consciente que seu trabalho será avaliado no tribunal de Cristo (1Co 3.14).

Para não cumprirmos o desejo da carne, os quais não agradam a Deus (Rm 8.8), é preciso ter uma vida dominada pelo Espírito Santo (Gl 5.16), somente assim a natureza carnal será dominada.

Gomes. Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 155-156.

 

 

[..] a misericórdia exercida com a motivação certa recebe de Deus a recompensa (6.4). Aquilo que é feito ao próximo em secreto, longe dos holofotes, recebe de Deus, que vê em secreto, a verdadeira recompensa.

LOPES. Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 214.

 

 

Algumas pessoas rebelam-se contra este ensinamento de Jesus. Elas dizem que não esperam recompensa, seja qual for, de pessoa alguma. Mais do que isto, acham que a promessa que nosso Senhor fez de recompensar é incoerente. Como pode ele proibir o desejo do louvor dos outros ou de nós mesmos para, depois, incentivar-nos a procurar o de Deus? Naturalmente, dizem, isto só muda a forma da vaidade. Será que não poderíamos dar simplesmente pela necessidade de dar? Buscar o louvor de quem quer que seja — dos homens, do ego ou de Deus — é prejudicar o ato, acham. A primeira razão por que tais argumentos estão errados relaciona-se com a natureza das recompensas. Quando as pessoas dizem que a ideia da recompensa lhes é desagradável, sempre suspeito de que o quadro que têm em mente é a concessão de prêmios numa escola, com os troféus de prata cintilando na mesa sobre o estrado e todo o mundo batendo palmas!

O contraste não foi estabelecido entre a esmola secreta e a recompensa pública, mas entre os homens, que não veem nem recompensam a esmola, e Deus, que faz as duas coisas. C. S. Lewis escreveu sabiamente em um ensaio intitulado “O Esplendor da Glória” (The Weight of Glory) o seguinte: “Não devemos ficar perturbados com os incrédulos que dizem que esta promessa de recompensa torna a vida cristã um negócio mercenário. Há diferentes tipos de recompensa. Existe a recompensa que não tem conexão natural com as coisas que se faz para recebê-la, e é totalmente estranha aos desejos que deveriam acompanhar aquelas coisas.

O dinheiro não é a recompensa natural do amor; é por isso que dizemos que um homem é mercenário quando se casa com uma mulher por causa do dinheiro dela. Mas o casamento é a recompensa apropriada para quem realmente ama, e este não é mercenário quando o deseja.” Do mesmo modo, poderíamos dizer que uma taça de prata não é uma recompensa muito apropriada para um escolar que estudou muito, mas uma bolsa para a universidade seria o ideal. C. S. Lewis assim conclui este argumento: “As devidas recompensas não são simplesmente adicionadas à atividade pela qual foram concedidas, mas são a própria atividade em consumação.” Qual é, então, a “recompensa” que o Pai celeste dá àquele que faz a sua dádiva em secreto? Não é pública nem, necessariamente, futura.

Provavelmente a única recompensa que o verdadeiro amor deseja quando dá ao necessitado é ver o alívio deste. Quando, por meio de suas dádivas, o faminto é alimentado, o nu é vestido, o doente é curado, o oprimido é libertado e o perdido é salvo, o amor que provocou a dádiva fica satisfeito. Esse amor (que é o próprio amor de Deus expresso através do homem) traz consigo as suas próprias alegrias secretas e não espera outra recompensa. Resumindo, nossas dádivas cristãs não devem ser feitas nem diante dos homens (na esperança de que comecem a bater palmas), nem diante de nós mesmos (com a nossa mão esquerda aplaudindo a generosidade da nossa mão direita), mas “diante de Deus”, que vê o íntimo de nosso coração e nos recompensa com a descoberta de que, usando as palavras de Jesus, “Mais bem-aventurado é dar que receber.”

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 61-62.

 

 

 

SINOPSE III

As palavras dos seguidores de Jesus devem apresentar retidão e honestidade

 

 

CONCLUSÃO

 

Por meio de Jesus, ficamos cientes de que Ele deseja que andemos na verdade, sejam os honestos que a nossa justiça ultrapasse a eles (Mt 5.20) em todos os aspectos, sem jamais buscar a exibição.

 

 

REVISANDO O CONTEÚDO

 

1- O que caracteriza a palavra “ hipócrita” no Evangelho de Mateus?

Uma pessoa cujos atos pretendem impressionar os observadores (6.1-3,16-18); cujo foco está nos enfeites, e não nas questões centrais da fé; e cuja conversa espiritual esconde motivos corruptos.

 

2- Quais são os três grandes deveres cristãos?

Jesus deixa claro que nesse serviço cristão não podem faltar a oferta, a oração e o jejum.

 

3- De acordo com o ensino de Jesus, qual é a nossa forma correta de ofertar?

Quanto à forma correta de se ofertar, Jesus disse que isso deve ser de duas maneiras: primeiro, sem alarde público; segundo, essa doação deve ser voluntária e discreta.

 

4- Quais são as partes essenciais da religião pura para com Deus?

A beneficência e generosidade são atos piedosos praticados com o partes essenciais da religião pura para com Deus, que é cuidar dos órfãos e das viúvas (Tg 1.27; Mt 25.36; 1 Tm 5.2).

 

5- Qual atributo divino foi destacado na lição?

Onisciência.

 

ELABORADO: Pb Alessandro Silva.

 

Acesse mais:  Lições Bíblicas do 1° Trimestre 2022 

 

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